Na véspera do 1.ª show da Burnin´ Boat adquiri um disco do King Diamond, "Conspiracy", que ouvi na loja mesmo (uma que ficava perto do atual Dado Garden) e curti alguns riffs. Na época não sabia, mas é possível afirmar que de King Diamond e de Mercyful Fate se podem esperar, sempre, um heavy metal muito técnico, executado com perfeição, e de muito boa qualidade. E com guitarras tão legais (cortesia de Andy La Roque e um outro guitarrista, sendo que King compõe a maioria das faixas - revelando um talento incomum para a criação de riffs cavalos) e bateria tão boa (Mikkey Dee é "o cara") fica fácil prestar atenção mais na parte musical e menos nos vocais de King Diamond. Admito que a tarefa de acostumar com as vozes que o dinamarquês adota (ora falsete, ora gutural) demora um pouco para se consolidar; mas o esforço compensa, pois os riffs e as levadas de bateria são matadoras.
Sabe-se que King Diamond é o vocalista do Mercyful Fate, que se lançou em carreira solo tão logo a banda dinamarquesa se dispersou após o lançamento de dois discos ("Melissa" e "Don´t Break the Oath", ambos tidos como muito importantes e influenciáveis discos de heavy metal). Nos seus discos solo, King Diamond desenvolveu o costume de escrever álbuns conceituais; geralmente acho que isso de "álbum conceitual" acaba comprometendo o resultado final, pois as faixas são colocadas em função da história a ser contada, o que pode perturbar a audição do disco com o tempo. Custou-me, então, vários anos para digerir boa parte do material do King Diamond, diferentemente do que se verificou com relação à discografia do Mercyful Fate (que adquiri inteira e cuja audição considero mais pacífica).
Vale a pena ouvir três discos do King Diamond: "Abigail", o seu maior sucesso, "Them", o meu preferido, e "Conspiracy", que é a continuação da história contada em "Them". Em todos o baterista é Mikkey Dee, e isso significa que se tratam de discos com uma levada de bateria heavy metal perfeita; o sueco é o melhor baterista do gênero que conheço, sendo capaz de criar partes tão memoráveis quanto os riffs e refrões das respectivas músicas. Esse "Conspiracy" foi o último de Dee com Diamond, e não estou certo porquê, mas foi o primeiro que adquiri da banda.
Apesar de ter gostado da prévia na loja (houve época em que havia um espaço destinado a audições, e costumava me valer disso; invariavelmente acabava levando algum disco por ter curtido algum riff ou levada que parecia inspirada ou inspiradora) não me abri imediatamente para o disco. Mas há que se dar valor a esse "Conspiracy", tirante a questão da execução das composições. Há bons riffs em "Sleepness Nights" (o riff inicial tem harmônicos artificiais à la Zakk Wylde), e choruses marcantes em "Sleepness Nights" e "A Visit from the Dead" (nesta a partir dos 3min25s); a dinâmica de "At the Graves", faixa de abertura, é muito boa, mas é preciso ter disposição para ouvir seus grandiosos 9min (é complexa, com muitas partes e andamentos diferentes). A complexidade das composições é uma característica de King Diamond nessa época - meados dos anos 1980 - e que acabou um pouco sacrificada durante os anos 1990. Então todas as faixas de "Conspiracy" - e dos discos anteriores em maior ou menor medida - contêm várias partes, algumas das quais bem elaboradas para guitarra e bateria, e certamente as mais rápidas e mais pesadas são as melhores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário