Por aproximadamente 1 ano e meio acompanhei as notícias sobre as sessões de gravação do novo disco do Metallica, e desde o início se disse que se trataria de uma espécie de retorno à sonoridade da banda na época de "Ride the Lightning" ou de "...And Justice for All". Saudou-se o ingresso de Rick Rubin (RHCP, Slayer, AC/DC, entre muitos outros) na produção, em lugar de Bob Rock, e seu estilo bastante peculiar no comando das gravações (diferentemente de Bob, que ficava o tempo todo no estúdio com a banda, e nos últimos tempos já estava compondo - ?!?! - e gravando instrumentos, Rubin aparece de vez em quando só para conferir a evolução do trabalho e dar uns toques, o que lhe permite produzir diversas bandas simultaneamente). Bem, só dizer que o disco seria um retorno ao "Ride the Lightning" (não é dos meus favoritos - quando quero ouvir "Creeping Death", "For Whom the Bell Tolls" e "Fade to Black" recorro aos discos ao vivo) ou ao "...And Justice for All" (esse é um disco espetacular e essencial), por si só, não quer dizer nada, mas já é alguma coisa.
Mesmo sendo desacreditado pelos mais recentes lançamentos de todas as minhas bandas favoritas nos últimos tempos, ainda acredito ser possível o lançamento de grandes discos, então continuei acompanhando com interesse as notícias sobre o novo álbum do Metallica. Surgiram, então, no Whiplash, notícias sobre resenhas de audições prévias ao lançamento do disco. E nesses "faixa-a-faixa" basicamente todas diziam as mesmas coisas, mas não necessariamente das mesmas músicas (isto é, o que um dizia a respeito de uma música, outro dizia o mesmo a respeito de outra música...), e o denominador comum, em apertada síntese é o seguinte: músicas longas, riffs pesados, voltaram os solos virtuosos com wah-wah de Kirk Hammet, som da bateria voltou a ser aceitável, Lars Ulrich continua não sabendo tocar bateria, música instrumental muito boa sem superar "Orion", lembra muito "Ride the Lightning" e "...And Justice for All".
Casualmente estava na Cultura no dia do lançamento mundial do disco, em 13.09.2008, e conseguir trazê-lo para casa, já esperando por uma cacetada espetacular - senão pela música, pelo menos pelo som das guitarras. Botei para ouvir sem tirar, as músicas foram passando, e fiquei com a sensação de falta de peso nas guitarras e de composições não muito consistentes. Ouvi, então, mais umas quantas vezes, e nas últimas 4 ou 5 semanas (isso em novembro/2008), pelo menos 2 vezes por semana. E agora já tenho uma opinião muito mais favorável, embora seja um dos que acham que o som do disco é ruim.
Discordo de quem diz que "Death Magnetic" lembra os discos mais antigos do Metallica; em nenhum momento lembrei de qualquer coisa de "Ride the Lightning", ou "...And Justice for All", ou mesmo de "Master of Puppets". Pelo contrário, lembrei de "St. Anger" (em "The End of the Line", "Cyanide", "The Judas Kiss") e "Reload" ("The Unforgiven III" parece ter sido composta nessa época). Não entendo, também, como podem dizer que Lars Ulrich continua não sabendo tocar bateria... afinal, essa queixa eu só tinha ouvido, até hoje, do Bruce, e desde sempre discordei, pois acho que Lars improvisa bastante e toca umas levadas boas e inesperadas na bateria (o cara definiu como se utiliza o bumbo duplo num contexto heavy ou thrash metal, com "riffs de bateria" em "One", "Fade to Black" e umas levadas certeiras e até com algum groove como em "Wherever I May Roam", sem contar ainda os andamentos matadores de "For Whom the Bell Tolls" e "Sad But True"), sendo certo que neste disco achei que Lars estava no modo econômico (utilização esparsa do bumbo duplo, por exemplo).
Tão logo consegui o álbum, vim para casa e toquei-o na íntegra. Esperava um som grandioso de guitarra e uma paulada na orelha de muitos riffs espetaculares. Pois então. O disco começa bem (não "espetacularmente" bem), mas só levantei a sobrancelha com o riff da terceira música. Não sei se estava cansado pelo dia intenso e a hora adiantada, mas o fato é que a primeira impressão de "Death Magnetic" foi a de que não tinha impressionado o suficiente. Achei o som das guitarras bem magro, e posteriormente, ouvindo nos headphones, verifiquei que o som estava alto demais: para ouvi-lo tinha que botar o volume mais baixo do que o de costume, e vim a descobrir que isso virou uma queixa generalizada entre o público norte-americano (diz-se que o mesmo álbum na versão para o Guitar Hero tem som muito melhor - há inclusive uma comparação entre os dois no youtube, mas aí não sei dizer até que ponto o som não foi manipulado em um para parecer ruim e no outro para parecer excelente). O certo é que no volume costumeiro não consigo aguentar além da 2.ª faixa, e no volume mais baixo a audição dos riffs e dos detalhes das músicas fica comprometida.
Como disse, ouvi esse disco durante outubro e novembro de 2008 pelo menos duas vezes por semana, na íntegra. Agora já tenho uma opinião muito mais favorável sobre "Death Magnetic", muito embora ainda faça todos os reparos e as reservas anteriores. Acho que é um disco muito bom para essa fase do Metallica, mas custo a acreditar que, apesar de bons, esses são os melhores riffs de Hetfield e Hammet dos últimos 5 anos (i. é, desde "St. Anger").
"That Was Just Your Life" tem vocais acelerados, ficando difícil acompanhar a letra. O instrumental é bom, pelo menos. "The End of the Line" tem riff que me lembra muito a época "St. Anger". "Broken, Beat and Scarred" é excelente, com andamento cadenciado bem característico na bateria, e riff matador. "The Day That Never Comes" tem uma parte mais calma seguida de uma parte instrumental mais pesada. Algumas resenhas deram conta de que uma faixa era estranha mas divertida; para mim se trata da melhor e mais empolgante composição do disco: "All Nightmare Long" tem guitarras excelentes, riff espetacular, e refrão arrasa-quarteirão. É uma baita música. "Cyanide" me pareceu um pouco fraca, tanto em riff quanto em estrutura. Não entendo qual é a necessidade de compor uma terceira parte para "The Unforgiven", ainda mais que, particularmente, a segunda parte deixou a desejar em comparação com a primeira (que é um clássico absoluto), então ouvi "The Unforgiven III" com todas as reservas possíveis; atualmente até curto a faixa, mas me remete à época do "ReLoad". "The Judas Kiss" é uma faixa boa de ouvir, mantém o espírito e tal, mas não é nenhum clássico. Geralmente o material da época de Cliff Burton é cultuado como obra-prima, mas a mim parece que algumas vezes é super-apreciado; então não posso concordar que "Suicide & Redemption" não-chegue-aos-pés de "Orion". Acho que nem cabe a comparação (embora tentadora), mas ao final não entendo porque essa faixa não tem vocais: diferentemente de "Orion", na qual não há que se falar em letra para conduzi-la, "Suicide & Redemption" ficaria muito melhor se fosse cantada, pois tem riffs fortes que poderiam acomodar a voz de Hetfield com melhor proveito. Efetivamente, "My Apocalypse" segue o estilo de faixas como "Battery", "Damage Inc." e "Dyers Eve", mas particularmente entendo que a última música de "Death Magnetic" tem vantagem.
As faixas de destaque são, nessa ordem, "All Nightmare Long", "Broken, Beat & Scarred", "My Apocalypse" e "Suicide & Redemption", "That Was Just Your Life", "The End of the Line" e "The Day That Never Comes". O melhor, no entanto, é ouvir um monte de riffs bons, distribuídos sem economia nas faixas, muitos dos quais com palhetadas incríveis na 6.ª corda, o que em regra é muito bom.
Os solos de Kirk nesse disco, em geral, não são memoráveis - o cara repete os mesmos licks rápidos, sem se preocupar em criar melodias legais, como em outros discos - mas dois solos merecem destaque: a parte final em "The Day That Never Comes", em que há uma descida (acho que cromática) matadora na 2.ª corda, e que pouco depois descobri que se trata da reprodução de um lick de saxofone de Wayne Shorter no disco clássico "Bitches Brew" de Miles Davis; o outro solo muito legal é o último de "Suicide & Redemption", sobre um riff de guitarra dos melhores da música, e Kirk utiliza com muita eficiência o wah-wah.
Utilizou-se a afinação padrão nas guitarras; apesar disso, a voz de Hetfield não se ressentiu tanto quanto nos álbuns anteriores (após o "Black Album"), nos quais parecia um fiapo (isso fica muito claro nos registros dos shows). Quanto a Trujillo, acho mais importante que o cara se integrou definitivamente à banda, contribuindo eventualmente com alguns riffs. Não sou dos que ficam ofendidos por não ouvir o baixo nos discos do Metallica.
Depois de um bom disco, aguardo os lançamentos do CD e DVD ao vivo com registros da turnê.
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