- há algumas semanas, o Whiplash deu conta de uma declaração atribuída a Kerry King do Slayer, no seguinte sentido: "Dave Mustaine é um ditador". Tanto isso não é novidade nenhuma, como é a mais pura verdade. E digo mais: é bom que continue assim. Mustaine escreve quase todas as letras e compõe quase todas as músicas do Megadeth. As piores músicas e os piores álbuns da banda saíram quando Mustaine resolveu dar ouvidos às idéias dos outros (Risk, v.g., que não é um disco ruim... mas não é Megadeth).
Depois de encerrar as atividades musicais, após destruir os nervos do braço em um acidente pouco esclarecido, Mustaine e banda voltam com um disco matador. BLACKNAIL THE UNIVERSE abre no melhor estilo do "So Far, So Good, So What", já antecipando que aquela sucessão infernal de riffs enfurecidos está de volta. Acho que o primeiro solo é do Chris Poland, e o que vem sem seguida é do Mustaine.
DIE DEAD ENOUGH tem um refrão bom e pegajoso, e a música segue a tendência do último disco ("The World Needs a Hero"). No meio do solo (que eu acredito seja do Poland, com uma stratocaster), o Mustaine muda levemente o riff, fazendo coincidir a 6.ª corda solta com o bumbo duplo da bateria (é um recurso que sempre funciona, e fica melhor ainda quando utilizado na hora certa). Algumas partes da música, e o jeito de cantar, me lembraram o King Diamond em carreira solo (não os agudos, por óbvio, mas quando KD canta em timbre "normal").
KICK THE CHAIR é, indiscutivelmente, a melhor música do disco. É uma verdadeira paulada, que começa com um belo riff (a bateria espancando) e segue com outro inacreditável (que serve, posteriormente, de refrão). Como se não bastasse, o riff dos versos é daqueles que só o Mustaine consegue compor, e depois tocar e cantar ao mesmo tempo. A letra é uma daquelas críticas contundentes do músico, desta vez direcionada ao sistema judiciário norte-americano. O melhor solo é o que encerra a música.
THE SCORPION começa bem - mas o resto é bastante fraco. Não costuma funcionar a técnica de cantar os versos exatamente em cima dos acordes. O pre-chorus tem um lance interessante, pois ao invés de ser cantado, tem um solo (não identifiquei o guitarrista).
TEARS IN A VIAL começa com um belo riff hard rock. Mas quem brilha é o baterista Vinnie Colaiuta, com um belo acompanhamento. Aqui estão os melhores solos, especialmente um lá pelo meio, do Poland com uma stratocaster. Quando parece que a música acabou, começa de novo em ritmo bem acelerado - é o tipo de recurso que engrandece sobremaneira a composição.
I KNOW JACK é uma vinheta (menos de um minuto), bem legal, que introduz a faixa seguinte. BACK IN THE DAY tem um riff bastante simples na corda solta, e me lembrou imediatamente uma música do disco "Powerslave" do Iron Maiden (FLASH OF THE BLADE). Mas não fica nisso: lá pelas tantas o andamento muda, fica mais cadenciado, lembrando até as cavalgadas do Iron. Mas essas referências são sutis, e a música é boa.
SOMETHING I´M NOT tem um início clássico em se tratando de Megadeth: riff & vocal; depois entra a banda. Destaque para o timbre do baixo, que confere um peso extra às guitarras. Em determinado momento do solo há uma clara reprodução do início do solo de Yngwie Malmsteen em RISING FORCE.
TRUTH BE TOLD é a mais fraca do disco; o dedilhado e a bateria em slow motion arruinaram a faixa. Mas as coisas melhoram sensivelmente a partir do solo (3min) até o final, com o clássico duelo entre os guitarristas. Daí em diante a música fica realmente muito boa.
OF MICE AND MAN é simples, e muito boa. Aqui fica claro que Mustaine é uma exceção - não perdeu nada da voz com o passar dos anos (é a mesma desde "Rust in Piece"), ao contrário de outro vocalista/guitarrista de uma grande banda de metal, cuja voz definha a cada disco.
SHADOW OF DEATH é outra vinheta, no estilo de DAWN PATROL. Retrata um campo de batalha. A voz de Mustaine foi modificada, lembrando a do atual governador do estado da Califórnia. Termina com um teminha bacana.
MY KINGDOM COME é emendada ao final da anterior, e os primeiros segundos são ocupados tão somente por uma nota insistente, com um timbre muito ouro, criando uma tensão perfeita. Quando muda o riff e entra o solo, lembrou imediatamente o King Diamond em carreira solo (do riff ao jeito que a bateria entra, bem como a forma como pára e volta ao riff anterior). A música é muito boa, mas acaba abruptamente.
"The System Has Failed" é o melhor Megadeth desde "Countdown...".