Iron Maiden é um caso particular de banda que todo mundo gosta (pelo menos era assim no início dos anos 90). Ainda hoje é muito fácil encontrar alguém na rua com uma camiseta do Iron - geralmente encontra-se até mais de uma pessoa. É fácil, também, encontrar-se o tipo realmente fanático pela banda inglesa, que tem todos os CDs e adora tudo o que os caras fazem. E não é por acaso, uma vez que a banda surgiu no início dos anos 80, naquela onda de bandas britânicas de heavy metal, e caracterizou-se por um som pesado mas com demonstrações de qualidade de todos os músicos. Conquanto liderada, de início, por um vocalista limitado mas com carisma no palco (Paul Di´anno), a banda tinha uma dupla boa de guitarristas (Dave Murray e Dennis Stratton, este substituído em seguida por Adrian Smith, e este, por sua vez, uma década depois, por Janick Gers), que solavam muito e compunham bons riffs, e um baixista e letrista (Steve Harris) com uma pegada muito peculiar, que favoreceu a notabilização da banda pelo estilo eqüino de algumas composições (RUN TO THE HILLS é o melhor exemplo, com aquela levada de cavalaria). O Iron é o tipo de banda impossível de buscar "inspiração", sob pena de tornar uma composição imediatamente classificável como "plágio" ou "cópia".
Só fui tomar contato com o som da banda após a aquisição de aparelho de CD no dia dos namorados de 1993. Na época os CDs eram muito baratos, e eu me permiti comprar no antigo Renner do Iguatemi (ficava na frente da Multisom do lado da Paquetá) um disco do Iron para conhecer (na mesma oportunidade, e com a mesma finalidade, eu também levei um do Metallica; no caso foi o Master of Puppets, amplamente recomendado pelo Diego e pelo Gugu).
A banda sempre teve todos os discos lançados no Brasil, o que não era comum, de modo que a escolha de um disco para adquirir era difícil para quem não conhecia nada dos caras. O "critério" foi o quantitativo: escolhi o CD que tinha o maior número de músicas, no caso o Fear of the Dark (12 faixas). Por coincidência era o mais recente lançamento de estúdio da banda, que havia se apresentado no Gigantinho em 1992 para promovê-lo.
FEAR OF THE DARK (1992)
Demorei um pouco para digerir o disco, pois eu estava mais acostumado com o som direto e com os riffs abertos do AC/DC, mas de cara gostei da 1.ª música - BE QUICK OR BE DEAD - que é o meu estilo de música: rápida e com um bom riff de início (as guitarras remetem às músicas mais rápidas do Rainbow, tipo KILL THE KING). Geralmente a primeira música dos álbuns de estúdio do Iron são rápidas e boas, e servem para abrir os shows da turnê respectiva.
O álbum conta com algumas músicas com apelo radiofônico como FROM HERE TO ETERNITY e, especialmente, WASTING LOVE. Por essa razão, muitos fanáticos desprezam o CD, considerado "comercial". São duas boas músicas, na verdade, mas eu não costumo ouvi-las - geralmente eu passo fast forward para a próxima faixa. Outras que passam batido, conquanto tenham bons momentos - seja um bom riff ou um bom refrão - são FEAR IS THE KEY, THE APPARITION e THE FUGITIVE.
Tem duas músicas que na época eu não dei muita bola, já que não faziam parte do repertório dos shows, mas que agora eu curto muito: CHAINS OF MISERY (baita refrão, bom riff hard rock - gosto muito da parte do Dave Murray no pre-chorus) e JUDAS BE MY GUIDE (excelente música hard rock dos anos 80, com um belo riff principal - que é o mesmo do refrão).
AFRAID TO SHOOT STRANGERS e FEAR OF THE DARK, com aqueles duetos melódicos fantásticos de guitarra, são músicas especiais, e essa impressão ficou fortalecida com as versões ao vivo do A Real Dead One. A primeira inicia com uma bela melodia sobre um "dedilhado", cujo padrão foi utilizado em outras músicas dos discos posteriores (esse dedilhado, na verdade, é apenas as - 3 - notas do power chord tocadas isoladamente, sem maior sofisticação). Aquele dueto, sobre o qual Dickinson canta o título da faixa, é fenomenal. FEAR OF THE DARK, a música, é uma das melhores músicas da banda, praticamente um épico devido à quantidade de riffs e andamentos - começa calmamente, com um "dedilhado" nos power chords D-C-Bb-F-G, e um teminha que reproduz a melodia da voz. Segue, então, uma correria pauleira, e após os versos. No meio tem 1 dueto grande de guitarra, com 2 teminhas, um após o outro - ambos fantásticos. Poucas bandas conseguem fazer com tanta desenvoltura a passagem de andamentos rápidos para lentos; essa é uma das virtudes do Iron.
A versão do álbum que eu tenho não é mais aquela adquirida na forma acima noticiada (troquei na Stoned); posteriormente comprei aquele relançamento com CD bônus, com faixas muito boas ao vivo (da turnê do No Prayer for the Dying) e outros covers e músicas de galinhagem (Roll Over Vic Vella).
A REAL LIVE ONE (1993)
A Real Live One, já referido, eu tomei contato logo em seguida (metade de 1993), mediante locação na famigerada Madsound. Lembro que curti CAN I PLAY WITH MADNESS, além das já conhecidas do Fear of the Dark. A última música, que eu achava que era a de encerramento do show (era a de encerramento do disco de estúdio), era a faixa título do Fear of the Dark, e parecia perfeita para tal finalidade. Mal sabia que essa era apenas a metade do show (só com o Live at Donnington é que pude conhecer um show do Iron na integralidade).
Outra impressão que eu tenho até hoje é a de que as versões ao vivo daquela época são muito superiores às versões de estúdio. As músicas ficam mais rápidas e com "mais energia", adicionado ao fato de que Bruce Dickinson estava em plena forma cantando como nunca, e cada guitarra ficava em um lado do fone de ouvido, de modo que se podia perceber claramente a diferença de estilo entre Gers e Murray.
A REAL DEAD ONE (1993)
Algum tempo depois eu adquiri nas Americanas do Praia de Belas o A Real Dead One, por um preço muito convidativo (por um bom tempo as Americanas foram excelentes fornecedoras de CDs "de relevo" por preços acessíveis). O disco tem a mesma qualidade de som e performance, e conta com os clássicos da banda até a época do Live After Death. THE NUMBER OF THE BEAST, THE TROOPER, 2 MINUTES TO MIDNIGHT, RUN TO THE HILLS e HALLOWED BE THY NAME contam com versões empolgantes. Não há que se desprezar, ainda, algumas músicas que não faziam parte do repertório de todos os shows como PROWLER (bela versão, bem emocionante), TRANSYLVANIA e WHERE EAGLES DARE. SANCTUARY é uma música que não faz parte de nenhum álbum de estúdio, e a qual eu nunca gostei - honestamente, não sei porque integrou o repertório de tantas turnês, até a do Brave New World (ver o CD Rock in Rio).
Seja como for, quando eu quero ouvir CDs ao vivo do Iron eu ouço A Real Live One e A Real Dead One (recentemente foram relançados em CD duplo sob o título A Real Live Dead One).
Como sói acontecer, a partir de então resolvi ir atrás de TODOS os discos da banda; assim, fui alugando um por um numa locadora da Rua Mal. Floriano, que ficava onde agora se encontra a Boca do Disco do Getúlio (lembro que eu sempre ia com o Giulia e o Marcus Vinícius, e que eles me acompanhavam não só por ser caminho para as paradas de ônibus, mas também pelo fato da atendedora da locadora na época ser muito bonita - foi frustrante quando o dono comunicou que ela não trabalhava mais lá por ter se casado...). De todos aqueles CDs o mais marcante foi Powerslave, alugado no verão (janeiro) de 1994; alguns discos parecem ter sido feitos em épocas específicas do ano, ou pelo menos parecem representar perfeitamente determinada estação; no caso, dois discos eu acho que se afinam com o verão: o próprio Powerslave e Hot in the Shade do Kiss.
POWERSLAVE (1984)
Dois clássicos abrem Powerslave: ACES HIGH e 2 MINUTES TO MIDNIGHT. A primeira trata de temas muito caros a Steve Harris (aviação e guerra), e tem vários riffs - é uma música bem orquestrada. A segunda é um verdadeiro clássico, provavelmente uma das melhores músicas do gênero. Começa com um riff de guitarra simples mas genial, e tem várias partes diferentes - tem até uma sessão instrumental entre os solos de Smith e Murray. A Burnin´ Boat tocou essa música em muitos ensaios e em alguns shows.
O disco conta ainda com uma música instrumental muito boa - LOSFER WORDS - e outras músicas obscuras, mas com qualidade como THE DUELLISTS e FLASH OF THE BLADE. Outros dois clássicos da banda são reservados para o final: a faixa-título, com muitas partes, andamentos (rápido e lento) e, sobretudo, riffs (o que serve de apoio para os versos, o do pre-chorus, o que serve de base para os solos - muito empolgante). Tem um dedilhado no meio que é base para um solo no meio da música, que é perfeito, e é acompanhado por uma linha de baixo que é praticamente outro solo. Enfim, uma profusão de sons - todos os músicos, nessa parte da música, executam tarefas bem distintas que se somam e se harmonizam para criar um momento de extrema criatividade. Essa música foi executada no primeiro show da Burnin´ Boat, no Teatro de Elis em 2000, e causou comoção nessa parte.
RIME OF THE ANCIENT MARINER é a primeira composição com mais de 10 minutos dos discos de estúdio do Iron. Junto com THE SIGN OF THE CROSS, do The X Factor, é o mais prog que a banda consegue chegar. Da mesma forma que POWERSLAVE, a música, RIME tem várias partes distintas, e uma letra muito longa. Um riff muito legal aparece lá pelas tantas, e é acompanhado por Bruce Dickinson a la BLACK DOG - os versos são cantados nas pausas do riff. No meio tem uma parte sonolenta em que o baixo executa arpejos e surge uma narração de um poema de Samuel Taylor Coleridge . Segue-se, então, uma daquelas retomadas empolgantes que o Iron costuma fazer após esses momentos mais sossegados.
LIVE AFTER DEATH (1985)
Da turnê de POWERSLAVE foi gravado um show nos EUA que deu origem ao CD LIVE AFTER DEATH, que eu já tive em 3 oportunidades 3 versões diferentes: a original, com CD single; uma do primeiro relançamento, com CD bônus contendo faixas não incluídas no LP; e um segundo relançamento com outro CD bônus contendo outras
faixas da mesma época, diferentes das do CD anterior. Os dois primeiros eu inclui em negociações nas lojas que trocam CDs (Stoned e uma no viaduto da Av. Borges). O outro eu ainda tenho - adquiri na Multisom exclusivamente pelo fato de que o preço era de CD simples, em que pese o fato de se tratar de CD duplo.
Por aí já se vê que LIVE AFTER DEATH não é nem de perto um dos meus favoritos. E não é para menos, em que pesem opinião da maioria dos fãs da banda, que entendem este como o melhor CD ao vivo da banda: Bruce Dickinson, na época, tinha uma voz muito ruim comparada com a que ele teve nos anos 90 até hoje; o som das guitarras era muito ruim, sem nem um pouco da "energia" que se ouve nos discos A REAL LIVE ONE, A REAL DEAD ONE e LIVE AT DONNINGTON; os backing vocals de Adrian Smith, por vezes, soam desafinados. O repertório é bom, conquanto tenha algumas faixas que eu não costumo ouvir como REVELATIONS, SANCTUARY e RUNNING FREE. Cumpre salientar, todavia, a excelente versão de FLIGHT OF ICARUS, mesmo com Dickinson se destruindo para alcançar as notas certas.
SOMEWHERE IN TIME (1986)
SOMEWHERE IN TIME eu conheci ao alugar na Madsound em um fim-de-semana de 1996; após ouvir as primeiras três músicas adquiri a convicção de que era um baita disco, e comprei aquele do primeiro relançamento com um CD bônus (com músicas tipo REACH OUT, JUANITA entre outras). CAUGHT SOMEWHERE IN TIME é um clássico do Maiden, com toda a dramaticidade que se costumava empregar nesse tipo de composição - início pomposo, com um teminha, outro teminha a toda velocidade, entre outros eventos.
WASTED YEARS é uma bela música de hard rock dos anos 80, composta por Smith. A seguinte é SEA OF MADNESS, e nesta o destaque é o baixo. Os riffs de Murray e Smith ficam prejudicados pelo som das guitarras, empastelados por sintetizadores. Esses recursos artificiais são geralmente maléficos nesse estilo de música, que a torna imediatamente datada. O disco inteiro é recheado dessas guitarras sintetizadas e marcou o início da utilização de teclados nos álbuns de estúdio do Iron.
Como destaque sobram HEAVEN CAN WAIT, uma das minhas favoritas, especialmente naquela parte "Taaaaaaake my hand, I´ll lead you to the promise land". Até o "ô-ô-ôo", que geralmente soa forçado em determinadas músicas, serviu bem até na versão de estúdio; STRANGER IN A STRANGE LAND não é uma composição típica da banda, pelo andamento e pela ausência de duetos de guitarra (os teminhas). Tem um estilo hard rock, com um bom refrão.
SEVENTH SON OF A SEVENTH SON (1988)
SEVENTH SON OF A SEVENTH SON é dos discos que me despertam menor interesse, muito embora nele estejam registrados pelo menos 3 músicas boas: o clássico THE EVIL THAT MEN DO (que não é das minhas favoritas; eu diria que é uma das que eu menos curto, de tão banalizada pelas bandas cover e pelo próprio Iron - até a Burnin´ Boat já tocou essa ao vivo), a outra clássica CAN I PLAY WITH MADNESS (gosto daquele teclado no refrão, poser pra caramba), e THE CLAIRVOYANT (gosto dos teminhas). INFINITE DREAMS é o tipo de música que o Iron já fez e continua fazendo - a banda se ressente de alguma repetição quanto a dedilhados e progressão de acordes (C-D-E e suas variações, incluindo, por vezes, B ou G). Ouvi muito pouco esse disco em relação aos outros da coleção - prefiro o CD bônus, que tem algumas versões ao vivo muito boas de KILLERS e THE PRISONER, bem como uma versão atualizada de CHARLOTTE THE HARLOT.
Os discos mais antigos do Iron, pessoalmente, despertam pouca curiosidade. Todos são excelentes - o mais importante deles é The Number of the Beast - , mas são de escasso interesse, talvez pelo próprio fato de serem muito bem acolhidos por público e crítica (dá-se o mesmo com os primeiros álbuns do Black Sabbath com o Ozzy - do 1.º até o Sabbath Bloody Sabbath - de valor musical e histórico indiscutível, mas que eu já ouvi o suficiente; prefiro os controvertidos discos dos anos 80). O caso mais notável é o de Peace of Mind, que tem músicas do tipo THE TROOPER e FLIGHT OF ICARUS, mas que jamais me comoveu a ponto de adquiri-lo em loja - bastou-me a locação na antiga locadora da Rua Mal. Floriano.
Dessa época (antes de Powerslave), algumas músicas são fantásticas como PHANTOM OF THE OPERA (inacreditável que os caras não incluam essa no set list dos shows - a única música dessa época que ainda é interpretada é WRATHCHILD, e isso ocorre em todas as turnês, inexplicavelmente). HALLOWED BE THY NAME é outra das favoritas, e tem uma letra magnífica. Em regra eu não dou a mínima para as letras, mas nesse caso é imperioso reconhecer que tem belos versos, e a história narrada é praticamente teatral. Outra com letra de destaque é THE TROOPER, e também vale lembrar RUN TO THE HILLS.
THE X FACTOR (1995)
Mesmo o fato de recairem as músicas, em regra, sobre os mesmos acordes (power chords) C-D-E, o Iron conseguiu por muito tempo compor de maneira a tornar interessantes as músicas, com alguns riffs de efeito moral e teminhas bem sacados. Com o tempo (depois do Fear of the Dark) essa capacidade foi se dissipando e hoje é preciso alguma boa vontade para encarar determinadas faixas dos discos mais recentes. Dentre estes o melhor é The X Factor.
Após a saída de Bruce Dickinson, no início dos anos 90, a banda fez uma espécie de vestibular para a escolha do novo vocalista. Hoje em dia se sabe que muitos dos melhores vocalistas do gênero se prestaram para fazer audições e enviar material a ser analisado por Harris e Cia, dentre os quais DC Cooper, Doogie White e até o André Matos. No final das contas, de forma surpreendente, os caras optaram por um vocalista já conhecido (deles) de turnês passadas na Inglaterra, que se apresentava com a desconhecida Wolfbane: trata-se de Blaze Bailey. A escolha dividiu os fãs, e a maioria dos que eu conheço torceu o nariz para a escolha. De Bruce a Blaze os estilos são completamente diferentes - o último é mais contido pois sua voz não tem nada do alcance do primeiro. Mas esse não foi o maior problema; a questão tornou-se delicada pelo fato de que Dickinson, além de excelente vocalista, é um perfeito frontman, extremamente carismático. Não é alguém fácil de ser substituído. Blaze, por sua vez, tem alcance limitado e carisma praticamente nulo - nem se fale na sua pífia performance de palco.
Em 95, então no colégio, eu fui o primeiro a ouvir The X Factor (locação na Madsound). O som do disco causou estranheza, uma "sensação de quarto escuro", provavelmente devido à capa, ao encarte e à primeira faixa do álbum, que inicia com um sinistro canto gregoriano. Lembro que ninguém gostou da novidade. Com o tempo eu acabei gostando de THE SIGN OF THE CROSS, MAN ON THE EDGE ("Falling dooown"), FORTUNES OF WAR. A primeira é um épico ao estilo da banda, com bons riffs, um baita refrão, e uma parte instrumental bem qualificada. Gosto muito dessa música, que felizmente ganhou uma versão com 3 guitarristas e na voz de Bruce Dickinson no álbum Rock in Rio. MAN ON THE EDGE é outra das minhas favoritas, com um estilo bem Rainbow. Geralmente eu não gosto de refrões limitados ao título da faixa, ou algum outro verso, cantado repetidamente (v.g., BLOOD BROTHERS), mas nesse caso entendo que funcionou adequadamente.
Muitas das letras de The X Factor tratam de guerra, geralmente associada à dor e perda. É um tema recorrente, sobretudo nas letras de Steve Harris. FORTUNES OF WAR é uma boa música, bem interpretada por Bailey, e com alguns trechos bem imponentes, surpreendentemente com um violão acústico. O refrão tem aquela repetição do título da música, mas finaliza com um verso rimando, o que quebra a monotonia ("Fortunes of War; fortunes of war; fortunes of war; no pain anymore"). É o tipo de coisa que os caras deveriam fazer sempre, pra evitar refrões enjoados tipo BLOOD BROTHERS e BRAVE NEW WORLD. Outra com o mesmo estilo, e bem legal, é THE AFTERMATH.
Da turnê de lançamento saíram alguns bootlegs, dentre os quais se destaca The Eternal Flame, nos quais o repertório invariavelmente incluíam HEAVEN CAN WAIT, WRATHCHILD, THE EVIL THAT MEN DO, IRON MAIDEN, AFRAID TO SHOOT STRANGERS e THE TROOPER junto com FORTUNES OF WAR, THE AFTERMATH, SIGN OF THE CROSS, LORD OF THE FLIES e MAN ON THE EDGE. Algumas das clássicas do Iron, mas que exigiam alcance muito alto do vocalista, foram excluídas. Claramente se percebia que Bailey não dava conta em determinadas ocasiões.
VIRTUAL XI (1998)
O disco seguinte, Virtual XI, eu ouvi um pouco na época do lançamento (aluguei na Madsound), e agora mais recentemente. Nunca fui fã desse disco, e mesmo algumas músicas me causavam irritação. Só mais recentemente é que percebi que se trata de um bom álbum, com uma boa música de abertura (FUTUREAL) e alguns bons momentos em LIGHTNING STRIKES TWICE (mesmo com parte do refrão - aquele "Strikes twice!" - algo bizarro de ouvir). Jamais gostei de THE CLANSMAN, com aquele início com bends iguais aos de INFINITE DREAMS e "dedilhado" nos power chords exaustivamente repetidos em outras músicas. Entretanto, ouvindo o CD com isenção de ânimo (humm), já admito que a música é boa e que aquela parte "Fredooooom" não é despicienda.
Após o lançamento de Virtual XI, e uma turnê melancólica que se seguiu, promoveu-se uma reunião com Bruce Dickinson e Adrian Smith sendo agregados ao grupo, excluindo-se Blaze Bailey. Lembro que a expectativa era enorme, pois o som da banda parecia ideal para uma formação com 3 guitarras; neste caso as opções eram inúmeras: v.g., duas guitarras executariam um dueto, e a terceira, os acordes; ou 3 guitarras executariam um mesmo tema, mas em diferentes posições da escala (terça ou quinta); solos dos 3 guitarristas na mesma música.
BRAVE NEW WORLD (2001)
Por isso o lançamento de Brave New World foi cercado de um entusiasmo que eu jamais tinha visto, e nem se repetiu até hoje. O CD foi adquirido por praticamente todos os meus conhecidos na época, ou pelo menos todos os que estavam envolvidos nesse tipo de música. Não por acaso eu acabei inaugurando aquele esquema pré-venda da Saraiva, e o meu exemplar chegou quando eu menos esperava.
Após as primeiras audições, restou uma sensação de frustração com algumas composições. A banda resolveu apostar nas fórmulas consagradas dos discos anteriores, deixando pouco espaço para inovações. THE WICKER MAN é uma boa música de abertura, uma das melhores da carreira do Iron. Inicialmente eu achava aquele "ô-ô-ô-ôu" um pouco forçado, mas hoje em dia não vejo maiores problemas. O solo de Adrian Smith é bem legal. GHOST OF THE NAVIGATOR começa bem, tem bom riff e bons versos, mas não gosto muito do pre-chorus ("and I know, I know, I knoooow"), do chorus, e da parte que vem em seguida. Algumas música são realmente boas, como DREAM OF MIRRORS e THE NOMAD.
ROCK IN RIO (2003)
No final das contas, Brave New World não é o tipo de disco que dá vontade de ouvir por vários dias. Em janeiro de 2002, a banda se apresentou no Rock in Rio e gravou um CD ao vivo e um DVD. O repertório foi decepcionante, pois a ordem das músicas era facilmente adivinhável. E se tem uma coisa que eu diria que pode arruinar um show é um set list previsivel. A única surpresa ficou por conta da performance do Bruce Dickinson que cantou e correu muito o show inteiro.
Pessoalmente, a melhor música do show foi THE SIGN OF THE CROSS, que já era uma das minhas favoritas, e que ficou excelente na voz de Dickinson. O álbum demorou muitos meses para ser lançado, devido ao fato de que alguns canais terem sido danificados. Entendo que o problema não foi totalmente solucionado, pois algumas faixas têm a linha de baixo muito ruim, como em THE WICKER MAN.
Adquiri o CD nas Americanas, sem muita empolgação, mais em atenção ao fato de ser um disco ao vivo com 3 bons guitarristas. Entretanto, os problemas de áudio tornam o disco difícil de ourir - ainda prefiro os velhos A REAL LIVE ONE, A REAL DEAD ONE e LIVE AT DONNINGTON.
DANCE OF DEATH (2004)
Eu não esperava outro lançamento de inéditas do Iron tão cedo. Mas os caras sabem que o tempo está curto, e os próprios integrantes da banda admitem que é hora de aproveitar o máximo e capitalizar em cima de discos de estúdio, turnês e discos ao vivo. Entendo que é o melhor que eles têm a fazer mesmo, sobretudo em atenção ao fato de que a banda tem um público cativo e fanático, o que é garantia de sucesso dos lançamentos.
Ouvi pela primeira vez Dance of Death já desacreditado de que encontraria alguma novidade que motivasse a aquisição do CD. E de fato, na época achei o disco muito fraco, totalmente previsível - até postei um comentário na época, neste espaço.
Tomado de uma curiosidade súbita por esses CDs da banda, após o lançamento (inesperado, por mim) de Death on the Road, resolvi adquirir Dance of the Death na Saraiva. E não me arrependo - o disco abre com uma faixa que eu menosprezei de início, mas que é muito boa: WILDEST DREAMS. Outras músicas legais são THE JOURNEYMAN ("I know what I want, and say what I want"), NO MORE LIES, a própria faixa-título, e PASCHENDALE.
É evidente que as composições guardam aquele estilo consagrado pelo Iron, com progressões de acordes baseados no C-D-E ou Bb-D-D, subindo ou descendo para G ou F ocasionalmente.
Em Death on the Road podemos ver, finalmente, a voz de Dickinson perdendo a força. O cara continua mandando bem, mas em alguns momentos se percebe que o esforço do vocalista acaba prejudicando a clareza dos versos mais altos. É uma pena, mas esse fenômeno é inevitável e todos os vocalistas invariavelmente passam por ele (só Glenn Hughes mantém a forma, apesar da voz ter-se modificado em certa medida; Rob Halford é outro que preserva o alcance).
Definitivamente, o Iron é uma das bandas que eu iria assistir se viesse a Porto Alegre. É uma pena que ainda não vieram divulgar o Dance of Death ou o Death on the Road, sobretudo diante das visitas recentes do Judas Priest (turnê do Angel of Retribution), do Whitesnake, e do Stratovarius.