Em 1998 os cds eram baratos em Porto Alegre, e lembro bem de uma tarde invernal de sábado, na Banana Records do Iguatemi, em que encontrei o cd duplo ao vivo do Stratovarius por menos de 30 reais. Na mesma letra “S”, logo adiante, encontrei um cd duma banda que nunca tinha ouvido falar, mas que tinha nome e capa convidativos: a banda era Symphony X, e o disco se chamava “The Divine Wings of Tragedy”. Levei o disco para ouvir nos aparelhos predispostos à audição, e não foi nem necessário percorrer todas as faixas para firmar a convicção de que se tratava de um belo disco.
Pois o Symphony X, todos sabem, é uma banda de metal progressivo, isto é, uma banda que agrega (a) guitarras distorcidas e pesadas com muita técnica e virtuosismo, (b) variedade de estilos e ambientes musicais, predominando o som mais pesado, sem prejuízo de momentos melodiosos, (c) mudanças de ritmo constantes mesmo dentro de uma música, (d) vocal perfeito, (e) bateria, baixo e teclados manejados por exímios instrumentistas. Esse estilo (metal progressivo) se tornou popular graças ao Dream Theater, de modo que as comparações são inevitáveis. Mas desde logo se notam as diferenças, pois o Symphony X é menos eclético do que os nova-iorquinos, dado que tanto no som, como nas letras, como no visual, predominam elementos, por assim dizer, medievais. Talvez isso não seja o mais importante, e sim o fato de que o Symphony X, acima de tudo, é uma banda centrada nas guitarras de Michael Romeo, servindo os outros instrumentos para sustentar o lado progressivo.
Durante muito tempo, e até recentemente, considerei este “Divine Wings” como o melhor disco da banda, e a partir dele passei a acompanhar os caras. Aqui há a consolidação da formação com Russel Allen nos vocais, e o entrosamento dos músicos atingiu o áuge naquela época. A seqüência das três primeiras faixas é matadora: OF SINS AND SHADOWS, SEA OF LIES e OUT OF THE ASHES. Essas três músicas têm riffs principais empolgantes, refrões fantásticos cantados a plenos pulmões, acompanhados de solos virtuosos. A melhor de todas é SEA OF LIES. Outras músicas são mais sossegadas, de certa maneira, como THE ACCOLADE e CANDLELIGHT FANTASIA, pois ampliam o espectro de possibilidades sonoras da banda. O disco conta ainda com uma faixa de 20 minutos, que dá nome ao álbum. Essa variedade permite que cada um tenha determinada música como favorita, dependendo de qual elemento (peso, ou melodia, ou técnica) se der preferência ou prioridade, ao gosto do ouvinte.
É possível dizer que todo disco do qual participe a dupla Romeo e Allen será um bom disco, e no caso presente, com o suporte de M. Pinnella, T. Miller e J. Rullo, os caras conseguiram compor um dos discos mais representativos do gênero. Parece-me que esse "Divine Wings" é o tipo de disco que uma banda compõe e tenta superar nos lançamentos subseqüentes. E são de contar nos dedos as bandas que conseguem realizar esse tipo de façanha.
domingo, 11 de novembro de 2007
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
CD - LED ZEPPELIN - "Led Zeppelin III" (1970)
As Lojas Americanas vêm recuperando seu papel de excelente local para aquisição de cds clássicos por preços acessíveis. No caso presente, parte da discografia do Led Zeppelin está disponível por R$ 14,99, o que substitui com vantagem os downloads.
Estou acostumado com discos de rock que trazem uma ou duas músicas acústicas, baladas ou não, e o restante (8, 9 ou 10, geralmente) de músicas com guitarras distorcidas. Nada a opor a esse formato. Mas não sei muito bem como lidar com discos como LED ZEPPELIN III, no qual mais da metade das músicas é conduzida por violões (numa época em que, evidentemente, sequer haveria de se falar em discos "unplugged"). Às vezes me parece difícil entender como o Led Zeppelin, com um repertório tão variado de composições, influenciou tão decisivamente bandas como Kiss, Aerosmith e todo o hard rock em geral, pois nenhuma dessas bandas parece ter aderido às músicas folk e acústicas da banda de Page, Plant, Bonham e Jones. E nessas condições, é evidente que se trata de uma deficiência minha: deve haver material suficiente aqui, nos dois discos anteriores e nos discos posteriores (notadamente o "IV") que garantem essa supremacia do Led Zeppelin sobre as demais bandas em termos de hard rock.
Como se posicionar, pois, frente a esse "III"? Se quero ouvir o bom hard rock do Led Zeppelin, certamente que não irei recorrer ao "III", a não ser que seja exclusivamente para ouvir IMMIGRANT SONG, SINCE I´VE BEEN LOVING YOU ou OUT IN THE TILES. As faixas acústicas predominam nesse disco, e (conquanto boas) não são tão diferenciadas a ponto de não poder considerá-las como fruto de uma dia produtivo de J. Page com seu violão de cordas de aço. Seja como for, esse "inconveniente" parece não ser suficiente para que se possa considerar o disco como um verdadeiro clássico.
Uma das minhas músicas favoritas da banda é a que abre o disco: IMMIGRANT SONG tem um belo riff de guitarra, e é acompanhado por um "teminha" vocal de Plant (aqui funcionou o talento do cara para os agudos...). No "refrão", quando Page apenas faz power chords, John Paul Jones demonstra que domina o baixo.
Mas a melhor música do disco é SINCE I´VE BEEN LOVING YOU, e me parece evidente que se trata de uma remota inspiração para Coverdale e Blackmore comporem MISTREATED (do "Burn", de 1974 do Deep Purple). Aparentemente, essa música foi gravada ao vivo no estúdio e conta com um trabalho monumental de guitarra de J. Page. Todas as intervenções do cara são dotadas do famigerado "feeling", elemento imprescindível quando se trata de blues.
As composições acústicas, na medida do possível, são muito boas, especialmente GALLOWS POLE e BRON-Y-AUR STOMP, nas quais Page demonstra que se daria muito bem em qualquer roda de violão (só não vale pedir pro cara tocar Raul ou Legião...). Algumas dessas músicas têm solos cortantes de violão, e não é raro encontrar licks posteriormente reproduzidos por guitarristas mais novos, isto é, os guitarristas de todas as bandas de hard rock dos anos 70 e 80.
Estou acostumado com discos de rock que trazem uma ou duas músicas acústicas, baladas ou não, e o restante (8, 9 ou 10, geralmente) de músicas com guitarras distorcidas. Nada a opor a esse formato. Mas não sei muito bem como lidar com discos como LED ZEPPELIN III, no qual mais da metade das músicas é conduzida por violões (numa época em que, evidentemente, sequer haveria de se falar em discos "unplugged"). Às vezes me parece difícil entender como o Led Zeppelin, com um repertório tão variado de composições, influenciou tão decisivamente bandas como Kiss, Aerosmith e todo o hard rock em geral, pois nenhuma dessas bandas parece ter aderido às músicas folk e acústicas da banda de Page, Plant, Bonham e Jones. E nessas condições, é evidente que se trata de uma deficiência minha: deve haver material suficiente aqui, nos dois discos anteriores e nos discos posteriores (notadamente o "IV") que garantem essa supremacia do Led Zeppelin sobre as demais bandas em termos de hard rock.
Como se posicionar, pois, frente a esse "III"? Se quero ouvir o bom hard rock do Led Zeppelin, certamente que não irei recorrer ao "III", a não ser que seja exclusivamente para ouvir IMMIGRANT SONG, SINCE I´VE BEEN LOVING YOU ou OUT IN THE TILES. As faixas acústicas predominam nesse disco, e (conquanto boas) não são tão diferenciadas a ponto de não poder considerá-las como fruto de uma dia produtivo de J. Page com seu violão de cordas de aço. Seja como for, esse "inconveniente" parece não ser suficiente para que se possa considerar o disco como um verdadeiro clássico.
Uma das minhas músicas favoritas da banda é a que abre o disco: IMMIGRANT SONG tem um belo riff de guitarra, e é acompanhado por um "teminha" vocal de Plant (aqui funcionou o talento do cara para os agudos...). No "refrão", quando Page apenas faz power chords, John Paul Jones demonstra que domina o baixo.
Mas a melhor música do disco é SINCE I´VE BEEN LOVING YOU, e me parece evidente que se trata de uma remota inspiração para Coverdale e Blackmore comporem MISTREATED (do "Burn", de 1974 do Deep Purple). Aparentemente, essa música foi gravada ao vivo no estúdio e conta com um trabalho monumental de guitarra de J. Page. Todas as intervenções do cara são dotadas do famigerado "feeling", elemento imprescindível quando se trata de blues.
As composições acústicas, na medida do possível, são muito boas, especialmente GALLOWS POLE e BRON-Y-AUR STOMP, nas quais Page demonstra que se daria muito bem em qualquer roda de violão (só não vale pedir pro cara tocar Raul ou Legião...). Algumas dessas músicas têm solos cortantes de violão, e não é raro encontrar licks posteriormente reproduzidos por guitarristas mais novos, isto é, os guitarristas de todas as bandas de hard rock dos anos 70 e 80.
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