sábado, 14 de fevereiro de 2009

CD - Yes "90125"

Já escrevi sobre como às vezes (i.é, quando possível) aguardo o melhor momento para comprar um cd, entendido melhor momento como preço mais em conta. Com o tempo percebi que um bom disco lançado há muitos anos e que é colocado novamente nas prateleiras das lojas de cds por preço igual ao de um lançamento (tipo 30 reais) pode, mais tarde, ser colocado em balaio de promoções. Esse foi exatamente o caso de "90125" do Yes. Bem no começo deste blog, escrevi sobre os discos que considero marcantes do Yes, e é consenso que a melhor fase da banda é a da década de 1970, na qual se dedicava ao rock progressivo, pois na década de 1980 e na era da MTV o Yes mudou parte de sua formação consagrada e abandonou a sua marca registrada para lançar discos voltados ao pop-rock de rádio - e talvez não seja exagero dizer que poderiam ser consideradas duas bandas diferentes, o Yes de 1970 e o Yes de 1980, já que um tem pouco a ver com o outro. A banda continua em atividade, mas é notória a preferência pela formação e repertório da época progressiva, o que não serve para desmerecer o material dos anos 1980.

Admito que essa conclusão só me permiti tomar mais recentemente. Em 2000 firmei a convicção de que seria uma boa comprar esse cd "90125", mas o preço sempre foi proibitivo, de modo que somente em 2006 que veio ao condição favorável que tanto esperei: encontrei o disco no balaio das Americanas do Moinhos por 14,99.

Todos sabem o que "90125" representou para o Yes e para o pop-rock em geral; para o Yes foi um novo fôlego para uma trajetória em declínio, pois o auge havia sido em 1971/1972 com "Fragile" e "Close to the Edge", e os caras dividiram opiniões com um disco duplo com apenas quatro músicas, todas com mais de 15min ("Tales From Topographic Oceans"), que acarretou a saída de Rick Wakeman, a gravação de mais um disco grandioso em 1974 ("Relayer"), o retorno de Wakeman e o registro de dois discos com músicas mais curtas, em atenção aos tempos desfavoráveis ("Going for the One" e "Tormato"), e a gravação de um disco essencial e praticamente ignorado pela ausência de Jon Anderson ("Drama" de 1980). A banda praticamente acabou por essa época, sendo que Chris Squire e Alan White tentaram se manter ativos ensaiando com Jimmy Page para formar uma banda nova que alguém falou que se chamaria XYZ ("ex- Yes e Zeppelin"); Squire e White acharam, então, o guitarrista e compositor talentoso Trevor Rabin e chamaram Tony Kaye; Anderson curtiu o material e resolveram lançar essas novas composições sob o nome de Yes. Para o pop-rock, "90125" contribuiu com uma faixa que entrou para a história do gênero, "Owner of a Lonely Heart".

Atribuo o sucesso desse disco ao trabalho de Rabin, pois são conhecidas as demos que ele produziu e que viraram as faixas do disco. Mas a tarefa do cara ficou bastante facilitada no caso pois Squire e White são excelentes instrumentistas (parece-me que a contribuição de Kaye é irrisória). A produção do disco é muito boa (a cargo de Trevor Horn, que foi o vocalista em "Drama"), assim como as faixas, mas admito que o som é datado na maior parte do tempo, especialmente nos vocais, na bateria e timbre de guitarra processado. Então o lance é ouvi-lo e procurar coisas para aprender.

"Owner of a Lonely Heart" é a música mais conhecida, talvez a mais famosa da banda (apesar do senso comum a respeito de "Roundabout" como hino do Yes). O riff inicial e instantaneamente reconhecível e é muito legal, com uma distorção muito boa. Mas Yes não é uma banda de rock convencional, então o riff não fica tocando o tempo todo do mesmo jeito; assim, o riff com guitarra distorcida aparece só no início - depois disso todos já estão familiarizados com a música, mas os versos são conduzidos pelo baixo tocando o riff com notas curtas e guitarra com som limpo e dedilhado

Mas é na segunda faixa, "Hold On", que os caras demonstram que são mestres. Nunca fui fã dessa música, mas uma ouvida mais atenta me permitiu concluir que aqui os caras conseguiram agregar características marcantes do Yes anos 1970 e do Yes anos 1980. O refrão é grudento, pronto para as rádios, assim como o início da música, com um teminha que identifica a música tocado logo de cara pela guitarra. Mas os versos, cantados em dueto por Squire e Anderson, algumas levadas quebradas de White durante esses versos, um riff mais pesado de guitarra lá pelas tantas, uma parada na qual são ouvidas apenas vozes sobrepostas cantando frases dos versos, é que fazem essa uma grande música da época da banda.

"It Can Happen" me parece que é o tipo de música que o Yes começou a se dedicar nos anos 1990, em discos como "Open Your Eyes", sobretudo quando ouço o refrão tipo sacada genial: "It can happen to you, it can happen to me, it can happen to everyone eventually". Diferentemente, porém, de "Open Your Eyes" tem umas guitarras interessantes e uns backing vocals de Rabin muito bons.

Uma das minhas favoritas da banda em todos os tempos é "Changes". Ouvi pela primeira vez num daqueles tantos tributos lançados pela Magna Charta, "Tales From Yesterdays", que reuniu uma quantidade de bandas e músicos talentosos e conhecidos (Steve Morse, o próprio Steve Howe, Shadow Gallery, Magellan, World Trade, Cairo, o próprio Patrick Moraz, o próprio Peter Banks. "Changes" era uma das melhores versões (executada pela banda Enchant), e acho que é até melhor que o original (o vocal de Ted Leonard leva vantagem sobre o de Trevor Rabin e sobre o de Jon Anderson). Seja como for, a música é espetacular, pelos versos bem colocados sobre um dedilhado marcante e pelo refrão matador acompanhado por uma guitarra com pausas e distorção. Aliás, essa guitarra com bastante distorção no refrão é bem incomum em se tratando de Yes, e o resultado é muito bom.

O projeto Rabin, White e Squire se chamaria Cinema, e só virou Yes a partir do ingresso de Anderson e Kaye. Nesse disco há uma faixa instrumental, registrada ao vivo no estúdio, com pouco mais de 2min e que se chama, justamente, "Cinema". É muito legal, pena que curta. White faz uma levada na caixa, Squire manda ver numa linha de baixo com bastante efeito (bem característico dele) e com vários slides longos, e uma melodia na guitarra. Belo momento do disco, dando uma amostra do que os caras fariam se o disco fosse para o lado do progressivo.

"Leave It" tem vocais principais de Rabin melhor que os de Anderson nos versos, até porque são mais num estilo de rock não muito familiar ao segundo. Aqui também tem as sobreposições de voz que caracterizam a banda. Mas a faixa se ressente do som datado da bateria, dos vocais e dos teclados.

"Our Song" começa como uma música antiga do Bon Jovi ("Runaway"), mas conta com umas guitarras distorcidas e evolui em seguida para umas partes boas de riffs com pausas, levada de baixo com os slides típicos de Squire e quebrada na bateria.

Dessas faixas mais obscuras uma das melhores é "City of Love", que tem um peso inesperado nos versos (acho que os acordes são F# e E). E o refrão é muito legal ("We´ll be waiting for the night, we´ll be waiting for the night to coooome"). Boas guitarras, bons versos e bom refrão.

O disco finaliza com uma longa e lenta, porém típica faixa do Yes: "Hearts" tem mais de 7min, um insistente riff sincopado no sintetizador, e no geral lembra o som que a banda devenvolveu nos anos 1990. A faixa só fica interessante depois da marca de 4min, com um riff rocker de guitarra.

É um disco clássico para o Yes e para o rock dos anos 1980.

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