BALLS TO PICASSO (1994)
Quando Bruce Dickinson deixou o Iron Maiden em 1994, eu já estava familiarizado com discos como “FEAR OF THE DARK”, e lembro de quando a ZH publicou uma resenha do primeiro álbum solo lançado pelo vocalista nessa fase pós-Maiden, na qual se disse que “BALLS TO PICASSO” tinha pouco que diferenciasse do trabalho anteriormente desenvolvido na banda de Steve Harris. Ouvi o disco na época e dei muito pouca atenção, a não ser pelo fato de achar TEARS OF A DRAGON uma música “ok” – afinal, é inegável que se trata de uma balada com estilo radiofônico, além de que se me fosse dado escolher algo do vocalista para ouvir, eu iria de alguma coisa do “POWERSLAVE” ou do próprio “FEAR OF THE DARK”. No entanto, a Saraiva anda fazendo uma promoção legal de cds, de modo que pude recentemente tomar novo contato com o disco. Algumas músicas, desde ALIVE IN STUDIO A, eu já achava estupendas como 1000 POINTS OF LIGHT e SACRED COWBOYS, que têm bons riffs e bons refrões, que, geralmente, é o tanto quanto basta para se fazerem boas músicas. Mas se impõe reconhecer que se “BALLS TO PICASSO” representa alguma coisa como um disco no repertório de Bruce Dickinson, tal se deve grandemente por causa de TEARS OF A DRAGON, que, de fato, é uma baita música – simples, mas muito eficiente e poderosa. Talvez seja fazer pouco da música dizer que se trata de uma música “simples”, sobretudo porque começa com um dedilhado, incorpora algumas guitarras, ganha velocidade no expressivo solo, e tem uma parada tipo “reggae”, para depois voltar ao dedilhado e ao refrão. Mas a simplicidade se dá porque o terreno percorrido por Bruce nessa música é conhecido (não por acaso, o vocalista compôs a música sem a participação do valoroso Roy Z). Cumpre, ainda, destacar a excelente interpretação de Bruce, que ganha a música - o refrão é, como se diz hoje em dia, tudo de bom. Bem vistas as coisas, pois, TEARS OF A DRAGON é (a) um clássico da sua carreira solo; (b) muito melhor que a balada do Iron – WASTING LOVE; (c) e mesmo melhor que muitas coisas que o Iron compôs.
ACCIDENT OF BIRTH (1997)
Após o resultado mediano alcançado pelo lançamento seguinte – “SKUNKWORKS” – foi sem muito entusiasmo que eu aluguei na saudosa MadSound o cd “ACCIDENT OF BIRTH”, conquanto a (legal) capa do disco contivesse o traço de Derek Riggs, e à banda de apoio capitaneada pelo Roy Z se tenha feito ingressar o mítico guitarrista Adrian Smith (não estranho aos fãs de Iron Maiden). Mas foi só botar o cd pra rodar que fiquei positivamente surpreendido com as boas composições do álbum; a faixa de abertura – FREAK – é muito boa. De pronto se percebe que o som das guitarras está diferente, e aparentemente tal se deve à afinação dropped-D e a incorporação de cordas mais pesadas ao instrumento. Seja como for, sempre me pareceu difícil, na audição do disco, imaginar as notas e as posições dos riffs. STARCHILDREN também é uma boa faixa, com um refrão muito bem aproveitado pelo vocalista. TAKING THE QUEEN tem uma bela levada no violão, mas o clássico do disco é a música seguinte – DARKSIDE OF AQUARIUS -, que durante um bom tempo foi cogitada – e ensaiada parcialmente – para compor o repertório dos shows da Burnin´ Boat. A música é boa, e utiliza a afinação drop-D de maneira bastante interessante, sobretudo no riff que acompanha os solos. ROAD TO HELL não é das minhas favoritas – parece uma música fácil demais (o teminha de abertura não me emociona), e o refrão parece ser daqueles pré-fabricados. Segue-se uma balada com pianos e tudo mais – MAN OF SORROWS – do tipo que Bruce sabe cantar muito bem. A faixa-título é pesada e boa, com bom riff e me lembra um pouco o Iced Earth, sobretudo pelas guitarras harmonizadas durante o refrão. THE MAGICIAN é outro tipo de música que parece que os caras fizeram em 5 minutos – mas pelo menos está em drop-D. WELCOME TO THE PIT lembra, de certa maneira, o que o Kiss e o Bruce Kulick acabaram fazendo no disco “CARNIVAL OF SOULS”. THE GHOST OF CAINS, em que pese o teminha de abertura, tem um bom riff principal e, sobretudo, um refrão legal. Essas últimas músicas são todas bem razoáveis, mas nada marcantes. Até que chegam as duas últimas: OMEGA e ARC OF SPACE. A primeira tem uma levada tradicional de Roy Z no violão e ganha corpo com umas guitarras, mas é a performance de Bruce que faz valer a música. A segunda fica no violão, mas ganha um apoio no sempre bem cotado Mellotron. Bruce ganha mais uma vez no vocal, e o refrão, notavelmente, é bem emotivo (“In my heart I reach you...”). Aqui o solinho de violão é muito legal, também. Nesse disco, em todas as faixas, sobressai o trabalho competente e seguro do baterista David Ingraham. Não consigo visualizar até que ponto o disco seria diferente se não contasse com Adrian Smith – afinal a grande maioria das faixas foi composta por Dickinson e Z -, mas, no mínimo, as faixas ganharam mais credibilidade com a presença do guitarrista.
THE CHEMICAL WEDDING (1998)
Do próximo disco – “THE CHEMICAL WEDDING”, adquirido de barbada numa feira em Itapema/SC no verão de 1999 – eu já sabia, basicamente, o que esperar: um belo disco. E a música de abertura – KING IN CRIMSON – superou as minhas expectativas, pois se trata de uma composição melhor que todas as do “ACCIDENT OF BIRTH”, pelo menos para o meu gosto. Os caras conseguiram fazer uma música ainda mais pesada, mas dinâmica, com um belo riff que acompanha os versos, finalizados com uma descidinha neo-clássica bem ao estilo Blackmore no Rainbow (DEATH ALLEY DRIVER). A faixa-título tem um belo refrão. THE TOWER é uma boa música que acabou sendo representada ao vivo pela Burnin´ Boat (tratou-se de um dos poucos casos nos quais ficou decidido que determinada música seria tocada e a mim caberia apenas aprender o que os outros já sabiam). O dueto (em que pese o baixo também reproduzir o riff) após os solos é sensacional. KILLING FLOOR é bem pesada e parece ser uma música decente. BOOK OF THEL é uma baita composição, irmã-gêmea de DARSKIDE OF AQUARIUS (lembro que o Bruce - o da Burnin´ Boat/Wordlengine - , na época, se abriu bastante para essa). Tem uns bons mini-solos de bateria lá pelas tantas. GATES OF URIZEN tem um estilo bastante familiar, com introdução lenta, uma encorpada no decorrer, mas nada muito significativo. JERUSALEN traz de volta uma interpretação bastante própria de Dickinson ("Let it rain, let it rain...") - o cara é mestre em criar momentos marcantes nas faixas. A levadinha no violão, como geralmente ocorre nas composições do Roy Z, é bem fácil e legal. O peso volta com força em TRUMPETS OF JERICHO (estranhamente, contudo, para abrir o disco ao vivo "SCREAM FOR ME...". Seja como for, não há nada de errado nessa música, ao contrário do que ocorre com MACHINE MEN, que não traz nada de relevante para o disco - exceto o solo com wah. Os versos de THE ALCHEMIST, da forma como cantados por Dickinson, lembram muito o Black Sabbath com Ozzy. REALWORLD fecha o disco, mas se trata de uma música dispensável, aparentemente fora de sintonia com o resto do álbum.
Da forma como Bruce Dickinson saiu do Iron para retomar sua carreira solo faz com que seja inevitável a comparação dos 4 discos lançados com os 2 álbuns registrados pelo Iron com Blaze Bailey, e é fácil concluir que Dickinson se saiu muito melhor, pois no mínimo ACCIDENT OF BIRTH e THE CHEMICAL WEDDING (que podem ser considerados em conjunto, pois têm sonoridade muito próxima, assim como ROCK AND ROLL OVER e LOVE GUN, e DINASTY e UNMASKED do Kiss) são discos mais interessantes e com melhores composições (pelo menos quantidade de melhores composições) que THE X FACTOR (que eu curto) e VIRTUAL ELEVEN.
No início dos anos 2000, Bruce e Steve Harris acabaram se rendendo ao apelo comercial que renderia o retorno ao Iron Maiden, e após uma turnê promoveu-se o lançamento de BRAVE NEW WORLD. O vocalista ainda lançou um disco solo - TYRANNY OF SOULS -, que não conta com Adrian Smith (as guitarras são empunhadas exclusivamente por Roy Z), e os músicos de acompanhamento são outros.
TOP 5 - Bruce Dickinson
1. King in Crimson
2. Tears of a Dragon
3. Freak
4. 100 000 Points of Light
5. Sacred Cowboys
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