sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Resenha de livro – “Mötley Crüe: The Dirt”


Admito que fiquei interessado em ler a biografia dos Engenheiros do Hawaii, escrita por Humberto Gessinger, sobretudo pela promessa de conter descrições de todas as fases da banda, discografia e comentários das letras. Vi na Cultura, mas numa folheada bastante perfunctória, achei que o livro era superficial de mais (muita foto e pouco texto), e que os comentários sobre as letras se resumiam a um parágrafo. Mas o que me impediu, por ora, de trazer o livro para casa foi o preço: mais de 40 pila. Olhei para o lado e vi, por 40 pila, um livro importado, de mais de 400 páginas de texto com letra miúda, com apenas umas 10 páginas de fotos, contendo a biografia de uma das maiores bandas de hard rock dos anos 1980. Trata-se de “The Dirt”, coescrito por todos os membros do Mötley Crüe, e ainda seus empresários. Assim, a leitura da biografia do Mötley Crüe parecia muito mais apreciável do que a dos Engenheiros do Hawaii, seja pelo critério do custo-benefício, seja pelo fato de que os caras do Mötley Crüe transaram com muito mais mulheres do que os caras dos EngHaw (conforme o próprio Gessinger admitiu em entrevista publicada em 11.01.2010 num jornal local: o cara disse que em duas páginas da biografia do Slash, o guitarrista do Guns´n´Roses já tinha vivido mais do que ele em 5 idas).

Já tinha visto em algum lugar (tipo Wikipedia), que “The Dirt” foi um livro que recebeu aclamação de crítica e público. Particularmente, favoreceu o fato de que andei ouvindo uns discos da banda em data recente, e assim estava familiarizado com parte do repertório. Como a minha maior curiosidade residia sobre o período no qual ingressou John Corabi no lugar de Vince Neil – pois é nesse período em que houve a mudança mais significativa para melhor no som da banda -, iniciei a leitura após a metade do livro, exatamente na fase de transição. E ao final, me convenci de que essa é a melhor parte do livro. A contribuição de Corabi, tanto musicalmente no “Mötley Crüe” de 1994, quanto em “The Dirt” é a melhor parte. O vocalista/guitarrista narra parte de sua história pessoal, seu envolvimento com o The Scream, sobre como tomou contato com Nikki Sixx, seu recrutamento, os ensaios e o processo de composição, ressaltando-se a diferença em relação à época anterior. Agregados os comentários dos demais (notadamente de Tommy Lee, mas também de Sixx, Mick Mars e dos empresários), fica claro que a banda estava muito satisfeita com o rumo seguido após o ingresso de Corabi, e que os caras estavam efetivamente empolgados com o novo som (e nisso concordo plenamente com todos eles – as músicas dessa época são excelentes, conforme já tive oportunidade de enfatizar). Fica-se sabendo, assim, pelos próprios músicos, que as vendagens de “Mötley Crüe” não foram satisfatórias, e que houve pressões da gravadora e dos empresários para o retorno de Vince Neil. Muito embora Lee e os demais quisessem manter Corabi na banda, e até iniciarem os trabalhos para a gravação do que viria a ser o “Generation Swine”, o fato é que os caras sucumbiram e deixaram as coisas tomarem o seu rumo, ao invés deles darem o rumo para as coisas. Particularmente é muito interessante o depoimento de Corabi, segundo o qual a banda e o produtor do álbum lhe davam orientações conflitantes, genéricas e bizarras a todo momento, tornando tormentoso o processo de composição e gravação das novas faixas. Isso levou a que Corabi pedisse demissão, ao mesmo tempo em que era trazido Neil (cogitou-se brevemente na manutenção de Corabi como segundo vocalista, mas parece que essa proposta jamais foi considerada seriamente por Sixx). Seja como for, Neil retornou a tempo de finalizar “Generation Swine” e o vocalista expressou aquilo que é minha opinião também, de que se trata de um disco muito ruim. A partir daí, a leitura já está quase no fim, e restam poucos comentários sobre “New Tattoo”, sem Tommy Lee (preso por suposta agressão à Pamela Anderson), com Randy Castillo na bateria, e com uma música que curto muito, “Hell On High Heels”.

O restante do livro, isto é, referente ao período de 1980 até 1994, é focado nos excessos de bebidas, drogas, festas e mulheres. Nisso não há diferença significativa quanto às biografias de Eric Clapton e de Slash. Referências a outras bandas da época são muito poucas, com uma que outra história envolvendo Ozzy, Iron Maiden, AC/DC e comentários curtos e negativos sobre o Kiss (Mick Mars é o único guitarrista de hard rock que conheço que não curte a banda de Ace Frehley – “prefiro os músicos de verdade tipo Jeff Beck” – e Sixx referiu que a turnê com o Kiss foi muito chata, e que ironicamente Gene Simmons lhe procurou para adquirir os direitos de transformar em filme a história da banda). Mais escassas, ainda, são as informações sobre a composição e gravação das músicas, que é o que mais me interessa em leituras desse tipo.

Entretanto, há que se respeitar caras que se casaram com mulheres como Pamela Anderson, Heather Locklear e Donna D´Errico. A biografia do EngHaw fica para a próxima Feira do Livro ou quando encontrar com desconto expressivo.

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