Graças a um presente de aniversário equivocado para minha mãe é que pude adquirir alguns dias atrás um dos discos mais conhecidos do Pink Floyd. Uma das minhas lembranças mais remotas é a do imenso respeito e admiração que os meus pais tinham por esse The Wall, lançado em 1979. Desde essa época que já conhecia a clássica "Another brick in the wall part II", mas foi só no início dos anos 90 que resolvi dar uma ouvida na fita K7 com a gravação do disco. Também nessa época vi o filme de Alan Parker, e não posso dizer que tenha ficado positivamente impressionado com o disco ou com o filme. Só mais recentemente é que me familiarizei com o fato de que se trata de uma obra conceitual escrita quase exclusivamente por Roger Waters, e isso certamente explica por que as melhores faixas são as compostas em parceria com David Gilmour, e algumas faixas são realmente difíceis de ouvir. Assim, bem vistas as coisas, tirante a história toda que dá unidade ao disco (diversos sites dão conta de explicar o "conceito" da obra), o disco vale por um punhado de seis composições, a saber: IN THE FLESH?, ANOTHER BRICK IN THE WALL PART II, YOUNG LUST, HEY YOU, CONFORTABLY NUMB e RUN LIKE HELL. Desde já é bom que se diga: tratam-se de seis composições espetaculares, e não são muitos os discos que reunem tantas faixas marcantes, e isso pode autorizar a alguém preconizar The Wall como um dos 1001 discos para se ouvir antes de morrer.
IN THE FLESH? abre o disco com um instrumental pesado e lento, parecido com o que o Yes viria a fazer em "Machine Messiah" do disco Drama, e reproduzido pelo Dream Theater no disco "A Change of Seasons". É notável como uma guitarra com alguma distorção e umas poucas notas na região das cordas mais graves consegue ser tão expressiva. A música que todo mundo conhece é ANOTHER BRICK IN THE WALL (part II), e a vulgarização dessa faixa talvez esconda o fato de que aqui se encontra um dos melhores solos de guitarra de todos os tempos (para mim, é o melhor). Esse solo de David Gilmour, bem ao final da música, tem o timbre bem característico da Fender Stratocaster, e é interpretado com bends muito legais, sobretudo pelo fato do guitarrista economizar nas palhetadas (o cara faz bends sucessivos de meio tom, um tom, um tom e meio, etc, com uma só palhetada, e isso é claro exemplo de domínio da técnica a serviço da musicalidade, o famigerado "feeling"). YOUNG LUST talvez não seja tão memorável quanto as outras, mas conta com o riff mais rocker do disco. HEY YOU é praticamente toda ela um dedilhado acústico (um Fender Rhodes muito legal acompanha esses momentos), tem vocais mais (digamos assim) desesperados, e tem uma parte pesada com riff que remete a ANOTHER BRICK IN THE WALL. CONFORTABLY NUMB é um clássico, com solos brilhantes de Gilmour, mas não é do tipo que dá para ouvir toda hora - é bem lenta e passa dos 6min. RUN LIKE HELL tem o característico riff com delay - esse timbre é memorável e identifica prontamente o disco inteiro (a primeira aparição do riff cavalgado e cavalar se dá na parte 1 de ANOTHER BRICK...). Outra boa música é THE HAPPIEST DAYS OF OUR LIVES, que serve como introdução para a parte 2 de ANOTHER BRICK (...). Em outras ainda há momentos bonitos como THE THIN ICE e MOTHER.
Há alguns anos atrás (em 2000), na Saraiva, comprei a versão ao vivo - não a lançada por Waters nos anos 90 (com artistas convidados), mas uma com o registro da turnê de lançamento do disco ("Is there anybody out there?", com livrinho e tal), com a expectativa de que a versão original de estúdio seria prescindível. Na época ainda tinha aquele espaço grande para escutar os discos, e lembro que fiquei bem impressionado com o som da guitarra em IN THE FLESH?. Seja como for, botei pra ouvir esse cd duplo muito poucas vezes desde então.
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