domingo, 30 de dezembro de 2007

Melhores discos de todos os tempos - MICHAEL JACKSON "Thriller" (1982)

Hoje em dia é tarefa difícil desvincular da figura de Michael Jackson os episódios bizarros que apareceram com mais intensidade a partir dos anos 1990. Nessas condições, torna-se complicado pensar que se trata (ou se tratou) de um artista talentoso, seja como performer, seja como compositor.

Na época de lançamento de Thriller (há 25 anos), no entanto, a situação era completamente diferente - e muito mais favorável. O cara já tinha uma trajetória consolidada ao lado dos seus irmãos no Jackson Five, e como artista solo havia lançado um disco merecidamente muito bem recebido (“Off the wall”, em 1979). Aliado mais uma vez a Quincy Jones, e com a colaboração de Rod Temperton, Jackson produziu Thriller, um disco que foi tão bem sucedido que na feliz expressão do allmusic.com o disco estabeleceu um novo patamar para o que se deveria entender por sucesso. Nomeadamente é o disco que mais vendeu em todos os tempos.

Lembro que na época a Pepsi chegou a oferecer um compacto em vinil com uma ou duas músicas do disco, e pessoas usavam roupas que lembravam as vestidas por Jackson no video de "Beat It". Thriller tornou-se um fenômeno popular. E foi a partir daí que a imagem do artista começou a atrair a mídia sensacionalista, sobretudo quando se noticiou que o cara dormia em uma câmara para impedir o envelhecimento – lembro dessa notícia dada num Jornal da Globo.

Diz-se que uma das razões que podem explicar esse sucesso monstruoso se deve ao fato de que Thriller reúne boas músicas de diferentes estilos musicais, e talvez por isso seja um disco alguns passos a frente de “Off the wall” (conquanto a isso se objete que “Off the wall” é mais coeso musicalmente). Com efeito, tamanho sucesso não teria sido possível se o álbum não contasse com um punhado de músicas brilhantes. E, de fato, há boas músicas funk, r&b, dance, disco, pop, hard rock e balada. Não deve ser menosprezado, no entanto, o enorme carisma que o cara conseguiu agregar em torno de si. Das 9 faixas, 7 foram lançadas como singles e atingiram boas posições nas tabelas.

De pronto é possível estabelecer que as músicas favoritas são a faixa-título, BEAT IT e BILLIE JEAN. Além dessas, HUMAN NATURE é uma bela balada, composta pelos integrantes da banda Toto. Mas o disco demora para empolgar, pois antes dessas faixas temos de ouvir 3 músicas apenas razoáveis. WANNA BE STARTIN´ SOMETHING é a melhor e é a que abre o disco, com uma levada dançante. Ouve-se um riff curto e repetitivo muito bom durante a música, mas o marcante é a levada mesmo além do canto “mama-se, mama-sa, mama-koo-sa" ao final. BABY BE MINE foi uma das 3 contribuições de Rod Temperton, e uma das duas que não foram lançadas como single (a outra sendo THE LADY IN MY LIFE). Contando com a participação de Paul McCartney, THE GIRL IS MINE foi a primeira faixa a ser gravada para o disco (e a primeira a ser lançada como single), e se destaca apenas pelo duelo entre Michael e Paul pela preferência de uma garota.

A primeira música excepcional é a faixa-título, composta integralmente por Temperton, que se utiliza muito bem de sintetizadores e de um naipe de metais (sempre presentes em todas as faixas de Thriller e de Off the wall). A interpretação vocal (com todos os famosos trejeitos vocais) de Jackson é muito legal e o refrão é matador (na 1.ª vez termina com um “toniiiiiiiiiight” muito afinado). Ao final tem-se um rap de Vincent Price, que contribui para o clima de filme de terror bem explorado no famoso videoclip (a gargalhada de Price, que finaliza a música, é memorável).

A minha favorita é BEAT IT. Trata-se de uma música perfeita; contém um baita riff de guitarra com distorção (contida) interpretada (acredito eu, pois os créditos do disco não são conclusivos) por Steve Lukather. Acompanhando o tema da letra, Jackson canta com mais agressividade, e nesses momentos o cara sempre se dá bem, e num registro bem alto (consultando o youtube se encontram vídeos de apresentações ao vivo de BEAT IT nas quais a afinação dos instrumentos é provavelmente um tom abaixo para facilitar a tarefa de Jackson). Eddie Van Halen faz uma participação especial no solo de guitarra, no qual utiliza todos os seus famosos truques e recursos guitarrísticos. No wikipedia encontrei várias notas interessantes sobre a gravação de BEAT IT e sobre esse solo de Van Halen, mas tenho alguma resistência em acreditar que o solo foi gravado em apenas uma tentativa – e que o guitarrista não recebeu honorários pela contribuição. Seja como for, o solo não é dos melhores do guitarrista: começa legal, com uns harmônicos e tal, mas depois é pura debulhação. A música inteira foi composta por Michael Jackson, assim como a faixa seguinte (BILLIE JEAN), o que serve para demonstrar que o cara é (foi) um baita compositor (e as descrições no wikipedia – conquanto não seja possível estabelecer até que ponto as informações são totalmente confiáveis – dão conta do perfeccionismo de Jackson).

É possível que a melhor música da carreira de Jackson seja BILLIE JEAN, composta por ele sobre uma mulher que alega ter um filho com o cantor - ou com um de seus irmãos, a história depende da versão de quem conta. Tem-se, aqui, mais uma vez, uma música perfeita (na edição especial consta uma versão demo caseira, com todos os elementos da versão final). A linha de baixo e o sintetizador com apenas 3 notas são as características mais marcantes, sem contar uns riffs curtos e muito eficientes de guitarra. A faixa serviu, ainda, para uma demonstração do talento de Jackson como dançarino, pois numa apresentação televisionada o cara fez pela primeira vez o moonwalk, que nada mais é do que aquele passo no qual Jackson anda para trás.

A primeira balada do disco, HUMAN NATURE, foi composta por dois integrantes do Toto (formada por Lukather e pelos irmãos Porcaro, dentre outros). A história de como essa música entrou no disco é contada por Q. Jones na edição especial de Thriller: segundo o produtor, CAROUSEL seria incluída, mas acabou sendo descartada e a banda Toto mandou uma fita com duas músicas que poderiam servir para o disco. Jones não se impressionou com nenhuma das duas, mas esqueceu-se de desligar a fita e deixou rolando até o final, até que após um grande silêncio surgiu um trecho gravado por Steve Porcaro: “why? Why? Da da da da da da da da why? Why?”. E esse é o melhor momeno da música – o refrão, que tem essa melodia comovente. No geral, a composição é bem suave, e Michael canta com delicadeza.

PYT (PRETTY YOUNG THING) é a única composta por Quincy Jones e é muito fraca, com um clima alegre um tanto forçado. O disco encerra com uma composição de Temperton: THE LADY IN MY LIFE, que não foi lançada como single, e é uma balada.

Levei algumas semanas elaborando a aquisição desse cd, após encontrá-lo no balaio da Multisom, há menos de um mês atrás. Jackson lançaria em 1987 o disco “Bad”, que alcançou boas vendagens, mas não repetiu o sucesso fenomenal de Thriller.

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