Tem coisas que a gente só dá valor depois que perde. Esse baita lugar-comum é aplicável também quando se trata de discos. Há uns 4 anos, comprei nas Americanas, por preço bem convidativo, o “Vapor Trails” e o “Conuterparts” do Rush. Ouvi este último na época da aquisição: achei a primeira música bem razoável, a segunda espetacular, a quarta boa, e as demais não impressionaram. E nunca mais botei o cd para rodar. Mas agora, depois de superadas as fases em que ouvi (a) todos os discos do Queen; (b) quase todos os discos do Slayer e do Pantera, bem como o mais recente do Slipknot, e alguma coisa do Lamb of God; (c) os discos do Helloween com Andi Deris; (d) alguns discos do Dio com Vinnie Apice, ou Tracy G, ou Doug Aldrich, (e) estou na fase de ouvir Rush, sobretudo porque encontrei alguns títulos no balaio da Multisom. Em todos os lugares encontrei o “Counterparts” e estava tranqüilo, pois esse eu já tinha. Só que depois de ouvir “Presto”, “Roll the Bones, “Snakes and Arrows”, “Test for Echo”, “Vapor Trails”, “Signals” e “Moving Pictures”, procurei e não encontrei o tal “Counterparts” em casa. Isso já aconteceu outra vez com cds do Angra (“Angel’s Cry” e “Holy Land”), e, tal como naquela oportunidade, não sosseguei até recompor a coleção (eventualmente achei os cds perdidos e tive de me livrar da duplicidade). E não é que o “Counterparts” virou raridade nas lojas? Quando a ironia parecia irreversível, finalmente achei uma cópia no Praia de Belas, e ao ouvir o disco em casa percebi que se tratava de um belo disco do Rush.
O cd abre com uma boa levada (com efeito meio hipnótico) de Neal Peart, mas “Animate” parece o tipo de música que se diz que “fica melhor a cada audição” pois “leva um tempo para começar a entender e gostar”. A letra é bem encaixada, e além da bateria, é conduzida pela linha de baixo. Indiscutivelmente a melhor faixa do disco é a seguinte, “Stick it Out”, que já conhecia desde o lançamento do disco em 1993 pois tocava (o vídeo-clip) com freqüência no Gás Total da emetevê. Trata-se de uma música espetacular. Lifeson/Lee não costumam compor riffs típicos de hard rock/heavy metal, nem músicas com refrão marcante (“Tom Sawyer” e “The Spirit of Radio” têm refrão?) mas sempre que o fazem o resultado é muito bom, e aqui não foi diferente. O riff de “Stick it Out” lembra um pouco o início de “Limelight”, mas o que segue é bastante peso (distorções e feedbacks), inclusive com um pedal duplo não muito comum (em se tratando de Rush) acompanhando o riff durante o refrão. A música acaba seguindo um certo padrão hard rock, inclusive com solo de guitarra. É como eu digo: nada como uma boa distorção de guitarra para fazer uma música matadora.
Uma outra já conhecida da mesma época pelo mesmo motivo (Gás Total - lançamento do disco) é “Nobody´s Hero”. Trata-se de uma espécie de balada radiofônica muito boa, com violões e tudo mais. Mas foi só depois de ler no wikipedia do que se tratava que prestei atenção na letra, e tão logo ouvi os primeiros versos acabei achando tudo muito engraçado; apesar da letra ser séria, e até complicada de veicular numa música de rock, não tem como imaginar a galera cantando a letra a plenos pulmões durante um show. Seja como for, independentemente do conteúdo espinhoso, o fato é que isso serve para demonstrar a versatilidade e a habilidade de Peart com a palavra (apesar de que são bem conhecidas as críticas a respeito das letras do cara, com as quais não concordo; prefiro reconhecer que o baterista tem talento para escrever todas as letras de todos os discos da banda, sobre uma diversidade incrível de temas, ao invés de escrever sempre sobre os mesmos assuntos, o que é mais comum no rock). A música é boa (talvez a segunda melhor do disco), com refrão marcante e tal.
Quanto às faixas restantes, bom, aí vem o problema com os discos do Rush: são muitas músicas que, digamos assim, não impressionam. Realmente admiro o método de composição dos caras, que até onde pude aferir, consiste nuns encontros de Lee com Lifeson, nos quais se fazem trocas de riffs, jams, até que o material evolua para faixas prontas, e só aí Peart insere as letras. Em retrospecto, a banda compôs dessa forma mais de 20 discos por mais de 30 anos, todos com músicas bem diferentes entre si. Não há um padrão tipo verso-ponte-refrão-solo-etc. Tem músicas que seguem isso, mas tem outras que são bem diferentes. Os caras realmente parecem se empenhar em criar músicas e discos diferentes entre si, ou seja, parecem querer evoluir e não ficar apenas repetindo êxitos passados. Como é intuitivo, isso envolve risco; então, justamente por isso talvez não devesse causar estranheza que algumas faixas sejam muito boas, e algumas outras bem fracas ou inexpressivas, afinal não há quem tenha conseguido lançar tantos discos regularmente nos quais todas as faixas sejam de alto nível. Então, sabendo de tudo isso, tento ouvir os discos do Rush e tirar proveito dessas tentativas de auto-superação. E se por um lado algumas músicas possam não ser lá muito boas, ou não fazer parte da lista de obscuras mas preferidas-de-todos-os-tempos, em uma ou outra, inevitavelmente, vai haver uma linha de baixo, uma levada de bateria ou um riff, dedilhado ou acorde de guitarra dignos de atenção.
Por exemplo, "Double Agent" tem um riff legal de guitarra, que lembra até um pouco do som da banda nos anos 70; além disso, curiosamente, há umas partes faladas que parecem recitadas por Dave Mustaine. "Leave That Thing Alone" tem umas boas linhas de baixo e um timbre legal de guitarra no início, com delays e tal; a faixa conta ainda com um momento (antes do solo de guitarra) meio jazz, e essas incursões são sempre bem vindas.
3 comentários:
po cara. é o melhor album do rush nos 90 junto com o test for echo.
eu acho ele empolgante pra caralho e bom pra ouvir em praticamente qualquer ocasião.
Curto muito tambem esse play, é um puta álbum o Counterparts.
Também acho o Counterparts o melhor álbum da década de 90' do Rush. Puta álbum!
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