sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Livro – “Rough Guide to Led Zeppelin”

Da série “Rough Guide”, encontrei na Cultura (também por um bom preço) um volume dedicado ao Led Zeppelin, e fiz a aquisição pelos mesmos motivos que me levaram a trazer para casa o do Pink Floyd (com a diferença de que, ao contrário do Led, gosto mais de algumas músicas e discos da banda de Waters e Gilmour). Mas ao contrário da leitura guerreada que foi a do “Rough Guide to Pink Floyd”, esse do Led Zeppelin está muito bem escrito, tanto que resolvi ler praticamente capa-a-capa, desde o início, incluindo a infância dos quatro integrantes. O texto flui e as informações são colocadas com parcimônia nos parágrafos (não é preciso ficar voltando páginas atrás para conferir ou lembrar alguma coisa). E tem o esquema que achei muito legal: história cronológica, resenha disco por disco, comentários sobre as 50 melhores faixas (na opinião do autor do livro), dentre outras partes (resenhas dos vídeos, bootlegs, projetos paralelos, livros e sites).

Já havia aproveitado o balaio da Multisom para reunir todos os discos de estúdio, mas estava tendo dificuldades para depurar o que havia de bom a ser ouvido nesses álbuns, então a leitura veio em boa hora. Afinal, sempre me inquietou o fato de que o Led Zeppelin é considerado um dos fundadores do hard rock/heavy metal, em 1968, além de ter influenciado todas as bandas do gênero, sendo certo que existem outras bandas da mesma época (como Deep Purple e Black Sabbath, ou de data anterior, como Blue Cheer, Cream e Hendrix) que fizeram rock mais hard e metal mais heavy. Além disso, a discografia dos caras não me parecia permitir uma proeminência tão grande (se é certo que “Led Zeppelin IV” é um baita disco - já escrevi isso aqui - , o mesmo não se pode dizer de “In Through the Out Door”). Evidentemente que tenho ciência de que isso tudo é falta de visão de minha parte, e essa deficiência o livro ajudou a suprir.

Com efeito, o livro esclarece que a banda nasceu de uma idéia de Jimmy Page para superar o fracasso dos Yardbirds; essa banda, na qual já haviam tocado Clapton e Jeff Beck, era dedicada à produção de singles para os top 10 britânicos, com pouca atenção aos álbuns. Isso acabou refletindo na própria opção do Zeppelin de não lançar singles durante anos. Page encontrou Robert Plant, os dois passaram umas semanas na casa do guitarrista ouvindo discos e compondo músicas; Plant sugeriu John Bonham; Page já conhecia John Paul Jones de trabalhos prévios como “session musician” (os dois ganhavam uma boa grana com esses trabalhos, sendo incontáveis os singles dos mais variados artistas nos quais registraram participação); eis o Led Zeppelin. Mas a banda não seria o que acabou sendo se não contasse com um produtor eficiente, e esse papel foi exercido por Peter Grant. Page queria controle total sobre a 1.º gravação, então o cara custeou as sessões e apresentou o trabalho pronto para a gravadora, que apenas lançou o disco. Notável que o sucesso já veio desde o início, em muito maior medida nos Estados Unidos do que na Inglaterra. Então veio o segundo disco, ainda em 1969, que sedimentou a reputação da banda para o hard rock. Parece que não foi só a mim que causou estranheza o “Led Zeppelin III” (conforme já escrevi aqui), metade acústico, metade elétrico, pois o disco obteve “mixed reception”. Dispostos a fazer um disco espetacular, “que venderia muito de qualquer maneira”, os caras compuseram as músicas que imortalizaram o “Led Zeppelin IV”. Após um grande disco, veio o criticado “Houses of the Holy” (não concordei com os comentários a respeito de “The Song Remains the Same”, de que não seria uma música de abertura tão forte quanto a dos discos anteriores... acho uma baita música). Se algumas músicas de “Houses of the Holy” não foram bem aceitas, a banda resolveu levar adiante o projeto de um álbum duplo e reuniram sobras de outras gravações com composições novas e lançaram o muito elogiado “Physical Graphitti”. Em 1975, Plant sofreu um violento acidente automobilístico, e assim, inapto para uma turnê americana que se viu cancelada, reuniu-se com Page para compor e eventualmente gravar um disco, “Presence”, no qual desempenhou os vocais numa cadeira-de-rodas. Reabilitado para a turnê, o cara teve a devastadora notícia do falecimento do seu filho, que o retirou de circulação por um ano. Reunidos para gravar mais um disco, “In Through the Out Door”, o resultado saiu abaixo da expectativa, dado o ânimo dos integrantes (além da perda familiar de Plant, Page estava consumido pela heroína, Bonham loqueando como de costume; apenas Jones tentou seguir em frente, e não por acaso foi o principal compositor do disco). Com o falecimento de Bonham, não houve dúvidas de que a banda deveria encerrar suas atividades. O autor do livro chega a fazer um exercício de futurologia, dando conta de comentários posteriores de Page a respeito das idéias que ele tinha para o próximo disco; conforme esses depoimentos, Page declarou em algumas oportunidades que havia já conversado com Bonham que o próximo álbum seria de “heavy riffin´”. O próprio autor parece duvidar disso, o que me parece correto, sobretudo quando se sabe que Page não deixou de aderir ao Roland guitar syntesizer e ao som pop-rock típico dos anos 80, não havendo nada de “heavy riffin´” nos trabalhos de Page (e mesmo de Plant e Jones) no período pós-Zeppelin.

As descrições sobre gravações de discos e turnês são muito boas e bem distribuídas (diferentemente da biografia do AC/DC, que privilegia as turnês, tornando a leitura complicada em muitos momentos), além de registros sobre as reações de crítica e público em relação ao lançamento de cada álbum. Parece que não faltou nada: desde explicações sobre as capas dos discos, os “artworks” viajantes, a história dos símbolos do “Led Zeppelin IV”, o interesse de Page sobre ocultismo e outras questões místicas, tudo com detalhes, respeitando o estilo enxuto e os limites da obra. Notável como a banda conseguiu público expressivo desde o início nos Estados Unidos, e por lá realizou turnês com mais shows e com mais freqüência, e não tanto na sua terra natal. No livro constam ainda comentários sobre as notórias farras que os caras cometiam nos anos 70, especialmente nos EUA, inclusive com depoimentos de pessoas de fora da banda a respeito do comportamento inapropriado e de alguns eventos particularmente repugnantes (não descritos no livro), o que me permite concluir que os músicos, sobretudo Page, eram dados a experiências grosseiras e humilhantes, de certa forma. A boa sacada, que ainda não havia me dado conta, é da dinâmica “lento-rápido-agitado-calmo” que caracterizam parte do repertório da banda, sendo um bom exemplo “Babe I´m Gonna Love You” do 1.º disco: começa com um dedilhado, os “baby, baby, baby” que Plant imortalizou (e é uma das razões pelas quais ouço a banda mais pelo trabalho desenvolvido pelos outros músicos), e segue uns acordes descendentes Am-G-F#-F-E com guitarra e bateria à milhão, depois voltando para o dedilhado inicial com um solinho bem legal.

Das poucas partes que não gostei no livro, a principal foram os comentários gravosos ou jocosos em relação a outras bandas. Tipo, comparar Zeppelin com Black Sabbath, e sugerir que esta copiava aquela nos momentos mais hard ou heavy, não me parece nem um pouco apropriado. Cada uma surgiu, se desenvolveu e seguiu os seus próprios rumos, com maior ou menor êxito, e não vejo nada que permita concluir que uma possa ter influenciado a outra (a não ser na questão de aumentar o público e vender mais discos, e isso parece ser comum a todas as bandas da época). Além disso, o autor tomou partido em favor de Plant e aderiu ao coro dos que acham que David Coverdale, notadamente nos anos 80, foi uma espécie de cover do vocalista do Led. Nesse sentido, o cara destruiu o projeto Coverdale & Page de 1993, definindo como um disco fraco. Bem, particularmente sou fã de Coverdale, e acho que esse disco de 1993 é muito bom (prefiro este aos discos do Zeppelin, ou pelo menos a maior parte deles, conquanto não tenha o costume de ouvir nenhum deles regularmente). É possível que Coverdale tenha ido um pouco além na “influência Plant”, mas quem não o fez nos anos 80? Posso citar aqui Steven Tyler, Brett Michaels, enfim, todos os vocalistas das bandas de hard rock farofa dos anos 80. O autor do livro não fundamenta adequadamente porque o disco “Coverdale & Page” seria fraco; pois as músicas são boas, na maioria, e o resultado final é muito melhor do que todos os “Zeppelin friends & relatives” lançaram após a dissolução da banda (qualquer hora dessas vou dar uma ouvida no “UnLedded”, sendo certo que assisti ao especial na MTV, na época, além do show durante o verão no Hollywood Rock, e não fiquei entusiasmado com nenhuma performance). Realmente, acho que num livro desses não cabem comentários depreciativos em relação a outras bandas (a não ser que a piada seja muito boa, o que não foi o caso).

Durante a leitura, fiz um exercício de, num sábado a tarde, ouvir a discografia a partir do 1.º disco até o 5.º (passando algumas faixas, eventualmente). Minha mulher teve a mesma impressão que eu: algumas músicas são muito boas, mas em geral não dá para ficar ouvindo direto. E, nessas condições, continuo com a mesma opinião: sou mais Deep Purple e Black Sabbath.

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