quinta-feira, 21 de maio de 2009

Discos Essenciais - Megadeth "Youthanasia" (1994)

É bem provável que assistir ao vídeo de "Train of Consequences" na MTV na época do lançamento de "Youthanasia" tenha contribuído decisivamente para a aquisição deste disco e de "Countdown to Extinction" no verão de 1995. Megadeth estava, então, no auge da sua popularidade - pelo menos na sua terra natal - ganhando boa exposição nos canais dedicados à música e boas colocações no Top 200 da Billboard; assim, era ficar esperto nos programas mais legais que apareceria o vídeo cedo ou tarde.

"Youthanasia" é um disco bem diferente do que lhe precedeu, "Countdown to Extinction", e isso fica evidente nas letras mais pessoais (e menos politizadas), na afinação das guitarras (meio tom abaixo), no andamento das faixas (li em algum lugar que o produtor Max Norman sugeriu que todas as faixas se submetessem ao metrônomo a 120bpm, que facilitaria a assimilação nas rádios e aos ouvidos dos não iniciados), e no próprio visual dos caras (o encarte tem várias fotos nas quais Mustaine/Ellefson/Friedman/Menza aparecem com roupas fashion). Além disso, o álbum contém uma faixa que é o mais próximo que Mustaine chegou, até então, de compor uma balada, a clássica "A Tout Le Monde". Bem vistas as coisas, trata-se de mais um passo dado por Mustaine em busca do seu sonho - confessado nas notas da edição remasterizada - de emplacar um disco n.º 1 na Billboard Top 200.

As melhores do disco são "Train of Consequences", "Reckoning Day", "A Tout Le Monde", "Family Tree", "The Killing Road" e "Victory".

Algumas músicas são tão bem compostas - todas as suas partes se encaixam, não há nada que poderia ter ficado de fora ou com menores repetições, enfim, todas as partes são enfatizadas adequadamente e não tem nada fora do lugar - que eu costumo chamá-las de "músicas perfeitas". Um exemplo de música perfeita é "Train of Consequences". Temos um riff ao mesmo tempo marcante e tecnicamente sofisticado: não há notas nos primeiros compassos, apenas o som das cordas abafadas pela mão esquerda, e o ritmo é dado por palhetadas para cima e para baixo com a mão direita (numa coluna do Mustaine na Guitar World ele ensinou que a primeira palhetada nesse riff é para cima, ao contrário do que seria natural). Esse riff é espetacular, e serve também para acompanhar os versos. O pre-chorus (ou ponte) é um riff com as notas soltas dos power chords de F#, C# e A com floreios rápidos, que flui para o refrão perfeito, com as notas dos arpejos dos acordes fundamentais tocadas uma-a-uma e todas soando ao mesmo tempo, casando perfeitamente com a letra cantada por Mustaine (prestar atenção na parte "Set the ball a-ro-llin´ (...) My thinking is de-railed (...)". Após a segunda repetição vem o interlúdio ou breakdown: um riff cheio de notas, muito legal, que acaba servindo de base para o solo de Friedman. Volta para o pre-chorus, chorus, e riff principal para encerramento, com uns solos de harmônica. As mudanças mais significativas da edição remasterizada foram a supressão das baquetas "one, two, three, four" de Nick Menza no começo da faixa, e o acréscimo de um solo inútil de Mustaine no final. Parece-me que todas as alterações promovidas por Mustaine para essa edição remasterizada foram impertinentes.

"Reckoning Day" é a música que abre o disco e nunca vou esquecer do dia, no colégio, em que uma amiga da época (Dige) emprestou o cd-player no meio da aula e tão logo pressionei o play dei um pulo da cadeira: o volume estava alto e a música começa com uma paulada na cabeça. O riff principal é simples mas muito efetivo, utilizando a 6.ª corda solta e os power chords invertidos nas posições 7, 6 e 5 nas 5.ª e 4.ª cordas. Durante os versos as guitarras progridem para uma modulação para F# e depois para A, seguindo-se o pre-chorus e o chorus. A fórmula é consagrada, e Mustaine conhece com perfeição: após a segunda repetição do refrão, vem o interlúdio ou breakdown, e dessa vez uma das guitarras faz arpejos com timbre limpo e outra toca uma melodia com distorção e com dobra oitavada. Volta para o refrão e encerra com o riff principal (na verdade encerra com a batida típica no surdo).

"A Tout Le Monde" tem um dedilhado que sempre achei típico de Friedman, mas parece que foi o próprio Mustaine quem o compôs. Acho bem sofisticado; exige um pouco de abertura das mãos e força (ou jeito) para fazer com que todas as notas soem corretamente. Não é das minhas faixas favoritas, mas reconheço que é um dos clássicos da banda e uma boa música lenta de heavy metal. O solo de Friedman é perfeito. Mustaine, por alguma razão, resolveu regravar essa faixa para o disco "United Abominations" de 2007, com participação da vocalista do Lacuna Coil; particularmente, prefiro o original, com interpretações muito melhores na bateria e na guitarra solo.

A partir de certo momento da audição do disco fica a impressão de que todas as faixas começam com um power chord em Em, aliado ao andamento típico de 120 bpm de quase todas as faixas. Uma das melhores desse estilo é "Family Tree", que conta com um refrão marcante.

Uma das poucas que abre direto com um riff, sem acompanhamento de bateria ou dos outros instrumentos, é de "The Killing Road", que começa bem fácil mas depois ganha uma porção de notas e mudanças na posição da mão esquerda. No refrão, há um padrão de power chords bem parecido com o de "Psychotron", entre outras. Para a base do solo há um outro riff bem legal. É uma música com andamento mais acelerado, e serve para dar uma energizada no track list.

A música que fecha o disco é "Victory", que se notabiliza pela letra, na qual Mustaine se vale da sacada genial de mencionar os nomes de várias composições de todos os discos da banda, tudo para dizer no refrão que ele passou por várias dificuldades, mas ao final é um vitorioso. A parte mais legal é o sensacional duelo de solos entre Mustaine e Friedman, no qual fica bem evidente a diferença de estilos entre os guitarristas: Friedman é mais técnico e seus solos são mais sofisticados; Mustaine é mais emotivo e seus solos, por vezes, são mais expressivos (nos discos mais recentes tenho achado os solos de Mustaine repetitivos, seguindo os mesmos padrões já explorados em "Holy Wars", por exemplo).

Encontrei a edição remasterizada na Musimundo por menos de 10 reais, e notei diferença (para pior) no som da bateria e em algumas modificações introduzidas por Mustaine (já referidas). As faixas bônus trazem como curiosidade (em "Millenium of the Blind") parte introdutória de uma das músicas de "The World Needs a Hero", assim como uma faixa com a parte acústica de "Trust" (em "Absolution"). Além disso, a já conhecida "New World Order" a uma demo de "A Tout Le Monde", com ligeiras alterações na letra.

"Youthanasia" não é tão bom nem tem tantas músicas quanto o "Countdown to Extinction", mas é um bom álbum de heavy metal e um bom álbum do Megadeth, com momentos inspirados e inspiradores suficientes para fazê-lo um disco essencial.

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