– algumas palavras se impõem sobre esse programa que passou domingo sobre o “Black Album”.
Na verdade, poucas novidades foram trazidas, uma vez que todos nós já vimos aquele vídeo “um ano e meio na vida do Metallica”, com imagens da gravação e da turnê do disco preto. No “Classic Album”, todas as imagens da época foram retirados deste vídeo, assim como boa parte das impressões e dos comentários dos músicos e do produtor já tinham sido expendidos lá.
O que ensejou esse comentário, na verdade, foi uma constatação do James Hetfield acerca do seu método de composição. Para ele, a música gira em torno de um determinado riff. A partir daí, outras coisas vão sendo acrescidas, contextualizando tal riff, que é o destaque principal. Particularmente, identifico-me totalmente com esse estilo de compor – se é que eu tenho um.
Há nove anos, quando comecei a aprender a tocar, lendo muitas revistas (Guitar World, Guitar School – na época era bem barato - e, posteriormente, Cover Guitarra, Guitar Player, Guitar Class), e ouvindo muito essas bandas que curto até hoje, percebi mais ou menos como as coisas funcionavam, musicalmente falando. As melhores músicas eram, regra geral, aquelas movidas por pelo menos um riff principal. Por exemplo: MONEY FOR NOTHING (Dire Straits), BACK IN BLACK e JAILBREAK (AC/DC), PARANOID, IRON MAN, CHILDREN OF THE GRAVE (e todas as músicas do Black Sabbath), e SMOKE ON THE WATER e BURN (Deep Purple). Numa das primeiras revistas que comprei (Guitar World de agosto de 92, com Angus Young na capa), tinha uma coluna do Marty Friedman, que procurava ensinar os solistas a moldarem uma identidade própria nos seus solos. Para isso, aconselhava a gravar uma fita C-60 com os solos favoritos dos guitarristas favoritos e, a partir daí, tentar identificar qual ou quais partes de cada solo é que o tornava memorável. Intuitivamente, transferi tal ensinamento para a música em geral, e posso dizer que logo cedo comecei a perceber e aplicar esse “método de composição”, tão generalizado no rock.
Tal “método” não tem nada de inovador – e nem é este o foco aqui. O que me tocou foi o fato de ouvir um dos guitarristas com os quais eu aprendi a tocar guitarra admitir, com simplicidade e honestidade, que “fazer música” pode ser uma tarefa simples – basta ter um bom riff; o resto se ajeita. Essa idéia já me ocorria há anos, mas só agora pude ouvir uma confirmação expressa, uma opinião avalizada.
É claro que músicas excelentes podem ser compostas SEM riff – melodias e temas é que são, de fato, o essencial. Existem bandas admiráveis que produzem músicas fantásticas sem que se possa afirmar que uma ou outra parte é a principal – vários temas se sobrepõem e se harmonizam num todo orgânico, não havendo como se identificar definitivamente que tal ou qual é a parte em torno da qual giram as demais. Lógico que há algumas partes principais (em geral um refrão), mas pensando em músicas como ROUNDABOUT ou CLOSE TO THE EDGE, se há algum riff, este serve como suporte para a música, e não como o destaque. Como exemplos de bandas, permito-me citar apenas Yes e Dream Theater (o velho, não o novo), além de todas as bandas prog dos anos 70. Mas não há dúvidas de que em se tratando de rock, onde a musicalidade é, por natureza (e propositalmente) limitada, o espaço é basicamente ocupado por riffs e, de preferência, riffs que sejam “ganchudos” (talvez o mais ganchudo de todos os tempos seja SATISFACTION, dos Stones).
Neste cenário, é importante um compositor rock de muito sucesso admitir que suas composições não passam de riffs colados com outras partes que lhe dão apoio. Tal atitude é muito diferente de outras, como a do Eddie Van Halen; para este, a música simplesmente lhe “vem à cabeça” quando está tocando. Trata-se de afirmação por demais vaga e fluida, que o distancia de todos os demais guitarristas (como também é o caso de Jimi Hendrix, Eric Clapton), mas que parece fazer sentido, em se tratando de Van Halen, cuja musicalidade atinge nível bastante superior (não que isso signifique melhores músicas do que a de outras bandas).
Em outro trecho do “Classic Album”, James revela sua aflição diante da orquestra que iria acompanhar a versão de estúdio de NOTHING ELSE MATTERS. Como a maioria dos guitarristas de rock, James não lê partituras, e ficou imaginando se seria necessário que apontasse na guitarra para os músicos da orquestra quais as notas da música. Isso só demonstra o quanto a musicalidade prescinde da técnica e da instrução formal; a musicalidade pode desenvolver-se por conta do “músico”, através de sua paixão pelo instrumento e pela própria música.
Agora tratando especificamente das “novidades” contidas neste “Classic Album”, o destaque maior é em relação à HOLIER THAN THOU que, à época da gravação, era tida como o single do disco. No vídeo “a year and a half” isso fica meio pressentido, mas no “Classic Album” os caras admitiram expressamente – ao que parece, só o Lars achava que o hit, na verdade, seria mesmo ENTER SANDMAN. E é gozado isso, pois HOLIER é uma boa música, que dá a impressão de ter sido cuidadosamente pensada em todas as suas partes (p.ex., o começo do solo, e a maneira como o final do solo vai encaixar com o riff tocado só pelo baixo, com as guitarras voltando uma depois da otura). Mas, honestamente, não se trata de um clássico, tanto é que não se tem notícia de ela ter sido tocada ao vivo.
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