terça-feira, 9 de novembro de 2004

Discos Essenciais: LES CONCERTS EN CHINE - Jean Michel Jarre

Efetivamente, tudo o que eu entendo por musicalidade, harmonia e melodia, todas as minhas referências musicais; enfim, tudo o que eu entendo por MÚSICA se acha nos discos desse tecladista francês. Desde sempre, eu ouvi com atenção todas as notas e procurei entender todas as composições ("como é possível fazer essas músicas? aparentemente simples, mas cheias de estruturas e detalhes complexos?").

Conheci Jarre nas férias de verão de 1987 (em Pelotas), quando passou no Fantástico um clip de RENDEZ-VOUZ IV (aquela que todo mundo conhece), no qual o músico se apresenta com um teclado em forma de meia lua, cujas teclas (para serem tocadas com as mãos, e não com os dedos) acendem com o toque. Por coincidência e sorte, minha mãe comprara o disco (RENDEZ-VOUS), e a partir daí eu comprei todos os vinis e fitas k7 que encontrei na época (OXYGENE, EQUINOXE e o disco essencial epigrafado; posteriormente, em fita: REVOLUTIONS e WAITING FOR COUSTEAU).

Poderia escolher como essencial qualquer dos discos citados (com exceção de OXYGENE, que, apesar de tido por muitos como o melhor do francês, não é do meu total agrado); escolhi CONCERTS IN CHINA pois, além de ser gravado ao vivo (sempre preferi esse formato), contém uma boa amostra do que Jarre é capaz com os teclados e sintetizadores. Aliás, trata-se do meu tipo de tecladista - aquele que utiliza simultaneamente dezenas de teclados, de maneira que uma de minhas ocupações é tentar identificar qual deles produz determinado som em determinada música. E o fato de esses instrumentos serem relacionados nos booklets, os respectivos nomes (ainda, e lamentavelmente) não me dizem nada - Mellophonium, Mellotron, Farfisa Organ, VCS 3 Synthesizer, AKS, Arp, Vocoder, Oberheim, Fairlight, Roland TR-808, Roland JD800, Emulator, Fairlight CMI, Fairlight III, Roland D50, Cristal Bachet, entre muitos outros.

As músicas, praticamente todas, são essenciais. Eu consegui identificar um padrão em certas músicas, que é o que eu acredito ser um método de composição de Jarre brilhante. As músicas são complexas porque construídas em "camadas". Mas cada camada é bastante simples. Geralmente começam com um tema, ao qual vai-se, aos poucos agregando um e outro elemento. Em determinado instante, temos 3, 4 ou 5 (ou mais) "camadas" interagindo harmonicamente. Além disso, o músico adiciona alguns sons "acessórios", simulando elementos da natureza como chuva, vento, e até a passagem de um cometa ou estrela cadente. Honestamente, sei que essa é uma descrição bizarra, e sobretudo inútil, mas talvez a audição de músicas como THE OVERTURE ou ARPEGIATOR me redima.

Nos "concertos na China", Jarre fez-se acompanhar apenas por Dominique Perrier, Frederic Rousseau e Roger Rizzitelli (este último responsável pela "bateria" - por certo, algum tipo de bateria eletrônica, mas sem o som enjoado de uma bateria eletrônica. É digno de nota, ainda, o solo, simples e eficiente, na música ORIENT EXPRESS).

As melhores músicas são as do cd 1: THE OVERTURE, ARPEGIATOR, EQUINOXE 4, FISHING JUNKS AT SUNSET, EQUINOXE 2. Do cd 2 são destacáveis: ORIENT EXPRESS e MAGNETIC FIELDS 4 (uma das melodias mais bonitas).

Por fim, é pertinente colacionar uma observação do allmusic.com, que apesar de proferida em comentário ao disco SESSIONS 2000, é procedente aqui e em qualquer disco do francês: "Jarre is, for most, an acquired taste, so those not accustomed to the musician's musings, or not in love with instrumental experiments in melodic fusion probably won't get it - at all. But that's fine, because that just leaves more glee for the rest of us"

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