quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Discos Essenciais: INTO THE UNKOWN - Mercyful Fate

O programa Fúria Metal da MTV, na primeira metade dos anos 90, foi fundamental para conhecer novas bandas. Lá por 94/95, a MTV fazia jus ao nome - era uma emissora que mostrava MÚSICA, e não vários programas "para jovens", como um canal aberto comum. E tinha pelo menos um apresentador (dito VJ), Gastão, conhecedor de rock e com disposição para mostrar as bandas de som pesado, mesmo que não sejam as campeãs de venda.

Lembro que nessa época passou no Fúria Metal (depois, apenas Fúria) um clip do Mercyful Fate tocando a música WITCHES DANCE (do disco Time), o qual me impressionou positivamente - tinha um bom refrão, e boas idéias para pre-chorus e chorus. Mas os vocais histriônicos de King Diamond, naturalmente, não são muito animadores. Lembro de ter alugado na Madsound esse disco (Time), e algum tempo depois o disco Don´t Break the Oath (este eu cheguei a gravar, mas gostei só de alguns riffs - as letras satanistas são exageradas, e o resto não impressionou).

Foi então que o Metallica, em 1999, lançou o álbum duplo de covers (Garage Inc). O Bruce comprou na hora, e automaticamente me deu o recado: "Tem um cover do Mercyful Fate que tem um riff que é exatamente o teu estilo de riff". Tratava-se do MERCYFUL FATE MEDLEY, e o riff em questão era o da música CURSE OF THE PHARAOHS. E o Bruce tinha toda a razão. O riff era justamente o tipo de riff que eu gosto. E a partir daí eu fui atrás dos cds (todos) do Mercyful Fate.

No Praia de Belas tinha uma pequena loja de cds, perto da Wall Street Posters, que vendia alguns cd´s da Paradoxx Music por R$ 3,90, e um desses era o disco essencial epigrafado. Comprei na hora - mal sabia que seria o melhor cd pelo menor preço da minha coleção.

Os vocais do King Diamond, eu reconheço, são muitas vezes difíceis de ouvir. Mas quando ele canta com a voz normal - e mesmo quando ele canta com vocal gutural - as coisas melhoram consideravelmente. Mas tirante essa parte - que eu considero, efetivamente, acessória -, o instrumental é magnífico. A fase que normalmente os fãs da banda curtem (a dos dois primeiros discos) não é a minha favorita - os discos mais recentes são muito melhores.

Até hoje me surpreende o fato de que a maioria das músicas - e todas as melhores músicas - são compostas pelo King Diamond. E os riffs são realmente magníficos. A minha favorita é THE UNINVITED GUEST, sem prejuízo de outras excelentes - THE GHOST OF A CHANGE, HOLY WATER, entre outras. A partir daí, nem os vocais nem as letras incomodam mais - o instrumental e os riffs (uns 50 em cada música! todos excelentes) compensam.

Os cds seguintes do Mercyful Fate são igualmente essenciais - DEAD AGAIN e 9. Em todos há a participação de um dos meus bateristas favoritos - Bjarne T. Holme (que também é ilustrador das capas). Trata-se de um daqueles bateristas que faz a gente voltar um pouco a música para ouvir melhor um determinado "rolo", ou aumentar o volume para acompanhar as levadas, sempre criativas e fluidas. É um baterista de heavy metal numa banda de heavy metal - ninguém há de esperar nada próximo ao Mike Portnoy ou Neal Peart. Mas isso não o impede de contribuir positiva e ativamente, engrandecendo, em regra, as músicas. Enfim, é um baterista inquieto e inquietante.

Outro destaque é o baixista Sharlee D´Angelo, também típico de heavy metal, mas muito competente. Em relação às guitarras, os comentários são dispensáveis: qualquer um que conseguir empunhar a guitarra e tocar as músicas inteiras do Mercyful Fate será um grande guitarrista.

A essencialidade do Mercyful Fate, e de INTO THE UNKNOWN em particular, reside, então, nas contribuições dos instrumentistas, e na qualidade das composições e dos riffs. Um heavy metal muito diferente dos clássicos Iron Maiden (é mais pesado e mais complexo) e Motorhead (é mais complexo). As músicas geralmente contam com várias partes independentes entre si, interligadas apenas pelo título da música. Ou seja: se a música começa de um jeito, necessariamente ela terminará de outro completamente diferente. E a beleza de tudo isso é que as músicas, em regra, funcionam (estou tratando, como é intuitivo, do INTO THE UNKNOWN, DEAD AGAIN e 9).

Em 2000 ou 2001 foram lançados nacionalmente todos os cds da banda, remasterizados e com bônus. No caso deste disco, teve o acréscimo de uma excelente versão ao vivo de CURSE OF THE PHARAOHS e de BLACK FUNERAL. E a Saraiva disponibilizou todos com preços bastante acessíveis - na época.

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