É provável que o "Rough Guide" dedicado aos Rolling Stones esteja correto ao dizer que (a) o senso comum em 2005 era tomar "A Bigger Bang" como um retorno às origens e como o melhor disco dos Stones desde "Tatto You", e que se disse o mesmo de todos os discos entre um e outro, e que (b) isso é um exagero pois, bem vistas as coisas, "A Bigger Bang" não é um álbum tão bom e (c) a banda está devendo uma composição clássica (desde "Start Me Up") e um disco "chave" dos anos 2000. Motivado pela leitura do livro, percorri as lojas de CDs e encontrei na Fnac esse "A Bigger Bang" por R$ 9,90; assim, por pior que fosse, valeria a aquisição para incrementar a coleção com um CD com preço de balaio.
Ouvi umas duas vezes e nada além de "Rough Justice", a faixa de abertura, me chamou a atenção. Resolvi, então, deixar o disco no carro e - o que para mim é inédito - tenho ouvido todos os dias, na ida e na volta do trabalho e nos fins-de-semana, na íntegra, há aproximadamente um mês. Não que o disco seja espetacular, mas a audição é agradável, e há um punhado de bons momentos e boas melodias. Em termos de guitarra, é satisfatório ouvir "Rough Justice" (início hesitante, bom riff e levada acelerada, umas melodias de guitarra no refrão); "It Won´t Take Long" (riff legal, excelente refrão, solos competentes); "Oh No Not You Again" (só pelo nome dá pra sacar que a música é massa: a base dos versos tem uns acordes muito bons e o refrão é empolgante); "Look What the Cat Dragged In", provavelmente a segunda melhor faixa do disco, com guitarras matadoras de Ron Wood (tem um riff que é dobrado com o baixo que é muito legal) e o melhor solo de guitarra do álbum (talvez o melhor que já ouvi num disco dos caras, mas essa opinião, admito, ainda é prematura), com destaque para os timbres proporcionados pelas Fenders Strato e Tele; "Driving Too Fast", tem um riff que lembra Bon Jovi na época do "Bounce" ("One Wild Night"), e um clima empolgante.
Músicas boas abundam: "Let Me Down Slow", com poucos acordes e estrutura bem familiar e execução caprichada; "Back of My Hand", um exercício de blues das antigas com timbres de Strato/Tele sem muita distorção, slides e batera só no bumbo e chocalho; "Biggest Mistake", uma balada com boas guitarras e licks espirituosos; "Dangerous Beauty", com belo refrão e letra muito bem sacada; "Laugh I Nearly Died" com excelente interpretação de Mick Jagger e guitarras complementares muito boas de Keith Richards e do próprio vocalista (Ron Wood não tocou nessa).
Como todo disco, "A Bigger Bang" tem seus pontos fracos: "Rain Fall Down" pretende ser meio dançante, mas a repetição de alguns versos acaba comprometendo a audição e até causando certa irritação ("we maaaaaaaaaaaade sweet love"), praticamente o mesmo se podendo dizer de "She Saw Me Coming" ("she saw me comiiiiiiiiiiing"); "Streets of Love" que tem cara de single mas conta com um refrão que parece cover das bandas de rock gaúcho (e isso não é definitivamente coisa boa); "Sweet Neo Con" não tem guitarras muito inspiradas (Ron Wood não contribui) e tem uns sons muito fracos de harmônica.
Keith Richards canta duas faixas, como de costume: em "This Place is Empty" a voz do cara é meio assustadora nos versos iniciais, fora o sotaque forçado para cantar "aloun" e "houm" ao invés de "alone" e "home"; "Infamy" é uma das boas músicas do disco, com vocal confiante, riff repetitivo com phaser, intervenções de violão com cordas de aço.
O MVP é Mick Jagger: o cara, como na maioria dos discos que ouvi até agora, manda muito bem no vocal, e por mais clichê que possa parecer, a impressão é a de que a idade não está pesando para o vocalista.
O meu pré-conceito era de que se tratava de um péssimo disco (e o "Rough Guide" não estava servindo para afastar essa noção), mas como venho observado, os Stones são capazes de compor grandes músicas de rock, e "A Bigger Bang", no caso presente, foi uma bela aquisição para a minha coleção.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sábado, 26 de setembro de 2009
Ensaio The Osmar Band - "Fünfundzwanzig" 22.09.2009
Há um ano atrás, em Rio Grande, o Marcelo mandou uma msg para o celular: "cinco novas". Era a Osmar Band, seguindo em frente e mandando ver no tradicional formato power trio. Todos nós vivemos muitas coisas novas nesse ano que passou, e agora já estamos de volta e com regularidade inédita. Esse 25. ensaio foi especial por diversas razões: (a) teve Totosinho em comemoração ao meu aniversário, em data próxima; (b) pela mesma razão, o Marcão teve a grandeza de não deixar a data esquecida (valeu, Marcão); (c) o Alemão conseguiu afastar o óbice que lhe impedia de trocar as cordas de sua magnífica PRS (afinei o instrumento, e nesses poucos instantes confirmei a impressão de que se trata da guitarra com braço mais confortável de tocar, melhor pegada e tocabilidade incrível). Já podendo contar com a PRS, o Alemão havia anunciado que compusera um punhado de riffs para novos mega hits. Lá para o final do ensaio, então, o cara resolveu mandar um deles, e aí lembrei de duas coisas que li recentemente: (a) no "Rough Guide" do Led Zeppelin, consta que John Paul Jones dizia ser muito fácil saber se um riff tinha sido composto por ele ou por Jimmy Page: se o riff era bem elaborado, com várias notas, idas e voltas, pausas sofisticadas e batidas inusitadas, era certo que se tratava de um riff do baixista - e não do guitarrista como seria de supor (e.g., "Black Dog"); (b) Brian May admitiu que só Freddie Mercury seria capaz de compor um riff de guitarra como o da parte pesada de "Bohemian Rhapsody", pois utiliza notas e padrões não usuais para um guitarrista (se não me engano é em C# e G#, numa região do braço pouco frequentada por guitarristas de rock). Pois o Alemão veio com um riff bem intrincado em G, utilizando de forma incomum notas cromáticas uma oitava acima, exigindo posição igualmente incomum dos dedos para executá-lo; não bastassem as notas, havia ainda a questão da batida, com nuanças difíceis de acompanhar (o Marcão foi o primeiro a conseguir acompanhar, e quando vi que só eu tava apanhando, redobrei o esforço até virar "master" do riff). É a confirmação da tese de que um músico que domina um instrumento qualquer (teclado, baixo, etc.) e se dedica a tocar guitarra com alguma proficiência, possivelmente é mais apto para criar algo realmente criativo e diferente em termos de guitarra e em comparação com os guitarristas. Quero dizer que o Alemão criou um riff de guitarra muito bom, do qual jamais seria capaz de cogitar, e é isso que faz a banda capaz de criar os seus mega hits. O interessante, além disso, é que o riff esse cria uma tensão que depois é resolvida com acordes bem tradicionais e sem muitas firulas: D, G/B, C. O Marcelo criou uma letra na hora, inclusive com uma melodia na hora das mudanças de acordes. Antes disso, porém, repassamos com êxito aquela do sotaque do centro do país. De forma bizarra, passamos um tempão tentando passar o clássico do primeiro ensaio; é claro que jamais conseguimos passar dos versos para o pré-chorus e para o chorus e de volta para os versos com tranquilidade, mas aos trancos sempre fomos adiante. Pois dessa vez, nada parecia funcionar, nem o vocal do Marcelo estava confiante como o de costume. De tantos start-stop, achei que alguém ia perder a paciência, mas acabamos finalizando uma versão qualquer (ouvimos as versões anteriores, e mesmo algumas bem antigas, e conclui que tocamos o riff como sempre, embora admita que havia algo estranho na execução da faixa). Apesar de não tocar guitar desde o último ensaio, me senti bem confortável com a BFG e soltei vários solos, provavelmente inspirado nos licks de Keith Richards, Ron Wood e Mick Taylor que ando ouvindo ultimamente. Fizemos jams com Triton e BFG. Também para o fim, no momento "músicas novas do Alemão", ele executou (agora no Yamaha de cordas de aço) um padrão de acordes que me é bem familiar e, assim, facilitou-me as coisas enormemente: D-A-E. Depois dessa ele tocou outra com os mesmos acordes, mas aí acompanhei com umas melodias com a pentatônica de Em uma oitava acima dos acordes, e me pareceu que a pegada era parecida com a do Santana (acho que estava utilizando os dois captadores simultaneamente: burstbucker e P90).
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte X "Octavarium" (2005)
Bem ou mal, considero sempre positivo quando uma banda se propõe a lançar discos de músicas inéditas com regularidade, afinal são poucas que se dedicam a tal arte nesses anos 2000. Além disso, se o lançamento de um CD a cada par de anos pode fazer com que eventualmente um ou outro não tenha a mesma qualidade dos melhores discos de determinada banda - e seja tido como ruim -, entendo que mesmo um disco ruim, nessas circunstâncias, pode ser bem recebido por parte do público e se tornar um clássico do tipo “underrated”, e em escala isso já terá valido o esforço dos músicos. Quero dizer com isso que, como de costume, acompanhei as notícias prévias ao lançamento de “Octavarium”, sem grande ansiedade e sem baixar mp3 na rede (na verdade fui um dos que baixou o disco solo de James LaBrie como se fosse o novo do DT; tão logo percebi o engodo, desencanei de ir atrás da coisa verdadeira), mas não me furtei de adquiri-lo (provavelmente na Cultura, mas talvez na Saraiva) tão logo vi na loja, com esperanças de ouvir boas músicas já que era certo que não se trataria de um “Train of Thought II”, e sabendo que haveria de alguma maneira um retorno ao lado prog da banda. Em 2005 já estava plenamente empregado, porém sem atividades musicais regulares. Dominava a discografia do Dream Theater, e pelas experiências frustrantes dos lançamentos anteriores, trouxe o novo álbum para casa para cumprir um costume.
Admito que desde a primeira audição de “Octavarium” tive sensação de decepção. Na internet é muito comum encontrar uma lista com as inúmeras ligações entre os números 8 e 5 constantes desde a arte da capa até o número de faixas. Além disso, “Octavarium” começa como terminou “Train of Thought” (da mesma forma que “Six Degrees of Inner Turbulence” começa com o mesmo “white noise” que encerra “Scenes From a Memory”), tem oito faixas (os discos anteriores tinham 7 e 6), todas em tons diferentes (uma a uma são utilizadas os tons de F, G, A... F), dentre outras sofisticadas coincidências ou intrincadas referências e ligações. Aparentemente, o tema do disco é “as coisas começam onde terminam”, e houve quem temeu pelo encerramento das atividades da banda (alguém interpretou que “Octavarium” encerraria o ciclo do Dream Theater). Acabei achando enfadonha tanta ênfase nesses fatos não-musicais, e achei uma pena que tanto esforço não tenha sido feito na composição das músicas.
A ideia de Mike Portnoy de dedicar uma faixa de cada disco para a famigerada suíte dos 12 passos – e ao final ter-se uma grande música de 60min – é muito boa. E começou de forma excelente, com “The Glass Prison” do “6DOIT”. A sequência, “This Dying Soul”, manteve o peso mas não a qualidade (alguns riffs são fracos). A terceira parte é a que abre “Octavarium”: “The Root of All Evil” retoma um riff de “This Dying Soul” e parte para um outro muito fraco, que domina a música. O refrão recicla de maneira irregular outra parte de “This Dying Soul”, e particularmente achei o resultado final de qualidade bastante inferior.
Desde “Falling Into Infinity” que não havia tantas músicas melódicas/melosas num mesmo CD: “Octavarium” traz duas, sendo a primeira “The Answer Lies Within”. É uma música curta (pouco mais de 5min) e estrutura tradicional, do tipo cuidadosamente composta e produzida, exibindo o lado mais comercial da banda (Portnoy entende que por se tratar o Dream Theater uma banda de rock progressivo, é dado aos caras compor todo o tipo de som, inclusive, se for o caso, algo do estilo mais comercial). O mesmo se pode dizer de “I Walk Beside You”, com o agravante de que esta última se assemelha em demasia ao material de bandas como U2 e Coldplay. Não há dúvidas de que ambas as músicas não são ruins: pelo contrário, são composições bacanas, com boa interpretação (principalmente do vocal de James LaBrie), mas entendo que a banda peca pelas referências óbvias demais.
Diz-se que uma das faixas (“Wither”) do álbum mais recente, lançado em 2009, “Black Clouds & Silver Linings”, tem letra de John Petrucci a respeito do seu temor em relação ao “writer´s block” (mais exatamente, em entrevista à Guitar World de outubro de 2009, o guitarrista revela que a letra é apenas sobre a sensação de escrever – uma música, um livro, um poema – do zero, com a página em branco, e a necessidade de preenchê-la, digamos assim). Pois acho que o cara já escreveu algo do tipo em “Octavarium”... Desde a primeira vez que li a letra de “These Walls” interpretei como se o guitarrista estivesse desabafando sobre a falta de criatividade/inspiração para compor coisas novas, e de forma jocosa (e marota, admito) pensei que a ironia se aplicava ao caso do próprio Dream Theater. Em todo o caso, basta acompanhar: “This is so hard for me/To find the words to say/My thoughts are standing still/Captive inside of me/All emotions start to hide/And nothing´s getting through/Watch me fading/I´m losing all my instincts/Falling into darkness/Tear down these walls for me/Stop me from going under/You are the only one who knows I´m holding back (…)”. Parece a descrição de alguém que se angustia com a súbita incapacidade para criar algo interessante e de relevo. A parte musical tem altos e baixos: começa com sons de alavancadas muito legais de guitarra barítono com afinação pesadíssima. A estrutura, volto a dizer, é tradicional com verso/ponte/refrão, e a certa altura isso torna monótona a audição de um disco da banda nesses termos. Se a letra descreve um compositor angustiado e limitado pela falta de inspiração, a música reflete essa inquietação por seguir uma fórmula consagrada de música de rock.
Duas faixas agressivas e dois épicos vêm adiante. “Panic Attack” e “Never Enough” são do primeiro tipo, e “Sacrificed Sons” e “Octavarium” do segundo.
Os momentos de destaque do baixo de John Myung vem escasseando a cada disco, mas o cara teve oportunidade para executar o riff de abertura de “Panic Attack”. É uma música decente, bem pesada, com algumas partes “ultra metal” (aparentemente do tipo Meshugah, mas me falta o conhecimento para identificar). Geralmente tenho restrições ao tipo de base para os versos com guitarras bem pesadas e cheias de pausas; parece muito Evanescence para o meu gosto.
Achei “Never Enough” muito legal nas primeiras vezes que ouvi. Mas o Bruce/Valmor revelou que se tratava de um cover disfarçado de “Stockholm Syndrome” do Muse. E de fato: tenho o CD do Muse e a semelhança é assustadora, o que deprecia irremediavelmente a audição da faixa. Para liquidar, a letra de Portnoy é uma reclamação grotesca contra os fãs antigos da banda segundo os quais o material apresentado pelo DT nos últimos discos “nunca é (bom) o bastante”. Em outras palavras, a letra é sobre os fãs que reclamam da banda e de Portnoy que reclama dos fãs que reclamam. Quando tive ciência do tema da letra, resolvi lê-la e pude perceber a infantilidade da reclamação, pois o baterista atribui diretamente aos fãs os seus problemas particulares (com bebida, com a família, etc). Não me parece correto – nem maduro - atribuir a causa de problemas pessoais a terceiros, sobretudo no caso de um músico que toca numa banda: afinal, os fãs que compram discos financiam o modo de vida dos músicos, e os primeiros não ganham nada com os segundos, ao contrário destes que vivem com o dinheiro obtido em função daqueles. Tenho feito um exercício de ouvir essa música desconsiderando o fato de que se trataria de um cover disfarçado, bem como a letra despicienda.
LaBrie escreveu uma letra sobre os atentados de 11/09 que virou um épico de 15min: “Sacrificed Sons”. O início arrastado com o piano de Rudess compromete a música que tem bons versos cantados, um refrão previsível, e partes instrumentais idem (nada do que nós já não tenhamos ouvido melhor em outras da banda).
O álbum encerra com uma faixa de 24min, que dá nome ao CD. Aqui se encontram diversas referências a bandas de rock progressivo. A ninguém escapou que o início com teclado climático e solo de guitarra de colo lembra em tudo o início de “Shine On You Crazy Diamond” do Pink Floyd. Lá pelas tantas há um andamento com baixo e bateria que remete a Chris Squire e Alan White do Yes, bem como um riff de teclado com timbre de Moog, no estilo Rick Wakeman. Alguns versos de Portnoy, inclusive, fazem referência expressa a nomes de bandas, artistas de música e de cinema, títulos de músicas e de discos, etc. Lamento não conseguir ouvi-la sem pensar na coletânea de referências e citações, óbvias ou sutis, e também sem comparar com outras fases do Dream Theater nas quais as coisas pareciam mais criativas e originais.
Lendo comentários em vídeos do youtube ou de resenhas de CDs do Dream Theater, reparei que “Octavarium” é citado com frequência como o disco favorito de muitas pessoas – provavelmente neófitos. Independentemente disso, valorizo a disposição do Dream Theater de lançar com regularidade discos com músicas inéditas, sendo certa que essa experiência tem acarretado, no mínimo, a captura de novos fãs e a manutenção de grande parte dos fãs antigos, de modo que após 20 anos de atividades, a banda experimenta novo fôlego para continuar fazendo o que tem feito desde 1985.
Admito que desde a primeira audição de “Octavarium” tive sensação de decepção. Na internet é muito comum encontrar uma lista com as inúmeras ligações entre os números 8 e 5 constantes desde a arte da capa até o número de faixas. Além disso, “Octavarium” começa como terminou “Train of Thought” (da mesma forma que “Six Degrees of Inner Turbulence” começa com o mesmo “white noise” que encerra “Scenes From a Memory”), tem oito faixas (os discos anteriores tinham 7 e 6), todas em tons diferentes (uma a uma são utilizadas os tons de F, G, A... F), dentre outras sofisticadas coincidências ou intrincadas referências e ligações. Aparentemente, o tema do disco é “as coisas começam onde terminam”, e houve quem temeu pelo encerramento das atividades da banda (alguém interpretou que “Octavarium” encerraria o ciclo do Dream Theater). Acabei achando enfadonha tanta ênfase nesses fatos não-musicais, e achei uma pena que tanto esforço não tenha sido feito na composição das músicas.
A ideia de Mike Portnoy de dedicar uma faixa de cada disco para a famigerada suíte dos 12 passos – e ao final ter-se uma grande música de 60min – é muito boa. E começou de forma excelente, com “The Glass Prison” do “6DOIT”. A sequência, “This Dying Soul”, manteve o peso mas não a qualidade (alguns riffs são fracos). A terceira parte é a que abre “Octavarium”: “The Root of All Evil” retoma um riff de “This Dying Soul” e parte para um outro muito fraco, que domina a música. O refrão recicla de maneira irregular outra parte de “This Dying Soul”, e particularmente achei o resultado final de qualidade bastante inferior.
Desde “Falling Into Infinity” que não havia tantas músicas melódicas/melosas num mesmo CD: “Octavarium” traz duas, sendo a primeira “The Answer Lies Within”. É uma música curta (pouco mais de 5min) e estrutura tradicional, do tipo cuidadosamente composta e produzida, exibindo o lado mais comercial da banda (Portnoy entende que por se tratar o Dream Theater uma banda de rock progressivo, é dado aos caras compor todo o tipo de som, inclusive, se for o caso, algo do estilo mais comercial). O mesmo se pode dizer de “I Walk Beside You”, com o agravante de que esta última se assemelha em demasia ao material de bandas como U2 e Coldplay. Não há dúvidas de que ambas as músicas não são ruins: pelo contrário, são composições bacanas, com boa interpretação (principalmente do vocal de James LaBrie), mas entendo que a banda peca pelas referências óbvias demais.
Diz-se que uma das faixas (“Wither”) do álbum mais recente, lançado em 2009, “Black Clouds & Silver Linings”, tem letra de John Petrucci a respeito do seu temor em relação ao “writer´s block” (mais exatamente, em entrevista à Guitar World de outubro de 2009, o guitarrista revela que a letra é apenas sobre a sensação de escrever – uma música, um livro, um poema – do zero, com a página em branco, e a necessidade de preenchê-la, digamos assim). Pois acho que o cara já escreveu algo do tipo em “Octavarium”... Desde a primeira vez que li a letra de “These Walls” interpretei como se o guitarrista estivesse desabafando sobre a falta de criatividade/inspiração para compor coisas novas, e de forma jocosa (e marota, admito) pensei que a ironia se aplicava ao caso do próprio Dream Theater. Em todo o caso, basta acompanhar: “This is so hard for me/To find the words to say/My thoughts are standing still/Captive inside of me/All emotions start to hide/And nothing´s getting through/Watch me fading/I´m losing all my instincts/Falling into darkness/Tear down these walls for me/Stop me from going under/You are the only one who knows I´m holding back (…)”. Parece a descrição de alguém que se angustia com a súbita incapacidade para criar algo interessante e de relevo. A parte musical tem altos e baixos: começa com sons de alavancadas muito legais de guitarra barítono com afinação pesadíssima. A estrutura, volto a dizer, é tradicional com verso/ponte/refrão, e a certa altura isso torna monótona a audição de um disco da banda nesses termos. Se a letra descreve um compositor angustiado e limitado pela falta de inspiração, a música reflete essa inquietação por seguir uma fórmula consagrada de música de rock.
Duas faixas agressivas e dois épicos vêm adiante. “Panic Attack” e “Never Enough” são do primeiro tipo, e “Sacrificed Sons” e “Octavarium” do segundo.
Os momentos de destaque do baixo de John Myung vem escasseando a cada disco, mas o cara teve oportunidade para executar o riff de abertura de “Panic Attack”. É uma música decente, bem pesada, com algumas partes “ultra metal” (aparentemente do tipo Meshugah, mas me falta o conhecimento para identificar). Geralmente tenho restrições ao tipo de base para os versos com guitarras bem pesadas e cheias de pausas; parece muito Evanescence para o meu gosto.
Achei “Never Enough” muito legal nas primeiras vezes que ouvi. Mas o Bruce/Valmor revelou que se tratava de um cover disfarçado de “Stockholm Syndrome” do Muse. E de fato: tenho o CD do Muse e a semelhança é assustadora, o que deprecia irremediavelmente a audição da faixa. Para liquidar, a letra de Portnoy é uma reclamação grotesca contra os fãs antigos da banda segundo os quais o material apresentado pelo DT nos últimos discos “nunca é (bom) o bastante”. Em outras palavras, a letra é sobre os fãs que reclamam da banda e de Portnoy que reclama dos fãs que reclamam. Quando tive ciência do tema da letra, resolvi lê-la e pude perceber a infantilidade da reclamação, pois o baterista atribui diretamente aos fãs os seus problemas particulares (com bebida, com a família, etc). Não me parece correto – nem maduro - atribuir a causa de problemas pessoais a terceiros, sobretudo no caso de um músico que toca numa banda: afinal, os fãs que compram discos financiam o modo de vida dos músicos, e os primeiros não ganham nada com os segundos, ao contrário destes que vivem com o dinheiro obtido em função daqueles. Tenho feito um exercício de ouvir essa música desconsiderando o fato de que se trataria de um cover disfarçado, bem como a letra despicienda.
LaBrie escreveu uma letra sobre os atentados de 11/09 que virou um épico de 15min: “Sacrificed Sons”. O início arrastado com o piano de Rudess compromete a música que tem bons versos cantados, um refrão previsível, e partes instrumentais idem (nada do que nós já não tenhamos ouvido melhor em outras da banda).
O álbum encerra com uma faixa de 24min, que dá nome ao CD. Aqui se encontram diversas referências a bandas de rock progressivo. A ninguém escapou que o início com teclado climático e solo de guitarra de colo lembra em tudo o início de “Shine On You Crazy Diamond” do Pink Floyd. Lá pelas tantas há um andamento com baixo e bateria que remete a Chris Squire e Alan White do Yes, bem como um riff de teclado com timbre de Moog, no estilo Rick Wakeman. Alguns versos de Portnoy, inclusive, fazem referência expressa a nomes de bandas, artistas de música e de cinema, títulos de músicas e de discos, etc. Lamento não conseguir ouvi-la sem pensar na coletânea de referências e citações, óbvias ou sutis, e também sem comparar com outras fases do Dream Theater nas quais as coisas pareciam mais criativas e originais.
Lendo comentários em vídeos do youtube ou de resenhas de CDs do Dream Theater, reparei que “Octavarium” é citado com frequência como o disco favorito de muitas pessoas – provavelmente neófitos. Independentemente disso, valorizo a disposição do Dream Theater de lançar com regularidade discos com músicas inéditas, sendo certa que essa experiência tem acarretado, no mínimo, a captura de novos fãs e a manutenção de grande parte dos fãs antigos, de modo que após 20 anos de atividades, a banda experimenta novo fôlego para continuar fazendo o que tem feito desde 1985.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
CD - Rolling Stones "Flashpoint" (1991)
Em 1992/1993, pelos vídeos da MTV, é que conheci os Stones. Mais precisamente, os vídeos eram de uma apresentação dos caras nos anos 1980 com versões de "Satisfaction" e "Jumping Jack Flash". Como tantas outras pessoas, curti os riffs de guitarra e os refrões marcantes. Ainda não tínhamos aparelho de CD em casa, mas também não comprávamos mais os vinis (pois sabíamos que se tratava de tecnologia em vias de superação), então comprava as fitas K7. Na antiga Multisom do Praia de Belas (perto do Nacional) pedi e levei uma com um disco ao vivo dos Stones, "Flashpoint", pois era o lançamento da época e contava com vários clássicos da banda. Além das faixas ao vivo, havia duas inéditas de estúdio, uma das quais ganhou vídeoclipe com primeira exibição nacional no Fantástico ("Sexdrive", e a música é boa). Lembro que ouvi bastante a fita, mas não me tornei fã da banda a ponto de ir atrás dos demais álbuns (diferentemente do que seria o caso do AC/DC na mesma época). Recentemente, quase 20 anos depois da fita K7, na abertura do Barrashopping, aproveitei a oportunidade para adquirir o CD na Saraiva, sendo um dos poucos discos que comprei em LP ou K7 e depois em CD (os outros são AC/DC "Live", Queen "Live Magic" e "The Miracle", Dire Straits "The Best of", Jean Michel Jarre "Rendez Vous" e "Les Concerts en Chine").
As apresentações ao vivo dos Stones são há mais de 20 anos um grande espetáculo, com palcos enormes, expressiva banda de apoio e bilheteria astronômica. É comum encontrar resenhas desfavoráveis de "Flashpoint" (geralmente se diz que as versões aqui não são boas, que o melhor dos Stones ao vivo está nos registros mais antigos); particularmente, acho bom o repertório desse disco e os registos me parecem muito bons (destaque para os backing vocals femininos em algumas faixas). As melhores são as clássicas "Start Me Up", "Miss You", "Ruby Tuesday", "You Can´t Always Get What You Want", "Paint it Black", "Sympathy for the Devil", "Brown Sugar", "Satisfaction" e "Jumpin Jack Flash". Sem prejuízo destas faixas já consagradas, acho bem legais "Rock and a Hard Place" (refrão ouro para uma faixa composta nos anos 1980), "Sad Sad Sad", "Can´t Be Seen" (bom vocal de Keith Richards e bons riffs de guitarra). Eric Clapton faz uma participação especial numa composição de Willie Dixon "Little Red Rooster", e é fácil perceber os licks do cara. Regra geral o vocal de Mick Jagger é excelente e as guitarras de Keith Richards e Ron Wood muito boas (embora ainda não consiga dizer exatamente quem toca o quê). O disco foi o primeiro lançamento da banda nos anos 1990 e é o último registro com o baixista Bill Wyman.
As apresentações ao vivo dos Stones são há mais de 20 anos um grande espetáculo, com palcos enormes, expressiva banda de apoio e bilheteria astronômica. É comum encontrar resenhas desfavoráveis de "Flashpoint" (geralmente se diz que as versões aqui não são boas, que o melhor dos Stones ao vivo está nos registros mais antigos); particularmente, acho bom o repertório desse disco e os registos me parecem muito bons (destaque para os backing vocals femininos em algumas faixas). As melhores são as clássicas "Start Me Up", "Miss You", "Ruby Tuesday", "You Can´t Always Get What You Want", "Paint it Black", "Sympathy for the Devil", "Brown Sugar", "Satisfaction" e "Jumpin Jack Flash". Sem prejuízo destas faixas já consagradas, acho bem legais "Rock and a Hard Place" (refrão ouro para uma faixa composta nos anos 1980), "Sad Sad Sad", "Can´t Be Seen" (bom vocal de Keith Richards e bons riffs de guitarra). Eric Clapton faz uma participação especial numa composição de Willie Dixon "Little Red Rooster", e é fácil perceber os licks do cara. Regra geral o vocal de Mick Jagger é excelente e as guitarras de Keith Richards e Ron Wood muito boas (embora ainda não consiga dizer exatamente quem toca o quê). O disco foi o primeiro lançamento da banda nos anos 1990 e é o último registro com o baixista Bill Wyman.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
5 tweets
1) John Norum "roubou" um riff meu ("Shark Attack") - verdadeiro G.D.R.O. - para criar uma faixa ("The Beast") para o novo álbum do Europe ("Last Look at Eden"), como bem observado pelo Valmor/Bruce (e nosso consenso é que o meu riff é melhor).
2) Curti o novo disco do Kiss ("Sonic Boom"), que de "Rock and Roll Over" - conforme havia adiantado o Gene Simmons - só tem a capa: notei sons da época do "Lick it Up" e do "Crazy Nights". Bom vocal e solos fracos de Tommy Thayer (rip-off de licks do Ace).
3) Semana que vem é para agilizar o ingresso para Kip "Blind Revolution Mad" Winger.
4) Terceira semana ouvindo "A Bigger Bang" dos Stones, diariamente, na ida e na volta e nos findes.
5) Bealtes remasterizados: ainda bem que não tinha a coleção completa, como geralmente acontece nesses casos.
2) Curti o novo disco do Kiss ("Sonic Boom"), que de "Rock and Roll Over" - conforme havia adiantado o Gene Simmons - só tem a capa: notei sons da época do "Lick it Up" e do "Crazy Nights". Bom vocal e solos fracos de Tommy Thayer (rip-off de licks do Ace).
3) Semana que vem é para agilizar o ingresso para Kip "Blind Revolution Mad" Winger.
4) Terceira semana ouvindo "A Bigger Bang" dos Stones, diariamente, na ida e na volta e nos findes.
5) Bealtes remasterizados: ainda bem que não tinha a coleção completa, como geralmente acontece nesses casos.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte IX "Train of Thought" (2004)
Até 2003, o Dream Theater espalhava, moderadamente, riffs monumentais de guitarra de estilo heavy metal nos seus discos. Esse punhado de riffs era tão bom, que sempre deixava o tal do gosto-de-quero-mais (v.g.: “Pull Me Under”, “The Mirror”, “Just Let Me Breathe”, além de “Acid Rain” no caso do Liquid Tension Experiment), e a cada disco pensava o quanto seria legal se eles soltassem de vez esses riffs pesados e incrementasse o número de faixas mais agressivas. O passo para esse estágio parece ter sido dado com “The Glass Prison”, e o resultado alcançado pelo Dream Theater com a melhor faixa de “Six Degrees of Inner Turbulence” foi tão bom – durante a turnê respectiva a banda participou de festivais de bandas de heavy metal nos quais desfrutou de boa receptividade (e quiçá ganhou novos fãs) com um repertório de músicas mais agressivas, somado ao fato da banda ter executado na íntegra dois clássicos do gênero: “Master of Puppets” do Metallica e “The Number of the Beast” do Iron Maiden – que a banda resolveu gravar um disco inteiro de som pesado.
Evidentemente que no papel a ideia parecia boa (seria tudo o que queríamos ouvir), mas por ironia “Train of Thought” não foi o tipo de disco que esperava dos caras, mais ou menos como se eles tivessem “errado a mão” no peso. A justificativa para o lançamento de um disco nessas condições – é muito mais prog do que metal e lembra pouco o passado da banda – foi justamente a excitação com os shows ao lado de bandas de heavy metal e com a execução integral de discos conhecidos, inspirando a banda para compor um álbum orientado para as músicas com formato mais tradicional, em detrimento de faixas mais complexas e criativas de “Images and Words” (“Learning to Live”), “Awake” (“Voices”, “Scarred”) e “Falling Into Infinity” (“Lines in the Sand”, “Trial of Tears”). Evidentemente que nem todos pensam assim, e provavelmente muitas pessoas gostam de “Train of Thought”. Mas o que me faz realmente gostar muito pouco desse disco é o fato de que aqui os caras parecem ter abandonado definitivamente a ideia de compor músicas sem precedentes: de fato, não demora muito durante a audição para perceber a predominância de riffs simples e repetitivos - assim entendidos aqueles em relação aos quais se pode dizer que não precisa ser um John Petrucci para compô-los -, bem como estruturas comuns e conhecidas de verso/ponte/refrão. Os exemplos abundam: “As I Am” (riff curto e redundante nas mesmas posições de “Enter Sandman” do Metallica), “This Dying Soul” (riff principal que me lembra “Soul of a Vagabond” do Stratovarius), “Endless Sacrifice” (dedilhado e estrutura tradicionais, desde “Children of the Damned” do Iron Maiden até “Give In To Me” do Michael Jackson, passando por “Handful of Rain” do Savatage), “This Dying Soul” (a ninguém escapou que há uma parte na qual tanto o vocal como as guitarras e bateria lembram “Blackened” do Metallica), “Stream of Consciousness” (tentativa de fazer uma faixa instrumental ao estilo “Orion” do Metallica). É muito fácil encontrar referências óbvias de bandas e músicas nessas faixas (o Dream Theater parece não ter se esforçado mesmo em escondê-las), tanto que a tarefa de relacioná-las acaba se tornando enfadonha.
Nessas condições, as partes legais do disco acabam se resumindo a algumas passagens como (a) uma levada diferente de bateria durante um verso em “As I Am” (às vezes Portnoy dá uma quebrada a certa altura, dando a impressão de que a música “tropeça”, ou que algo deu errado – o mesmo recurso é utilizado, de certa maneira, em “Lines in the Sand”, do “Falling Into Infinity”); (b) o riff nu-metal reprisado de “The Glass Prison” em “This Dying Soul”, e o riff que vem logo depois, com várias notas; (c) “Vacant” (uma vinheta curta com letra de LaBrie); (d) os riffs pesados, levadas de bateria e partes de teclado (raro momento de destaque de Rudess) de “Honor Thy Father”
Embora isso não signifique necessariamente boa coisa, John Petrucci se sobressai o tempo todo (afinal, é um disco de heavy metal...) e o cara resolveu de uma vez por todas soltar todos os solos fritados que bem quis (e isso necessariamente não é boa coisa). O papel de Jordan Rudess, por sua vez, ficou menor que secundário – na maior parte do tempo quase não se ouve o teclado – o que é bem frustrante. O único que se dá bem é Mike Portnoy, pois a única referência que ficou legal foi a menção à introdução de bateria de Mikkey Dee em “Welcome Home” do King Diamond na introdução de “Honor Thy Father”.
Como um disco de heavy metal é bom, mas como um disco do Dream Theater é falho, pois é o único disco da banda que contém músicas nas quais podemos antecipar todo o andamento e sucessão de partes logos nos primeiros 30 segundos de audição, independentemente do tamanho das faixas (“depois desse riff, vêm os versos, a ponte...”). Na época do lançamento de “Train of Thought” já estava no meu primeiro emprego e não tinha ouvido previamente o disco antes de adquiri-lo, provavelmente na Saraiva. Tentei fazer uma resenha compreensiva, mas não tive tempo nem para escrever, nem para ouvir mais vezes o disco para me desincumbir dessa tarefa. De qualquer maneira, escrevi alguma coisa, conforme segue:
1) Trata-se, mesmo, de um disco de metal. Do prog metal que fez essa banda famosa há muito pouco. É uma sucessão desavergonhada de riffs de guitarra, acompanhados de bateria vigorosa.
2) O teclado de Ruddess segue a tendência do 6 Degrees (Glass Prison, principalmente), que é de total discrição na mixagem; mesmo nas partes em que deveria "dobrar" a guitarra, esta sobressai. Cada vez mais evidente que não há mais espaço para teclados nessa banda. É fácil imaginar onde e o que os antigos tecladistas da banda fariam para colorir riffs e passagens das músicas, acrescentando melodias e tudo mais - o que sempre foi sua marca registrada, e o que realmente fazia do Dream Theater uma banda de exceção: interação teclado/guitarra, com a bateria altamente técnica, e vocal emotivo.
3) A banda parece ter abandonado as influências Rush e prog anos 70, em favor do peso, estlio Metallica, Slayer, Sepultura, new metal em geral (Slipknot, Korn, SOAD). Por certo que isso serve pra ordinarizar a banda, tornando-a mais uma integrante da cena metal. Em que pese tudo isso, no meu caso particular, já que tenho "formação" metal, conclui que vou ouvir esse Train of Thoughts muito mais do que ouvi o Scenes from a Memory e o 6 Degrees (quem sabe até o Falling into Infinity). Não é exatamente o disco que eu gostaria de ouvir da banda (os referidos também não, mas pelo menos tinham uma "cara" de Dream Theater, facilmente identificável, de uma maneira ou de outra).
Outros comentários ainda serão alinhavados.
Em se tratando de Dream Theater, isso pra mim é lamentável, pois a banda justamente se diferenciava por criar verdadeiras seções musicais - em retrospecto, vemos que são raras as músicas que giram em torno de um riff em especial, ou que tenha um riff retão (geralmente o riff parecia retão, mas em seguida Petrucci tratava de seguir para outros caminhos, ao invés de repetir até a parte seguinte). Lembro de Pull me Under - no começo tem aquele riff pesadão, que vai se transformando até chegar à parte cantada. Nesse retrospecto, falando de riffs retões, e tirando o primeiro disco, só lembro de Lie, Caught in a Web e Burning My Soul.
Outra característica desse disco, que o distancia dos demais, é a quantidade de solos de Petrucci por metro quadrado. Sempre respeitei muito essa atitude do Petrucci, de solar em poucas músicas (eu realmente não lembro de muitas em que tenha solo de guitar - Another Day, Lie, Voices, Silent Man), sendo que a maioria ou tinha solo de teclado (e Kevin Moore costumava solar bem melhor que o guitarrista - 6:00; além do Derek Sherinian - Burning My Soul), ou resumia-se àqueles duetos fantásticos guitarra/teclado (Metropolis pt. I, Just Let Me Breath, New Millenium). Enfim, o cara resolveu descontar tudo de uma vez, mas acho que se quebrou.
As I Am não tem quase vestígios de teclado. Nessa música, o vocal ficou legal, diferenciando bastante do tom mais contido que o James Labrie vem adotando desde Falling into Infinity, em respeito ao seu alcance limitado nos shows.
Na parte do solo de guitar, a música aparentemente pára - baixo e teclado tocam um riff como base, emendando depois com o riff principal. Não há uma guitarra base. Essa característica é totalmente do Pantera (que só tem um guitar e um baixista), onde na parte dos solos fica um vazio, que batera e baixo não conseguem preencher. Cumpre notar que em A Change of Seasons, no solo de guitar a base também é com baixo/teclado, e não tem vazio nenhum, mesmo nas apresentações ao vivo. O solo, propriamente, é dos mais jacuzzi (depois vêm me dizer que o Malmsteen é que é o cdt...), mas aquela corrida no final salva a pátria.
A parte que eu mais me abri é no segundo verso, onde o Portnoy faz umas quebradas , dando aquela impressão desconfortável (e muito legal) de que o cara tá errando a levada. É sensacional, e o Portnoy sabe fazer bem essa parte.
No final, quando a música já devia ter acabado uns 2 minutos antes, os caras bolaram aqueles feedbacks muito legais, com 2 guitars (uma em cada lado do headphone).
A música é boa, mas não impressiona. Não entra pro top 20 Dream Theater.
Da turnê de “Train of Thought” saiu em 2004 um CD triplo ao vivo e um DVD duplo contendo registros de uma apresentação no lendário Budokan, nomeado “Live at the Budokan”. Algumas versões ficaram muito boas, notadamente “Trial of Tears”, e é legal ver o resgate de “New Millenium”. Portnoy decidiu valorizar as músicas do primeiro CD da banda (“When Dream and Day Unite”), representado por uma com letra de Kevin Moore, “Only a Matter of Time”. Os documentários que acompanham o DVD são muito bons.
Evidentemente que no papel a ideia parecia boa (seria tudo o que queríamos ouvir), mas por ironia “Train of Thought” não foi o tipo de disco que esperava dos caras, mais ou menos como se eles tivessem “errado a mão” no peso. A justificativa para o lançamento de um disco nessas condições – é muito mais prog do que metal e lembra pouco o passado da banda – foi justamente a excitação com os shows ao lado de bandas de heavy metal e com a execução integral de discos conhecidos, inspirando a banda para compor um álbum orientado para as músicas com formato mais tradicional, em detrimento de faixas mais complexas e criativas de “Images and Words” (“Learning to Live”), “Awake” (“Voices”, “Scarred”) e “Falling Into Infinity” (“Lines in the Sand”, “Trial of Tears”). Evidentemente que nem todos pensam assim, e provavelmente muitas pessoas gostam de “Train of Thought”. Mas o que me faz realmente gostar muito pouco desse disco é o fato de que aqui os caras parecem ter abandonado definitivamente a ideia de compor músicas sem precedentes: de fato, não demora muito durante a audição para perceber a predominância de riffs simples e repetitivos - assim entendidos aqueles em relação aos quais se pode dizer que não precisa ser um John Petrucci para compô-los -, bem como estruturas comuns e conhecidas de verso/ponte/refrão. Os exemplos abundam: “As I Am” (riff curto e redundante nas mesmas posições de “Enter Sandman” do Metallica), “This Dying Soul” (riff principal que me lembra “Soul of a Vagabond” do Stratovarius), “Endless Sacrifice” (dedilhado e estrutura tradicionais, desde “Children of the Damned” do Iron Maiden até “Give In To Me” do Michael Jackson, passando por “Handful of Rain” do Savatage), “This Dying Soul” (a ninguém escapou que há uma parte na qual tanto o vocal como as guitarras e bateria lembram “Blackened” do Metallica), “Stream of Consciousness” (tentativa de fazer uma faixa instrumental ao estilo “Orion” do Metallica). É muito fácil encontrar referências óbvias de bandas e músicas nessas faixas (o Dream Theater parece não ter se esforçado mesmo em escondê-las), tanto que a tarefa de relacioná-las acaba se tornando enfadonha.
Nessas condições, as partes legais do disco acabam se resumindo a algumas passagens como (a) uma levada diferente de bateria durante um verso em “As I Am” (às vezes Portnoy dá uma quebrada a certa altura, dando a impressão de que a música “tropeça”, ou que algo deu errado – o mesmo recurso é utilizado, de certa maneira, em “Lines in the Sand”, do “Falling Into Infinity”); (b) o riff nu-metal reprisado de “The Glass Prison” em “This Dying Soul”, e o riff que vem logo depois, com várias notas; (c) “Vacant” (uma vinheta curta com letra de LaBrie); (d) os riffs pesados, levadas de bateria e partes de teclado (raro momento de destaque de Rudess) de “Honor Thy Father”
Embora isso não signifique necessariamente boa coisa, John Petrucci se sobressai o tempo todo (afinal, é um disco de heavy metal...) e o cara resolveu de uma vez por todas soltar todos os solos fritados que bem quis (e isso necessariamente não é boa coisa). O papel de Jordan Rudess, por sua vez, ficou menor que secundário – na maior parte do tempo quase não se ouve o teclado – o que é bem frustrante. O único que se dá bem é Mike Portnoy, pois a única referência que ficou legal foi a menção à introdução de bateria de Mikkey Dee em “Welcome Home” do King Diamond na introdução de “Honor Thy Father”.
Como um disco de heavy metal é bom, mas como um disco do Dream Theater é falho, pois é o único disco da banda que contém músicas nas quais podemos antecipar todo o andamento e sucessão de partes logos nos primeiros 30 segundos de audição, independentemente do tamanho das faixas (“depois desse riff, vêm os versos, a ponte...”). Na época do lançamento de “Train of Thought” já estava no meu primeiro emprego e não tinha ouvido previamente o disco antes de adquiri-lo, provavelmente na Saraiva. Tentei fazer uma resenha compreensiva, mas não tive tempo nem para escrever, nem para ouvir mais vezes o disco para me desincumbir dessa tarefa. De qualquer maneira, escrevi alguma coisa, conforme segue:
01.12.2003 - O novo cd do Dream Theater: "Train of Thoughts"
- tenho ouvido desde sábado, portanto, ainda é um pouco cedo para opiniões conclusivas. Entretanto, algumas considerações já podem ser feitas:1) Trata-se, mesmo, de um disco de metal. Do prog metal que fez essa banda famosa há muito pouco. É uma sucessão desavergonhada de riffs de guitarra, acompanhados de bateria vigorosa.
2) O teclado de Ruddess segue a tendência do 6 Degrees (Glass Prison, principalmente), que é de total discrição na mixagem; mesmo nas partes em que deveria "dobrar" a guitarra, esta sobressai. Cada vez mais evidente que não há mais espaço para teclados nessa banda. É fácil imaginar onde e o que os antigos tecladistas da banda fariam para colorir riffs e passagens das músicas, acrescentando melodias e tudo mais - o que sempre foi sua marca registrada, e o que realmente fazia do Dream Theater uma banda de exceção: interação teclado/guitarra, com a bateria altamente técnica, e vocal emotivo.
3) A banda parece ter abandonado as influências Rush e prog anos 70, em favor do peso, estlio Metallica, Slayer, Sepultura, new metal em geral (Slipknot, Korn, SOAD). Por certo que isso serve pra ordinarizar a banda, tornando-a mais uma integrante da cena metal. Em que pese tudo isso, no meu caso particular, já que tenho "formação" metal, conclui que vou ouvir esse Train of Thoughts muito mais do que ouvi o Scenes from a Memory e o 6 Degrees (quem sabe até o Falling into Infinity). Não é exatamente o disco que eu gostaria de ouvir da banda (os referidos também não, mas pelo menos tinham uma "cara" de Dream Theater, facilmente identificável, de uma maneira ou de outra).
Outros comentários ainda serão alinhavados.
19.12.2003 - Dream Theater - Train of Thoughts: pinceladas I (As I Am)
A primeira música (As I Am) já sugere a tônica do disco - riffs retões, repetidos aos pares, de 2 ou 4 compassos, bem no estilo do metal tradicional. E, seguindo essa tendência, não há muito como inovar - as referências surgem facilmente durante a audição.Em se tratando de Dream Theater, isso pra mim é lamentável, pois a banda justamente se diferenciava por criar verdadeiras seções musicais - em retrospecto, vemos que são raras as músicas que giram em torno de um riff em especial, ou que tenha um riff retão (geralmente o riff parecia retão, mas em seguida Petrucci tratava de seguir para outros caminhos, ao invés de repetir até a parte seguinte). Lembro de Pull me Under - no começo tem aquele riff pesadão, que vai se transformando até chegar à parte cantada. Nesse retrospecto, falando de riffs retões, e tirando o primeiro disco, só lembro de Lie, Caught in a Web e Burning My Soul.
Outra característica desse disco, que o distancia dos demais, é a quantidade de solos de Petrucci por metro quadrado. Sempre respeitei muito essa atitude do Petrucci, de solar em poucas músicas (eu realmente não lembro de muitas em que tenha solo de guitar - Another Day, Lie, Voices, Silent Man), sendo que a maioria ou tinha solo de teclado (e Kevin Moore costumava solar bem melhor que o guitarrista - 6:00; além do Derek Sherinian - Burning My Soul), ou resumia-se àqueles duetos fantásticos guitarra/teclado (Metropolis pt. I, Just Let Me Breath, New Millenium). Enfim, o cara resolveu descontar tudo de uma vez, mas acho que se quebrou.
As I Am não tem quase vestígios de teclado. Nessa música, o vocal ficou legal, diferenciando bastante do tom mais contido que o James Labrie vem adotando desde Falling into Infinity, em respeito ao seu alcance limitado nos shows.
Na parte do solo de guitar, a música aparentemente pára - baixo e teclado tocam um riff como base, emendando depois com o riff principal. Não há uma guitarra base. Essa característica é totalmente do Pantera (que só tem um guitar e um baixista), onde na parte dos solos fica um vazio, que batera e baixo não conseguem preencher. Cumpre notar que em A Change of Seasons, no solo de guitar a base também é com baixo/teclado, e não tem vazio nenhum, mesmo nas apresentações ao vivo. O solo, propriamente, é dos mais jacuzzi (depois vêm me dizer que o Malmsteen é que é o cdt...), mas aquela corrida no final salva a pátria.
A parte que eu mais me abri é no segundo verso, onde o Portnoy faz umas quebradas , dando aquela impressão desconfortável (e muito legal) de que o cara tá errando a levada. É sensacional, e o Portnoy sabe fazer bem essa parte.
No final, quando a música já devia ter acabado uns 2 minutos antes, os caras bolaram aqueles feedbacks muito legais, com 2 guitars (uma em cada lado do headphone).
A música é boa, mas não impressiona. Não entra pro top 20 Dream Theater.
Da turnê de “Train of Thought” saiu em 2004 um CD triplo ao vivo e um DVD duplo contendo registros de uma apresentação no lendário Budokan, nomeado “Live at the Budokan”. Algumas versões ficaram muito boas, notadamente “Trial of Tears”, e é legal ver o resgate de “New Millenium”. Portnoy decidiu valorizar as músicas do primeiro CD da banda (“When Dream and Day Unite”), representado por uma com letra de Kevin Moore, “Only a Matter of Time”. Os documentários que acompanham o DVD são muito bons.
Ensaio The Osmar Band - "Vierundzwanzig" 15.09.2009
24.º ensaio The Osmar Band - 15.09.2009 |
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte VIII "Six Degrees of Inner Turbulence" (2002)
Da turnê de “Scenes From a Memory”, o Dream Theater lançou um disco triplo (!) ao vivo contendo uma performance de 4 horas em NYC na qual foi reproduzida a íntegra de “SFAM”, com participação de orquestra e tudo mais, além da execução de “A Man Beside Itself” (que corresponde à trinca “Erotomania”, “Voices” e “The Silent Man” de “Awake”) e de “A Change of Seasons”. Esse álbum, lamentavelmente, não foi lançado no Brasil, e a aquisição de um triplo importado é, ainda hoje, proibitiva. “Live Scenes From New York” também se notabilizou pelo seu lançamento ter coincidido com o dia do atentado ao WTC (ninguém esquece do 11/09/2001), e por conter na capa o prédio em chamas (a arte foi imediatamente alterada para uma outra bem mais singela com o coração que aparece na capa de “Images and Words”).
Pouco se divulgou sobre o próximo disco de estúdio do Dream Theater, e foi a primeira vez que achei que um álbum da banda estava sendo lançado de forma surpreendentemente rápida, sendo certo que me parece elogiável a iniciativa de lançar discos com regularidade (poucas bandas se dão esse trabalho, diferentemente dos anos 1970 e, em alguns casos, 1980). Admito que não consegui conter a curiosidade quando apareceram os mp3 do novo disco “Six Degrees of Inner Turbulence” no final de 2001/início de 2002 (estava durante as férias escolares mas sem férias no estágio, o que não necessariamente era ruim). Ouvi um pouco da primeira faixa na casa do Bruce, e depois baixei as músicas do CD1 (e as ouvi um par de vezes), já sabendo que o CD2 seria reservado para a faixa-título, com mais de 40min (comprei o disco logo que vi na loja, provavelmente a Saraiva). E lembro claramente de como fiquei bem impressionado com “The Glass Prison”. Uma introdução de John Myung (com tappings e harmônicos artificiais, bem ao seu estilo), ao qual aderem os demais instrumentos até culminar num riff matador de guitarra de John Petrucci (o wah-wah nos últimos compassos serve para enfatizar ainda mais a cavalice). Depois disso é pauleira na 7.ª corda, totalizando 13min de heavy metal com progressivo. Diz-se que a música foi composta depois de Petrucci e Portnoy terem assistido a um show do Pantera (então em final de atividades). Seguramente é a melhor música da banda desde “A Change of Seasons” (e a melhor desde então), e a receptividade parece ter sido tão boa que a banda resolveu dedicar um disco inteiro a um som desse gênero (embora o resultado – “Train of Thought” – seja de qualidade discutível). “The Glass Prison” tem letra escrita por Mike Portnoy a respeito dos seus problemas com alcoolismo e seria a primeira parte da suíte dedicada ao tema, ao qual seriam dedicadas faixas dos discos subseqüentes – e ao final formariam uma grande música de aproximadamente 40min para mais. A letra é muito boa, e finalmente funcionou o backing vocal de Portnoy – mais exatamente, o cara divide os versos da primeira parte com James LaBrie, em estilo chamada-e-resposta, e o faz de tal forma que a banda jamais repetiu o êxito a partir de então (o mais próximo talvez seja em “The Dark Eternal Night” de “Systematic Chaos”). O refrão é legal e depois a música muda de groove para acompanhar um riff monumental de Petrucci, no qual Rudess reproduz o papel de DJ a fim de dar um ar de new metal (que ainda tinha certa popularidade na época). Esse riff é intercalado com outro com várias notas e muito bom também. Os caras pareciam certeiros em todos os aspectos, mas achei um pouco exagerada a parte instrumental que segue depois até perto do final: muitas repetições de duas ou três partes que parecem vir e voltar arbitrariamente, até desacelerar e voltar para o último verso que encerra abruptamente a faixa. Com o tempo e um pouco de pesquisa, reparei que é um recurso utilizado também por outras bandas de metal progressivo como Lamb of God, Mastodon, entre outras até o Metallica. Apesar de se tratar de uma música excelente, foi a partir dessa faixa que reparei na mudança de duas características da banda: (a) a predominância de solos de guitarra fritados em prejuízo dos solos mais sofisticados, que se caracterizavam por vários bends e efeitos e wah-whas; e (b) o papel secundário exercido por Rudess (durante muito tempo me frustrei com os timbres datados – ou timbres de piano repetitivos e fora de propósito - e a falta de riffs e melodias criativas de teclado como Moore e Sherinian nos havia acostumado em faixas como “Caught in a Web”, “The Mirror”, “Lines in the Sand”, “Just Let Me Breathe”).
Com uma abertura tão boa, “6DOIT” prometia ser o melhor da discografia da banda. Mas as faixas seguintes, apesar de boas, não são tão marcantes. “Blind Faith” é completamente diferente (não tem riffs de heavy metal, apesar da afinação mais baixa da guitarra e dos acordes executados em regiões graves), com um belo refrão (aliás, toda a parte cantada por LaBrie é muito boa), mas, assim como a primeira, essa segunda faixa também tem longas passagens instrumentais. De qualquer maneira, o resultado não é desprezível, e o mesmo se pode dizer de “Misunderstood”, que também tem um bom refrão e boas partes cantadas.
“The Great Debate” é outra música longa com letra de Petrucci (sobre “stem cell research”), com introdução sorrateira (do tipo que “vai num crescendo” e que contém diversas frases tiradas de jornalistas de TV sobre o tema da letra) até culminar com um riff simples em andamento e levada que me lembraram imediatamente ao som do Rush.
A última do CD1 é “Disappear”, bem diferente e bem melancólica – e modernosa, talvez influência de Radiohead, embora não tenha condições de afirmar isso categoricamente (falta-me conhecimento da discografia da banda inglesa). Então o CD1 de “SDOIT” tem músicas variadas, com bons momentos, e uma música excepcional; tirante essa, nada muito marcante.
O CD2 é dedicado na íntegra a uma faixa de mais de 40min, que dá o nome ao álbum, e foi dividida em 7 partes para, segundo Portnoy, facilitar a audição. Entendo que essa medida enfraquece a noção de “uma-música-de-40-min”, mais parecendo 7 músicas de um disco conceitual como “Dark Side of the Moon” do Pink Floyd (mal comparando). É um esforço demasiado tentar descrever essa grande faixa, sobretudo porque os melhores momentos são “Solitary Shell” e “Goodnight Kiss” (que são baladas aptas a serem lançadas como singles, com começo, meio, fim e refrão radiofônico). Diz-se que Jordan Rudess compôs integralmente a “Overture” como se fizesse parte de trilha sonora de filme de cinema; a banda acabou aproveitando-a e ainda adotando alguns temas como partes principais da composição principal que veio a ser a faixa-título. Além disso, há um riff que era bem executado tanto na guitarra, quanto no teclado, e como a banda não soube eleger um, optaram por manejar os dois como partes principais das duas “About to Crash” – a primeira com piano e a reprise com guitarra. Dois momentos de peso correspondem a “War Inside My Head” (com bom backing vocal de Portnoy) e “The Test That Stumped Them All” (após cada refrão é executado um padrão na bateria inicialmente apenas com a caixa, ao qual Portnoy agrega – e dificulta a execução – outros instrumentos da bateria a cada repetição).
Um disco duplo de material inédito poderia resultar em um álbum repetitivo e monótono, ou com altos e baixos. No caso do Dream Theater, os caras se desincumbiram bem dessa tarefa, criando uma música excepcional (“The Glass Prison”) e outras músicas boas, interessantes e/ou diversificadas em comparação com seu repertório até então (“Blind Faith”, “Misunderstood”, “The Great Debate” e “Disappear”, além da própria faixa-título de 40min). Particularmente, achei que a banda estava tomando um rumo muito bom, embora nem fizesse ideia do que a banda poderia fazer de diferente para não repetir as experiências anteriores (álbum duplo, disco conceitual, mais melódico, mais pesado, mais prog, etc). Na turnê subseqüente, os caras expandiram como nunca o tamanho dos shows, empregando a ideia do “an evening with Dream Theater”, sem bandas de abertura, e com shows de quase 3h. Além disso, a banda começou a executar na íntegra discos clássicos de bandas influentes, como “The Number of the Beast” do Iron Maiden, “Master of Puppets” do Metallica, “Made in Japan” do Deep Purple, “Dark Side of the Moon” do Pink Floyd.
Pouco se divulgou sobre o próximo disco de estúdio do Dream Theater, e foi a primeira vez que achei que um álbum da banda estava sendo lançado de forma surpreendentemente rápida, sendo certo que me parece elogiável a iniciativa de lançar discos com regularidade (poucas bandas se dão esse trabalho, diferentemente dos anos 1970 e, em alguns casos, 1980). Admito que não consegui conter a curiosidade quando apareceram os mp3 do novo disco “Six Degrees of Inner Turbulence” no final de 2001/início de 2002 (estava durante as férias escolares mas sem férias no estágio, o que não necessariamente era ruim). Ouvi um pouco da primeira faixa na casa do Bruce, e depois baixei as músicas do CD1 (e as ouvi um par de vezes), já sabendo que o CD2 seria reservado para a faixa-título, com mais de 40min (comprei o disco logo que vi na loja, provavelmente a Saraiva). E lembro claramente de como fiquei bem impressionado com “The Glass Prison”. Uma introdução de John Myung (com tappings e harmônicos artificiais, bem ao seu estilo), ao qual aderem os demais instrumentos até culminar num riff matador de guitarra de John Petrucci (o wah-wah nos últimos compassos serve para enfatizar ainda mais a cavalice). Depois disso é pauleira na 7.ª corda, totalizando 13min de heavy metal com progressivo. Diz-se que a música foi composta depois de Petrucci e Portnoy terem assistido a um show do Pantera (então em final de atividades). Seguramente é a melhor música da banda desde “A Change of Seasons” (e a melhor desde então), e a receptividade parece ter sido tão boa que a banda resolveu dedicar um disco inteiro a um som desse gênero (embora o resultado – “Train of Thought” – seja de qualidade discutível). “The Glass Prison” tem letra escrita por Mike Portnoy a respeito dos seus problemas com alcoolismo e seria a primeira parte da suíte dedicada ao tema, ao qual seriam dedicadas faixas dos discos subseqüentes – e ao final formariam uma grande música de aproximadamente 40min para mais. A letra é muito boa, e finalmente funcionou o backing vocal de Portnoy – mais exatamente, o cara divide os versos da primeira parte com James LaBrie, em estilo chamada-e-resposta, e o faz de tal forma que a banda jamais repetiu o êxito a partir de então (o mais próximo talvez seja em “The Dark Eternal Night” de “Systematic Chaos”). O refrão é legal e depois a música muda de groove para acompanhar um riff monumental de Petrucci, no qual Rudess reproduz o papel de DJ a fim de dar um ar de new metal (que ainda tinha certa popularidade na época). Esse riff é intercalado com outro com várias notas e muito bom também. Os caras pareciam certeiros em todos os aspectos, mas achei um pouco exagerada a parte instrumental que segue depois até perto do final: muitas repetições de duas ou três partes que parecem vir e voltar arbitrariamente, até desacelerar e voltar para o último verso que encerra abruptamente a faixa. Com o tempo e um pouco de pesquisa, reparei que é um recurso utilizado também por outras bandas de metal progressivo como Lamb of God, Mastodon, entre outras até o Metallica. Apesar de se tratar de uma música excelente, foi a partir dessa faixa que reparei na mudança de duas características da banda: (a) a predominância de solos de guitarra fritados em prejuízo dos solos mais sofisticados, que se caracterizavam por vários bends e efeitos e wah-whas; e (b) o papel secundário exercido por Rudess (durante muito tempo me frustrei com os timbres datados – ou timbres de piano repetitivos e fora de propósito - e a falta de riffs e melodias criativas de teclado como Moore e Sherinian nos havia acostumado em faixas como “Caught in a Web”, “The Mirror”, “Lines in the Sand”, “Just Let Me Breathe”).
Com uma abertura tão boa, “6DOIT” prometia ser o melhor da discografia da banda. Mas as faixas seguintes, apesar de boas, não são tão marcantes. “Blind Faith” é completamente diferente (não tem riffs de heavy metal, apesar da afinação mais baixa da guitarra e dos acordes executados em regiões graves), com um belo refrão (aliás, toda a parte cantada por LaBrie é muito boa), mas, assim como a primeira, essa segunda faixa também tem longas passagens instrumentais. De qualquer maneira, o resultado não é desprezível, e o mesmo se pode dizer de “Misunderstood”, que também tem um bom refrão e boas partes cantadas.
“The Great Debate” é outra música longa com letra de Petrucci (sobre “stem cell research”), com introdução sorrateira (do tipo que “vai num crescendo” e que contém diversas frases tiradas de jornalistas de TV sobre o tema da letra) até culminar com um riff simples em andamento e levada que me lembraram imediatamente ao som do Rush.
A última do CD1 é “Disappear”, bem diferente e bem melancólica – e modernosa, talvez influência de Radiohead, embora não tenha condições de afirmar isso categoricamente (falta-me conhecimento da discografia da banda inglesa). Então o CD1 de “SDOIT” tem músicas variadas, com bons momentos, e uma música excepcional; tirante essa, nada muito marcante.
O CD2 é dedicado na íntegra a uma faixa de mais de 40min, que dá o nome ao álbum, e foi dividida em 7 partes para, segundo Portnoy, facilitar a audição. Entendo que essa medida enfraquece a noção de “uma-música-de-40-min”, mais parecendo 7 músicas de um disco conceitual como “Dark Side of the Moon” do Pink Floyd (mal comparando). É um esforço demasiado tentar descrever essa grande faixa, sobretudo porque os melhores momentos são “Solitary Shell” e “Goodnight Kiss” (que são baladas aptas a serem lançadas como singles, com começo, meio, fim e refrão radiofônico). Diz-se que Jordan Rudess compôs integralmente a “Overture” como se fizesse parte de trilha sonora de filme de cinema; a banda acabou aproveitando-a e ainda adotando alguns temas como partes principais da composição principal que veio a ser a faixa-título. Além disso, há um riff que era bem executado tanto na guitarra, quanto no teclado, e como a banda não soube eleger um, optaram por manejar os dois como partes principais das duas “About to Crash” – a primeira com piano e a reprise com guitarra. Dois momentos de peso correspondem a “War Inside My Head” (com bom backing vocal de Portnoy) e “The Test That Stumped Them All” (após cada refrão é executado um padrão na bateria inicialmente apenas com a caixa, ao qual Portnoy agrega – e dificulta a execução – outros instrumentos da bateria a cada repetição).
Um disco duplo de material inédito poderia resultar em um álbum repetitivo e monótono, ou com altos e baixos. No caso do Dream Theater, os caras se desincumbiram bem dessa tarefa, criando uma música excepcional (“The Glass Prison”) e outras músicas boas, interessantes e/ou diversificadas em comparação com seu repertório até então (“Blind Faith”, “Misunderstood”, “The Great Debate” e “Disappear”, além da própria faixa-título de 40min). Particularmente, achei que a banda estava tomando um rumo muito bom, embora nem fizesse ideia do que a banda poderia fazer de diferente para não repetir as experiências anteriores (álbum duplo, disco conceitual, mais melódico, mais pesado, mais prog, etc). Na turnê subseqüente, os caras expandiram como nunca o tamanho dos shows, empregando a ideia do “an evening with Dream Theater”, sem bandas de abertura, e com shows de quase 3h. Além disso, a banda começou a executar na íntegra discos clássicos de bandas influentes, como “The Number of the Beast” do Iron Maiden, “Master of Puppets” do Metallica, “Made in Japan” do Deep Purple, “Dark Side of the Moon” do Pink Floyd.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte VII "Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory" (1999)
Passamos 1998 e parte de 1999 ouvindo “Falling Into Infinity”, “Once in a Livetime” e os dois discos de estúdio do Liquid Tension Experiment. Estes últimos continham riffs e partes muito mais legais do que alguns riffs e partes do “Falling Into Infinity” (v.g., “Acid Rain” e seus diversos riffs de guitarra com 7 cordas, “Paradigm Shift”, “Another Dimension”, “When the Water Breaks”), de maneira que nos parecia intuitivo que com Jordan Rudess no lugar de Derek Sherinian essa inspiração toda seria registrada num disco do Dream Theater. Então, quando soubemos que o próximo disco da banda seria (a) um disco conceitual, (b) com Rudess no lugar de Sherinian, (c) e totalmente sigiloso até o seu lançamento (em pleno auge do Napster e do Audiogalaxy, que eram sede para todos os vazamentos pré-lançamento), mal conseguíamos conter a ansiedade (lembro de conversas com o Bruce e com o Jorge Gordo, no caminho para os nossos ensaios naquele verão de 1999 – no tempo em que a Burnin´ Boat ainda não tinha uma formação regular - tentando antecipar como seria o disco). Particularmente, tinha crença de que seria um disco espetacular, com risco de ser o melhor de todos os tempos, e resolvi aguardar para ouvi-lo até a compra do CD (provavelmente na Saraiva, mas não estou mais certo), desprezando os mp3 disponíveis após o lançamento no exterior, e mesmo o CD de quem já havia comprado antes de mim.
Agora se sabe que com “Falling Into Infinity” a banda encontrou um período de uma espécie de conflito com gravadora (ou, dito de outra forma, de interesses não coincidentes), e diante do resultado controverso do lançamento de 1997, Portnoy conseguiu obter plena liberdade artística para o novo disco, em relação ao qual já se sabia que seria a parte 2 da faixa “Metropolis Pt. 1” do disco “Images and Words” de 1992. Assim, a banda compôs e gravou o álbum simultaneamente, e o resultado foi um sucesso de público e crítica. O disco foi saudado como um retorno da banda ao prog metal que havia lhe dado sucesso, e são muitos os que têm “Scenes From a Memory” como o favorito da discografia da banda. Particularmente, o que posso dizer é que durante muito tempo convivi com a sensação de que quando começava a ouvir “Scenes From a Memory” ficava com vontade de ouvir “Metropolis Pt. 1”... Admito que já tentei ouvir o disco de diversas formas, mas ainda não consegui curti-lo adequadamente (a situação melhorou em data recente, tanto em relação a esse disco, como em relação aos que vieram depois). Em razão disso, comparando com os demais da discografia da banda, é o álbum que menos ouvi, e também um dos poucos que tenho dificuldade para identificar as músicas sem recorrer ao encarte do CD. Parece-me que não há riffs ou partes marcantes, ficando os melhores momentos para “Strange Deja Vu” e talvez “Home”. Às vezes penso que teria sido melhor uma música de 20 ou 30min com as melhores partes das faixas de “Scenes From a Memory”, mas francamente também não estou certo de que isso daria certo, ou se estou só exagerando (provavelmente esta última).
Só recentemente tive o interesse de entender o “conceito” sob as letras de “SFAM” (o Wikipédia ajudou grandemente), e admito que a história é sofisticada de certa maneira (ou pelo menos, mais sofisticada do que eu pensava inicialmente). Musicalmente, entretanto, foi o primeiro disco da banda em relação ao qual tive a sensação de que os caras não estavam apresentando algo novo o suficiente para levantar as sobrancelhas a ponto de que fosse possível dizer “isso é muito legal”. É provável que esteja sendo injusto, e que assim como já fiz a respeito de tantos outros discos de tantas outras bandas – que após rejeitar inicialmente, acabei curtindo mais além - deveria tentar ouvir “SFAM” mais vezes até gostar.
“Overture 1928” tem boas partes instrumentais, mas a coisa melhora mesmo em “Strange Deja Vu”, que conta com belo refrão (backing vocal de Portnoy se destacando pela primeira vez), além da estrutura tipo “Pull Me Under”, que tem um acompanhamento instrumental diferente para cada punhado de versos cantados por LaBrie. Achei cedo para a banda emendar logo uma balada, mas em todo o caso “Through My Words” dura pouco mais de um minuto e é o tipo de palco para o vocalista se destacar com sua interpretação delicada, acompanhado de piano. Por outro lado, acho fracas algumas faixas como “Through Her Eyes” (versão piorada para “The Great Gig in th Sky” do “Dark Side of the Moon”, com direito a bateria eletrônica), “One Last Time”, “The Spirit Carries On”, “Finally Free” e até “Beyond This Life”.
Parecia-me – na época do lançamento – que a banda acabava ficando limitada pelo “conceito” do disco, i.é, às vezes tendo que adaptar a música ao ritmo da história, em prejuízo da dinâmica da sucessão das faixas. “Home” vale pelo peso de algumas partes (inclusive por antecipar a utilização do wah-wah em um ambiente diferente dos solos de guitarra; no caso, Petrucci se vale do pedal para enfatizar os acordes mais pesados e cheios de pausas do riff principal, precedendo à utilização com a mesma finalidade em “The Glass Prison”, do disco seguinte “Six Degrees of Inner Turbulence”; além disso, há um tema com guitarras harmonizadas que antecipa, ao menos indiretamente, um tema com guitarras harmonizadas em “This Dying Soul”, de “Train of Thought”), e “Fatal Tragedy” se torna interessante a partir da explicação de Mike Portnoy – no seu vídeo instrucional – sobre a parte que encolhe e aumenta (dois riffs são executados alternadamente pela banda como base para os solos de guitarra e teclado com determinado número de repetições – quatro -, e a cada volta uma repetição é excluída até que cada riff seja executado uma vez - três, dois, um -; depois as repetições são acrescidas até a forma original – um, dois, três, quatro; é o tipo de detalhe que jamais teria percebido se não fosse a dica do baterista).
Independentemente do que foi dito, impõe-se admitir que “SFAM” revirogou a banda perante seu público, e é frequentemente adotado como disco favorito dos fãs nesse período, e a partir de então Petrucci e Portnoy passaram a produzir todos os discos subseqüentes sem contar com ajuda externa, como medida extrema, dentre outras, para evitar palpites impertinentes e comentários ruinosos face à experiência adquirida com a era “Falling Into Infinity”.
Agora se sabe que com “Falling Into Infinity” a banda encontrou um período de uma espécie de conflito com gravadora (ou, dito de outra forma, de interesses não coincidentes), e diante do resultado controverso do lançamento de 1997, Portnoy conseguiu obter plena liberdade artística para o novo disco, em relação ao qual já se sabia que seria a parte 2 da faixa “Metropolis Pt. 1” do disco “Images and Words” de 1992. Assim, a banda compôs e gravou o álbum simultaneamente, e o resultado foi um sucesso de público e crítica. O disco foi saudado como um retorno da banda ao prog metal que havia lhe dado sucesso, e são muitos os que têm “Scenes From a Memory” como o favorito da discografia da banda. Particularmente, o que posso dizer é que durante muito tempo convivi com a sensação de que quando começava a ouvir “Scenes From a Memory” ficava com vontade de ouvir “Metropolis Pt. 1”... Admito que já tentei ouvir o disco de diversas formas, mas ainda não consegui curti-lo adequadamente (a situação melhorou em data recente, tanto em relação a esse disco, como em relação aos que vieram depois). Em razão disso, comparando com os demais da discografia da banda, é o álbum que menos ouvi, e também um dos poucos que tenho dificuldade para identificar as músicas sem recorrer ao encarte do CD. Parece-me que não há riffs ou partes marcantes, ficando os melhores momentos para “Strange Deja Vu” e talvez “Home”. Às vezes penso que teria sido melhor uma música de 20 ou 30min com as melhores partes das faixas de “Scenes From a Memory”, mas francamente também não estou certo de que isso daria certo, ou se estou só exagerando (provavelmente esta última).
Só recentemente tive o interesse de entender o “conceito” sob as letras de “SFAM” (o Wikipédia ajudou grandemente), e admito que a história é sofisticada de certa maneira (ou pelo menos, mais sofisticada do que eu pensava inicialmente). Musicalmente, entretanto, foi o primeiro disco da banda em relação ao qual tive a sensação de que os caras não estavam apresentando algo novo o suficiente para levantar as sobrancelhas a ponto de que fosse possível dizer “isso é muito legal”. É provável que esteja sendo injusto, e que assim como já fiz a respeito de tantos outros discos de tantas outras bandas – que após rejeitar inicialmente, acabei curtindo mais além - deveria tentar ouvir “SFAM” mais vezes até gostar.
“Overture 1928” tem boas partes instrumentais, mas a coisa melhora mesmo em “Strange Deja Vu”, que conta com belo refrão (backing vocal de Portnoy se destacando pela primeira vez), além da estrutura tipo “Pull Me Under”, que tem um acompanhamento instrumental diferente para cada punhado de versos cantados por LaBrie. Achei cedo para a banda emendar logo uma balada, mas em todo o caso “Through My Words” dura pouco mais de um minuto e é o tipo de palco para o vocalista se destacar com sua interpretação delicada, acompanhado de piano. Por outro lado, acho fracas algumas faixas como “Through Her Eyes” (versão piorada para “The Great Gig in th Sky” do “Dark Side of the Moon”, com direito a bateria eletrônica), “One Last Time”, “The Spirit Carries On”, “Finally Free” e até “Beyond This Life”.
Parecia-me – na época do lançamento – que a banda acabava ficando limitada pelo “conceito” do disco, i.é, às vezes tendo que adaptar a música ao ritmo da história, em prejuízo da dinâmica da sucessão das faixas. “Home” vale pelo peso de algumas partes (inclusive por antecipar a utilização do wah-wah em um ambiente diferente dos solos de guitarra; no caso, Petrucci se vale do pedal para enfatizar os acordes mais pesados e cheios de pausas do riff principal, precedendo à utilização com a mesma finalidade em “The Glass Prison”, do disco seguinte “Six Degrees of Inner Turbulence”; além disso, há um tema com guitarras harmonizadas que antecipa, ao menos indiretamente, um tema com guitarras harmonizadas em “This Dying Soul”, de “Train of Thought”), e “Fatal Tragedy” se torna interessante a partir da explicação de Mike Portnoy – no seu vídeo instrucional – sobre a parte que encolhe e aumenta (dois riffs são executados alternadamente pela banda como base para os solos de guitarra e teclado com determinado número de repetições – quatro -, e a cada volta uma repetição é excluída até que cada riff seja executado uma vez - três, dois, um -; depois as repetições são acrescidas até a forma original – um, dois, três, quatro; é o tipo de detalhe que jamais teria percebido se não fosse a dica do baterista).
Independentemente do que foi dito, impõe-se admitir que “SFAM” revirogou a banda perante seu público, e é frequentemente adotado como disco favorito dos fãs nesse período, e a partir de então Petrucci e Portnoy passaram a produzir todos os discos subseqüentes sem contar com ajuda externa, como medida extrema, dentre outras, para evitar palpites impertinentes e comentários ruinosos face à experiência adquirida com a era “Falling Into Infinity”.
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