Passamos 1998 e parte de 1999 ouvindo “Falling Into Infinity”, “Once in a Livetime” e os dois discos de estúdio do Liquid Tension Experiment. Estes últimos continham riffs e partes muito mais legais do que alguns riffs e partes do “Falling Into Infinity” (v.g., “Acid Rain” e seus diversos riffs de guitarra com 7 cordas, “Paradigm Shift”, “Another Dimension”, “When the Water Breaks”), de maneira que nos parecia intuitivo que com Jordan Rudess no lugar de Derek Sherinian essa inspiração toda seria registrada num disco do Dream Theater. Então, quando soubemos que o próximo disco da banda seria (a) um disco conceitual, (b) com Rudess no lugar de Sherinian, (c) e totalmente sigiloso até o seu lançamento (em pleno auge do Napster e do Audiogalaxy, que eram sede para todos os vazamentos pré-lançamento), mal conseguíamos conter a ansiedade (lembro de conversas com o Bruce e com o Jorge Gordo, no caminho para os nossos ensaios naquele verão de 1999 – no tempo em que a Burnin´ Boat ainda não tinha uma formação regular - tentando antecipar como seria o disco). Particularmente, tinha crença de que seria um disco espetacular, com risco de ser o melhor de todos os tempos, e resolvi aguardar para ouvi-lo até a compra do CD (provavelmente na Saraiva, mas não estou mais certo), desprezando os mp3 disponíveis após o lançamento no exterior, e mesmo o CD de quem já havia comprado antes de mim.
Agora se sabe que com “Falling Into Infinity” a banda encontrou um período de uma espécie de conflito com gravadora (ou, dito de outra forma, de interesses não coincidentes), e diante do resultado controverso do lançamento de 1997, Portnoy conseguiu obter plena liberdade artística para o novo disco, em relação ao qual já se sabia que seria a parte 2 da faixa “Metropolis Pt. 1” do disco “Images and Words” de 1992. Assim, a banda compôs e gravou o álbum simultaneamente, e o resultado foi um sucesso de público e crítica. O disco foi saudado como um retorno da banda ao prog metal que havia lhe dado sucesso, e são muitos os que têm “Scenes From a Memory” como o favorito da discografia da banda. Particularmente, o que posso dizer é que durante muito tempo convivi com a sensação de que quando começava a ouvir “Scenes From a Memory” ficava com vontade de ouvir “Metropolis Pt. 1”... Admito que já tentei ouvir o disco de diversas formas, mas ainda não consegui curti-lo adequadamente (a situação melhorou em data recente, tanto em relação a esse disco, como em relação aos que vieram depois). Em razão disso, comparando com os demais da discografia da banda, é o álbum que menos ouvi, e também um dos poucos que tenho dificuldade para identificar as músicas sem recorrer ao encarte do CD. Parece-me que não há riffs ou partes marcantes, ficando os melhores momentos para “Strange Deja Vu” e talvez “Home”. Às vezes penso que teria sido melhor uma música de 20 ou 30min com as melhores partes das faixas de “Scenes From a Memory”, mas francamente também não estou certo de que isso daria certo, ou se estou só exagerando (provavelmente esta última).
Só recentemente tive o interesse de entender o “conceito” sob as letras de “SFAM” (o Wikipédia ajudou grandemente), e admito que a história é sofisticada de certa maneira (ou pelo menos, mais sofisticada do que eu pensava inicialmente). Musicalmente, entretanto, foi o primeiro disco da banda em relação ao qual tive a sensação de que os caras não estavam apresentando algo novo o suficiente para levantar as sobrancelhas a ponto de que fosse possível dizer “isso é muito legal”. É provável que esteja sendo injusto, e que assim como já fiz a respeito de tantos outros discos de tantas outras bandas – que após rejeitar inicialmente, acabei curtindo mais além - deveria tentar ouvir “SFAM” mais vezes até gostar.
“Overture 1928” tem boas partes instrumentais, mas a coisa melhora mesmo em “Strange Deja Vu”, que conta com belo refrão (backing vocal de Portnoy se destacando pela primeira vez), além da estrutura tipo “Pull Me Under”, que tem um acompanhamento instrumental diferente para cada punhado de versos cantados por LaBrie. Achei cedo para a banda emendar logo uma balada, mas em todo o caso “Through My Words” dura pouco mais de um minuto e é o tipo de palco para o vocalista se destacar com sua interpretação delicada, acompanhado de piano. Por outro lado, acho fracas algumas faixas como “Through Her Eyes” (versão piorada para “The Great Gig in th Sky” do “Dark Side of the Moon”, com direito a bateria eletrônica), “One Last Time”, “The Spirit Carries On”, “Finally Free” e até “Beyond This Life”.
Parecia-me – na época do lançamento – que a banda acabava ficando limitada pelo “conceito” do disco, i.é, às vezes tendo que adaptar a música ao ritmo da história, em prejuízo da dinâmica da sucessão das faixas. “Home” vale pelo peso de algumas partes (inclusive por antecipar a utilização do wah-wah em um ambiente diferente dos solos de guitarra; no caso, Petrucci se vale do pedal para enfatizar os acordes mais pesados e cheios de pausas do riff principal, precedendo à utilização com a mesma finalidade em “The Glass Prison”, do disco seguinte “Six Degrees of Inner Turbulence”; além disso, há um tema com guitarras harmonizadas que antecipa, ao menos indiretamente, um tema com guitarras harmonizadas em “This Dying Soul”, de “Train of Thought”), e “Fatal Tragedy” se torna interessante a partir da explicação de Mike Portnoy – no seu vídeo instrucional – sobre a parte que encolhe e aumenta (dois riffs são executados alternadamente pela banda como base para os solos de guitarra e teclado com determinado número de repetições – quatro -, e a cada volta uma repetição é excluída até que cada riff seja executado uma vez - três, dois, um -; depois as repetições são acrescidas até a forma original – um, dois, três, quatro; é o tipo de detalhe que jamais teria percebido se não fosse a dica do baterista).
Independentemente do que foi dito, impõe-se admitir que “SFAM” revirogou a banda perante seu público, e é frequentemente adotado como disco favorito dos fãs nesse período, e a partir de então Petrucci e Portnoy passaram a produzir todos os discos subseqüentes sem contar com ajuda externa, como medida extrema, dentre outras, para evitar palpites impertinentes e comentários ruinosos face à experiência adquirida com a era “Falling Into Infinity”.
Um comentário:
Fala, Guilherme! Aqui é o Franco (da PUC). Muito legal (re)encontrar teu blog depois de muito tempo sem acessá-lo. Parabéns pelas resenhas, dá pra "perder" um bom tempo na leitura! Abraço!
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