É provável que o "Rough Guide" dedicado aos Rolling Stones esteja correto ao dizer que (a) o senso comum em 2005 era tomar "A Bigger Bang" como um retorno às origens e como o melhor disco dos Stones desde "Tatto You", e que se disse o mesmo de todos os discos entre um e outro, e que (b) isso é um exagero pois, bem vistas as coisas, "A Bigger Bang" não é um álbum tão bom e (c) a banda está devendo uma composição clássica (desde "Start Me Up") e um disco "chave" dos anos 2000. Motivado pela leitura do livro, percorri as lojas de CDs e encontrei na Fnac esse "A Bigger Bang" por R$ 9,90; assim, por pior que fosse, valeria a aquisição para incrementar a coleção com um CD com preço de balaio.
Ouvi umas duas vezes e nada além de "Rough Justice", a faixa de abertura, me chamou a atenção. Resolvi, então, deixar o disco no carro e - o que para mim é inédito - tenho ouvido todos os dias, na ida e na volta do trabalho e nos fins-de-semana, na íntegra, há aproximadamente um mês. Não que o disco seja espetacular, mas a audição é agradável, e há um punhado de bons momentos e boas melodias. Em termos de guitarra, é satisfatório ouvir "Rough Justice" (início hesitante, bom riff e levada acelerada, umas melodias de guitarra no refrão); "It Won´t Take Long" (riff legal, excelente refrão, solos competentes); "Oh No Not You Again" (só pelo nome dá pra sacar que a música é massa: a base dos versos tem uns acordes muito bons e o refrão é empolgante); "Look What the Cat Dragged In", provavelmente a segunda melhor faixa do disco, com guitarras matadoras de Ron Wood (tem um riff que é dobrado com o baixo que é muito legal) e o melhor solo de guitarra do álbum (talvez o melhor que já ouvi num disco dos caras, mas essa opinião, admito, ainda é prematura), com destaque para os timbres proporcionados pelas Fenders Strato e Tele; "Driving Too Fast", tem um riff que lembra Bon Jovi na época do "Bounce" ("One Wild Night"), e um clima empolgante.
Músicas boas abundam: "Let Me Down Slow", com poucos acordes e estrutura bem familiar e execução caprichada; "Back of My Hand", um exercício de blues das antigas com timbres de Strato/Tele sem muita distorção, slides e batera só no bumbo e chocalho; "Biggest Mistake", uma balada com boas guitarras e licks espirituosos; "Dangerous Beauty", com belo refrão e letra muito bem sacada; "Laugh I Nearly Died" com excelente interpretação de Mick Jagger e guitarras complementares muito boas de Keith Richards e do próprio vocalista (Ron Wood não tocou nessa).
Como todo disco, "A Bigger Bang" tem seus pontos fracos: "Rain Fall Down" pretende ser meio dançante, mas a repetição de alguns versos acaba comprometendo a audição e até causando certa irritação ("we maaaaaaaaaaaade sweet love"), praticamente o mesmo se podendo dizer de "She Saw Me Coming" ("she saw me comiiiiiiiiiiing"); "Streets of Love" que tem cara de single mas conta com um refrão que parece cover das bandas de rock gaúcho (e isso não é definitivamente coisa boa); "Sweet Neo Con" não tem guitarras muito inspiradas (Ron Wood não contribui) e tem uns sons muito fracos de harmônica.
Keith Richards canta duas faixas, como de costume: em "This Place is Empty" a voz do cara é meio assustadora nos versos iniciais, fora o sotaque forçado para cantar "aloun" e "houm" ao invés de "alone" e "home"; "Infamy" é uma das boas músicas do disco, com vocal confiante, riff repetitivo com phaser, intervenções de violão com cordas de aço.
O MVP é Mick Jagger: o cara, como na maioria dos discos que ouvi até agora, manda muito bem no vocal, e por mais clichê que possa parecer, a impressão é a de que a idade não está pesando para o vocalista.
O meu pré-conceito era de que se tratava de um péssimo disco (e o "Rough Guide" não estava servindo para afastar essa noção), mas como venho observado, os Stones são capazes de compor grandes músicas de rock, e "A Bigger Bang", no caso presente, foi uma bela aquisição para a minha coleção.
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