O primeiro show da Burnin´ Boat, no começo do inverno de 1999, surgiu de uma oportunidade na qual o desafio de uma apresentação ao vivo nos pareceu plenamente vencível. O centro acadêmico da faculdade do Bruce e do Luciano estava organizando um festival de talentos no qual seria permitido às bandas (com pelo menos um integrante aluno daquela faculdade) uma apresentação de 15 minutos. Concluímos que poderíamos tocar por 15 minutos para o público, e concordamos que o repertório seria de duas músicas, uma própria e uma cover. As músicas não poderiam ser muito complexas, pois até então não tínhamos uma banda perfeitamente formada, nem tínhamos muita técnica para exibir, de modo que muitos guitarrismos não eram aconselháveis (não havia muito que eu tinha comprado a guitarra Cobra - uma Golden azul - e o amplificador Staner do Pedro...).
Na época, o Bruce e eu dividíamos a nossa atenção entre a Ruligans e a Burnin´ Boat, sendo que a primeira era formada por Bruce, eu, Luciano, Tiago e Guilherme Deathroner, e a segunda por Bruce, eu, um cara que tocava baixo que quase nunca apareceu para ensaiar (o Pedro) e um guitarrista que efetivamente nunca apareceu (um primo do Bruce, que tocava violão muito bem). Como o Tiago não se empolgou com a idéia, resolvemos tocar como Burnin´ Boat, e a formação seria Bruce, eu, Luciano e Guilherme Deathroner. Cogitamos agregar um guitarrista convidado, e o Bruce chamou um colega dele que tocava guitarra; fizemos um ensaio, emprestamos previamente fitas com as músicas para o cara - providenciei até um tablatura da nossa música - mas as coisas não andaram bem. O cara não tocava nosso som, tinha grande dificuldade para tocar com distorção, e não tinha conhecimento da técnica de abafar as cordas (e isso é básico para tocar hard rock/heavy metal). Mas eu não achava que o cara desistiria. E no ensaio seguinte, para minha surpresa, o sujeito não apareceu.
Voltando ao repertório, rapidamente decidimos que seriam tocadas “Deuce”, do Kiss, e “Hidden”, que era uma de nossas poucas composições próprias mais ou menos acabadas (a outra era “Over the Moon”, mas acho que em relação a essa só tínhamos o riff principal e os acordes do refrão – o resto todo seria composto um tempo depois). A música do Kiss era fácil, e o solo eu aprendi a tocar sem muitas dificuldades, pois era só decorar os bends do Ace Frehley. O Guilherme Deathroner também não teve dificuldade nenhuma para aprender essa música, em relação a qual ele não tinha grande simpatia (mas o cara foi muito profissional, pois, afinal, ele queria mesmo subir ao palco). Alguns anos mais tarde vim a saber que ele curtia “Hidden”, ou pelo menos respeitava a composição (no show que fizemos na Casa de Cultura ele reclamou a ausência de “Hidden” no setlist, e acho que desde então jamais deixamos de tocar essa música), e esse é o tipo de opinião que considero enormemente. Como eram só duas músicas, os ensaios foram produtivos; repetimos várias vezes cada música (e isso deveríamos ter feito para todas as outras apresentações...) e estávamos seguros e afiados para o show.
A ordem de apresentação das inúmeras bandas (além da nossa, estava agendada a apresentação da banda de uma garota que os caras chamavam de “Atitude” chamada Losna, e uma outra de uns caras que eram colegas dos Típicos, a Winston) foi estabelecida por sorteio, e acabou que nós seríamos a primeira banda do dia. O horário marcado era 14h. Então combinamos de chegar lá pouco antes disso, mas aí rolou uma baita falta de comunicação. Geralmente o Luciano me dava carona para os ensaios, e para a show não seria diferente, só que o cara ligou de um orelhão para o Bruce, acho que pela manhã, avisando que estaria sem o carro e que nos encontraria direto no local do show, e se não me engano dizendo que não poderia me avisar. O Bruce, que iria de carona com o seu pai, pouco se importou (afinal, o transporte dele estava garantido), e não me avisou de nada (não sei o que o cara pensou nessa hora, acho que ele nem se deu conta de que eu tinha ficado sem condução). Bem, no horário que havia sido combinado no dia anterior, me postei na frente do meu prédio esperando pelo Luciano por mais de meia hora; já era cinco para as duas e resolvi pegar um táxi (o carro do meu pai estava quebrado) e paguei uma fortuna pela corrida. Cheguei no local furioso com a falta de consideração, e não dirigi a palavra aos caras durante um tempão.
Muito embora o show estivesse marcado para as 14h, e mesmo tendo chegado atrasado, as apresentações não estavam nem perto de começar – recém estava sendo montado o palco, instalados os amplificadores (que eram bons), a luz, o som, etc. O público também era quase nenhum, e ficamos, assim, umas três horas esperando. Esse retardamento acabou sendo ótimo para nós e crucial para o sucesso da nossa apresentação, pois proporcionou um grande público que lotou o auditório.
Acho que subimos ao palco lá pelas 18h, não lembro se fomos apresentados, e nos instalamos à vista de todo mundo. Embora usasse a distorção da pedaleira que era do Luciano, tendo eleito um dos efeitos mais pesados (algo do tipo “bone crusher”), e ainda, por falta de conhecimento maior, utilizado a regulagem de equalização do amplficador tal qual atribuída ao Metallica antigo (isto é, agudos e graves no 10, médios no 0) – e essa combinação dava um caráter totalmente heavy metal para o som -, não gostava muito que rotulassem nosso som como heavy metal, e isso se devia muito pelo fato de que o Bruce, na época, não era fã de metal, e eu não queria fazer com que o cara tocasse numa banda cujo som fosse com ele incompatível. Assim, tão logo liguei meu instrumento e toquei um riff de que gostava bastante (meio Mercyful Fate), estranhei um pouco quando o Felipinho gritou algo como “metaaaaaaaal”. Além disso, fiz questão de me apresentar com a minha camisa preta do “Telecine”, e no vídeo dá pra ouvir algumas pessoas fazendo umas piadas e tal. Seja como for, o público estava bastante agitado e aparentemente estávamos agradando. Meu namoro com a Sabrina estava engatinhando, e não pedi que ela aparecesse por lá, pois em tese o show seria cedo, curto e seguramente eu estaria nervoso e não poderia dar atenção alguma a ela. Nessas condições, de conhecidos estavam Raquel, Carol, Felipinho e Minduim e Pedro (que no vídeo feito pelo Felipinho, apareceu no final da tarde dizendo que tinha vindo ver o Winston). O resto era a galera Famecos, bem barulhenta.
Optamos por começar com a cover, pois achamos conveniente tocar primeiro uma música “conhecida” (ou, no mínimo, a menos desconhecida). Todos a postos, iniciei “Deuce” e logo ouvi um grito agudo tipo “uhuuuuuuuuu” de uma guria (que suponho não era nem a Raquel, nem a Carol), e me empolguei bastante, na medida do possível (não costumo demonstrar a empolgação...). Acertamos toda a execução da música, e inclusive fizemos a coreografia do Kiss no final. A galera vibrou um monte e em seguida o Luciano anunciou a nossa composição. Hoje em dia não tenho como negar a influência heavy metal (tipo Metallica), e no vídeo aparece algumas cabeças balançando no ritmo da música.
Finalizamos nossa apresentação e foi muito legal perceber a ampla aprovação do auditório que vibrou um monte com a gente. É difícil descrever a sensação de estar no palco tocando guitarra, mas o certo é que depois dos primeiros momentos de insegurança, e sobretudo depois de se certificar de que não haverá problemas com o som, a coisa flui melhor e até dá pra pensar em aproveitar alguma coisa. No entanto, desde o primeiro show foi para mim uma dificuldade a de conseguir me desprender e conseguir atuar um pouco ao invés de só tocar guitarra olhando para o chão. Agora penso que só depois de muitos ensaios e treino para que a música flua sem ter que se concentrar em tocar as notas é que eventualmente será possível fazer algo que se possa chamar de performance de palco.
Bem, esse foi nosso primeiro show, e é lícito dizer que foi um sucesso. Depois, descemos do palco e arranjamos lugar para sentar; fiquei para assistir mais umas duas ou três bandas (uma que tocou Metallica e Natiruts, e a Losna da “Atitude”). Deu tempo de dar uma “entrevista” para uma guria que se identificou como repórter do jornal do centro acadêmico.
Abaixo segue o vídeo (como não sei se existe o arquivo original, digitalizei apenas a cópia da cópia que estava numa fita VHS):
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