O Metallica está na iminência de lançar um disco novo, "Death Magnetic", depois de cinco anos do lançamento do seu último disco "St. Anger", e é curioso que há cinco anos atrás, o primeiro post deste blog foi sobre esse então recém lançado "St. Anger".
Pedi e levei de presente no dia dos namorados de 2003, basicamente sem nem pensar duas vezes, e de preferência sem ouvir os mp3 disponíveis nos programas de compartilhamento de arquivos (preferi manter a expectativa e o suspense e não ouvir ou baixar nenhum mp3 até ouvir o cd, em casos como esse de disco aguardado com ansiedade - e lembro que foram disponibilizados mp3 falsos com os nomes das músicas do disco). Afinal, naquela época já tinha todos os discos do Metallica e desde há muito era fã do som dos caras.
Além disso, o lançamento de "St. Anger" foi cercado de muita expectativa. Senão vejamos: (I) em 1991 o Metallica lançou um álbum perfeito (para mim, é o melhor dos anos 1990), com peso (não tanto em comparação com os discos anteriores) mas acessível para uma quantidade enorme de novos fãs (eu incluído); (II) após muito bem sucedidas turnês e um incrível hiato de 5 anos, em 1996 os caras surpreenderam a todos: cortaram o cabelo e lançaram um disco ("Load") com ainda menos peso e músicas diversificadas (influências de blues, country, etc), causando uma comoção entre todos, na medida em que a banda estava abandonando o estilo que lhe dera fama (thrash metal, heavy metal, riffs com palhetada staccato); (III) as coisas não melhoraram muito quando em 1997 foi lançada a 2.ª parte ("Reload") com músicas compostas na mesma época; (IV) em 1998, inexplicavelmente foi lançado um disco duplo de covers ("Garage Inc"); (V) em 1999, inexplicavelmente foi lançado um disco duplo gravado ao vivo com uma orquestra ("S&M"). Então, de 1997 até 2003, nada de músicas novas (sem contar "I Disappear", da TSO de "Missão Impossível" e "- Human" e "No Leaf Clover", do disco com a orquestra). Além disso, questões não diretamente relacionadas à música comprometeram a imagem da banda, especialmente a batalha contra o Napster e os baixadores de mp3, e a saída inexplicável de Jason Newsted.
Pouco antes do lançamento de "St. Anger" pipocavam notícias nos sites de som pesado dando conta de que a banda lançaria um disco pesado. Então, esperava(-se) que viesse um álbum espetacular.
Veio o disco. E a opinião generalizada, até onde me foi possível aferir (e isso parece não ter mudado até hoje), é de que se tratou de um imenso equívoco dos caras, pois (a) as músicas não têm solos de guitarras - o que contraria todo o passado de virtuosismo de Kirk Hammett; (b) o som da bateria é péssimo - conforme se soube depois, a gravação das linhas de bateria for deliberadamente precária, resultando um som de lata desconcertante; (c) as músicas são compridas, extremamente pesadas, com várias partes encaixadas quase aleatoriamente - revelou-se, posteriormente, que as partes foram gravadas separadamente e juntadas com o auxílio do Pro-Tools, e os músicos tiveram, depois, de aprender as faixas para tocá-las ao vivo; (d) J. Hetfield não tem mais a voz de antes, e por vezes soa desafinado; (e) quem gravou as linhas de baixo foi o produtor Bob Rock, ao invés de substituírem Newsted por um baixista de verdade.
Não há como negar que senti falta dos solos, achei ruim o som da bateria, e que algumas músicas são excessivamente pesadas (afinação pesada, com a 6.ª corda dropped alguma coisa) ou compridas. Mas achei fantástico que os caras lançaram um disco totalmente pesado, sem concessões (afinal, foram criticados pelas músicas mais "soft" do "Black Album" e do "Load/Reload"). Não tem nada de radiofônico em "St. Anger". E por um momento, achei que o tipo de som desse álbum era o tipo de som a ser seguido. Bem vistas as coisas, então, o disco era legal, não necessariamente o favorito de todos os tempos. Músicas excelentes o disco tem, e as que eu curti na época, curto até hoje. Apesar de tudo isso, é irônico que, em linhas gerais, há cinco anos que não ouço esse "St. Anger".
Essa semana resolvi fazer o exercício de ver o DVD que acompanhou o CD. Achei genial a idéia de fazer acompanhar um DVD com um vídeo dos caras tocando todas as faixas ao vivo, como num ensaio. Essa medida foi tomada para agregar ao CD uma razão para a sua aquisição, pois na época o lance era baixar mp3, a banda já havia se metido numa batalha contra o Napster e os baixadores de mp3, e havia o grande risco das vendas fracassarem em razão dos downloads. Pois bem. Da primeira à quarta faixa só tem música boa. "Frantic" talvez seja a minha favorita do disco: bons riffs, bons versos, estrutura assimilável e tal. A faixa título tem várias partes e vários andamentos; sempre é bom ver L. Ulrich arrebentando no bumbo duplo, e o cara se puxou. "Some Kinda Monster" deu título a um DVD lançado posteriormente e que fora gravado durante a gravação de "St. Anger" (e que é bastante esclarecedor sobre muitas das questões que envolveram esse disco). Pois a música é bem razoável, e os caras tocaram muito bem nessa versão de ensaio ao vivo. "Dirty Window" é uma das minhas favoritas, com uma levada mais rápida, bons riffs e versos antológicos (não por acaso, um deles consta da epígrafe deste blog).
A quinta faixa é "Invisible Kid", e aí fiquei com a impressão de que essa é uma composição mais fraca. Do jeito como os caras compuseram o disco (isto é, tudo foi feito no estúdio, rejeitadas que foram todas as idéias - riffs e melodias - pré-concebidas durante os anos desde "Reload") fica fácil perceber que muitas idéias se repetem (os riffs, invariavelmente, recaem sobre as mesmas notas). Então "skip forward" e a faixa seguinte é muito boa, "My World", rápida, bons riffs, nada mal. Daí em diante as faixas todas têm bons momentos, e o DVD conta com algumas interpretações bem expressivas.
"St. Anger", alguém falou, foi um disco que a banda precisava ter lançado para não acabar e poder seguir em frente. Vendo o DVD "Some Kinda Monster" tive a impressão de que os caras se levam a sério demais. Se "St. Anger" serviu para manter os caras unidos e tocando, bem, então valeu a pena tê-lo lançado assim, como uma porrada na orelha. Em que pese isso, o retorno em vendas não foi nada positivo, e agora se anuncia que "Death Magnetic", produzido por Rick Rubin, servirá como uma volta ao som da época "Master of Puppets" e mesmo "Ride the Lightning". Já antecipo que isso, por si só, para mim não quer dizer muita coisa, pois não estou entre os que consideram "Master of Puppets" o melhor da carreira da banda. Sou muito mais "...And Justice for All" e "Black Album". Bem ou mal, vai ser como na época do "Load", quando em 1996 vi o cd nas prateleiras das Americanas, hesitei um instante, mas pensei "é Metallica, não tem erro".
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