quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Discografia Deep Purple – Parte VIII “Stormbringer” (1974)

O ingresso de David Coverdale e de Glenn Hughes no Deep Purple, diferentemente do que às vezes acontece quando se substituem peças importantes da formação de um grupo, foi extremamente bem sucedido. Afinal, o disco inaugural da formação Mark III (Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice) foi o espetacular “Burn”, de 1974. Alguns meses depois a banda voltou ao estúdio para gravar “Stormbringer”, lançado ainda em 1974. Após ouvir “Burn”, e “Made in Europe”, imediatamente minhas atenções voltaram para a aquisição de “Stormbringer”; como esse disco não foi lançado por aqui em 1996, tive que recorrer a uma edição importada que encontrei milagrosamente (à época) e por absoluto acaso na Boca do Disco por uns 25 ou 30 pila.

Se, por um lado, “Burn” foi uma bela representação do Deep Purple em ambiente rocker (sobretudo pela faixa-título, mas também por “You Fool No One” e o riff de “Lay Down Stay Down”), de outro lado, em “Stormbringer” já se fez nítida a influência de Glenn Hughes e de David Coverdale nas novas composições. Sabe-se bem o quanto Hughes curte um som funk e soul, e essas preferências apareceram de forma tão evidente em “Stormbringer” a ponto de acarretar a saída de Ritche Blackmore.

A primeira faixa, no entanto, não deixa nada disso à mostra. “Stormbringer” é um clássico instantâneo, com um riff matador e hipnótico em E, bastante familiar para bandas de metal melódico. O solo de guitarra de Blackmore utiliza escalas que induzem melodias exóticas, e essa tendência o cara só veio a reforçar quando formou o Rainbow com Ronnie James Dio, Cozy Powell e outros. Seja como for, a música é fora-de-série, e conta com versões arrasa-quarteirão no “Made in Europe” e no tributo da Magna Charta, com vocais de Glenn Hughes e guitarras de John Norum (esse CD acabei não aproveitando na época do câmbio favorável de meados dos anos 1990, quando certos discos eram encontrados com mais facilidade nas lojas de Porto Alegre).

As músicas seguintes, no entanto, denunciam as novas influências. “Love Don´t Mean A Thing”, “Holy Man” e “Hold On” praticamente não tem guitarras, ou estas são meramente decorativas, pontuando acordes e acrescentando melodias, ficando o destaque para o baixo marcante de Hughes e os vocais deste e de Coverdale.

O clima hard rock que faltou nestas sobra em “Lady Double Dealer”, com um riff matador de Blackmore com as notas da pentatônica de Am, bem fácil de tirar na guitarra. Imperdível a versão do “Made in Europe”.

“You Can´t Do It Right (With the One You Love)” tem uns riffs bem complicados e cheios de notas nas mesmas posições de “Stormbringer” e de “Sail Away” (do “Burn”).

Outro riff típico de Blackmore é o principal de “High Ball Shooter”. O bom ouvinte perceberá que esse riff já havia sido sugerido durante a parte final do solo de guitarra de “Lay Down Stay Down” de “Burn”, e mesmo durante uma pequena improvisação desacompanhada durante o “California Jam”. Não sei por qual razão, Glenn Hughes elegeu esta para regravar para o disco “Building the Machine”.

Bem mais solene é "The Gypsy", aparentemente uma das favoritas de Blackmore. Hughes e Coverdale fazem os vocais em uníssono, o que não era muito comum (outro exemplo é "You Fool No One"). Ao vivo foi tocada inclusive nos últimos shows da Mark III, na França e na Alemanha - esses shows formaram o material do "Made in Europe" e há um excelente bootleg com compilação dessas últimas apresentações, o "Archive Live".

Uma das minhas favoritas de Coverdale, assim como de tantos outros, é "Soldier of Fortune". Trata-se de uma comovente balada, que se transforma em uma excelente música com a interpretação sempre emocionante do vocalista. Blackmore também tem seu valor aqui, ao executar os acordes bem encaixados (Gm-F-Bb-C-Eb-etc) com delicado dedilhado. Mesmo no período com o Whitesnake, Coverdale seguiu e segue cantando esse música ao vivo, só que desacompanhado. Uma espetacular versão acústica com Adrian Vandemberg aparece no "Starkers in Tokyo".

Blackmore não curtiu a orientação funky/soul que estava seguindo o Mark III, e isso provavelmente agregado a outras razões, o levaram a deixar a banda e a formar o Rainbow. Apesar de Jon Lord, e eventualmente Ian Paice, acharem que a saída de Blackmore acarretaria o fim das atividades da banda, Coverdale, curtindo o recente gosto do sucesso, tinha outros planos e arquitetou o ingresso de Tommy Bolin. Com essa formação, Bolin/Coverdale/Hughes/Lord/Paice, o Mark IV, o Deep Purple registrou apenas um disco de estúdio, o "Come Taste the Band", de 1975.


Recentemente foi lançada uma edição comemorativa de 35 anos, remasterizada/remixada e com bônus tracks. Ocorre que foi feito uma edição com CD duplo, encarecendo o produto, apenas para que um dos CDs conste o disco inteiro em mixagem quadrofônica. Aguardo, então, a disponibilização de um CD simples, apenas com o remasterizado e os bônus.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Discografia Deep Purple – Parte VII “Fireball” (1971)


Igualar ou superar um álbum tão bem sucedido como “In Rock” é tarefa difícil até mesmo para o Deep Purple. Em 1971 os caras lançaram “Fireball”, um disco com composições inspiradas e não-inspiradas.

A essa época, a banda já podia se classificar entre as grandes bandas de hard rock dos anos 1970, junto com Black Sabbath e Led Zeppelin, de maneira que era de se esperar que grande parte do disco novo fosse de composições fortes, como a faixa-título. Trata-se de um petardo à 240 bpm (não parece tanto, talvez o Wikipédia não esteja correto), que se inicia com uma magnífica introdução de bateria de Ian Paice com utilização de bumbo duplo. Não há solos de guitarra, então é bem fácil de tocar para guitarristas; há um pequeno solo de baixo, com bastante efeito, e solo de Hammond de Jon Lord (que é muito legal, por sinal).

Entretanto, já na segunda faixa, “No No No”, e mais adiante no track list "Fools", percebe-se que o controle de qualidade dos caras não estava muito rigoroso, pois Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice deixaram passar para o vinil trechos longos de momentos calmos. Nesta última, a música já demora para começar, até que entram os versos (muito bons, com uns duetos de guitarra, baixo, teclado no final dos compassos, nos vazios da parte cantada); só que em seguida vêm uma longa e penosa parte instrumental com solos de guitarra cheios de bends etéreos. "No No No" não colabora pelo fato de que a letra é enorme (ou repetem-se demasiadamente os versos cantados), e assim a faixa alcança quase 7min, mesmo tendo poucas partes (verso e refrão e longo solo).

É sabido que há duas versões diferentes de “Fireball”: uma com “Demons Eye” e outra com “Strange Kind of Woman”. Tenho o CD lançado nos EUA antes da remasterização e da edição de 25 anos (adquirido na Boca do Disco em 1995 por uns 20 pila, ou menos) e este felizmente conta com “Strange Kind of Woman”, que é das minhas favoritas da banda desde que ouvi o “Made in Japan”. No entanto, “Demons Eye”, que só tomei contato quando adquiri o “Inspiration” do Yngwie Malmsteen, é uma excelente faixa também, de maneira que só quando consegui a edição de 25 anos do “Fireball” é que pude ter as duas no mesmo disco.

Gosto muito de “Strange Kind of Woman”, sobretudo pelo riff dos versos, que permite várias execuções diferentes na guitarra, e só agora pude perceber onde é que se deve acentuar corretamente (a parte sob a qual Gillan canta “there once was a WOOOOman, a strange kind of WOOOOman” deve ser mais longa, e não “wooooMAN” como eu costumava tocar). O solo de Blackmore é muito bom (o cara diz que costumava improvisar nos solos, mesmo em estúdio, e boa parte deles são excelentes). Naturalmente que é impositivo ouvir a versão do “Made in Japan” para uma experiência completa. “Demons Eye” é bem mais simples. Conta com um riff sobre as notas da pentatônica de G e sobe igual para C, como um padrão de blues. “Fireball” seria um disco bem mais consistente se essas duas composições constassem da versão original do disco.

Gillan e Glover, os letristas, estavam de muito bom humor e escreveram algumas das mais divertidas letras da banda. “Anyone´s Daughter” é uma delas e encaixa perfeitamente com o dedilhado de Blackmore com a guitarra limpa. Ian Paice toca exclusivamente meia-lua e bumbo, e acho que o fez de maneira a exigir bastante coordenação de um baterista (se não me engano, as pisadas que ele dá no bumbo são improvisadas, não seguindo padrão prévio).

Acho que “The Mule” no “Made in Japan” foi um desperdício de tempo, pois serve apenas para acomodar o então obrigatório solo de bateria de Ian Paice. Na versão de estúdio não consta o solo de bateria (aparentemente foi apagado acidentalmente na fita), e há letras e vocais de Gillan. Definitivamente não é das minhas favoritas.


“No One Came” é muito boa e conta com uma divertidíssima letra, do tipo autobiográfica na qual os caras parecem não se levar a sério (tiram sarro com eles próprios). As melhores partes são: “Maybe I could be like Robin Hood, Like and outlaw dressed all in green, (…) Nobody knows who's real and who's fakin', Everyone's shouting out loud, It's only the glitter and shine that gets through, Where's my Robin Hood outfit” e “Well I could write a million songs about the things I've done, But I could never sing them so they'd never get sung, There's a law for the rich and one for the poor, and there's another one for singers”.

A edição de 25 anos tem várias faixas bônus. Remixes de 1996 para “Strange Kind of Woman” (então, o mix original só no outro CD que eu tenho), “Demon´s Eye” e “No One Came”. Além disso, duas sobras de estúdio (“Freedom” e “Slow Train”), um take instrumental de “Fireball”, uma jam (“The Noise Abatement Society Tapes”), um “Backwards Piano”, e um lado-B (“I´m Alone”). Essa edição com todos esses bônus adquiri provavelmente na Saraiva (ou na Cultura) há alguns anos, por aproximadamente 20 pila.

Pode não ser um clássico à altura de “In Rock”, mas “Fireball” serviu para antecipar o extraordinário “Machine Head” e o que viria a partir de então.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Discografia Deep Purple (Melhores discos de todos os tempos) – Parte VI “Machine Head” (1972)

Sobre alguns CDs do Deep Purple já dediquei resenhas anteriormente, em vários momentos neste blog. Assim, escrevi sobre (I) “Burn” quando quis me referir a alguns dos melhores discos de todos os tempos, assim como sobre o (II) “California Jam”, memorável show da banda com o Mark III em 1974, o (III) espetacular disco ao vivo “Made in Japan”, definitivo registro do Mark II em 1972, e primeiro disco que ouvi da banda, o (IV) “Welcome Joe”, um bootleg no qual Joe Satriani foi o guitarrista numa turnê em que Ritche Blackmore deixou definitivamente a banda, e esta ainda não tinha encontrado um substituto em bases permanentes, e o (V) “Come Hell or High Water”, com o registro ao vivo da banda na turnê do “The Battle Rages On”, última com o Blackmore, e que foi o primeiro CD que adquiri da banda. Com esse esclarecimento, passo a escrever sobre os CDs do Deep Purple da minha coleção particular, reiniciando pela parte VI.

O Deep Purple já havia se consolidado como importante banda de hard rock dos anos 1970 com o lançamento de “Deep Purple in Rock” no começo daquela década. O disco seminal continha algumas das que se tornaram clássicos da banda, como “Speed King”, “Black Night” e “Child in Time”, além de outras excelentes composições. No ano seguinte, em 1971, os caras soltaram o “Fireball”, que alterna bons momentos com outros sem inspiração. Naquele ano, contudo, a banda voltou ao estúdio para compor o disco com sua música mais conhecida.

Sabe-se bem que a clássica formação Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice reuniu-se num hotel em Montreaux para gravar seu novo trabalho com o famoso estúdio móvel “Rolling Stones mobile”. Cumpre notar que, diferentemente de discos como “Burn”, são pouco significativos os overdubs, especialmente no que se refere às guitaras; veja-se que em “Burn” a maioria das faixas conta com dois registros de guitarra, geralmente com versões diferentes para as mesmas partes (p. ex., uma guitarra toca acordes, ou uma oitava abaixo, e a outra toca notas soltas, licks e melodias, ou uma oitava acima), enquanto que em “Machine Head” Blackmore tocou apenas uma linha de guitarra em quase todo o repertório (evidentemente que alguns solos foram dobrados – executados por duas guitarras sobrepostas – como em “Highway Star”). Lembro, no entanto, que um amigo dos tempos de faculdade reclamava do que considerava “magra e fraca” a guitarra de Blackmore nesse disco, pois o som do teclado seria mais evidente. Ele ficava inconformado com o fato de que o disco é espetacular, mas as guitarras não acompanhavam (ele achava que era questão de volume, ou de distorção). É para ver como não dá para agradar a todos. O resultado foi lançado em 1972. E se trata de um magnífico exemplar de rock pesado, do tipo em que todas as faixas são antológicas. Pode-se dizer que muitas das melhores performances dessa formação, que se convencionou chamar de “Mark II”, se encontram nesse álbum.

Praticamente todo o repertório é bastante conhecido. As mais evidentes são “Highway Star” e, principalmente, “Smoke on the Water”, mas “Maybe I´m A Leo”, “Lazy”, “Space Truckin´”, “Pictures of Home”, com maior ou menor frequência, mantiveram-se nos set lists das turnês há quase quarenta anos. A ordem das faixas facilita a audição, começando os trabalhos com uma música rápida, apropriadamente denominada “Highway Star”. Desde logo, na introdução, gosto de ouvir a levada de bateria de Ian Paice, sobretudo quando ele começa a bater na caixa pouco antes dos versos cantados – o timbre é espetacular, e foi obtido com a bateria posicionada no banheiro do hotel. Universalmente conhecido e debatido é o solo de guitarra de Blackmore. Como diz Steve Morse, alguém que se propõe a tocar “Highway Star” tem que tocar o solo nota-por-nota como está no disco. Acrescento que só Blackmore mesmo pode improvisar, e é certo que o cara fazia isso regularmente. Não obstante, o solo de teclado de Jon Lord é igualmente matador, embora o cara tenha feito uma versão tão boa quanto no “Made in Japan”.

Há mais de 10 anos, quando ainda me dedicava a tirar na guitarra músicas dos meus favoritos, aprendi a tocar “Maybe I´m a Leo” de ouvido. Existe um bom cover de Paul Gilbert num tributo lançado pela Magna Charta. É bem cadenciada e Blackmore mandou bem num solo com pentatônicas bem encaixadas.

“Pictures of Home” tem várias partes e é uma das grandes composições obscuras desse disco. Yngwie Malmsteen gravou uma versão mais pesada e muito legal no seu disco “Inspiration” de 1996. A introdução de bateria é marcante, tanto quanto o riff inicial, bem dinâmico. Nos versos as guitarras tocam um padrão que foi adaptado e tornado bastante típico pelo Iron Maiden. Há espaço para um pequeno solo de baixo de Roger Glover, e longos solos de Blackmore e Lord.

Em “Never Before” também há uma introdução de bateria de Ian Paice, até que a música inicia efetivamente com o riff executado durante os versos, o qual poderia até ser de heavy metal com execução mais agressiva e o abafamento necessário nas cordas da guitarra. Diferentemente de todas as bandas de heavy metal e hard rock, não é muito comum músicas do Deep Purple com utilização de tom em E (muitas das músicas são em G ou A ou F ou sei lá o que), e “Never Before” quebra essa regra. Talvez seja a composição mais fraca do disco, mas isso pode ser objeto de ampla contestação.

O que não é objeto de discussão é o fato de que o riff de “Smoke on the Water” é possivelmente o riff de guitarra mais conhecido de todos os tempos. Existe até uma espécie de recorde de número de guitarristas tocando-o simultaneamente. Há explicações sofisticadas sobre o modo como esse riff se comporta harmonicamente (quartas, quintas, sei lá), mas o fato é que se trata de um dos riffs mais simples que pode existir, de absorção instantânea pelo cérebro, e é por essa simplicidade que o riff é sofisticado. Acrescente-se, à receita, o baixo marcado de Roger Glover, pulsando sobre a nota G (seria o timbre de um Rickenbacker?), e a levada de bateria de Ian Paice no hi-hat e caixa, sendo que Jon Lord dobra o riff com o Hammond num timbre bem pesado, parecendo quase uma guitarra com distorção, praticamente inventando a moda dos tecladistas que se valem de timbres parecidos com guitarras. O que é simples e nada sofisticado, no entanto, é a parte de guitarra durante os versos. É comum alguém eventualmente ficar com vergonha de compor algo muito trivial, a não ser que se trate de uma banda de punk ou de grunge; Blackmore, no entanto, aparece com dois acordes, G e F, tocados nota por nota no padrão G-D-G, G-D-G, G-D-G. G-D-G, G-D-G, F-C-F, G-D-G, G-D-G. O refrão já é mais caprichado – C-F-C, G#-Eb-G#, G. Marcante também é o solo de Blackmore, sobretudo nos caprichados bends ao final, quando a base (teclado e baixo) voltam à execução do riff principal.

É possível ser criativo e original tocando blues, e o Deep Purple exercita isso em “Lazy”. A letra de Ian Gillan tem um pouco de humor, mas o destaque é todo do trabalho instrumental. Afinal, a parte cantada só entra decorridos 4min de execução. Um riff magnífico e trabalhoso de guitarra (dobrado pelo teclado), acompanhado de paradas apropriadas de baixo e bateria, e solos extensos e fantásticos de Blackmore e Lord. Há espaço para amplas improvisações nas apresentações ao vivo, e numa rápida pesquisa no youtube se encontram um ou outro vídeo nesse sentido.

A última faixa é “Space Truckin´”, que tem uma estrutura bem fechada de introdução – verso – refrão, mas ainda assim serve para improvisações extensas, conforme “Made in Japan” e “California Jam”. É outra bem fácil de tirar de ouvido as partes de guitarra. Ian Gillan dá uns gritos bem agudos ao final, consolidando sua reputação como um dos maiores e mais influentes vocalistas do estilo.

Da mesma sessão resultou uma balada sentimental, “When A Blind Man Cries”, lançada em algum lugar como lado-B de algum single. Na edição comemorativa de 25 anos foi acrescentada essa faixa ao track list (achei despiciendo adquirir esse CD, que foi lançado como duplo, encarecendo o produto - um CD contendo a edição remixada em 1997, e um outro com o álbum remasterizado, sendo que os bônus são apenas “When a Blind Man Cries” e versões “quadrophonic mix” para “Maybe I´m a Leo” e “Lazy”).

Mesmo antes do lançamento de “Machine Head” a banda já estava em (permanente) turnê, e são lendários os registros em solo japonês que deram origem ao “Made in Japan”. Mais um disco de estúdio (“Who Do We Think We Are”, de 1973) e devido a conflitos internos e exaustão da vida na estrada, Ian Gillan e Roger Glover saíram da banda e deram lugar a David Coverdale e Glenn Hughes, inaugurando o Mark III (reporto-me às resenhas de Burn”, de 1974, e do “Califórnia Jam” do mesmo ano, conforme acima).

A versão que tenho do “Machine Head” é anterior à remasterizada edição de 25 anos, e foi adquirida na Grammy & Classic Rock na Gal. Chaves numa troca de alguns CDs.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CDs do Kiss - Parte XVI "Kiss My Ass" (1994)

Após retornar ao bom hard rock, acompanhando o peso das guitarras que caracterizou o período, sem perder-se no meio do grunge em ascensão (frutificando nos excelentes “Revenge” e “Alive III”), o Kiss voltou a ser bem cotado em meados da década de 1990. Contribuiu para isso o fato de que todas as bandas de hard rock e heavy metal começaram a declarar publicamente que (a) eram influenciadas pelo Kiss, e (b) deviam ao Kiss o desejo de ter uma banda e começar a tocar. Toda essa atenção serviu para a banda decidir por supervisionar pessoalmente um tributo em sua homenagem, o CD “Kiss My Ass”, lançado em 1994. O resultado é bastante irregular, pois ao mesmo tempo em que não se devem esperar covers fieis ao original (a “Hard Luck Woman” com Garth Brooks, “Christine Sixteen” com Gin Blossoms, “She” com Anthrax), é difícil, por outro lado, ouvir certas recriações mal-sucedidas (“Rock and Roll All Nite” com Toad and the Wet Sprocket). Em todo o caso, para fins de completar a coleção, fiz uma troca de CDs com o Giuliano, em 1998, e obtive esse “Kiss My Ass”. Célebre foi a disputa sobre os direitos de usar as máscaras na capa, e é por essa razão que a de Ace Frehley restou excluída.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Discos essenciais - Glenn Hughes "Addiction" (1996)


Já tive oportunidade para escrever brevemente sobre "Addiction" quando me propus a fazer uma resenha sobre a discografia que eu tenho do Glenn Hughes. No entanto, acho que não fiz justiça a esse excelente álbum de 1996, o qual tenho dedicado cuidadosa audição ultimamente, somado ao fato de que se trata de um disco essencial que, por razões que me fogem à compreensão, está fora de catálogo ou não foi lançado de maneira apropriada em muitos mercados e, de certa forma, parece rejeitado pelo Glenn Hughes. Pesquisei na rede e não achei nenhuma informação valiosa sobre o CD. Não há vídeos no youtube, sequer de pessoas fazendo covers de guitarra. É intuitivo, porém, mediante simples audição do disco, que se cuidam de composições bem pessoais do ex-baixista do Glenn Hughes, e que as faixas são mais pesadas em comparação com o trabalho que o cara costuma(va) desenvolver. Sabe-se bem do período no qual o cara esteve no ostracismo por causa dos seus vícios, e que se recuperou no início dos anos 1990, sendo certo que isso ainda repercute nas letras desse álbum de 1996 (vale lembrar que são desse ano as sessões de Glenn com o Tony Iommi, numa colaboração que frutificou tardiamente, pois foi lançado o disco com o resultado da parceria muitos anos depois da gravação, apenas para deixar de capitalizar diante da intensa circulação de bootlegs). Li em alguma entrevista que "From Now On..." fez grande sucesso no Japão, e uma gravadora de lá bancou um disco ao vivo (o espetacular "Burning Japan Live") e solicitou outro disco de inéditas (o "Feel"). Este último foi tido como um álbum demasiadamente fraco, pois Glenn teria aproveitado para registrar seu álbum mais soul, sabendo-se como se sabe que o cara curte um monte esse tipo de som. A gravadora japonesa, então, pediu um disco com mais peso, e aí veio "Addiction" (e parece que os caras disseram, "hummm, não tão pesado..."). Em todo o caso, trata-se de um disco caprichosamente produzido, composto e executado por músicos competentes. Glenn voltou a assumir o baixo, além dos vocais, e contou com a colaboração de Marc Bonilla nas guitarras e composição. O som é muito claro de todos os instrumentos, e os timbres de guitarra e bateria são exemplares. Parece-me que o timbre das guitarras é típico de Fender Stratocaster (ou outra com captadores simples) com distorção e afinação dropped-D, e acho que é um exemplo glorioso do que se pode fazer com guitarras desse tipo em ambiente mais distorcido; então single-coil + drive/ganho + dropped-D é pesado, mas não tanto (acho que não dá para se dizer que é um disco de heavy metal). As músicas são bem diversificadas entre si, há muita melodia nos instrumentos e na voz, e todo o material é consistente e de muito boa qualidade. Não há nada que esteja no repertório apenas para preencher espaço. Então me causa espécie o fato de que não há registros de apresentações ao vivo de Glenn Hughes tocando as músicas de "Addiction". E de que não há maiores informações a respeito das gravações e das composições, além das óbvias constatações que nós todos podemos fazer por conta própria. Reproduzo a breve resenha que escrevi em abril de 2007 nesse blog:

Ainda em 1996, em outra tarde desocupada, encontrei na Banana do Praia de Belas na sessão de CDs importados o disco que Glenn estava lançando na época: ADDICTION. Lembro que na hora eu cheguei a hesitar um instante, mas logo fui adiante e adquiri esse baita disco, no qual Hughes registrou uma performance altamente emotiva - e, também por isso, fora de série. No seu site, o cara conseguiu, em poucas palavras, descrever o impressionante registro da sua voz: "I sang with raw emotion, spitting out lyric after lyric of torment and destruction" - não poderia ter sido mais feliz. O disco é muito influenciador - pode muito bem ser considerado um disco essencial - pelo uso talentoso da afinação drop-D, de responsabilidade do guitarrista Marc Bonilla, co-autor de quase todas as faixas. Outra característica que se verifica de logo é a limitação dos solos - durante muito tempo eu me senti desconfortável com esses solos que começam devagar, ou se limitam a uns barulhos e tal, e quando finalmente parece que vão começar os bends, as pentatônicas e tudo mais, termina o solo e a música volta para uma parte cantada. Para mim, às vezes, continua sendo perturbador (não faço idéia de como recriar e reproduzir alguns dos solos desse disco). O disco começa com o 1,2,3,4 no hi-hat em DEATH OF ME, e Glenn Hughes não demora para demonstrar que não está disposto a fazer (muitas) concessões. Quando comprei o disco esperava que o cara berrasse e se esgoelasse daquele jeito que ele fazia nos shows do Purple, de modo que fiquei um tanto desapontado com uma certa contenção do vocalista nesse álbum, mas, de qualquer maneira, alguns gritos legais estão lá, tipo "Pull the rope and SEEEEEEEET me free", e toda última estrofe ("Slam the spike into my vein (...)"). As coisas dão uma acalmada em DOWN, que é uma música muito boa com um refrão bem legal (tanto o riff como o vocal), e o grito legal em "My eyes are burnin´ reeeeeeeeed". A faixa-título é a minha favorita da carreira solo de Hughes. É uma composição coxuda, com um baita riffão que se vale da 6.ª corda em D e que acompanha toda a música. A performance do vocalista é irrepreensível e quem já curtiu essa música certamente sente arrepios toda vez que a ouve. As outras músicas, todas, são muito legais e todas têm algum Momento Lucky Strike - geralmente algum verso cantado/interpretado de uma maneira particularmente brilhante por Hughes. O disco inicia a parceria com o instrumentista e compositor Joakim Marsh.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

CDs do Kiss - Parte XV "Dynasty" (1979)



Em 1979 o Kiss estava no auge do sucesso, sendo a maior banda de rock dos EUA. Os caras tinham lançado nos últimos 2 anos um disco excelente (“Love Gun”, em 1977), mais um duplo ao vivo (“Alive II”, em 1977), uma boa coletânea (“Double Platinum”, em 1978) e o ambicioso projeto dos quatro discos solo lançados simultaneamente em 1978. Um novo álbum de estúdio da banda se impunha em 1979, e o Kiss encontrou um novo cenário musical: de um lado o movimento punk, e de outro a disco music. O primeiro em ascensão, e o segundo em declínio. Paul Stanley saia na noite e achava que era muito fácil compor músicas de sucesso nesse estilo disco, então no sofá de sua casa compôs uma das mais bem sucedidas faixas da banda: “I Was Made for Loving You”. Se isso deu certo para uma música, o mesmo talvez não se pudesse dizer de um disco inteiro.

É evidente que “Dynasty” não é um exemplar de disco music, mas também não se pode dizer que se cuida de um álbum de rock clássico do Kiss.
“Dynasty” inaugurou o começo de relacionamento da banda com Vini Poncia (produtor deste e de “Unmasked”, bem como colaborador em “Hot in the Shade”) e de uma prolífica parceria com o hitmaker Desmond Child. Não por acaso, as composições de Paul são as mais fortes: “I Was Made for Lovin´ You” foi um grande hit, e ganhou uma grande versão no “Alive III”; “Sure Know Something” é uma das minhas favoritas da banda, pela letra, pelos vocais e pelos acordes (ficou legal também em formato acústico no “MTV Unplugged”); “Magic Touch” é típica composição de Paul, com estrutura perfeita e refrão marcante.

Por outro lado, a participação de Gene Simmons foi pouco expressiva: “Charisma” ainda dá para curtir, pela letra e pelo refrão, mas “X-Ray Eyes” é bem fraca.

Ace Frehley se empolgou com a abertura de espaço proporcionada por “Shock Me” e seu disco solo, e contribuiu com duas composições e mais um cover de Rolling Stones. Até hoje desconheço a versão original, mas “2000 Man” com Ace nos vocais ficou muito bom, inclusive foi a escolhida para o “MTV Unplugged”, depois de fracassarem as tentativas do guitarrista de tocar o solo de “Shock Me” no violão. “Hard Times” e “Save Your Love” são músicas boas, das poucas de hard rock dessa época do Kiss: a primeira tem um bom riff, e a segunda um espetacular solo de guitarra e uma brilhante interpretação vocal de Ace.

Anton Fig foi o baterista em parte ou em quase todo o disco; o que é certo é que Peter Criss tocou bateria na sua solitária contribuição, “Dirty Livin´”. Os vocais são muito bons, a faixa é datada mas não faz feio nesse álbum pela época retratada.

Último disco da formação original, a partir daí a banda enfrentou séria crise de identidade e demorou vários anos para voltar a lançar bons discos com composições inéditas.

Comprei "Dynasty" na segunda metade da década de 1990, quando decidi comprar todos os discos da banda. Não estou certo, mas possivelmente adquiri o CD importado (então único disponível) na já extinta loja The Wall do Iguatemi (ou então foi na Stoned Discos), e mais recentemente a versão remasterizada na Saraiva ou na Cultura.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Melhores lugares para comprar CDs - Buenos Aires

Diferentemente de Porto Alegre e de outras cidades brasileiras, em Buenos Aires há livrarias e lojas de CDs espalhadas por todo canto. Num rápido passeio pela Av. Cordoba encontram-se diversos sebos e pequenas lojas com bons disquinhos prateados. Em recente visita fiquei encantado com os diversos títulos de Miles Davis disponíveis (que nunca encontrei por aqui) e ainda um que nem sabia que existia, com registro de um show de John McLaughlin, Jaco Pastorius e Tony Williams (apropriadamente entitulado "Trio of Doom"). Entretanto, me convenci de que vale a pena mesmo adquirir CDs nas mega stores Ateneo e, sobretudo, Musimundo. O que fiz foi comparar os preços nas duas lojas (a Ateneo tem duas filiais - na Florida e na Santa Fe; já a Musimundo tem espalhada por vários lugares, é bem fácil de encontrar) e comprar onde estivesse mais barato. A Musimundo levou ampla vantagem, aliado ao fato de que é adepta do Tax Free, um esquema muito legal da administração tributária argentina que permite a restituição de impostos quando da saída do país (tem que pedir o formulário na loja, preenchê-lo e entregá-lo antes do embarque: o imposto será restituído em moeda local ou creditado no cartão de crédito). Tenho bronca com os preços cobrados por CDs entre nós (aproximadamente R$ 30), então tive grande satisfação de encontrar discos com preços excelentes em Buenos Aires, muitos dos quais sequer lançados em mercado brasileiro. Exemplificativamente, os remasterizados do Megadeth (trouxe "Youthanasia" e "Countdown to Extinction") custaram uns R$ 10 cada (na Ateneo), e o "Sacrament" do Lamb of God (só achei na Ateneo), o "All Hope is Gone" do Slipknot, e os "Reise, Reise" e "Rosenrot" do Rammstein (na Musimundo), custaram todos por volta de R$ 20 a R$ 25. Poderia, se quisesse, ter trazido a caixa com as sessões completas do "Bitches Brew" do Miles Davis (na Musimundo) pela metade do preço que é cobrado em lojas brasileiras.

Um grande amigo, o Flávio, há um tempo atrás, deu o toque de que há uma espécie de galeria de rock em Buenos Aires, inclusive com lojas especializadas em quadrinhos (para quem curte).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Melhores lugares para comprar CDs - Rio de Janeiro/RJ

Ainda sou do tipo que compra CDs com regularidade e mantém uma CDteca que ocupa bastante espaço em casa. Então, sempre que viajo procuro lojas de CDs, sobretudo as que tenham bons preços e bons discos. Recentemente viajei para o Rio de Janeiro e tive dificuldade para encontrar lojas dedicadas ao disquinho prateado. Além disso, mesmo pesquisando na internet, não localizei dicas ou informações nesse sentido. Então resolvi reativar um tópico bastante antigo deste blog, sobre os melhores lugares para comprar CDs em Porto Alegre, atualizá-lo, e expandi-lo para outros posts com lojas de discos das cidades que tenho visitado. Começo, então, com a cidade maravilhosa.

Num lance de puro acaso, entrei numa galeria na R. Visconde de Pirajá e no fundo de um corredor achei uma loja de CD do tipo que costumo frequentar em Porto Alegre. É em Ipanema, a Sempre Música (R. Visconde de Pirajá, 365, Ipanema, Rio de Janeiro/RJ), e o dono e um cara que tava lá batendo papo com ele foram bem legais (estavam assistindo a um DVD do Queen de um show de 1974, pelo que entendi da conversa alheia). Os CDs estão divididos por estilo musical, e tinham muitos de hard rock/heavy metal e progressivo, além dos de bandas nacionais e MPB. Interessei-me por um David Lee Roth ("A Little Ain´t Enough", com Jason Becker nas guitarras) por 15 pila, e uma edição de 25 anos do "Fireball" do Deep Purple por 25pila (esse já tenho, mas na hora fiquei na dúvida). Acabei levando para casa apenas uma camiseta com uma estampa inédita para mim até então: o logotipo do Van Halen que aparece na capa do "Van Halen II", por 28 pila (quase o mesmo preço das camisas de bandas em Rio Grande, e mais barato que em Porto Alegre). Comentei com o dono da loja que não estava achando lojas de CDs e o cara sugeriu dar uma passada na Musicale, na mesma R. Visconde de Pirajá, 207 - só que não tive tempo de passar nessa loja, fica para uma próxima visita. A vantagem de uma loja como essa Sempre Música é o fato de que os preços dos CDs varia bastante, então dá pra encontrar coisas baratas (como o já referido do DLR). Como qualquer loja do gênero, dá pra encomendar qualquer coisa. Entretanto, não costumo encomendar nada, gosto de sair com o CD da loja, então foi uma pena não ter achado nenhum do Mastodon ou do Lamb of God. Como não sou do RJ, fica difícil indicar meios de locomoção para chegar na loja; seja como for o Google Maps tá aí pra isso.

No Barrashopping fui na Saraiva Mega Store, que também conta com inúmeras filiais em Porto Alegre, e na Livraria da Travessa. Nesta, que não conhecia, havia anúncios de descontos de 15% nos CDs, e causou-me surpresa encontrar um disco duplo importado do Miles Davis com preço de disco simples importado. Acredito que tenha sido alguma espécie de engano - seja como for, trouxe o "Live Evil" para casa (estou pesquisando essa fase elétrica do trompetista). No mais, não encontrei discos importados de bandas diferentes, e o que encontrei achei caro. Na Saraiva, trouxe por engano um CD que já tenho, a edição de 25 anos do "Fireball", além do melhor disco da Kelly Clarkson (minha vocalista feminina favorita) por um preço bom. Portanto, nessas mega livrarias não havia nada do que já não conhecia por aqui, excluído o clássico do Miles Davis.

Pesquisando melhor na internet, localizei um blog que dá uma dica que parece muito boa: na Rua Pedro Lessa, no Centro do RJ, tem lojas e bancas que vendem CDs originais - provavelmente usados - por 10 ou 20 pila. Sou adepto de comprar CDs usados, então será parada certa na próxima visita.
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CDs do Kiss - Parte XIV "Asylum" (1985)


Já a partir da turnê de “Animalize”, em 1984, o Kiss abandonou o preto e branco e os caras passaram a vestir as roupas mais coloridas existentes, na esteira do que se convencionou chamar de “hair metal”, ou “hard rock farofa” dos anos 1980. E para se alinhar às bandas do gênero dessa época, além do visual, convinha fazer ajustes no som: assim, Bruce Kulick, efetivado como guitarrista titular, foi bem demandado nos solos virtuosísticos, e as músicas tendem ao andamento mais rápido e com guitarras bem trabalhadas.

Em 1995 já era fã da banda, então assistia sempre ao “Fúria Metal” e “Clássicos MTV” na esperança de ver algum vídeo do Kiss (ou do AC/DC, ou de outras bandas legais). Lembro do dia que Gastão anunciou que passaria uma do Kiss, e para minha surpresa o cara mandou uma que não conhecia: “Tears Are Falling”. Apesar do visual apelativo e tudo mais (o clipe é bem datado), achei sensacional a música, e me marcou o refrão repetitivo “Oooh nooo, tears are falliiiiiiiiiing”. Desde logo, então, “Tears Are Falling” é das minhas favoritas (fez falta no “Alive III”). Tempos depois comprei o disco na Boca e curti de certa maneira. Então sou obrigado a me redimir da resenha transcrita mais abaixo, postada há bastante tempo nesse blog, na qual “admiti” que se tratava de “um péssimo disco do Kiss”.

O disco abre com uma introdução de bateria que é um mini solo de Eric Carr. Os acordes dos versos são simples (não dá para chamar de riff), mas no último compasso há umas notas rápidas que são fáceis de tocar na guitarra. O que não é fácil é depois do refrão e antes do solo de guitarra, quando é tocado um padrão em uníssono com a bateria. Após o solo de Kulick, aparecem uns acordes e vocais harmonizados antes de voltar para o refrão. O que acho problemático aqui e em todos os álbuns do Kiss até “Hot in the Shade” é o timbre das guitarras, especialmente de Kulick, que parece insípido demais. Gene Simmons resumiu isso ao dizer no “X-Treme Close Up” que a partir de “Revenge” Kulick teria se “dado conta” de que a guitarra se toca “with the balls” e não com a cabeça. O comentário parece pertinente.

Como de costume nessa época, as melhores composições são de Paul: “Who Wants to Be Lonely” tem riff com a 6.ª corda solta com acentos e abafamentos (daria pra fazer uma versão “Revenge” se fosse o caso) e é legal (tanto quanto “Tears Are Falling”, contou com vídeo para a MTV). “I´m Alive” é correria no estilo “Under the Gun”, com estrutura parecida, diferença é o solo de guitarra acompanhado apenas com bateria. “Uh All Night” tem um refrão do tipo “I Just Wanna”, feito especialmente para apresentações ao vivo.

As músicas de Gene são tão irregulares quanto seu interesse pela banda no decorrer dos anos 1980. “Any Way You Slice It” é um exercício genérico de riff com a 5.ª corda soltam, repetindo “Fits Like a Glove” com menor êxito. Ao final, os caras fazem um típico “turnaround” de blues, inédito na discografia da banda. Durante muito tempo considerei “Trial By Fire” a pior música do Kiss, mas agora já superei isso. O refrão e o riff são apenas não inspirados. “Love´s a Deadly Weapon” contém parte de letra (pelo menos o título) reaproveitado de época que remonta a “Music From the Elder” (circula por aí uma demo chamada “Deadly Weapons”). É outra faixa rápida na qual Gene registra o seu maior agudo que já ouvi, talvez para provar que ele consegue gritar tanto quanto Paul Stanley (que na época estava no auge da forma vocal).


Segue a resenha feita nos primeiros tempos desse blog, a qual referi acima e, mais uma vez, me retrato parcialmente:

– devo admitir, desde logo, que trata-se de um péssimo disco do KISS. Lançado em 1985, mostra a banda definitivamente submersa no movimento hair metal, pouco se diferenciando – visual e musicalmente – das outras bandas da época (Poison, Motley Crue, dentre muitíssimas outras). Em Asylum a banda abandona o visual de couro preto, apresentando-se com roupas extravagantes e cores chamativas (a contracapa e os vídeos promocionais veiculados na MTV). Mark St. John foi substituído por Bruce Kulick, ainda durante a Animalize tour, devido a uma doença nas mãos (síndrome de Reiter), e segue a linha de solos ultrarápidos, sem objetividade. O som da banda também sofre com os excessos da época, resultando uma massa pasteurizada na forma de 10 músicas.

Destaques, na verdade, são poucos. Há uma grande música – TEARS ARE FALLING, composta por Paul Stanley. Essa é uma das melhores composições da banda nos anos 80. Bruce foi bastante feliz no solo – um dos melhores de sua carreira. Começa aos poucos, com uma outra guitarra em harmonia, até atingir o clímax no final, que se sobrepõe ao refrão – nada muito inovador, mas extremamente eficiente. Outros destaques são a introdução de bateria de Eric Carr em KING OF THE MOUNTAIN (basicamente um mini-solo bastante vigoroso); duas músicas rápidas mas totalmente esquecíveis – I´M ALIVE (de Paul) e LOVE´S A DEADLY WEAPON (de Gene); SECRETLY CRUEL – uma música razoável de Gene sobre groupies; UH ALL NIGHT – uma tentativa de reviver os bons tempos, com um refrão repetitivo. WHO WANTS TO BE LONELY é uma boa música, composta por Paul e que até ganhou um vídeo na MTV. Vale ainda referir a mixagem das guitarras – terrível, omitindo detalhes que poderiam enriquecer as composições.

Esse disco foi lançado no apogeu da época de extravagâncias da banda, que se mantinha muito mais com a força do nome do que propriamente com as músicas e shows. Vem a comprovar que o Kiss quando inventa de ‘seguir a tendência’ acaba passando do ponto, tornando-se alvo fácil para a crítica e subestimada pelo público. Essa fase ainda iria produzir um disco de músicas inéditas (CRAZY NIGHTS) e outro de “greatest hits”, com 2 músicas inéditas (SMASHES, TRASHES & HITS).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CDs do Kiss - Parte XIII "Dressed to Kill" (1975)

Esse clássico do Kiss encontrei na Boca do Disco, em 1995, importado e usado por um preço muito bom. É o melhor dos discos pré-“Alive!” e conta com algumas das minhas favoritas da época mascarada; além disso, é o disco com a versão de estúdio de “Rock and Roll All Nite”. Aqui todas as músicas são boas e a qualidade da gravação e do registro dos instrumentos é excelente, diferentemente dos álbuns anteriores.

Gostaria bastante que “Room Service” e “Love Her All I Can” aparecessem em “Alive!” (isso restou amenizado com o lançamento de “You Wanted the Best You Got the Best”, que trouxe uma versão para “Room Service” ao vivo de 1975 com vocal regravado em 1996). A primeira é um rock acelerado, muito boa para abrir o disco. Se os acordes dos versos são bem básicos de rock´n´roll, o refrão é bem sacado, com uma guitarra fazendo um riff legal com groove e outra guitarra com Power chords acompanhando a letra de Paul. Como em todo esse disco, o solo de Ace Frehley é matador. “Love Her All I Can” é uma composição antiga de Paul, que remonta aos tempos de Wicked Lester; a música foi atualizada para ficar com guitarras mais rocker e vocais menos etéreos, e o resultado é uma faixa espetacular, sobretudo pelo riff principal que aparece também no refrão. A interpretação do vocal de Paul é muito boa.

Esse “Dressed to Kill” apresenta, ainda, duas composições clássicas de Paul, devidamente registradas no “Alive!”: “C´mon and Love Me” e “Rock Bottom”. Se a segunda não é das minhas favoritas (não sou fã da estrutura pedestre dessa faixa), a primeira resistiu ao teste do tempo e parece ser uma das quais Paul Stanley se orgulha de ter composto (reapareceu no set list da turnê de “Hot in the Shade”, e foi executada fielmente nas convenções de fãs que deram origem ao “MTV Unplugged”). Por fim, “Anything for My Baby” é uma daquelas que servem para preencher o disco, que é dos mais curtos (não alcança nem 30min).

Por outro lado, Gene Simmons compôs uma clássica (“She”) e outras competentes (“Two Timer”, “Ladies in Waiting”). A primeira é outra das antigas, composta em parceria com um integrante da Wicked Lester: tem andamento mais cadenciado e virou atração dos shows quando, ao final, foi agregado um riff que dava lugar ao inspirado solo de guitarra de Ace. Gosto bastante dos vocais de Gene em "Two Timer", especialmente na parte do pre-chorus, e me parece que o timbre das guitarras é muito bom nessa faixa (que já inicia com um bloco de acordes).

A contribuição de vocal de Peter Criss foi reservada para uma composição de Ace; “Getaway” é um rock decente, que fizemos cover no meu breve período com a Parasite Kiss Cover.

Curioso como esse disco foi composto e gravado às pressas, sendo certo que a banda estava com falta de material ao recorrer a músicas antigas do Wicked Lester. Entretanto, cuida-se de um grande disco da fase inicial da banda, a partir do qual os caras lançariam álbuns recebidos com grande entusiasmo pelos fãs.

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