quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Discografia Deep Purple – Parte VIII “Stormbringer” (1974)

O ingresso de David Coverdale e de Glenn Hughes no Deep Purple, diferentemente do que às vezes acontece quando se substituem peças importantes da formação de um grupo, foi extremamente bem sucedido. Afinal, o disco inaugural da formação Mark III (Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice) foi o espetacular “Burn”, de 1974. Alguns meses depois a banda voltou ao estúdio para gravar “Stormbringer”, lançado ainda em 1974. Após ouvir “Burn”, e “Made in Europe”, imediatamente minhas atenções voltaram para a aquisição de “Stormbringer”; como esse disco não foi lançado por aqui em 1996, tive que recorrer a uma edição importada que encontrei milagrosamente (à época) e por absoluto acaso na Boca do Disco por uns 25 ou 30 pila.

Se, por um lado, “Burn” foi uma bela representação do Deep Purple em ambiente rocker (sobretudo pela faixa-título, mas também por “You Fool No One” e o riff de “Lay Down Stay Down”), de outro lado, em “Stormbringer” já se fez nítida a influência de Glenn Hughes e de David Coverdale nas novas composições. Sabe-se bem o quanto Hughes curte um som funk e soul, e essas preferências apareceram de forma tão evidente em “Stormbringer” a ponto de acarretar a saída de Ritche Blackmore.

A primeira faixa, no entanto, não deixa nada disso à mostra. “Stormbringer” é um clássico instantâneo, com um riff matador e hipnótico em E, bastante familiar para bandas de metal melódico. O solo de guitarra de Blackmore utiliza escalas que induzem melodias exóticas, e essa tendência o cara só veio a reforçar quando formou o Rainbow com Ronnie James Dio, Cozy Powell e outros. Seja como for, a música é fora-de-série, e conta com versões arrasa-quarteirão no “Made in Europe” e no tributo da Magna Charta, com vocais de Glenn Hughes e guitarras de John Norum (esse CD acabei não aproveitando na época do câmbio favorável de meados dos anos 1990, quando certos discos eram encontrados com mais facilidade nas lojas de Porto Alegre).

As músicas seguintes, no entanto, denunciam as novas influências. “Love Don´t Mean A Thing”, “Holy Man” e “Hold On” praticamente não tem guitarras, ou estas são meramente decorativas, pontuando acordes e acrescentando melodias, ficando o destaque para o baixo marcante de Hughes e os vocais deste e de Coverdale.

O clima hard rock que faltou nestas sobra em “Lady Double Dealer”, com um riff matador de Blackmore com as notas da pentatônica de Am, bem fácil de tirar na guitarra. Imperdível a versão do “Made in Europe”.

“You Can´t Do It Right (With the One You Love)” tem uns riffs bem complicados e cheios de notas nas mesmas posições de “Stormbringer” e de “Sail Away” (do “Burn”).

Outro riff típico de Blackmore é o principal de “High Ball Shooter”. O bom ouvinte perceberá que esse riff já havia sido sugerido durante a parte final do solo de guitarra de “Lay Down Stay Down” de “Burn”, e mesmo durante uma pequena improvisação desacompanhada durante o “California Jam”. Não sei por qual razão, Glenn Hughes elegeu esta para regravar para o disco “Building the Machine”.

Bem mais solene é "The Gypsy", aparentemente uma das favoritas de Blackmore. Hughes e Coverdale fazem os vocais em uníssono, o que não era muito comum (outro exemplo é "You Fool No One"). Ao vivo foi tocada inclusive nos últimos shows da Mark III, na França e na Alemanha - esses shows formaram o material do "Made in Europe" e há um excelente bootleg com compilação dessas últimas apresentações, o "Archive Live".

Uma das minhas favoritas de Coverdale, assim como de tantos outros, é "Soldier of Fortune". Trata-se de uma comovente balada, que se transforma em uma excelente música com a interpretação sempre emocionante do vocalista. Blackmore também tem seu valor aqui, ao executar os acordes bem encaixados (Gm-F-Bb-C-Eb-etc) com delicado dedilhado. Mesmo no período com o Whitesnake, Coverdale seguiu e segue cantando esse música ao vivo, só que desacompanhado. Uma espetacular versão acústica com Adrian Vandemberg aparece no "Starkers in Tokyo".

Blackmore não curtiu a orientação funky/soul que estava seguindo o Mark III, e isso provavelmente agregado a outras razões, o levaram a deixar a banda e a formar o Rainbow. Apesar de Jon Lord, e eventualmente Ian Paice, acharem que a saída de Blackmore acarretaria o fim das atividades da banda, Coverdale, curtindo o recente gosto do sucesso, tinha outros planos e arquitetou o ingresso de Tommy Bolin. Com essa formação, Bolin/Coverdale/Hughes/Lord/Paice, o Mark IV, o Deep Purple registrou apenas um disco de estúdio, o "Come Taste the Band", de 1975.


Recentemente foi lançada uma edição comemorativa de 35 anos, remasterizada/remixada e com bônus tracks. Ocorre que foi feito uma edição com CD duplo, encarecendo o produto, apenas para que um dos CDs conste o disco inteiro em mixagem quadrofônica. Aguardo, então, a disponibilização de um CD simples, apenas com o remasterizado e os bônus.

Um comentário:

Fabiano Pereira disse...

Excelente trabalho da banda...e pensar que eu tinha grande preconceito quanto à essa fase do grupo com Coverdale e Hughes.

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