segunda-feira, 24 de maio de 2010

CDs do Kiss - Parte XXIX "Music From the Elder" (1981)

“The Elder”, ou “Music From the Elder” é outro dos discos do Kiss sobre o qual já escrevi nas primeiras épocas deste blog. Acrescento, apenas, que tenho duas versões, a remasterizada e a não-remasterizada. A primeira comprei na extinta The Wall do Iguatemi em 1997 (salvo engano) e a segunda comprei mais recentemente, em 2006 ou 2007 numa loja da Gal. Chaves (no térreo, perto da escadaria). Assim como no caso de “Creatures of the Night”, a versão remasterizada tem um som muito melhor, com as guitarras e baixo mais vivos e bateria mais agressiva, além do volume geral mais alto. Na época, 1981, o fracasso comercial de “The Elder” foi tão grande que a banda não saiu em turnê para promovê-lo – limitando-se a uma fantástica apresentação no programa rival do Saturday Night Live, o extinto Fridays, no qual fizeram versões matadoras para “The Oath”, “A World Without Heroes” e “I” (além desta, houve apresentação em outro programa da época, bem como uma sem Ace para um programa italiano – este vídeo aparece no DVD “Kiss My Ass”). Trata-se do primeiro registro de estúdio de Eric Carr, que havia sido recrutado para a turnê de "Unmasked" no ano anterior.

KISS é a minha banda favorita, do coração, e isso não é segredo de ninguém. Proponho-me então a escrever algumas linhas sobre os discos dessa banda (talvez todos, com o tempo), por enquanto, sem preocupações cronológicas.

Music from the Elder - lançado em 1981, é o mais controvertido álbum do Kiss, pelo momento histórico vivido pela banda e também pelo tipo de música registrado no disco. A banda enfrentava uma séria crise de identidade no começo dos anos 80, após o lançamento de 2 discos (Dynasty e Unmasked, 1979 e 1980) fortemente orientados pelo pop e disco music. Os planos de retornar às origens e fazer um álbum pesado (que se chamaria Rockin´ with the boys) foram abandonados quando o produtor Bob Ezrin foi chamado para ajudar a banda a se reerguer. Ezrin, que havia trabalhado no The Wall do Pink Floyd (e antes ainda, em 1976 com o próprio Kiss no álbum Destroyer - o mais bem sucedido até então), sugeriu que o Kiss fizesse também o seu disco conceitual (Gene Simmons e Paul Stanley aceitaram a idéia - Ace Frehley votou vencido, e Eric Carr não gostou da idéia, mas como era músico contratado, nao tinha direito a voto). O conceito do disco foi delineado por Gene, e trata da história de um garoto, mais ou menos no estilo "Senhor dos Anéis".

Fanfare é o tema inicial, interpretado por uma orquestra. É curto, mas crescente e tenso, abrindo caminho para a próxima música.

Just a boy traz Paul cantando em falsete, introduzindo a história do garoto. Apesar de curta, é uma bela música e tem até um solo de Paul. Gosto particularmente do refrão. Aqui já se percebe a intenção de fazer um grande disco, mas totalmente em descompasso com o passado da banda (natural que os fãs, na época, iriam estranhar). Note o belo timbre do baixo. Eric Carr se mostra bastante contido nessa e em todas as faixas de Elder (não é um álbum de rock, é um álbum conceitual).

Odissey é a música mais grandiosa de Elder. Composta por um tal de Tony Powers, é cantada por Paul, numa interpretação bastante diferente do que estamos acostumados (um registro bastante grave). Começa com piano e tem uma orquestra acompanhando (parece mais uma música da Broadway). Essa é uma música realmente difícil de ouvir, pois Ezrin a deixou pomposa demais. Parece-me que o solo também foi gravado por Paul.

Only you é totalmente Gene. Inicia com um riff em D, bastante tenso. Traz uma marca de Gene que o baixo acompanhando o vocal (no início). Não é uma música inesquecível, mas é muito bem feita. Não tem uma estrutura tradicional (verso-refrão), e sim várias partes reunidas (e que funcionam muito bem). Há uma participação de Paul nos vocais. Note que no final há uma retomada sugestiva do tema de Just a boy (bela sacada, afinal, é um álbum conceitual).

Under the rose é outra de Gene. Essa é a que mais me lembra Pink Floyd (The Wall). Sempre tive essa recordação por causa do coro no refrão, que remete a alguma música do The Wall que não lembro. Belo riff segue o coro "Under the rooooose". Há um belo solo de Ace, mas que foi severamente picotado por Ezrin. Mas ainda assim, criou um efeito bacana no final, harmonizando com o refrão.

Dark Light é a música do Ace em Elder. Inicialmente entitulada Don´t Run, a letra foi totalmente re-escrita por Gene, mas preservou toda a melodia que Ace havia criado para o vocal (inclusive as partes faladas - rap? - entre os versos). Há um solo shred de Ace acompanhado somente por bateria.

A world without heroes é a música mais conhecida de Elder. Teve até um vídeo promocional, e foi tocada no MTV Unplugged. Bela música, composta por Paul e com letra de Gene (a partir de uma idéia de Lou Reed). Os solos também são de Paul. Aqui a orquestração de Ezrin funciona bem.

The oath é a melhor música disparado! Começa com um riff heavy, bem cavalgado de Paul, que ainda canta bem alto (note o refrão em falsete). Baita música! Se o disco inteiro fosse assim, sem as perfumarias de Ezrin, o Kiss  teria se dado muito melhor na época. No peso, Eric Carr também se destaca - note que nos versos ele alterna o andamento da bateria. E ainda há espaço para sua marca registrada - os rolos, sempre brilhantes.

Mr. Blackwell começa com o baixo distorcido de Gene, parecendo ter sido feito sob medida para apresentações ao vivo (onde ele faria o tradicional 'blood spitting'). A única parte a ser notada é o riff do refrão. Mais um solo de Ace totalmente pervertido por Ezrin.

Escape from the island é uma música instrumental fenomenal! Rápida e pesada. Da última vez que ouvi notei que lembra um pouco de Rush até - o baixo acompanha os rolos da bateria, há uma parada no meio com bateria tribal e baixo. Bom solo de Ace, com direito a um tapping discreto e tudo. Aqui, mais do que nunca, Eric Carr mostra o seu potencial.

I é a última música, e traz uma rara alternância de vocais entre Paul & Gene, no estilo Shout it out Loud (Destroyer, 1976). É uma boa música até, mas sofre um pouco com o refrão ufanista repetido exaustivamente.

Concluindo: atualmente, entendo que esse disco é execrado somente por Gene, Ace e Paul, uma vez que entre os fãs da banda Elder tem boa aceitação. E é um bom disco, nada parecido com o que a banda havia gravado até então e bem distante do que viria a gravar posteriormente. Mas é notável o esforço de fazer um disco bom, que trouxesse de novo o nome Kiss ao estrelado. Na época nao funcionou - foi um erro estratégico que quase acarretou o fim da banda. Mas, por sorte, Gene e Paul nao se deram por vencidos, e ainda iriam produzir um grande álbum em comemoração aos 10 anos da banda em 1982.

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