Sobre “Crazy Nights” já tive oportunidade para escrever nos primórdios deste blog, conforme adiante transcrito. Cabe acrescentar que adquiri o disco na extinta The Wall do Iguatemi em 1997; na turnê respectiva a banda voltou a tocar em solo japonês em 1988, onde foi registrado no Budokan um show espetacular e que teria sido um perfeito “Alive III”. Tal show foi objeto de vários bootlegs: o “Dr. Love´s House” partes um e dois (a primeira parte – CD simples – aluguei numa locadora que ficava onde agora se localiza a Boca do Disco e compreende o repertório até “War Machine”, incluindo o magnífico solo de bateria de Eric Carr – é o melhor solo de bateria que já vi); e o “Live in Japan”, que é um CD simples com quase todo set list (foram excluídos o solo de bateria, “War Machine”). No volume 2 do Kissology, um dos DVDs bônus era parte desse show no Budokan. Após “Crazy Nights”, a banda lançou uma coletânea (“Smashes, Trashes & Hits”) e começou a preparar a grande fase dos anos 1990 com um bom disco, “Hot in the Shade”.
- disputando com Asylum e Hot in the Shade o posto de pior disco do Kiss, Crazy Nights sofre com os excessos tão caros aos anos 80. A produção de Ron Nevison (bem sucedido com outras bandas, como Ozzy Osbourne e Heart) neutralizou totalmente as guitarras (a mixagem é péssima e o timbre indefinido - sem contar que, na época, Bruce Kulick possuia um timbre horrível nos solos), assim como adotou (dispensáveis) teclados em quase todas as faixas, provavelmente para torná-lo ainda mais radiofônico. A minha convicção é de que se trata de um disco com boas músicas, que teria sido um clássico nas mãos do Bob Rock (seria tão bom quanto Slippery When Wet).
Em 1987, quando Crazy Nights foi lançado, a banda encontrava-se dividida como nunca entre o batalhador e compositor incansável Paul, e o aspirante a ator de Hollywood Gene. As contribuições deste para o álbum são muito pouco inspiradas, refletindo uma falta de interesse pela banda. Por seu lado, Paul insiste em compor hinos do hard rock, simples, mas sem jamais deixar de adicionar alguns elementos de requinte.
CRAZY CRAZY NIGHTS já denuncia toda a intenção do disco. É um hino anos 80 de Paul, com refrão pegajoso e contagiante, e letra ufanista. Ganhou um vídeo na MTV bem colorido e grandioso.
I´LL FIGHT HELL TO HOLD YOU é uma música obscura, mas muito boa. Tem vários riffs, é bem construída, e não previsível. Acho espetacular a parte que precede o refrão, com a Eric Carr dobrando as guitarras. No solo de Bruce, o riff da base é sensacional, mas quase inaudível. O refrão é cantado em registro altíssimo. Provavelmente é a que se daria melhor numa versão atualizada.
BANG BANG YOU é outra do Paul, datadíssima. Ainda assim eu gosto bastante, especialmente o pre-chorus "and we go one, two, three, four/when midnight come I´ll be at your door". Não é por nada que a música foi composta por Paul e Desmond Child. Funciona muito bem ao vivo.
NO NO NO é do Gene, e começa com Eric e Bruce tentando reproduzir a introdução de HOT FOR TEACHER do Van Halen, com a batera correndo e a guitar solando (tappings e tudo mais). O bumbo duplo de Eric fica totalmente submerso na mixagem, um desperdício. Aqui, quem gravou o baixo foi o próprio Gene, e isso fica claro pelo timbre do instrumento, bem diferente do que os das outras faixas (especialmente, é óbvio, as composições de Paul).
Típica música do Gene na época é HELL OR HIGH WATER. E isso é o tanto quanto basta para que eu me faça entender. Uma das poucas de Gene que foi reproduzida ao vivo (em raros shows).
MY WAY: outra naquele estilo contagiante de Paul. No refrão, o registro da voz é muito alto - é quase inacreditável como ele consegue atingir com naturalidade um tom tão alto. Se fosse o Bon Jovi, com produção do Bob Rock, seria um clássico (como o seria o disco inteiro nessas condições).
WHEN YOUR WALLS COME DOWN é uma das piores músicas da banda. Aqui Paul se deixou levar por uma excessiva empolgação, e o clima festivo é risível (o pre-chorus naquele estilo pergunta e resposta diz tudo).
REASON TO LIVE é uma balada belíssima, como em regra são as baladas de Paul. Toda ela é bem construída, uma parte leva à outra com naturalidade. O solo de Bruce Kulick é o melhor do disco (ele costuma caprichar nas lentas). Não é por nada que é mais uma música da dupla Paul e Desmond Child.
GOOD GIRL GONE BAD surpreende - não é ruim, em se tratando de Gene nos anos 80. Tem uma parte no meio que ficou muito boa - a música fica "suspensa", Gene canta sobre alguns acordes, com a bateria apenas "esperando" o retorno da música.
TURN ON THE NIGHT é outro hit de Paul. A música inteira é boa, e o solo de Bruce, correto.
THIEF IN THE NIGHT, curiosamente, é uma música do Gene que remonta à época do Creatures of the Night. Uma demo dessa música, com Eric Carr, Paul e Gene foi utilizada no primeiro disco da cantora Wendy O. Williams (WOW, 1984), e difere pouco da versão de Crazy Nights. Seria uma baita música se tivesse sido gravada para o Creatures, com aquele som inigualável de bateria, e peso nas guitarras.
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