terça-feira, 29 de julho de 2008

25 anos - Grêmio campeão da Copa Libertadores de 1983

Em 1983 eu já era gremista, e desde que me conheço o Grêmio é campeão da Libertadores e do Mundial. Lembro de ir com o meu pai ao Estádio Olímpico, dos principais jogadores (Mazarópi, Renato, Tarciso, De Leon, Baideck, Paulo Roberto, China, etc), da chegada do time campeão do mundo no caminhão dos bombeiros (vimos os jogadores passarem com a taça na João Pessoa, quase esquina com a Venâncio), e tudo mais. E faz uns 15 anos que queria, por tudo, ver a íntegra do jogo final da Libertadores e do Mundial de 83; há pelo menos uns 10 anos firmei a convicção de que isso renderia um vídeo; e desde que vi a caixa de DVD´s do Chicago Bulls, dinastia NBA, com um DVD dedicado para um compacto do campeonato, de um lado, e de outro a íntegra de um dos jogos dos play-offs, que me pergunto por que não é lançado um DVD com a íntegra da final da Libertadores e do Mundial de 1983. Isso venderia por si só, e minha convicção ficou sedimentada depois do DVD sobre a Batalha nos Aflitos.

Não houve anúncio algum, e dessa forma foi por pura sorte que no domingo, pouco depois do meio-dia, mudei de canal e vi que no 36 tava passando a final da Libertadores de 1983, pois no dia seguinte, segunda-feira, 28.07.2008, completaria 25 anos desse título gremista. Por sorte, também, estava a mão com o gravador, e perdi apenas os primeiros 5min30s do jogo. Antes de sair de casa, vi o 1.º gol, de Caio, aos 9min. Deixei gravando e vi tudo à noite. E vi que o Grêmio atacou como nunca até fazer o gol, e depois até os 15min, geralmente pelo lado direito (embora o gol gremista tenha partido de um cruzamento pelo lado esquerdo). O Peñarol, como se sabe, era o atual campeão mundial e lutava pelo bi da Libertadores. Então os uruguaios não demoraram para equilibrar o jogo, e a partir dos 30min exercer domínio. E no final do 1.º tempo, o time de Valdir Espinosa estava bem recuado, errando passes, e sofrendo a pressão do Peñarol (é incrível como isso, hoje em dia, não é surpresa). Apesar de tudo, nenhuma conclusão chegou com perigo ao gol do Mazarópi. Mas bem sabemos que isso não quer dizer nada; o adversário pressiona e uma hora vai fazer o gol.

E o 2.º tempo começou do mesmo jeito que terminou o 1.º, i. é, com a bola no pé dos uruguaios. O jogo, para ser franco, foi muito ruim, mas muito disputado. E na época não tinha essa de fair play. Os uruguaios batiam afu: o Tita arrancou pela direita, tentando puxar um contra-ataque, e um uruguaio deu uma rasteira chutando as pernas do Tita por trás. Falta é evidente que foi marcada, pois esse lance é falta hoje e era falta em 1983. Mas nada de cartão amarelo. Lance normal de jogo. Então dá-lhe cotovelada pelo alto - e por baixo uma bica na canela.

Na metade do 2.º tempo, o Peñarol conseguiu ficar um tempão no ataque: cobrança de lateral, escanteio, chutes, rebotes, e a bola não saia do campo do Grêmio. Falta pelo lado esquerdo, Venâncio Ramos cobrou com delicadeza impressionante, alçando a bola na área como se fosse com a mão, e Morena, artilheiro uruguaio, fez o gol de empate. Minutos depois Mazarópi salvou e, no rebote, De León tirou em cima da linha. O comentarista, então, comentou: "O Renato não está mostrando bom futebol. Ele é um jogador essencial, e está na hora de ele aparecer para dar a vitória ao Grêmio". Uma vez que no primeiro jogo, em Montevidéu, o placar foi 1x1, se o jogo no Olímpico terminasse 1x1, haveria um terceiro jogo, em Buenos Aires, em 02.08.1983.

Mesmo antes do gol de empate, César já havia entrado em campo no lugar de Caio (que entrou em campo meio no sacrifício, pois não havia se recuperado totalmente de lesão muscular). O seu ingresso representava maior qualidade no toque de bola. Então, aos 32min, Renato recebeu a bola quase na marca de escanteio do lado direito de ataque gremista (na frente das gerais/camarotes). Cercado por uns três defensores uruguaios, ele deu umas embaixadas e deu um chutão com toda a força em direção à área. A jogada toda foi muito rápida, pois tão logo a bola caiu, encontrou a cabeça de César que empurrou com tudo para o gol. O gol da vitória e do título.

A partir daí não teve mais jogo. Chutão, empurra-empurra, expulsão do Renato, o Peñarol, na verdade, não tinha mais forças para reagir. Os dois times, o Grêmio de Valdir Espinosa e da gurizada gremista (apenas Mazarópi e Tarciso tinham mais de 30 anos - respectivamente, 30 e 32), e o Peñarol, atual campeão mundial, eram times muito bons e equivalentes. E nessas condições, vence o time que faz mais gols (!).

Do time gremista, vi que Paulo Roberto era um lateral muito bom no apoio e raçudo na defesa. O cara tinha 20 anos, fazia muito bem os cruzamentos pelo lado direito, e na marcação era implacável. De León já era consagrado campeão e titular da Seleção Uruguaia. O zagueiro sabia bem como se ganhava uma Libertadores, e deixou muito claro isso durante o jogo, conduzindo a bola com tranqüilidade, divindindo duro com seus compatriotas, e fazendo pressão na arbitragem. Baideck, muito elogiado pela reportagem durante a transmissão do jogo, tinha pouco mais de 20 anos e tirou todas. Casemiro parecia nervoso no início, e talvez não por acaso o titular no mundial tenha sido o Paulo César Magalhães. China era o volante propriamente dito, marcador e repassador da bola, uma espécie de Eduardo Costa. Osvaldo apareceu muito pouco no jogo. Mas era muito bom de bola. O camisa 10 era o Tita, que centralizava as jogadas e atuava como uma espécie de Tcheco melhorado. Dos 10 aos 15min do 2.º tempo, o Grêmio jogou com 10 em campo porque Tita estava sendo socorrido após um choque em jogada pelo alto na área do Peñarol. Emocionante que a torcida gritava pela volta do craque, e no placar eletrônico do Estádio Olímpico apareceram frases "Volta logo Tita! Força Tita! Estamos com você Tita!". E o cara voltou a campo, e nos últimos minutos do jogo ele tinha sangue escorrendo pelo rosto (na época, além de não se falar em fair play, não havia a recomendação para retirar o cara sangrando de campo; ficava sangrando durante o jogo até o final). E é bem conhecida a história que envolveu a comemoração incomum do Tita após o gol de César. O ataque gremista teve de lugar contra a defesa dos uruguaios, então todos tiveram dificuldades. Mas os caras eram bons, e aproveitaram os descuidos para fazer os dois gols da vitória. Renato, realmente, não fez boa partida. O cara, de fato, era um autêntico ponta-direita, de modo que todas as suas jogadas eram iguais: bola pela direita, ele corria com ela até a linha de fundo e avançava em direção à área. Em regra os uruguaios faziam falta. Essa jogada, afinal, restou imortalizada no primeiro gol do jogo contra o Hamburgo pela final do Mundial 1983. E, nesse jogo no Estádio Olímpico, contra o Peñarol, se Renato não teve uma boa noite, pelo menos fez o que se espera de um craque: uma jogada genial, que decide o jogo. O cara podia ter partido para o drible e perdido a bola; podia ter cavado um escanteio, ou uma falta. Mas ele resolveu levantar aquela bola na área, pois alguém se colocaria lá para tentar o gol. E a bola encontrou a cabeça do César.

Parece que vai rolar um DVD comemorativo dos 25 anos dessa Libertadores, com depoimentos dos jogadores, dirigentes, técnico, jornalistas. Entendo que esses depoimentos são dispensáveis, pois ficam datados. Melhor mesmo é a íntegra do jogo. Por sorte, consegui gravar a tempo (apesar de ter faltado 5 minutos e meio). Agora aguardo dezembro que seja transmitida a final do Mundial de 1983, de preferência com anúncio prévio.

GRÊMIO: Mazaropi; Paulo Roberto, Baidek, De León e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato, Caio (César) e Tarciso. Técnico: Valdir Espinosa.

PEÑAROL: Fernandes; Montelongo, Olivera, Gutiérrez e Diogo; Bossio, Saralegui e Salazar; Ramos, Morena e Silva (Peirano). Técnico: Hugo Bagnulo

Copa Libertadores da América - final - 28/07/1983.
Local: Estádio Olímpico, Porto Alegre (RS).
Arbitragem: Édson Perez, Carlos Montalván e Henrique Labo (trio do Peru).
Gols: Caio (G), aos 10 minutos do primeiro tempo, Morena (P) aos 25 minutos do segundo tempo e César (G) aos 32 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Paulo Roberto, Tita e Renato (G) Oliveira, Saralegui e Morena (P).
Cartões vermelhos: Renato (G) e Ramos (P) aos 42' do 2°T.

Meu pai guardou por muitos anos os jornais do dia seguinte ao título, bem como as edições da revista Placar, mas essas relíquias foram perdidas. Então me permito transcrever a avaliação dos jogadores, que constou dessa notícia:

Ficha do jogo

GRÊMIO

Mazaropi; Paulo Roberto, Baidek, De León e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato; Caio (César) e Tarciso

PEÑAROL

Fernandez; Montelongo, Olivera, Gutierrez e Diogo, Bossio, Saralegui, Salazar, Ramos e Morena, Silva (Peirano)

Arbitragem: Edson Perez, auxiliado por Carlos Montalvan e Henrique Labo, do Peru.

Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre

Gols: Caio (G), aos 10 minutos do primeiro tempo, Morena (P), aos 25 minutos do segundo tempo e César, aos 32 minutos do segundo tempo

Avaliação dos jogadores

GRÊMIO

Mazaropi — Muito seguro nas intervenções, especialmente nos momentos de maior pressão do Penharol, quando saiu muito bem nos pés de Peirano. Nota 9.

Paulo Roberto — Muito mais tranqüilo do que no jogo de Montevidéu, só teve alguns problemas no segundo tempo com Venâncio Ramos, mas esteve seguro, inclusive no apoio. Nota 8.

Baidek — Um pouco nervoso apenas no início do jogo. Depois, marcou Morena com boa antecipação e cometendo as faltas necessárias. Nota 9.

De León — Fez tudo em campo: marcou bem, não falhou nunca, eficiente nas bolas altas e rasteiras. Nota 10.

Casemiro — Velocidade e atenção para evitar qualquer lance perigoso na defesa do Grêmio. Deu um lançamento preciso para Osvaldo cruzar no primeiro gol. Nota 9.

China — Perfeito sob todos os pontos de vista, tanto na marcação direta como na cobertura. Soube o momento certo do chutão para a frente e do toque para o companheiro. Nota 9.

Osvaldo — Combateu como nunca no meio campo, sem evitar o choque, chutando para a frente quando necessário e fazendo boas triangulações no setor. Cruzou a bola no primeiro gol. Nota 8.

Tita — Finalmente teve a grande atuação na Libertadores que estava devendo à torcida do Grêmio. Prendeu a bola nos momentos de maior pressão do Peñarol, laçou e tabelou. Nota 9.

Renato — Muito discreto no primeiro tempo, submetendo-se novamente à marcação de Diogo. Mas decidiu o jogo e o título, cruzando uma bola incrível para César marcar. Nota 8.

Caio — Apesar do físico nada privilegiado pela natureza, brigou com os zagueiros do Penharol, encarou a marcação e fez o gol que abriu o caminho para o título. Nota 8.

Tarciso — Desta vez não pode ser acusado de evitar o choque, pois foi o que mais fez em campo, preocupando os zagueiros com sua velocidade e recuando para marcar. Nota 8.

César — Jogou 27 minutos e se igualou a Caio — na coragem e na marcação do gol. Só que o seu valeu o título inédito para o Grêmio. Nota 9.

PEÑAROL

Fernandes — Perfeito nas saídas de gol e nas bolas altas. Sem culpa nos gols. Nota 8.

Montelongo — Passou trabalho com Tarciso no primeiro tempo. Pouco importunado no segundo. Nota 7.

Olivera — O líder do time. Por cima só dá ele, inclusive na área adversária. Nota 8.

Gutierrez — O mais fraco da defesa. Indeciso em vários lances. Nota 5

Diogo — Não tomou conhecimento de Renato e no primeiro tempo procurou o apoio. Nota 8

Bossio — Bem no bloqueio e na cobertura aos laterais. Nota 7

Saralegui — Bom jogador, mas apela muito para a violência. Nota 7

Salazar — O articulador das jogadas do Peñarol. Cresceu a partir da metade do segundo tempo e com ele o time. Nota 8

Sulva — Não levou vantagem sobre Casemiro. Acabou substituído por Peirano que pouco acrescentou. Para Silva nota 5

Morena — Preocupação constante para a zaga do Grêmio, na única conclusão marcou o gol uruguaio. Até por isso nota 7

Venâncio Ramos — Habilidoso, driblador, o melhor do Peñarol. Nota 9

Arbitragem

O Peruano Edison Perez soube controlar com energia um jogo excessivamente nervoso, como são todas as decisões, não permitindo que os uruguaios, liderados por Olivera, interferissem no seu trabalho. Acertou nas expulsões de Renato e Venâncio Ramos, no final da partida. Tecnicamente teve falhas mínimas. Foi bem assessorado pelos bandeiras Henrique Labo e Carlos Montalvam. Nota 9

4 comentários:

MARCELO disse...

Poxa vida!!! Depois de ler a resenha... QUE VONTADE DE ASSISTIR ESSE JOGO.
Uma cena que tenho gravada na memória até hoje é o lance do cruzamento do Renato e o peixinho do César. Sensacional.
E DÁ-LHE GRÊMIO!!!!

Anônimo disse...

Como colorada, tenho que admitir q o melhor de todo o comentário é a foto daquele gremista ali..... :)

abraço da Anelise

Elenise disse...

Muito afu a foto de gremistinha! Também tenho uma, no colo do Batista. Qualquer hora posto no meu blog pra comemorarmos a festa do único e verdadeiro CAMPEÃO DO MUNDO!!!!

Cleber258 disse...

Grêmio!! Imortal Tricolor!! Uma verdadeira paixão!! ler este depoimento me deixa feliz em ver que não é só eu que tenho essa paixão pelo Grêmio!! Da lhe Grêmio!!

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