segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Resenha de CD - Slipknot "All Hope is Gone" (2008)
A partir de "Subliminal Verses Vol. 3" (sobre o qual escrevi resenha aqui) que consegui ouvir mais pacificamente o som do Slipknot. Afinal, nesse disco que os caras começaram a baixar a bola com o som ultraagressivo e abrir espaço para riffs thrash metal e alguns solos, além de momentos com violões e vocais melódicos (e não gritados o tempo todo). Acompanhei com atenção os comentários prévios ao lançamento de "All Hope is Gone" em 2008 e baixei os mp3 para ouvir o resultado final. Não é a mesma coisa ouvir mp3 e ouvir o CD (presto mais atenção no segundo caso), mas o preço cobrado pelo novo disco do Slipknot (quase 40 reais) considero proibitivo, então foi só em Buenos Aires que consegui trazer para casa o CD (lá o preço é aproximadamente de 25 reais, muito mais aceitável).
Agora com as melhores condições pude conferir que os caras compuseram músicas ainda mais perto do meu estilo de heavy metal. Há bastante espaço para os riffs thrash metal, que não são arruinados pela bateria estupidamente agressiva como em algumas músicas dos discos anteriores, o vocal é predominamtenemte melódico, e os guitarristas detonam nos solos.
Depois da faixa de abertura instrumental, a inquietante e desconfortável nos ouvidos ".execute", "Gematria (The Killing Name)" é um belo exemplo dessa nova direção, pois os caras detonam com uns 15 riffs muito legais antes de ingressarem os vocais. Há espaço para solos curtos porém fritados de guitarra. Um riff old school muito bem posicionado encerra essa espetacular música de heavy metal. A seguinte mantém as coisas em ótimo patamar, com acordes e notas dissonantes características da banda; "Sulfur" também tem riffs legais nos versos (Joey Jordison alterna as levadas na bateria), e os vocais típicos de Corey Taylor são muito bons (o cara costuma se dar bem nos refrões).
A melhor música e o melhor riff do álbum provavelmente são de "Psychosocial". Estrutura familiar de verso, ponte e refrão, fica fácil acompanhar. Os solos de guitarra parece que efetivamente vieram para ficar; e não há razão para excluí-los, pois não ocupam muito espaço nas composições e geralmente são bons, sobretudo porque os guitarristas dominam a palhetada alternada estilo John Petrucci-fritador (diferença é que no caso do guitarrista do Dream Theater, os solos nesse estilo tem tomado de 2 a 3min das músicas dos discos mais recentes, como já visto nas resenhas publicadas neste espaço).
O melhor refrão do disco está em "Dead Memories": Taylor é competente nas melodias vocais, e é bom que o cara está deixando cada vez mais dos gritos guturais dos discos anteriores. Não há nada como um disco de heavy metal com músicas bem diversificadas, e "Dead Memories" é do tipo que não é pancadaria do início ao fim: é possível compor músicas melódicas com guitarras afinadas vários tons abaixo.
"Vendetta" começa agressiva ao melhor estilo metal extremo, para depois dar lugar a um riff cadenciado tipo Slayer, com vantagem para o Slipknot por contar com um vocalista que sabe cantar. É mais uma música muito boa desse belo disco, com perfeito balanço entre agressividade e um certo groove. "Butcher´s Hook" é dominado por dissonâncias e talvez um andamento quebrado.
Seguindo a fórmula de alternar faixas rápidas com outras mais tranquilas, segue "Gehenna", que é bem lenta e com tendência fantasmagórica. Há espaço para o baixo aparecer nos versos. Até que vem o refrão perfeito, como é regra nesses discos mais recentes do Slipknot. Possivelmente o melhor solo do disco seja o dessa faixa: não tem fritação, e aparentemente não há muita distorção. O solo é bem construído e climático, casando com o estilo da música. Os riffs matadores e a bateria ultra rápida no bumbo duplo voltam em "This Cold Black". Mais melodia no refrão de "Wherein Lies Continue".
No disco anterior os caras mostraram que também sabiam compor unplugged, e no caso vieram com uma delicada balada, "Snuff", conduzida por acordes em violões e melodia nos vocais, como as bandas modernas de metal costumam fazer, com bastante ênfase nas partes mais dramáticas. Riff complicado e rápido, do tipo que tentei fazer uma época, com hamer-ons e slides bem dinâmicos na 6.ª corda, aparecem na faixa título. Nos versos, mais uma demonstração de metal extremo nas guitarras e na bateria.
As bandas novas de heavy metal estão mudando seu estilo, incorporando solos de guitarra e mais melodia nos vocais, facilitando minha tarefa de ouvi-las. Admito que Slipknot pode estar alienando seus fãs mais ardorosos do período inicial, mas acho que essa evolução é produtiva e inspiradora.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Resenha de CD - Megadeth “Endgame” (2009)
Os sites de notícias de heavy metal nos abasteceram regularmente com notícias atualizadas dos passos de Dave Mustaine em direção ao lançamento de um disco novo do Megadeth. A isso contribuiu significativamente a disponibilidade do cara para utilizar a internet como canal para suas inquietações. Então, há mais de um ano que acompanhamos todos os detalhes a respeito do que viria a ser “Endgame”, e desde logo se plantou a ideia de que seria um disco espetacular, que superaria todos os anteriores da discografia da banda, e que a nova formação era a melhor de todas as épocas do Megadeth, e que o novo guitarrista era muito superior ao Marty Friedman. Nas vésperas de lançamento do disco, as notícias eram diárias. E junto com isso, cresceu o interesse dos jornalistas pelas manifestações de Mustaine. Todas as opiniões infames, os comentários ácidos, e as brigas notórias são de conhecimento geral e são antigas: não há nada novo a respeito da saída de Mustaine do Metallica, sua mágoa com Lars Ulrich, o depoimento no vídeo “Some Kinda Monster”, suas desavenças com os guitarristas anteriores do Megadeth (Chris Poland e Jeff Young), a composição de “In My Darkest Hour” no luto da perda de Cliff Burton, dentre outras. Mas por alguma razão todas essas questões foram trazidas de volta e formaram parte do cenário de lançamento de “Endgame”. Parece um jogo: Mustaine não se treme e curte detonar todo mundo e depois fazer discursos pacíficos e glorificantes; os jornalistas, sabedores disso, aproveitam-se – e não há mal nisso se o entrevistado colabora - para colocar na roda todos esses assuntos e compilar declarações bombásticas; Mustaine curte essa repercussão. Sei de tudo isso e, francamente, não dou a mínima (não aumenta nem diminui meu interesse pelo Megadeth, que vem desde 1995), mas a repetição da ladainha é enfadonha. Seria bem melhor tratar apenas do lançamento de “Engdame”, o novo álbum do Megadeth, um disco muito bom que recolocou a banda em merecida evidência ao lado de outras bandas consagradas (Metallica, Slayer) e também das novatas. Mas isso talvez seria simplificar demais as coisas, e deve ser melhor em termos de marketing pessoal e vendas em geral reativar alguma polêmica adormecida.
O que particularmente me incomoda é a disposição de Mustaine, manifestada a partir da remasterização do catálogo do Megadeth, de minimizar a contribuição de Marty Friedman, David Ellefson e Nick Menza (integrantes da melhor, mais conhecida e mais talentosa formação da banda). Desde 1995, quando comecei a acompanhar a banda, olhando para os créditos das músicas, os encartes, vendo os shows e ouvindo as músicas, sempre ficou claro para mim que Dave Mustaine era o manda-chuva do Megadeth, que a banda existia por sua conta e ao seu redor, e que o Megadeth fazia o som que fazia e vendia os discos que vendia em grande parte por causa de Mustaine. Os demais músicos são excelentes e tudo mais, só que jamais pensei que houvesse contestação a predominância de Mustaine. Pois o cara resolveu dizer com todas as letras o que era óbvio nas entrevistas e nos encartes dos CDs remasterizados, com dispensáveis comentários irônicos, e sugerindo que a mudança de som a partir de “Youthanasia” (sobre esse disco essencial escrevi aqui) – ápice foi com “Risk” – devia ser imputada aos seus “comandados”, especialmente Friedman, sem prejuízo, é claro, de sua obstinação em fazer um disco “n.º 1” no Top 200. Acho isso gratuito (não leva a nada) e desnecessário (não tem razão de ser). Dave não precisava escancarar certas coisas e diminuir a importância de certas pessoas para enfatizar ainda mais o que todo mundo já sabe: Dave Mustaine é o cara.
Afinal, se há certo consenso de que Mustaine é um grande mala do heavy metal (tanto quanto Lars Ulrich), não há dúvidas, por outro lado, que se trata do melhor guitarrista de heavy metal à exceção de Tony Iommi (James Hetfield estaria no mesmo patamar, para não ser obrigado a dizer que um é melhor que o outro). “Como ele consegue tocar riffs tão complicados na guitarra e cantar ao mesmo tempo?”. Ele diz que pratica bastante em casa, e talvez a receita seja essa mesma. Alguns dos riffs do Megadeth, se não definitivos como muitos do Black Sabbath, são magníficos e únicos. “Que outra banda toca riffs como o Megadeth?”. Fato é que o Megadeth é uma das minhas bandas favoritas (só não comprei, ainda, o primeiro disco) e estava acreditando mesmo que “Endgame” seria um disco espetacular.
Mustaine defendeu nas várias entrevistas divulgadas nos sites especializados, dentre outras, as seguintes teses: (a) “Endgame” é melhor que “Death Magnetic” (clique aqui para ler sobre o disco do Metallica); (b) “Engame” é o melhor desde “Rust in Piece”, e possivelmente melhor que este; (c) Chris Brodderick é melhor que Marty Friedman; logo (d) é despiciendo cogitar da reunião da formação de “Rust in Piece” se a atual é muito melhor e é capaz de fazer discos melhores. Afora essa última, que nem me passou pela cabeça (embora não seja má ideia daqui a alguns anos, numa “Reunion Tour” – agora não é o momento, ainda), discordo integralmente, conforme segue:
(a) “Endgame” é um bom disco do Megadeth. Voltaram os riffs – alguns são muito bons – e alguns momentos são bem dinâmicos, como se espera do Megadeth. Mas Mustaine gerou uma expectativa tão grande que ficou difícil de atender. E só por “All Nightmare Long” e “Broken, Beat and Scarred”, “Death Magnetic” é melhor que “Endgame”.
(b) “Endgame” é um disco muito bom do Megadeth, mas não supera “Rust in Piece”, nem “Countdown to Extinction” (este é mais um disco essencial, sobre o qual escrevi aqui). Possivelmente seja melhor do que “Youthanasia” (apesar de não contar com músicas tão boas quanto “Train of Consequences” e “Reckoning Day”). Acredito que seja mais do estilo dos discos mais recentes, como “United Abominations”. Por mais que diga o contrário, Mustaine mudou seu método de composição, tanto quanto outras bandas o fizeram (tipo o Dream Theater) para agregar refrões cativantes para a galera nova cantar. Essas bandas com mais de 20 anos de estrada contam com fãs mais novos, que cresceram ouvindo bandas de nu metal. Então, se o Linkin Park faz refrões gritados e marcantes, o lance é incorporar isso. Mustaine não grita nos refrões como LaBrie (ver “The Count of Tuscany” do último disco do Dream Theater, cuja resenha segue aqui), mas se esforça para inserir refrões melódicos em todas as músicas. E aí lembro de músicas como “Holy Wars” que não têm refrão, e de outras como “Symphony of Destruction”, “Train of Consequences”, “Tornado of Souls”, “Skin O´My Teeth” que têm refrões muito legais, marcantes, e não óbvios. Além disso, entendo que faltam riffs contundentes de bom, como o de “Kick the Chair”, que considero o último riff espetacular de Mustaine.
(c) Chris Brodderick fez um excelente trabalho em “Endgame”. Aqui Mustaine não exagerou quando falou demoradamente sobre a técnica do guitarrista novato. O cara é fluente nas técnicas mais importantes de guitarra – alguns arpejos com sweep picking são realmente invejáveis e de tirar o fôlego. Mas é a tal da história de que não adianta uma técnica imaculada se falta “atitude”. Particularmente, acho os solos de Friedman mais memoráveis, como em “Hangar 18”, “Tornado of Souls”, “Symphony of Destruction” e “Train of Consequences”. Há uma identidade nos solos de Friedman, aliada à dificuldade técnica (o cara tem um jeito bem peculiar de segurar a palheta). Brodderick pode ter técnica mais refinada, entretanto não supera o “carisma” de Friedman.
O disco inicia com uma faixa instrumental, exatamente como “So Far, So Good, So What”. O motivo é bem simples (A-C-G-F), sobre o qual são executados uma série de solos de Mustaine e Brodderick. Se o primeiro é mais blueseiro pelas pentatônicas, o segundo já manda ver nos arpejos com sweep picking e na eficiente palhetada alternada. “Dialetic Chaos” serve apenas como uma introdução para coisas muito melhores que virão no decorrer da audição de “Endgame”. “This Day We Fight” é a primeira música, propriamente dita, e já começa com os versos. O riff sobre o qual Dave canta é do tipo complicado que só ele consegue compor, além de tocar e cantar simultaneamente. A estrutura da faixa é mais familiar da época de “So Far (...)” e “Peace Sells (...)”. Trata-se de uma música muito boa, com andamento bem acelerado, como convém no início de um disco de heavy metal. Há alguns solos muito bons de Brodderick.
A audição parece promissora, mas faixas como “44 Minutes” me fazem lembrar o clima dos discos mais recentes, como “United Abominations”. Os versos são bem batidos, com as guitarras tocando uns acordes acentuados e com pausas. O refrão é bem construído nos vocais; as guitarras, porém, contam com camadas excessivas (geralmente não funcionam tantas coisas distraindo a atenção ao mesmo tempo). No final sobre um riff simples de heavy metal, Chris Brodderick arrebenta com uma sequência de arpejos bem rápidos, impecavelmente executados. O cara começa a mostrar que manda bem na guitarra.
“1.320” começa ao estilo de músicas do “So Far (...)” e mesmo de “Rust in Piece” ("Poison Was the Cure"), com um riff utilizando a 5.ª corda solta, e hammer-nos e pull-offs rapidíssimos. Há diferentes bases para os versos, um longo chorus, mais solos e voltam os versos. Há espaço para solos ainda mais incandescentes, sobre uma base que varia sobre dois motivos similares, para marcar a mudança de guitarrista simplesmente. Aqui Mustaine poderia ter sofisticado um pouco mais, como “Hangar 18”. De qualquer maneira, achei muito legal a faixa terminar com um arpejo de Broderick.
“Bite the Hand” é o tipo de música que Mustaine faz com as mãos atadas nas costas, sobretudo pelo riff quase old school durante os versos (seria o riff de "Skin O´My Teeth" invertido). Nos solos é tão old school que lembra Iron Maiden - o riff da base tem as guitarras harmonizadas. "Bodies" é outra que não deve ter dado trabalho para Mustaine compô-la, dada a estrutura totalmente previsível; as coisas só melhoram quando a música dá uma acelerada no final.
A faixa-título é o melhor exemplo para demonstrar o quão é bom o timbre das guitarras nesse álbum, sobretudo nos momentos em que os guitarristas alternam palhetadas com e sem as cordas abafadas. A música tem várias partes boas, e o refrão é bem legal, com uma cavalgada discreta ao estilo Maiden.
Em "The Hardest Part of Letting Go: Sealed With a Kiss", há um dedilhado com acompanhamento orquestrado pomposo no início, sobre o qual Mustaine tenta cantar o mais melódico possível, alcançando até uns graves que ele provavelmente não consegue repetir ao vivo. O que vem em seguida, com as guitarras distorcidas, também não impressiona, e a música é uma das mais fracas do álbum.
Segue-se uma faixa bem rápida, "Headcrusher", que é o primeiro single. Achei bom o riff de abertura, mas entendo que ficou em segundo plano devido ao destaque de um tema despiciendo de guitarra. O riff dos versos é simples e eficiente, e o riff do refrão é simples e uma paulada na orelha: apenas as notas E e F# palhetadas rapidamente num padrão sincopado. A melhor parte de "How the Story Ends", que tem um riff com praticamente a mesma levada de "Kill the King" (do Megadeth, não do Rainbow), é o refrão: é apenas uma sequência de acordes, e o destaque é todo da melodia dos vocais. A base do solo é praticamente igual a alguma música do "Coundown to Extinction", e serve de palco para Brodderick exibir mais uma vez sua proficiência nos arpejos de várias cordas com sweep picking.
"The Right to Go Insane" é a única na qual o baixo se destaca de alguma forma, pois inicia a faixa. O riff dos versos é do tipo locomotiva que Mustaine sabe fazer muito bem com as cordas abafadas. No entanto, parece que o cara estava com preguiça de encaixar os vocais nos versos (o andamento lembra alguma coisa de "Cryptic Writings"), e ainda andou pelo caminho mais fácil na hora de compor o refrão.
O disco todo foi registrado na afinação padrão, e a esse respeito a melhor revista de guitarra do mundo, não por acaso chamada Guitar World, edição de dezembro/2009, conseguiu, dentre outras, um precioso depoimento de Dave Mustaine: "GW: A trademark of your guitar sound is the fact that you almost play in standard tuning. You don´t drop-tune, which is de rigueur for metal acts these days. MUSTAINE: I feel that the guitar needs to be tuned to A440 so you can get the correct response out of it. And I believe that if you play some of those low-tuned songs on a guitar in standard tuning, you´ll hear that a lot of them don´t have good melodies. It becomes almost atonal and percussive. (...)". A mim parece que Mustaine está totalmente correto; por outro lado, há casos em que é muito bom um riff "atonal and percussive", e talvez o ruim seja basear-se exclusivamente nisso (o bom é variar nos riffs).
Além disso, Mustaine revela que pretende registrar mais um disco de estúdio, e depois dedicar-se a outras coisas com música, especialmente se não puder headbang nos palcos, como conduzir clínicas de heavy metal. O jogo ainda não terminou, portanto.
O que particularmente me incomoda é a disposição de Mustaine, manifestada a partir da remasterização do catálogo do Megadeth, de minimizar a contribuição de Marty Friedman, David Ellefson e Nick Menza (integrantes da melhor, mais conhecida e mais talentosa formação da banda). Desde 1995, quando comecei a acompanhar a banda, olhando para os créditos das músicas, os encartes, vendo os shows e ouvindo as músicas, sempre ficou claro para mim que Dave Mustaine era o manda-chuva do Megadeth, que a banda existia por sua conta e ao seu redor, e que o Megadeth fazia o som que fazia e vendia os discos que vendia em grande parte por causa de Mustaine. Os demais músicos são excelentes e tudo mais, só que jamais pensei que houvesse contestação a predominância de Mustaine. Pois o cara resolveu dizer com todas as letras o que era óbvio nas entrevistas e nos encartes dos CDs remasterizados, com dispensáveis comentários irônicos, e sugerindo que a mudança de som a partir de “Youthanasia” (sobre esse disco essencial escrevi aqui) – ápice foi com “Risk” – devia ser imputada aos seus “comandados”, especialmente Friedman, sem prejuízo, é claro, de sua obstinação em fazer um disco “n.º 1” no Top 200. Acho isso gratuito (não leva a nada) e desnecessário (não tem razão de ser). Dave não precisava escancarar certas coisas e diminuir a importância de certas pessoas para enfatizar ainda mais o que todo mundo já sabe: Dave Mustaine é o cara.
Afinal, se há certo consenso de que Mustaine é um grande mala do heavy metal (tanto quanto Lars Ulrich), não há dúvidas, por outro lado, que se trata do melhor guitarrista de heavy metal à exceção de Tony Iommi (James Hetfield estaria no mesmo patamar, para não ser obrigado a dizer que um é melhor que o outro). “Como ele consegue tocar riffs tão complicados na guitarra e cantar ao mesmo tempo?”. Ele diz que pratica bastante em casa, e talvez a receita seja essa mesma. Alguns dos riffs do Megadeth, se não definitivos como muitos do Black Sabbath, são magníficos e únicos. “Que outra banda toca riffs como o Megadeth?”. Fato é que o Megadeth é uma das minhas bandas favoritas (só não comprei, ainda, o primeiro disco) e estava acreditando mesmo que “Endgame” seria um disco espetacular.
Mustaine defendeu nas várias entrevistas divulgadas nos sites especializados, dentre outras, as seguintes teses: (a) “Endgame” é melhor que “Death Magnetic” (clique aqui para ler sobre o disco do Metallica); (b) “Engame” é o melhor desde “Rust in Piece”, e possivelmente melhor que este; (c) Chris Brodderick é melhor que Marty Friedman; logo (d) é despiciendo cogitar da reunião da formação de “Rust in Piece” se a atual é muito melhor e é capaz de fazer discos melhores. Afora essa última, que nem me passou pela cabeça (embora não seja má ideia daqui a alguns anos, numa “Reunion Tour” – agora não é o momento, ainda), discordo integralmente, conforme segue:
(a) “Endgame” é um bom disco do Megadeth. Voltaram os riffs – alguns são muito bons – e alguns momentos são bem dinâmicos, como se espera do Megadeth. Mas Mustaine gerou uma expectativa tão grande que ficou difícil de atender. E só por “All Nightmare Long” e “Broken, Beat and Scarred”, “Death Magnetic” é melhor que “Endgame”.
(b) “Endgame” é um disco muito bom do Megadeth, mas não supera “Rust in Piece”, nem “Countdown to Extinction” (este é mais um disco essencial, sobre o qual escrevi aqui). Possivelmente seja melhor do que “Youthanasia” (apesar de não contar com músicas tão boas quanto “Train of Consequences” e “Reckoning Day”). Acredito que seja mais do estilo dos discos mais recentes, como “United Abominations”. Por mais que diga o contrário, Mustaine mudou seu método de composição, tanto quanto outras bandas o fizeram (tipo o Dream Theater) para agregar refrões cativantes para a galera nova cantar. Essas bandas com mais de 20 anos de estrada contam com fãs mais novos, que cresceram ouvindo bandas de nu metal. Então, se o Linkin Park faz refrões gritados e marcantes, o lance é incorporar isso. Mustaine não grita nos refrões como LaBrie (ver “The Count of Tuscany” do último disco do Dream Theater, cuja resenha segue aqui), mas se esforça para inserir refrões melódicos em todas as músicas. E aí lembro de músicas como “Holy Wars” que não têm refrão, e de outras como “Symphony of Destruction”, “Train of Consequences”, “Tornado of Souls”, “Skin O´My Teeth” que têm refrões muito legais, marcantes, e não óbvios. Além disso, entendo que faltam riffs contundentes de bom, como o de “Kick the Chair”, que considero o último riff espetacular de Mustaine.
(c) Chris Brodderick fez um excelente trabalho em “Endgame”. Aqui Mustaine não exagerou quando falou demoradamente sobre a técnica do guitarrista novato. O cara é fluente nas técnicas mais importantes de guitarra – alguns arpejos com sweep picking são realmente invejáveis e de tirar o fôlego. Mas é a tal da história de que não adianta uma técnica imaculada se falta “atitude”. Particularmente, acho os solos de Friedman mais memoráveis, como em “Hangar 18”, “Tornado of Souls”, “Symphony of Destruction” e “Train of Consequences”. Há uma identidade nos solos de Friedman, aliada à dificuldade técnica (o cara tem um jeito bem peculiar de segurar a palheta). Brodderick pode ter técnica mais refinada, entretanto não supera o “carisma” de Friedman.
O disco inicia com uma faixa instrumental, exatamente como “So Far, So Good, So What”. O motivo é bem simples (A-C-G-F), sobre o qual são executados uma série de solos de Mustaine e Brodderick. Se o primeiro é mais blueseiro pelas pentatônicas, o segundo já manda ver nos arpejos com sweep picking e na eficiente palhetada alternada. “Dialetic Chaos” serve apenas como uma introdução para coisas muito melhores que virão no decorrer da audição de “Endgame”. “This Day We Fight” é a primeira música, propriamente dita, e já começa com os versos. O riff sobre o qual Dave canta é do tipo complicado que só ele consegue compor, além de tocar e cantar simultaneamente. A estrutura da faixa é mais familiar da época de “So Far (...)” e “Peace Sells (...)”. Trata-se de uma música muito boa, com andamento bem acelerado, como convém no início de um disco de heavy metal. Há alguns solos muito bons de Brodderick.
A audição parece promissora, mas faixas como “44 Minutes” me fazem lembrar o clima dos discos mais recentes, como “United Abominations”. Os versos são bem batidos, com as guitarras tocando uns acordes acentuados e com pausas. O refrão é bem construído nos vocais; as guitarras, porém, contam com camadas excessivas (geralmente não funcionam tantas coisas distraindo a atenção ao mesmo tempo). No final sobre um riff simples de heavy metal, Chris Brodderick arrebenta com uma sequência de arpejos bem rápidos, impecavelmente executados. O cara começa a mostrar que manda bem na guitarra.
“1.320” começa ao estilo de músicas do “So Far (...)” e mesmo de “Rust in Piece” ("Poison Was the Cure"), com um riff utilizando a 5.ª corda solta, e hammer-nos e pull-offs rapidíssimos. Há diferentes bases para os versos, um longo chorus, mais solos e voltam os versos. Há espaço para solos ainda mais incandescentes, sobre uma base que varia sobre dois motivos similares, para marcar a mudança de guitarrista simplesmente. Aqui Mustaine poderia ter sofisticado um pouco mais, como “Hangar 18”. De qualquer maneira, achei muito legal a faixa terminar com um arpejo de Broderick.
“Bite the Hand” é o tipo de música que Mustaine faz com as mãos atadas nas costas, sobretudo pelo riff quase old school durante os versos (seria o riff de "Skin O´My Teeth" invertido). Nos solos é tão old school que lembra Iron Maiden - o riff da base tem as guitarras harmonizadas. "Bodies" é outra que não deve ter dado trabalho para Mustaine compô-la, dada a estrutura totalmente previsível; as coisas só melhoram quando a música dá uma acelerada no final.
A faixa-título é o melhor exemplo para demonstrar o quão é bom o timbre das guitarras nesse álbum, sobretudo nos momentos em que os guitarristas alternam palhetadas com e sem as cordas abafadas. A música tem várias partes boas, e o refrão é bem legal, com uma cavalgada discreta ao estilo Maiden.
Em "The Hardest Part of Letting Go: Sealed With a Kiss", há um dedilhado com acompanhamento orquestrado pomposo no início, sobre o qual Mustaine tenta cantar o mais melódico possível, alcançando até uns graves que ele provavelmente não consegue repetir ao vivo. O que vem em seguida, com as guitarras distorcidas, também não impressiona, e a música é uma das mais fracas do álbum.
Segue-se uma faixa bem rápida, "Headcrusher", que é o primeiro single. Achei bom o riff de abertura, mas entendo que ficou em segundo plano devido ao destaque de um tema despiciendo de guitarra. O riff dos versos é simples e eficiente, e o riff do refrão é simples e uma paulada na orelha: apenas as notas E e F# palhetadas rapidamente num padrão sincopado. A melhor parte de "How the Story Ends", que tem um riff com praticamente a mesma levada de "Kill the King" (do Megadeth, não do Rainbow), é o refrão: é apenas uma sequência de acordes, e o destaque é todo da melodia dos vocais. A base do solo é praticamente igual a alguma música do "Coundown to Extinction", e serve de palco para Brodderick exibir mais uma vez sua proficiência nos arpejos de várias cordas com sweep picking.
"The Right to Go Insane" é a única na qual o baixo se destaca de alguma forma, pois inicia a faixa. O riff dos versos é do tipo locomotiva que Mustaine sabe fazer muito bem com as cordas abafadas. No entanto, parece que o cara estava com preguiça de encaixar os vocais nos versos (o andamento lembra alguma coisa de "Cryptic Writings"), e ainda andou pelo caminho mais fácil na hora de compor o refrão.
O disco todo foi registrado na afinação padrão, e a esse respeito a melhor revista de guitarra do mundo, não por acaso chamada Guitar World, edição de dezembro/2009, conseguiu, dentre outras, um precioso depoimento de Dave Mustaine: "GW: A trademark of your guitar sound is the fact that you almost play in standard tuning. You don´t drop-tune, which is de rigueur for metal acts these days. MUSTAINE: I feel that the guitar needs to be tuned to A440 so you can get the correct response out of it. And I believe that if you play some of those low-tuned songs on a guitar in standard tuning, you´ll hear that a lot of them don´t have good melodies. It becomes almost atonal and percussive. (...)". A mim parece que Mustaine está totalmente correto; por outro lado, há casos em que é muito bom um riff "atonal and percussive", e talvez o ruim seja basear-se exclusivamente nisso (o bom é variar nos riffs).
Além disso, Mustaine revela que pretende registrar mais um disco de estúdio, e depois dedicar-se a outras coisas com música, especialmente se não puder headbang nos palcos, como conduzir clínicas de heavy metal. O jogo ainda não terminou, portanto.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Resenha de CD - Alice in Chains “Black Gives Way to Blue” (2009)
Por si só, já é um grande feito uma banda que sumiu do mapa por tanto tempo reaparecer com disco novo bem recebido por público e crítica, sinalizando duradoura retomada de atividades. Sabe-se que o Alice in Chains apareceu para o grande público na época do grunge. Na época repudiei todas as bandas do gênero, mas agora percebo – como tantos outros – que o Alice in Chains era, bem vistas as coisas, uma banda de metal de Seattle, capitaneada por um talentoso guitarrista e um carismático vocalista, acompanhados por competentes baixista e baterista. A banda se destacou nas vendas pois se mostrou capaz de compor riffs bons de heavy metal e, ainda, músicas acústicas bacanas. No início dos anos 2000, no entanto, longe dos holofotes, os caras sucumbiram aos excessos da fama, e durante um período de inatividade, noticiou-se a perda do vocalista Layne Staley. Desde então não se soube mais do Alice in Chains, de maneira que era intuitiva a dissolução da banda. Mais recentemente, os caras se reuniram para shows esporádicos e surgiu a oportunidade de voltar para a gravação de um disco de estúdio, com um vocalista/guitarrista (William DuVall, que se apresenta com uma Gibson Les Paul Black Beauty muito legal). Jerry Cantrell, o líder da banda, prometeu um disco bem pesado, e o resultado é “Black Gives Way to Blue”. De fato, o álbum é pesado. Além disso, as músicas são lentas, predominando um andamento cadenciado digamos assim. Comparando-se com discos como “Facelift”, que começa com “We Die Young”, talvez tenha faltado uma ou duas músicas mais agitadas. É inegável, entretanto, que há coesão nesse disco, e que se trata de um disco de heavy metal. E é o tanto quanto basta, por ora. “All Secrets Known” abre o disco e tem um peso solene desde o início. A introdução hipnótica na guitarra com um dedilhado cheio de distorção acompanha a faixa inteira, abrindo espaço para refrão e uma ponte mais adiante. Os vocais são assertivos e cantados no arrasto da música. Há solo de guitarra, o que sempre é bem vindo, considerando o cenário atual. Cantrell é econômico nos riffs, mas é do tipo de guitarrista que compõe riffs inteligentes e não óbvios, e isso é um grande talento. O riff de “Check My Brain” é desse jeito, com uns bends não usuais na 6.ª corda, o que exige bastante treino para não desafinar (a música é excelente, com refrão radiofônico e tudo mais), assim como "Acid Bubble", só que neste último caso o riff é mais insidioso, pois aparece apenas depois de decorridos 3min de música, 3min esses que passam bem devagar pois o andamento é do tipo "doom" ou arrastado. "Last of My Kind" começa com um riff bem tradicional e fácil; no refrão as coisas ficam mais agressivas para melhor com um riff simples de heavy metal (a 6.ª corda solta com uns power chords bem acentuados). A base do solo tem um riff bom. "Your Decision" é a primeira das comoventes músicas conduzidas por violões do disco (e guitarras com som limpo - alguma distorção discreta no decorrer da faixa), e se destaca pela melodia dos vocais. Do mesmo tipo, mas com um tocante solo de guitarra é "When the Sun Rose Again". A que mais me lembra o som antigo do Alice in Chains é "Lookin in View", pela execução do riff principal apenas pelo baixo e o bumbo da bateria durante os versos, ficando a guitarra responsável pelos barulhos estranhos. O refrão é muito bom, com um riff excelente na parte "ainhãaaa" que vai ficando bem contudente nas repetições ("That´s why you never tell me"). "Lesson Learned" tem um riff bem simples, mas é legal o jeito que ele acompanha os versos. "Take Her Out" é do tipo cuidadosamente construída, com as partes levando uma a outra logicamente, e um refrão bem melódico e de fácil assimilação. O álbum finaliza com duas baladas, "Private Hell" (mais uma vez os vocais se sobressaem) e a faixa-título; nesta última, Elton John faz discreta participação especial no piano. Não lembro se da Saraiva ou da Cultura, comprei da que fazia o menor preço, e tenho ouvido com interesse.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
CDs do Kiss - Parte III "Love Gun " (1977)
Em 1977 o Kiss experimentava o auge da fama de maior banda de rock, iniciado com “Alive!” e consolidado com “Destroyer”, passando por um disco sólido “Rock and Roll Over”. O Kiss Army já era ativo, bem como as centenas de itens comercializados envolvendo a banda (lancheiras, borrachas com o formato das máscaras, jogos diversos, maquiagem, etc.). Para coroar esse momento, a banda lançou um disco excelente, com composições boas e consistentes do início ao fim. A turnê subsequente foi muito bem sucedida, e resultou no segundo volume da série “Alive”. Por outro lado, o disco pode ser considerado como o início do fim, pois a partir daí as desavenças internas não mais seriam pacificamente resolvidas até que, eventualmente, parte dos integrantes da formação original deixassem a banda.
Depois de ouvir “Animalize”, “Alive III”, e o bootleg “Dr. Love´s House 2” (disponível numa locadora perto do Colégio Sévigné, onde atualmente se localiza a Boca do Disco, na Mal. Floriano), adquiri numa Multisom do Iguatemi (a mais perto de onde ficava a extinta Banana Records) um CD importado do Kiss por uns 30 pila: os disponíveis eram “Dynasty” (melhor capa), “Hot in the Shade” (só conhecia “Forever”) e “Love Gun”, e escolhi este último exclusivamente pelos comentários favoráveis das revistas dedicadas ao Kiss que comprei na época (agosto/setembro de 1993) pois desconhecia todas as faixas (como curiosidade, o CD que adquiri veio com um encarte sobressalente).
Desde logo curti bastante a faixa de abertura, “I Stole Your Love”, pois gosto de músicas com bons riffs de guitarra. O próprio Paul Stanley admitiu que seria uma homenagem talvez inconsciente a “Burn” do Deep Purple. É a melhor do disco e ainda fica muito bem nos repertórios ao vivo atualmente. É das minhas favoritas até hoje.
É curioso como “Love Gun” é um dos poucos discos nos quais Gene Simmons compôs mais faixas do que Paul Stanley. O baixista mandou “Christine Sixteen” (clássica muito boa), “Got Love For Sale” (excelente, bem obscura na discografia da banda – acho muito bom o riff com a nota pedal em A), “Almost Human” (é outra obscura, mas algumas bandas já fizeram cover – tem um clima meio viajante pelos flangers e phasers, e me lembra um pouco Hendrix) e “Plaster Caster” (muito boa, sobre uma groupie, e até hoje me surpreendo positivamente pelo fato da banda ter tocado essa em versão acústica no disco “MTV Unplugged” – talvez tenha sido a última vez que eles me surpreenderam musicalmente). Simmons divulgou oportunamente que utilizou a dupla Eddie e Alex Van Halen para as demos de “Got Love For Sale” e “Christine Sixteen” (diz-se que Ace Frehley reproduziu fielmente o solo de guitarra de Eddie Van Halen nesta última).
Stanley, por sua vez, compôs a música que até hoje o cara admite como sendo uma de suas favoritas do repertório da banda: “Love Gun”, a faixa-título. Particularmente, não é a melhor da banda, nem de Paul, mas entendo o porquê do cara se orgulhar de tê-la composto integralmente (inclusive a levada da bateria, com exceção do solo de guitarra). De fato, é um clássico da banda que – acredito - integrou o set list de todas as turnês desde então. Alguém já apontou que “Tomorrow and Tonight” foi uma tentativa para criar um hino como “Rock and Roll All Night”, e de fato a música tem um bom refrão, mas é um rock genérico. A última faixa é um cover cantado por Stanley: “And Then She Kissed Me”. Já li resenhas desfavoráveis dessa faixa; particularmente, acho bem legal e oportuna.
“Love Gun”, o disco, se notabiliza por contar com a primeira contribuição vocal de Ace Frehley num disco do Kiss. O guitarrista já havia composto algumas músicas, mas por falta de convicção acabava deixando outro cantar em seu lugar (“Parasite” é o caso mais notório). Por alguma razão isso mudou em 1977, e Ace resolveu cantar “Shock Me”, e acredito que essa é a composição que melhor define o guitarrista, pois além do vocal competente, o cara mandou um solo de guitarra magnífico. Ace costuma dizer que seu estilo é uma mistura de Page, Clapton, Hendrix, Townsend e Richards, e todas essas influências aparecem no solo de “Shock Me”. Todos os licks são bem executados e encaixam perfeitamente na música. Não por acaso se diz que Ace Frehley é um dos maiores exemplos de guitarrista que consegue compor solos que são tão identificáveis quanto os refrões das músicas (já li uma coluna do Marty Friedman para a Guitar World em 1994 sobre isso – o ex-guitarrista do Megadeth comentou que se ouvíssemos só o solo de Ace já identificaríamos a música respectiva, o que é inteiramente verdade).
Desde o primeiro álbum que Peter Criss canta pelo menos uma faixa, e no caso de “Love Gun” o baterista contribuiu com “Hooligan”, um rock bem ao seu estilo de então.
Um disco de rock com composições clássicas (a faixa-título, “I Stole Your Love”, “Christine Sixteen”) ou muito boas (todas as demais) fazem de “Love Gun” um dos melhores da fase mascarada do Kiss, e o último gravado pelo quarteto da formação original. A banda embarcou numa turnê bem-sucedida, lançou mais um disco ao vivo (“Alive II”, com algumas músicas novas de estúdio) e, mais importante, cedeu aos vícios de poder e fama: cada um reivindicava para si o sucesso da banda, o que acarretou o lançamento simultâneo de quatro discos solo. Peter Criss não mais participou das gravações de bateria, e todos esses fatos culminaram com a saída do baterista em 1980 e de Ace Frehley em 1982.
Depois de ouvir “Animalize”, “Alive III”, e o bootleg “Dr. Love´s House 2” (disponível numa locadora perto do Colégio Sévigné, onde atualmente se localiza a Boca do Disco, na Mal. Floriano), adquiri numa Multisom do Iguatemi (a mais perto de onde ficava a extinta Banana Records) um CD importado do Kiss por uns 30 pila: os disponíveis eram “Dynasty” (melhor capa), “Hot in the Shade” (só conhecia “Forever”) e “Love Gun”, e escolhi este último exclusivamente pelos comentários favoráveis das revistas dedicadas ao Kiss que comprei na época (agosto/setembro de 1993) pois desconhecia todas as faixas (como curiosidade, o CD que adquiri veio com um encarte sobressalente).
Desde logo curti bastante a faixa de abertura, “I Stole Your Love”, pois gosto de músicas com bons riffs de guitarra. O próprio Paul Stanley admitiu que seria uma homenagem talvez inconsciente a “Burn” do Deep Purple. É a melhor do disco e ainda fica muito bem nos repertórios ao vivo atualmente. É das minhas favoritas até hoje.
É curioso como “Love Gun” é um dos poucos discos nos quais Gene Simmons compôs mais faixas do que Paul Stanley. O baixista mandou “Christine Sixteen” (clássica muito boa), “Got Love For Sale” (excelente, bem obscura na discografia da banda – acho muito bom o riff com a nota pedal em A), “Almost Human” (é outra obscura, mas algumas bandas já fizeram cover – tem um clima meio viajante pelos flangers e phasers, e me lembra um pouco Hendrix) e “Plaster Caster” (muito boa, sobre uma groupie, e até hoje me surpreendo positivamente pelo fato da banda ter tocado essa em versão acústica no disco “MTV Unplugged” – talvez tenha sido a última vez que eles me surpreenderam musicalmente). Simmons divulgou oportunamente que utilizou a dupla Eddie e Alex Van Halen para as demos de “Got Love For Sale” e “Christine Sixteen” (diz-se que Ace Frehley reproduziu fielmente o solo de guitarra de Eddie Van Halen nesta última).
Stanley, por sua vez, compôs a música que até hoje o cara admite como sendo uma de suas favoritas do repertório da banda: “Love Gun”, a faixa-título. Particularmente, não é a melhor da banda, nem de Paul, mas entendo o porquê do cara se orgulhar de tê-la composto integralmente (inclusive a levada da bateria, com exceção do solo de guitarra). De fato, é um clássico da banda que – acredito - integrou o set list de todas as turnês desde então. Alguém já apontou que “Tomorrow and Tonight” foi uma tentativa para criar um hino como “Rock and Roll All Night”, e de fato a música tem um bom refrão, mas é um rock genérico. A última faixa é um cover cantado por Stanley: “And Then She Kissed Me”. Já li resenhas desfavoráveis dessa faixa; particularmente, acho bem legal e oportuna.
“Love Gun”, o disco, se notabiliza por contar com a primeira contribuição vocal de Ace Frehley num disco do Kiss. O guitarrista já havia composto algumas músicas, mas por falta de convicção acabava deixando outro cantar em seu lugar (“Parasite” é o caso mais notório). Por alguma razão isso mudou em 1977, e Ace resolveu cantar “Shock Me”, e acredito que essa é a composição que melhor define o guitarrista, pois além do vocal competente, o cara mandou um solo de guitarra magnífico. Ace costuma dizer que seu estilo é uma mistura de Page, Clapton, Hendrix, Townsend e Richards, e todas essas influências aparecem no solo de “Shock Me”. Todos os licks são bem executados e encaixam perfeitamente na música. Não por acaso se diz que Ace Frehley é um dos maiores exemplos de guitarrista que consegue compor solos que são tão identificáveis quanto os refrões das músicas (já li uma coluna do Marty Friedman para a Guitar World em 1994 sobre isso – o ex-guitarrista do Megadeth comentou que se ouvíssemos só o solo de Ace já identificaríamos a música respectiva, o que é inteiramente verdade).
Desde o primeiro álbum que Peter Criss canta pelo menos uma faixa, e no caso de “Love Gun” o baterista contribuiu com “Hooligan”, um rock bem ao seu estilo de então.
Um disco de rock com composições clássicas (a faixa-título, “I Stole Your Love”, “Christine Sixteen”) ou muito boas (todas as demais) fazem de “Love Gun” um dos melhores da fase mascarada do Kiss, e o último gravado pelo quarteto da formação original. A banda embarcou numa turnê bem-sucedida, lançou mais um disco ao vivo (“Alive II”, com algumas músicas novas de estúdio) e, mais importante, cedeu aos vícios de poder e fama: cada um reivindicava para si o sucesso da banda, o que acarretou o lançamento simultâneo de quatro discos solo. Peter Criss não mais participou das gravações de bateria, e todos esses fatos culminaram com a saída do baterista em 1980 e de Ace Frehley em 1982.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
CDs do Kiss - Parte II "Alive III" (1993)
O set list para a turnê de “Hot in the Shade”, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, contou com o retorno de várias músicas antigas do Kiss, especialmente da época do primeiro “Alive” de 1975. Conforme Paul Stanley, isso teria reativado o sentimento de que o Kiss era uma grande banda, e que o material dos anos 1970 era superior ao praticado em meados dos anos 1980, e assim os shows com o novo repertório estavam melhores. A par disso, a banda emplacou o hit “Forever”, tinha bons singles (“Rise to It” e “Hide Your Heart”) e começava a se desvencilhar dos excessos dos álbuns anteriores (as composições de “Hot in the Shade” pareciam mais coesas e até o visual dos caras já não estava tão poser quanto em 1987). Tudo indicava uma excelente nova fase para a banda. Antes, porém, de entrar para o estúdio e gravar novo disco, houve a perda de Eric Carr em novembro de 1991. Alguns meses depois, com Eric Singer na bateria, o Kiss lançou o aclamado “Revenge”, o disco mais pesado desde “Lick it Up”, e partiu para uma turnê bem sucedida. Dessa turnê, com maior ênfase – ainda - no repertório antigo (poucas músicas dos anos 1980 foram executadas), saiu o terceiro disco da série “Alive”.
Na época em que ouvi “Animalize” estava curtindo muito mais o AC/DC. De toda maneira, depois de ouvir “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”, virava a fita C-90 e tocava “play” no “Animalize”. Nas lojas de CD, em 1993, comecei a ver disponíveis o “Alive III” e o “Revenge”. Quando achei na locadora perto do Sévigné, onde agora se localiza a Boca do Disco, o “Alive III” imediatamente trouxe para casa. Do repertório do CD só conhecia “Heavens on Fire”, e da formação só me eram familiares a dupla Paul Stanley e Gene Simmons. Depois do almoço, cheguei em casa e ouvi o CD na íntegra, e imediatamente virei fã da banda. E até hoje considero o “Alive III” o meu álbum favorito de todos os tempos.
Geralmente se diz que o “Alive III” não é um bom disco do Kiss, e que fica longe de ser digno da série “Alive”, pois os dois primeiros volumes da série, sim, seriam verdadeiros clássicos. Uma das principais razões para essa reserva seria o fato de que, bem vistas as coisas, não se trata de um disco ao vivo. Sabe-se bem que a maior parte dos vocais foram gravados em estúdio, bem como muitas das guitarras e baixo foram ou gravadas em estúdio ou em passagens de som (não estou certo em relação à bateria). Esse argumento não subsiste quando se lembra que nem o “Alive!”, nem o “Alive II” eram genuinamente discos ao vivo (gravados em passagens de som com retoques em estúdio). Jamais li críticas em relação ao repertório: há os clássicos e as mais recentes, moderadamente dispostas nas 17 faixas do CD simples. Então me parece que é simplesmente o caso dos críticos, por alguma razão, “não terem ido com a cara” do “Alive III” (talvez pela formação não-clássica, pela ausência de Eric Carr, enfim).
Mesmo que se admita o fato de o “Alive III” não ser, propriamente, um disco ao vivo como se diz, isso não desmerece que o disco tem um baita som. As guitarras são vivas e com um timbre muito legal, com todas as músicas sendo executadas espetacularmente. Veja-se que as músicas velhas ganharam nova roupagem e dinâmica – em alguns casos superando as versões anteriores, e na maioria dos casos superando as versões de estúdio. Além disso, o disco contém os melhores registros de Gene Simmons e Paul Stanley no auge da forma. Convém destacar, desde logo, a performance do baterista Eric Singer: a execução é sem reparos, o cara é bastante criativo tanto na elaboração de material próprio (do disco “Revenge”) como na interpretação de material antigo. Gosto de reparar que não importa em que parte da música esteja, há sempre o pedal do hi-hat marcando o tempo como um metrônomo. Bruce Kulick, por seu lado, comprova a evolução experimentada desde “Revenge” e mostra que o cara se deu muito bem quando a banda resolveu adotar um som mais pesado: o timbre de Kulick está muito melhor que o da época anterior (há centenas de bootlegs de todas as épocas para comparar), e o guitarrista se livrou de muitas firulas que comprometiam algumas músicas dos discos de meados dos anos 1980, adotando alguns licks de Ace Frehley no material antigo (revisitando com categoria alguns solos, embora ao seu estilo) e incorporando pentatônicas e efeitos wah-wah nos solos.
O disco abre com “fade in” de um teclado climático que se resolve na abertura de “Creatures of the Night”. Sempre me intrigou o fato do tecladista Derek Sherinian (ex-Alice Cooper e posteriormente ex-Dream Theater) ser creditado nesse álbum, pois francamente além dessa introdução curta e, talvez, da última faixa “Star Spangled Banner”, não consigo ouvir os teclados em nenhuma faixa. Recentemente o cara esclareceu que durante a turnê ele ficava nos bastidores, tocando as músicas num teclado com timbre de guitarra, para preencher os vazios deixados pela guitarra base de Paul Stanley, enquanto este fazia suas conhecidas poses e malabarismos no palco (não necessariamente tocando guitarra ao mesmo tempo).
A minha música favorita do Kiss de todos os tempos é “Creatures of the Night”, assim como o melhor solo da banda é o dessa versão ao vivo (o da versão de estúdio, composta por Steve Ferris, também é espetacular). Os vocais de Paul Stanley são assertivos, os backing vocals bem afinados, o timbre das guitarras é, como em todo o álbum, vivo e dinâmico, e o solo de Bruce Kulick é perfeito. O guitarrista segue boa parte do solo original de Steve Ferris, interpretando-os a sua maneira, e não perdeu a oportunidade de agregar seus licks – assim, o solo é alguns compassos maior do que na versão do álbum “Creatures of the Night”. Curto até aquela ESP com formato Stratocaster que ele utiliza nessa faixa (foto no encarte do CD). Talvez eu seja o único cara que resolveu aprender a tocar violão/guitarra depois de ouvir o Bruce Kulick, e cheguei a essa conclusão só recentemente (mas é verdade: no verão de 1995 estava curtindo bastante o “Alive III” e num sábado resolvi pedir o violão). Não há o que não gostar em “Creatures of the Night”, e é uma das músicas que acho que jamais deveriam sair do set list.
O final de “Creatures (...)” já emenda com o início de “Deuce”, uma das composições mais antigas da banda, e que serve para mostrar o quanto Gene Simmons está mandando nos vocais (mais uma vez, e pela última vez, para mim é indiferente se esses vocais de Gene são de estúdio ou, de fato, ao vivo). Particularmente entendo que Eric Singer criou a levada de bateria perfeita e definitiva para essa faixa, e acho uma pena que o cara tenha se distanciado dela nos anos mais recentes. Aqui o solo de Kulick é competente mas genérico, embora muito melhor do que ele costumava tocar nas turnês anteriores. Fico com a “rhythm guitar” de Kulick e a “lead guitar” de Ace Frehley.
A banda estava promovendo o excelente “Revenge”, então mandou duas em seqüência, ambas com execução muito superior às truncadas versões originais: “I Just Wanna”, de Paul, com várias partes boas perfeitamente posicionadas (incluindo uma “a capella” com três vozes) e um refrão brilhante, talhado para a participação da plateia (“I just wanna f.../I Just wanna f.../I Just wanna ‘forget’-‘f*ck’ you”); “Unholy” é uma clássica de Gene do período mais recente, tendo sido composta numa parceria inusitada e (para mim até hoje) não muito esclarecida entre o baixista e o lendário Vinnie Vincent. Aqui o destaque é para Kulick, que reproduziu fielmente todos os seus solos da versão de estúdio (sem contar a introdução muito legal com o tema de “Tubarão”).
O bom do “Alive III” é ouvir com essa formação (Stanley, Simmons, Kulick, Singer – a minha favorita) e com esse som as músicas que não foram incluídas em nenhum dos anteriores “Alive”, i.é, as músicas posteriores a 1977. “Heavens on Fire” é um dos grandes hinos de Paul dos anos 1980, e a versão aqui é muito boa. O andamento da faixa é melhor do imprimido na época de Eric Carr (o lendário baterista costumava acelerar bastante todas as músicas do set list), mas ainda fico com a levada de Carr durante o refrão (ele era muito bom em criar esses riffs de bateria, se me é dado chamar assim).
O set list dessa turnê era enorme, contando com aproximadamente 24 músicas. Os anteriores “Alive!” e “Alive II” foram lançados em LPs duplos, e obedeceram a mesma fórmula quando passaram para CD – embora um CD de 78 minutos comportasse todo o material desses discos duplos, e todo mundo economizaria uma grana. Em 1993 a situação era diferente, pois 24 músicas caberiam em dois CDs de mais de 60min, e ninguém sairia lesado. Lamento até hoje a decisão dos caras de lançarem um disco simples com apenas parte desse material da “Revenge Tour”, deixando de fora algumas músicas que também tiveram execuções definitivas e perfeitas nessa época, mais precisamente, refiro-me a “War Machine”, “Tears Are Falling” e “Love Gun”: as duas primeiras são clássicos posteriores ao “Alive II” – e assim, não encontraram registro ao vivo oficial – e a última era executada com perfeição pela formação da época (é só ver no “Kiss My Ass” e no volume 3 do Kissology – tenho para mim que a versão de “Love Gun” dessa época é a melhor). Pois além destas terem lamentavelmente ficado de fora do CD simples, para mim resta inexplicável o critério de seleção de algumas das antigas. Seja como for, o fato é que “Hotter Than Hell”, “Firehouse, “I Want You”, dentre outras, sobraram, e para o “Alive III” coube “Watchin´ You”. A execução é primorosa, o solo de Kulick não é nota-por-nota de Frehley, e durante muito tempo curti bastante essa faixa... mas acho que o seu prazo de validade já expirou. Ficaria melhor alguma das já citadas.
Gene continua cantando na próxima, “Domino”, outra do “Revenge”. Trata-se de mais uma que ficou melhor que a versão original, e se beneficiou com as performances de Kulick e Singer. Ajuda o fato da composição ser boa, várias partes legais de guitarra.
Durante muitos anos o Kiss deixou de tocar “I Was Made For Lovin´ You”, e recuperou esse hit de 1979 na famigerada turnê japonesa do álbum “Crazy Nights” (conferir os bootlegs “Dr. Love´s House 1 & 2” e “Live in Japan ‘88”). A banda acertou em cheio na adição deste clássico de Stanley no repertório do “Alive III”, vez que é a última grande música da formação original e que jamais havia contado com uma versão ao vivo oficial. Assim como em “Deuce”, “I Just Wanna” e – mais adiante – “Take It Off” – gosto de prestar atenção na interação entre as duas guitarras, pois há partes diferentes para cada uma (como na época de Ace Frehley, cada guitarrista ocupa um lado do headhpone).
“I Still Love You” tem um clima solene e comovente, dada a interpretação da banda e, sobretudo, de Paul nos vocais e de Kulick nos solos de guitarra (o cara interpretou muito bem os solos da versão de estúdio de Robben Ford). Singer desempenha bem as levadas de bateria de Eric Carr, inclusive os rolos durante o refrão.
Geralmente “Rock and Roll All Nite” serve para encerrar as apresentações, mas na turnê do “Alive III” as coisas se deram diferentemente, pois o maior hino da banda ficava posicionado na intermediária do set list. Prefiro sem dúvidas essa versão do “Alive III” às versões original e do “Alive!”, com melhores vocais, guitarras e bateria (o baixo é igual). Kulick dá uma personalizada no solo, mas o faz de maneira a deixá-la ainda com cara de rock´n´roll como era costume de Ace Frehley. Parece-me que nessa época – de “Revenge” até “Carnival of Souls” – Bruce Kulick só tocava coisa boa.
“Rock and Roll All Nite” é curta e os caras fizeram bem de emendá-la com “Don´t want to wait ‘till you know me better” que inicia “Lick It Up”, outro clássico dos anos 1980 (o primeiro da fase sem máscaras). Sobre esta música, posso dizer que prefiro a versão da época de Eric Carr registrada ao vivo em Budokan, em 1988 (consta apenas um vídeo lançado em VHS no exterior e um trecho do show num disco bônus do volume 2 do “Kissology”; em áudio há bootlegs, dos quais já ouvi “Dr. Love´s House 1 & 2” – alugado na mesma locadora que peguei o “Alive III” e na mesma época – e o “Live in Japan” que adquiri há uns 10 anos na Multisom que ficava no Praia de Belas perto do Nacional por 10 pila – lamentavelmente não há a íntegra do show, faltando o magnífico solo de bateria de Eric Carr e “War Machine”). Em 1988, Paul Stanley estava com a voz no ápice (o cara podia cantar qualquer coisa em qualquer registro em qualquer show), e nos shows no Japão os caras estavam mandando muito bem. A versão do “Alive III”, porém, não deixa de ser competente, e fica bem num andamento não tão acelerado como o que Eric Carr costumava empregar.
Considero “Forever” a melhor balada do Kiss, e a versão de “Alive III” é a definitiva (embora a de estúdio valha por conter os rolos de bateria de Eric Carr no refrão). A essas alturas já é possível eleger Kulick como o MVP do disco, tendo em vista mais um solo – dessa vez no violão - executado com perfeição.
Ainda há espaço no set list para música nova: Paul Stanley faz o chamamento para “Take It Off”, que tem afinação das guitarras um tom abaixo, mas nem se percebe o peso extra – afinal, é rock´n´roll (hard rock) e não heavy metal. No vídeo “Konfidential”, com registros dos shows sob a trilha sonora do “Alive III”, a parte na qual é executada “Take It Off” é um dos pontos altos pela presença das divertidas dançarinas que acompanharam aquela parte da turnê (no Brasil, em 1994, os caras repetiram a experiência, com resultado irregular, digamos assim).
A partir daí, só hinos: “I Love It Loud” é uma das melhores composições de Gene Simmons, e a execução, inclusive da bateria – tenho de admitir – é muito melhor que a versão original. O refrão é matador, as vozes estão perfeitas, e há até um pequeno lick de baixo entre as partes “(...) Right between the eyes” e “Loud, I wanna hear it loud (...)”. Gosto mais desta do que de “Rock and Roll All Night”. E Eric Singer faz um belo trabalho na conhecida levada de bateria de Carr (pequena alteração nos primeiros compassos).
Nunca ouvi uma versão tão pesada e forte para “Detroit Rock City” como em “Alive III”. Os vocais de Paul são assertivos e até as pausas entre os versos são climáticas. A levada de Eric Singer carrega a música melhor do que os bateristas que lhe precederam. Do jeito que ficou no “Alive III”, é melhor ouvi-la no final do show do que na abertura, como ocorreu em várias turnês de várias épocas.
“God Gave Rock´n´Roll To You II” segue o tom de despedida, com a mensagem do título. Essa versão ficou muito melhor que a original de “Revenge”. A introdução foi cortada, e a música entra direto no tema de guitarra com a melodia do refrão. E os trabalhos encerram com uma rendição de “Star Spangled Banner”. Diferentemente do que se poderia supor, os caras não caíram no crime de imitar Jimi Hendrix; pelo contrário, fizeram um arranjo próprio, valorizando a bonita melodia do hino norte-americano.
“Alive III” é meu disco favorito de todos os tempos, pois é perfeito em todos os aspectos: interpretações, som, repertório. Lamentavelmente, os caras perderam a oportunidade de lançar um disco duplo com todo o set list da época, para imortalizar a formação. Tenho grande interesse por todo o material produzido no período, e pelo que já ouvi as performances diferiam pouco do que acabou registrado no CD (o “Konfidential” é bom, mas a trilha é a do “Alive III”, sendo um dos DVDs do volume 3 do “Kissology” o melhor parâmetro, pois contém a íntegra de um dos shows que teria cedido material para o “Alive III”). Depois de “Alive III”, a formação Stanley, Simmons, Kulick e Singer não teve muito tempo para aproveitar a fase produtiva: saíram um disco de estúdio rejeitado pela própria banda após a confirmação do retorno da formação original com as máscaras (o superpesado “Carnival of Souls”), bem como um acústico ao vivo que serviu como prévia da reunião vindoura (o excelente “MTV Unplugged”). Eric Singer ainda voltou substituindo Peter Criss nas suas ausências e após sua demissão, ao passo que Bruce Kulick não foi mais chamado (para o seu lugar, e para vestir a máscara de Ace Frehley, assumiu Tommy Thaier). Em todo o caso, essa formação veio ao Brasil em 1994, conforme documentado pela MTV na época (era o Monsters of Rock em São Paulo, e estava assistindo em casa, na esperança de que fosse transmitido o show – tocaram apenas a primeira música, “Creatures of the Night”; algumas músicas apareceram posteriormente num melhores momentos, e recentemente o show foi disponibilizado quase na íntegra num dos bônus do volume 3 do “Kissology”).
Na época em que ouvi “Animalize” estava curtindo muito mais o AC/DC. De toda maneira, depois de ouvir “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”, virava a fita C-90 e tocava “play” no “Animalize”. Nas lojas de CD, em 1993, comecei a ver disponíveis o “Alive III” e o “Revenge”. Quando achei na locadora perto do Sévigné, onde agora se localiza a Boca do Disco, o “Alive III” imediatamente trouxe para casa. Do repertório do CD só conhecia “Heavens on Fire”, e da formação só me eram familiares a dupla Paul Stanley e Gene Simmons. Depois do almoço, cheguei em casa e ouvi o CD na íntegra, e imediatamente virei fã da banda. E até hoje considero o “Alive III” o meu álbum favorito de todos os tempos.
Geralmente se diz que o “Alive III” não é um bom disco do Kiss, e que fica longe de ser digno da série “Alive”, pois os dois primeiros volumes da série, sim, seriam verdadeiros clássicos. Uma das principais razões para essa reserva seria o fato de que, bem vistas as coisas, não se trata de um disco ao vivo. Sabe-se bem que a maior parte dos vocais foram gravados em estúdio, bem como muitas das guitarras e baixo foram ou gravadas em estúdio ou em passagens de som (não estou certo em relação à bateria). Esse argumento não subsiste quando se lembra que nem o “Alive!”, nem o “Alive II” eram genuinamente discos ao vivo (gravados em passagens de som com retoques em estúdio). Jamais li críticas em relação ao repertório: há os clássicos e as mais recentes, moderadamente dispostas nas 17 faixas do CD simples. Então me parece que é simplesmente o caso dos críticos, por alguma razão, “não terem ido com a cara” do “Alive III” (talvez pela formação não-clássica, pela ausência de Eric Carr, enfim).
Mesmo que se admita o fato de o “Alive III” não ser, propriamente, um disco ao vivo como se diz, isso não desmerece que o disco tem um baita som. As guitarras são vivas e com um timbre muito legal, com todas as músicas sendo executadas espetacularmente. Veja-se que as músicas velhas ganharam nova roupagem e dinâmica – em alguns casos superando as versões anteriores, e na maioria dos casos superando as versões de estúdio. Além disso, o disco contém os melhores registros de Gene Simmons e Paul Stanley no auge da forma. Convém destacar, desde logo, a performance do baterista Eric Singer: a execução é sem reparos, o cara é bastante criativo tanto na elaboração de material próprio (do disco “Revenge”) como na interpretação de material antigo. Gosto de reparar que não importa em que parte da música esteja, há sempre o pedal do hi-hat marcando o tempo como um metrônomo. Bruce Kulick, por seu lado, comprova a evolução experimentada desde “Revenge” e mostra que o cara se deu muito bem quando a banda resolveu adotar um som mais pesado: o timbre de Kulick está muito melhor que o da época anterior (há centenas de bootlegs de todas as épocas para comparar), e o guitarrista se livrou de muitas firulas que comprometiam algumas músicas dos discos de meados dos anos 1980, adotando alguns licks de Ace Frehley no material antigo (revisitando com categoria alguns solos, embora ao seu estilo) e incorporando pentatônicas e efeitos wah-wah nos solos.
O disco abre com “fade in” de um teclado climático que se resolve na abertura de “Creatures of the Night”. Sempre me intrigou o fato do tecladista Derek Sherinian (ex-Alice Cooper e posteriormente ex-Dream Theater) ser creditado nesse álbum, pois francamente além dessa introdução curta e, talvez, da última faixa “Star Spangled Banner”, não consigo ouvir os teclados em nenhuma faixa. Recentemente o cara esclareceu que durante a turnê ele ficava nos bastidores, tocando as músicas num teclado com timbre de guitarra, para preencher os vazios deixados pela guitarra base de Paul Stanley, enquanto este fazia suas conhecidas poses e malabarismos no palco (não necessariamente tocando guitarra ao mesmo tempo).
A minha música favorita do Kiss de todos os tempos é “Creatures of the Night”, assim como o melhor solo da banda é o dessa versão ao vivo (o da versão de estúdio, composta por Steve Ferris, também é espetacular). Os vocais de Paul Stanley são assertivos, os backing vocals bem afinados, o timbre das guitarras é, como em todo o álbum, vivo e dinâmico, e o solo de Bruce Kulick é perfeito. O guitarrista segue boa parte do solo original de Steve Ferris, interpretando-os a sua maneira, e não perdeu a oportunidade de agregar seus licks – assim, o solo é alguns compassos maior do que na versão do álbum “Creatures of the Night”. Curto até aquela ESP com formato Stratocaster que ele utiliza nessa faixa (foto no encarte do CD). Talvez eu seja o único cara que resolveu aprender a tocar violão/guitarra depois de ouvir o Bruce Kulick, e cheguei a essa conclusão só recentemente (mas é verdade: no verão de 1995 estava curtindo bastante o “Alive III” e num sábado resolvi pedir o violão). Não há o que não gostar em “Creatures of the Night”, e é uma das músicas que acho que jamais deveriam sair do set list.
O final de “Creatures (...)” já emenda com o início de “Deuce”, uma das composições mais antigas da banda, e que serve para mostrar o quanto Gene Simmons está mandando nos vocais (mais uma vez, e pela última vez, para mim é indiferente se esses vocais de Gene são de estúdio ou, de fato, ao vivo). Particularmente entendo que Eric Singer criou a levada de bateria perfeita e definitiva para essa faixa, e acho uma pena que o cara tenha se distanciado dela nos anos mais recentes. Aqui o solo de Kulick é competente mas genérico, embora muito melhor do que ele costumava tocar nas turnês anteriores. Fico com a “rhythm guitar” de Kulick e a “lead guitar” de Ace Frehley.
A banda estava promovendo o excelente “Revenge”, então mandou duas em seqüência, ambas com execução muito superior às truncadas versões originais: “I Just Wanna”, de Paul, com várias partes boas perfeitamente posicionadas (incluindo uma “a capella” com três vozes) e um refrão brilhante, talhado para a participação da plateia (“I just wanna f.../I Just wanna f.../I Just wanna ‘forget’-‘f*ck’ you”); “Unholy” é uma clássica de Gene do período mais recente, tendo sido composta numa parceria inusitada e (para mim até hoje) não muito esclarecida entre o baixista e o lendário Vinnie Vincent. Aqui o destaque é para Kulick, que reproduziu fielmente todos os seus solos da versão de estúdio (sem contar a introdução muito legal com o tema de “Tubarão”).
O bom do “Alive III” é ouvir com essa formação (Stanley, Simmons, Kulick, Singer – a minha favorita) e com esse som as músicas que não foram incluídas em nenhum dos anteriores “Alive”, i.é, as músicas posteriores a 1977. “Heavens on Fire” é um dos grandes hinos de Paul dos anos 1980, e a versão aqui é muito boa. O andamento da faixa é melhor do imprimido na época de Eric Carr (o lendário baterista costumava acelerar bastante todas as músicas do set list), mas ainda fico com a levada de Carr durante o refrão (ele era muito bom em criar esses riffs de bateria, se me é dado chamar assim).
O set list dessa turnê era enorme, contando com aproximadamente 24 músicas. Os anteriores “Alive!” e “Alive II” foram lançados em LPs duplos, e obedeceram a mesma fórmula quando passaram para CD – embora um CD de 78 minutos comportasse todo o material desses discos duplos, e todo mundo economizaria uma grana. Em 1993 a situação era diferente, pois 24 músicas caberiam em dois CDs de mais de 60min, e ninguém sairia lesado. Lamento até hoje a decisão dos caras de lançarem um disco simples com apenas parte desse material da “Revenge Tour”, deixando de fora algumas músicas que também tiveram execuções definitivas e perfeitas nessa época, mais precisamente, refiro-me a “War Machine”, “Tears Are Falling” e “Love Gun”: as duas primeiras são clássicos posteriores ao “Alive II” – e assim, não encontraram registro ao vivo oficial – e a última era executada com perfeição pela formação da época (é só ver no “Kiss My Ass” e no volume 3 do Kissology – tenho para mim que a versão de “Love Gun” dessa época é a melhor). Pois além destas terem lamentavelmente ficado de fora do CD simples, para mim resta inexplicável o critério de seleção de algumas das antigas. Seja como for, o fato é que “Hotter Than Hell”, “Firehouse, “I Want You”, dentre outras, sobraram, e para o “Alive III” coube “Watchin´ You”. A execução é primorosa, o solo de Kulick não é nota-por-nota de Frehley, e durante muito tempo curti bastante essa faixa... mas acho que o seu prazo de validade já expirou. Ficaria melhor alguma das já citadas.
Gene continua cantando na próxima, “Domino”, outra do “Revenge”. Trata-se de mais uma que ficou melhor que a versão original, e se beneficiou com as performances de Kulick e Singer. Ajuda o fato da composição ser boa, várias partes legais de guitarra.
Durante muitos anos o Kiss deixou de tocar “I Was Made For Lovin´ You”, e recuperou esse hit de 1979 na famigerada turnê japonesa do álbum “Crazy Nights” (conferir os bootlegs “Dr. Love´s House 1 & 2” e “Live in Japan ‘88”). A banda acertou em cheio na adição deste clássico de Stanley no repertório do “Alive III”, vez que é a última grande música da formação original e que jamais havia contado com uma versão ao vivo oficial. Assim como em “Deuce”, “I Just Wanna” e – mais adiante – “Take It Off” – gosto de prestar atenção na interação entre as duas guitarras, pois há partes diferentes para cada uma (como na época de Ace Frehley, cada guitarrista ocupa um lado do headhpone).
“I Still Love You” tem um clima solene e comovente, dada a interpretação da banda e, sobretudo, de Paul nos vocais e de Kulick nos solos de guitarra (o cara interpretou muito bem os solos da versão de estúdio de Robben Ford). Singer desempenha bem as levadas de bateria de Eric Carr, inclusive os rolos durante o refrão.
Geralmente “Rock and Roll All Nite” serve para encerrar as apresentações, mas na turnê do “Alive III” as coisas se deram diferentemente, pois o maior hino da banda ficava posicionado na intermediária do set list. Prefiro sem dúvidas essa versão do “Alive III” às versões original e do “Alive!”, com melhores vocais, guitarras e bateria (o baixo é igual). Kulick dá uma personalizada no solo, mas o faz de maneira a deixá-la ainda com cara de rock´n´roll como era costume de Ace Frehley. Parece-me que nessa época – de “Revenge” até “Carnival of Souls” – Bruce Kulick só tocava coisa boa.
“Rock and Roll All Nite” é curta e os caras fizeram bem de emendá-la com “Don´t want to wait ‘till you know me better” que inicia “Lick It Up”, outro clássico dos anos 1980 (o primeiro da fase sem máscaras). Sobre esta música, posso dizer que prefiro a versão da época de Eric Carr registrada ao vivo em Budokan, em 1988 (consta apenas um vídeo lançado em VHS no exterior e um trecho do show num disco bônus do volume 2 do “Kissology”; em áudio há bootlegs, dos quais já ouvi “Dr. Love´s House 1 & 2” – alugado na mesma locadora que peguei o “Alive III” e na mesma época – e o “Live in Japan” que adquiri há uns 10 anos na Multisom que ficava no Praia de Belas perto do Nacional por 10 pila – lamentavelmente não há a íntegra do show, faltando o magnífico solo de bateria de Eric Carr e “War Machine”). Em 1988, Paul Stanley estava com a voz no ápice (o cara podia cantar qualquer coisa em qualquer registro em qualquer show), e nos shows no Japão os caras estavam mandando muito bem. A versão do “Alive III”, porém, não deixa de ser competente, e fica bem num andamento não tão acelerado como o que Eric Carr costumava empregar.
Considero “Forever” a melhor balada do Kiss, e a versão de “Alive III” é a definitiva (embora a de estúdio valha por conter os rolos de bateria de Eric Carr no refrão). A essas alturas já é possível eleger Kulick como o MVP do disco, tendo em vista mais um solo – dessa vez no violão - executado com perfeição.
Ainda há espaço no set list para música nova: Paul Stanley faz o chamamento para “Take It Off”, que tem afinação das guitarras um tom abaixo, mas nem se percebe o peso extra – afinal, é rock´n´roll (hard rock) e não heavy metal. No vídeo “Konfidential”, com registros dos shows sob a trilha sonora do “Alive III”, a parte na qual é executada “Take It Off” é um dos pontos altos pela presença das divertidas dançarinas que acompanharam aquela parte da turnê (no Brasil, em 1994, os caras repetiram a experiência, com resultado irregular, digamos assim).
A partir daí, só hinos: “I Love It Loud” é uma das melhores composições de Gene Simmons, e a execução, inclusive da bateria – tenho de admitir – é muito melhor que a versão original. O refrão é matador, as vozes estão perfeitas, e há até um pequeno lick de baixo entre as partes “(...) Right between the eyes” e “Loud, I wanna hear it loud (...)”. Gosto mais desta do que de “Rock and Roll All Night”. E Eric Singer faz um belo trabalho na conhecida levada de bateria de Carr (pequena alteração nos primeiros compassos).
Nunca ouvi uma versão tão pesada e forte para “Detroit Rock City” como em “Alive III”. Os vocais de Paul são assertivos e até as pausas entre os versos são climáticas. A levada de Eric Singer carrega a música melhor do que os bateristas que lhe precederam. Do jeito que ficou no “Alive III”, é melhor ouvi-la no final do show do que na abertura, como ocorreu em várias turnês de várias épocas.
“God Gave Rock´n´Roll To You II” segue o tom de despedida, com a mensagem do título. Essa versão ficou muito melhor que a original de “Revenge”. A introdução foi cortada, e a música entra direto no tema de guitarra com a melodia do refrão. E os trabalhos encerram com uma rendição de “Star Spangled Banner”. Diferentemente do que se poderia supor, os caras não caíram no crime de imitar Jimi Hendrix; pelo contrário, fizeram um arranjo próprio, valorizando a bonita melodia do hino norte-americano.
“Alive III” é meu disco favorito de todos os tempos, pois é perfeito em todos os aspectos: interpretações, som, repertório. Lamentavelmente, os caras perderam a oportunidade de lançar um disco duplo com todo o set list da época, para imortalizar a formação. Tenho grande interesse por todo o material produzido no período, e pelo que já ouvi as performances diferiam pouco do que acabou registrado no CD (o “Konfidential” é bom, mas a trilha é a do “Alive III”, sendo um dos DVDs do volume 3 do “Kissology” o melhor parâmetro, pois contém a íntegra de um dos shows que teria cedido material para o “Alive III”). Depois de “Alive III”, a formação Stanley, Simmons, Kulick e Singer não teve muito tempo para aproveitar a fase produtiva: saíram um disco de estúdio rejeitado pela própria banda após a confirmação do retorno da formação original com as máscaras (o superpesado “Carnival of Souls”), bem como um acústico ao vivo que serviu como prévia da reunião vindoura (o excelente “MTV Unplugged”). Eric Singer ainda voltou substituindo Peter Criss nas suas ausências e após sua demissão, ao passo que Bruce Kulick não foi mais chamado (para o seu lugar, e para vestir a máscara de Ace Frehley, assumiu Tommy Thaier). Em todo o caso, essa formação veio ao Brasil em 1994, conforme documentado pela MTV na época (era o Monsters of Rock em São Paulo, e estava assistindo em casa, na esperança de que fosse transmitido o show – tocaram apenas a primeira música, “Creatures of the Night”; algumas músicas apareceram posteriormente num melhores momentos, e recentemente o show foi disponibilizado quase na íntegra num dos bônus do volume 3 do “Kissology”).
domingo, 15 de novembro de 2009
Resenha de livro - “Justice For All: The Truth About Metallica” Joel McIver
Bom é encontrar um bom livro que sequer sabíamos da existência. Foi essa reação que tive quando encontrei na Cultura por uns 30 pila essa compreensiva e atualizada biografia de uma das minhas bandas favoritas. Como é de rigor, a obra cuida desde os primórdios da infância dos principais integrantes do Metallica até parte da turnê do disco “Death Magnetic” de 2008. No decorrer das páginas, o autor debulha alguns assim chamados mitos em relação a banda, como “Metallica foi a primeira banda de thrash metal e 'Kill´em All foi o primeiro disco de thrash metal”, “Metallica se vendeu e a prova foi a guerra contra o Napster e os discos 'Load' e 'Reload'”, dentre outros.
Ao invés de ler capa-a-capa, não contive a curiosidade e parti direto para o capítulo da época de “...And Justice For All” e os seguintes, pois trata-se da minha fase favorita da banda, ao contrário da grande maioria dos fãs antigos do Metallica. Desde logo percebe-se que o autor soube utilizar seu amplo arquivo de entrevistas de várias pessoas ligadas à banda ou envolvidas com o som pesado. Algumas vezes ficou monótona a leitura de páginas e páginas de transcrições de entrevistas, com repetições de raciocínios e tudo mais. No geral, porém, prevalece a incrível facilidade da leitura, sendo certo que na maior parte do tempo o autor acertou a receita de inserir as falas dos entrevistados no decorrer do texto. Esses depoimentos, muitas vezes colhidos na época dos fatos, contribui para conferir autenticidade e dinamismo ao discurso do escritor. Com riqueza de detalhes, são expostos o recrutamento de Jason Newsted logo após a perda de Cliff Burton, a primeira turnê no Japão, a gravação de um disco de covers, a gravação de “...And Justice for All”, a polêmica da inaudibilidade do baixo nesse disco, a turnê subsequente, a contratação de Bob Rock (pelo fato deste ter conseguido um som tido como magnífico com um disco do Mötley Crue), a gravação e a turnê subsequente do “Black Album”, a gravação dos polêmicos “Load” e “Reload”, o embate com o Napster, o período turbulento que culminou com “St. Anger”, e a volta com “Death Magnetic”. Alguns fatos já me eram conhecidos, mas o autor trouxe vários esclarecimentos e novas perspectivas para coisas que ainda me causavam inquietação. Parece-me, agora, mais coerente que os caras tenham baixado a bola após o “Black Album” para compor o “Load/Reload”, sendo que o autor defende a ideia de que os caras não se venderam (para fazer um som mais comercial), e sim que se tratou de uma tentativa de se reinventar e fazer músicas que fossem divertidas de tocar, e não simplesmente repetir padrões já consolidados nos clássicos álbuns anteriores. Não me parece que o autor tenha se desincumbido da tarefa de justificar a questão com o Napster, apesar do esforço do raciocínio – válido, em todo o caso – de desvincular a banda de questões meramente financeiras nesse aspecto. O autor não esconde que é um grande fã do Metallica, e isso fica muito claro quando coloca suas reservas em relação ao “Black Album” e quando trata de “Load”, “Reload” e “St. Anger”: o cara não mede palavras para dizer o quanto acha determinadas músicas muito ruins e fracas, e muitas das opiniões sobre as músicas de “Load” estou de acordo, diferentemente dos casos de “Reload” e “St. Anger”. Afinal, o autor é fã das músicas tipicamente thrash metal da banda, como são os casos de “Battery” e “Damage Inc.”, as quais jamais tive grande interesse (sempre curti as mais cadenciadas tipo “Sad But True” e até “Leper Messiah”, sem prejuízo de “Wherever I May Roam” e “Blackened” e “Harvester of Sorrow, mas para fins de pesquisa tenho dado atenção a essas faixas mais rápidas e brutais).
De volta para o início do livro, é dedicada mais atenção a Lars Ulrich do que a qualquer outro integrante. E parece que é o baterista que tem a história mais interessante, e tudo sugere para que o cara tenha o crédito de ser grande responsável pelo início das atividades da banda (o seu papel no desenvolvimento e crescimento para o sucesso já não é tão enfatizado). Lars é o tipo de cara que é fácil dizer que “é um babaca”, ou coisas do tipo. Afinal, o dinamarquês fala pelos cotovelos e gosta de emitir opiniões e muitas vezes gosta de aparecer mesmo (o famigerado “marketing pessoal”), inclusive para admitir que não é um grande baterista. Mas todos nós tivemos um amigo do tipo que fala o tempo todo e sempre inventa histórias mirabolantes do quanto vai ser bem sucedido e tal. Pois Lars era esse tipo de cara, antes da formação do Metallica: o cara enchia o saco de todo mundo, mas tinha facilidade para relações interpessoais, curtia bandas boas de som pesado, e divulgava o sonho de montar uma banda própria, apesar de sequer saber tocar o instrumento. É o tipo de cara que não se leva a sério depois de determinado tempo. E tem pessoas que realmente ficam na promessa. Outras passam do discurso para a ação, e Lars é desse último time. Quando viu a oportunidade para contribuir com uma faixa para a conhecidíssima coletânea “Metal Massacre”, o cara reportou-se a James Hetfield, e a partir daí registraram “Hit The Lights” e partiram para a consolidação do Metallica.
Os anos iniciais da banda são cuidadosamente retratados, e o autor oferece como bônus (para mim) um panorama do próprio thrash metal, facilitando a compreensão do que significa o termo e sua relação com outros do tipo black metal, death metal, speed metal, dentre outros. Aparentemente, tudo começou com Venom, e as bandas, a partir daí, disputavam para ver quem era a mais pesada e rápida. O Metallica eventualmente consolidou uma posição destacada, graças à precisão dos riffs de James Hetfield. Para mim nunca ficou bem claro o quanto Dave Mustaine participou da banda, e parecia impressionante o argumento de Lars de que Dave ficou nove meses na banda e não tocou em nenhum álbum de estúdio do Metallica. Entretanto, Dave compôs parte não desprezível do repertório inicial da banda, e se de um lado não ficou até a gravação de “Kill´em All”, de outro o cara era o guitarrista solo na lendária demo “No Life ´Till Leather”. Bem ou mal, Mustaine esteve presente em momentos fundamentais da fase inicial do Metallica. Seja como for, particularmente, entendo que os caras se deram bem ao decolar da base thrash metal e evoluir no seu próprio estilo de heavy metal, e talvez tenha sido isso o que diferenciou e destacou o Metallica das demais bandas contemporâneas como Anthrax, Testament, Exodus e o próprio Slayer, que é a única banda que ostenta um culto similar, mas que jamais conquistou vendas tão expressivas ou mesmo a agregação de fãs não exclusivamente metaleiros.
A leitura é muito fácil e informativa, e suas 400 páginas correm com fluência. Resta-nos ouvir com renovado interesse a discografia da banda (especialmente o “Death Magnetic”, mas sem prejuízo do “Master of Puppets”, o “Ride the Lightning” e o “...And Justice For All”, sobretudo no nosso caso, quando se avizinha a confirmação da apresentação do Metallica em Porto Alegre.
Ao invés de ler capa-a-capa, não contive a curiosidade e parti direto para o capítulo da época de “...And Justice For All” e os seguintes, pois trata-se da minha fase favorita da banda, ao contrário da grande maioria dos fãs antigos do Metallica. Desde logo percebe-se que o autor soube utilizar seu amplo arquivo de entrevistas de várias pessoas ligadas à banda ou envolvidas com o som pesado. Algumas vezes ficou monótona a leitura de páginas e páginas de transcrições de entrevistas, com repetições de raciocínios e tudo mais. No geral, porém, prevalece a incrível facilidade da leitura, sendo certo que na maior parte do tempo o autor acertou a receita de inserir as falas dos entrevistados no decorrer do texto. Esses depoimentos, muitas vezes colhidos na época dos fatos, contribui para conferir autenticidade e dinamismo ao discurso do escritor. Com riqueza de detalhes, são expostos o recrutamento de Jason Newsted logo após a perda de Cliff Burton, a primeira turnê no Japão, a gravação de um disco de covers, a gravação de “...And Justice for All”, a polêmica da inaudibilidade do baixo nesse disco, a turnê subsequente, a contratação de Bob Rock (pelo fato deste ter conseguido um som tido como magnífico com um disco do Mötley Crue), a gravação e a turnê subsequente do “Black Album”, a gravação dos polêmicos “Load” e “Reload”, o embate com o Napster, o período turbulento que culminou com “St. Anger”, e a volta com “Death Magnetic”. Alguns fatos já me eram conhecidos, mas o autor trouxe vários esclarecimentos e novas perspectivas para coisas que ainda me causavam inquietação. Parece-me, agora, mais coerente que os caras tenham baixado a bola após o “Black Album” para compor o “Load/Reload”, sendo que o autor defende a ideia de que os caras não se venderam (para fazer um som mais comercial), e sim que se tratou de uma tentativa de se reinventar e fazer músicas que fossem divertidas de tocar, e não simplesmente repetir padrões já consolidados nos clássicos álbuns anteriores. Não me parece que o autor tenha se desincumbido da tarefa de justificar a questão com o Napster, apesar do esforço do raciocínio – válido, em todo o caso – de desvincular a banda de questões meramente financeiras nesse aspecto. O autor não esconde que é um grande fã do Metallica, e isso fica muito claro quando coloca suas reservas em relação ao “Black Album” e quando trata de “Load”, “Reload” e “St. Anger”: o cara não mede palavras para dizer o quanto acha determinadas músicas muito ruins e fracas, e muitas das opiniões sobre as músicas de “Load” estou de acordo, diferentemente dos casos de “Reload” e “St. Anger”. Afinal, o autor é fã das músicas tipicamente thrash metal da banda, como são os casos de “Battery” e “Damage Inc.”, as quais jamais tive grande interesse (sempre curti as mais cadenciadas tipo “Sad But True” e até “Leper Messiah”, sem prejuízo de “Wherever I May Roam” e “Blackened” e “Harvester of Sorrow, mas para fins de pesquisa tenho dado atenção a essas faixas mais rápidas e brutais).
De volta para o início do livro, é dedicada mais atenção a Lars Ulrich do que a qualquer outro integrante. E parece que é o baterista que tem a história mais interessante, e tudo sugere para que o cara tenha o crédito de ser grande responsável pelo início das atividades da banda (o seu papel no desenvolvimento e crescimento para o sucesso já não é tão enfatizado). Lars é o tipo de cara que é fácil dizer que “é um babaca”, ou coisas do tipo. Afinal, o dinamarquês fala pelos cotovelos e gosta de emitir opiniões e muitas vezes gosta de aparecer mesmo (o famigerado “marketing pessoal”), inclusive para admitir que não é um grande baterista. Mas todos nós tivemos um amigo do tipo que fala o tempo todo e sempre inventa histórias mirabolantes do quanto vai ser bem sucedido e tal. Pois Lars era esse tipo de cara, antes da formação do Metallica: o cara enchia o saco de todo mundo, mas tinha facilidade para relações interpessoais, curtia bandas boas de som pesado, e divulgava o sonho de montar uma banda própria, apesar de sequer saber tocar o instrumento. É o tipo de cara que não se leva a sério depois de determinado tempo. E tem pessoas que realmente ficam na promessa. Outras passam do discurso para a ação, e Lars é desse último time. Quando viu a oportunidade para contribuir com uma faixa para a conhecidíssima coletânea “Metal Massacre”, o cara reportou-se a James Hetfield, e a partir daí registraram “Hit The Lights” e partiram para a consolidação do Metallica.
Os anos iniciais da banda são cuidadosamente retratados, e o autor oferece como bônus (para mim) um panorama do próprio thrash metal, facilitando a compreensão do que significa o termo e sua relação com outros do tipo black metal, death metal, speed metal, dentre outros. Aparentemente, tudo começou com Venom, e as bandas, a partir daí, disputavam para ver quem era a mais pesada e rápida. O Metallica eventualmente consolidou uma posição destacada, graças à precisão dos riffs de James Hetfield. Para mim nunca ficou bem claro o quanto Dave Mustaine participou da banda, e parecia impressionante o argumento de Lars de que Dave ficou nove meses na banda e não tocou em nenhum álbum de estúdio do Metallica. Entretanto, Dave compôs parte não desprezível do repertório inicial da banda, e se de um lado não ficou até a gravação de “Kill´em All”, de outro o cara era o guitarrista solo na lendária demo “No Life ´Till Leather”. Bem ou mal, Mustaine esteve presente em momentos fundamentais da fase inicial do Metallica. Seja como for, particularmente, entendo que os caras se deram bem ao decolar da base thrash metal e evoluir no seu próprio estilo de heavy metal, e talvez tenha sido isso o que diferenciou e destacou o Metallica das demais bandas contemporâneas como Anthrax, Testament, Exodus e o próprio Slayer, que é a única banda que ostenta um culto similar, mas que jamais conquistou vendas tão expressivas ou mesmo a agregação de fãs não exclusivamente metaleiros.
A leitura é muito fácil e informativa, e suas 400 páginas correm com fluência. Resta-nos ouvir com renovado interesse a discografia da banda (especialmente o “Death Magnetic”, mas sem prejuízo do “Master of Puppets”, o “Ride the Lightning” e o “...And Justice For All”, sobretudo no nosso caso, quando se avizinha a confirmação da apresentação do Metallica em Porto Alegre.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Ensaio The Osmar Band: "Siebenundzwanzig" 27.10.2009
Após duas semanas competitivas e às vésperas de uma semana de férias do Marcelo, finalmente tivemos a oportunidade de abrir o barril holandês adquirido ainda na época do meu aniversário. O mais importante para mim, particularmente, era a estreia do meu novíssimo “bebê chorão”. Ainda falta muito para dominá-lo, e encontrar as melhores maneiras de torná-lo útil nas composições, mas é mais uma opção para ampliar os sons da banda em termos de guitarra. Com o Alemão no Triton tocamos algumas novas e antigas: a do nome de bairro infame, a do ex-baixista, um blues antigo sobre um item vendido nos setores de bazar dos maiores supermercados (em F e C). O Marcelo tinha uma letra no laptop e mandei ver uns acordes E com pausas e notas abafadas meio Rage Against the Machine, “bebê chorão” bombando o tempo todo, aos quais interpolei um riff Led Zeppelin com as consagradas notas E-D-B-A-G-E na 5.ª e 6.ª cordas. Foi uma composição verdadeiramente instantânea, pois o tempo de escrevê-la foi o tempo de tocá-la. Em seguida o Alemão tocou na guitarra acordes G-C-D e o Marcelo cantou a mesma letra. O Alemão mandou um timbre limpo e tocamos uma com letra impublicável nos acordes G e C9; nesta utilizei ambos os captadores para um timbre mais aveludado, contrastando com o timbre mais agudo do Alemão, e deixar o som mais cheio. Lembrei de registrar que descobri porque o som do Alemão é tão grave quando ele coloca distorção: o botão de tom fica no zero, ao estilo dos jazzistas tipo Joe Pass (embora estes toquem com timbre limpo), enquanto que eu e os demais guitarristas de rock deixamos o botão de tom no dez, da mesma forma que o botão de volume. Então é mais um recurso para mudar o som das guitarras. O Marcão e o Marcelo lembraram de uma que tinha uma letra que era uma espécie de “heavy alemão/russo”, na qual fiz uma base estilo “Immigrant Song” pela utilização dos acordes F#-E (A nas passagens entre um e outro) e refrão A-B-F#. Tocamos uma vez na forma original, e depois o Alemão conseguiu um timbre legal no Triton e acompanhei com um timbre Brian May; assim, o Alemão fez os acordes no Triton e eu fiz as melodias na guitara, de modo que a música ficou bem diferente da versão original e muito mais interessante, na minha opinião (embora tenha a impressão de que o Marcelo e o Marcão também curtiam a versão original). Nas músicas mais antigas, como a do ex-integrante, me vali do recurso de não acompanhar os acordes, e sim fazer mini-solos e melodias na guitarra, e nessas condições mandei ver muitos bends e licks blueseiros. Já estou sentindo a necessidade de aumentar o meu repertório de licks, então estou pesquisando a audição de guitarristas consagrados (Gilmour, Clapton, Hendrix).
terça-feira, 10 de novembro de 2009
CDs do Kiss - Parte I "Animalize" (1984)
Já tive duas oportunidades para escrever sobre um dos meus discos favoritos do Kiss (e de hard rock em geral), o “Animalize” de 1984. Não por acaso, trata-se do primeiro álbum da banda que tomei contato, nas férias de inverno de 1993. A primeira resenha foi logo no começo deste blog (2003), quando me propus a escrever sobre os “discos obscuros” do Kiss. Anos depois, numa série sobre “discos essenciais” (2004), registrei as opiniões que me levavam a considerá-lo como tal. Convém, então, reproduzir esses comentários iniciais para inaugurar a série de resenhas sobre discos do Kiss (não perdi a oportunidade para atualizar algumas anotações, devidamente marcadas pela chave []):
“26.07.2003 - ANIMALIZE – lançado em 1984, segue a linha hard rock dos discos anteriores (CREATURES OF THE NIGHT e LICK IT UP), mas sugere o som que viria nos discos posteriores. Mark St. John, um desconhecido professor de guitarra, entra no lugar de Vinnie Vincent, despedido em razão de sua personalidade extravagante. O racha da banda entre Gene Simmons e Paul Stanley é bem marcante – basicamente, um não participa das faixas compostas pelo outro. Nas músicas de Paul, quem gravou o baixo foi Jean Beauvoir; nas de Gene, quem gravou guitarras foi o próprio ou então Mark. Cada um produziu suas próprias faixas. Entendo que a produção desse disco é muito boa – [sobretudo diante do fato de que, em regra,] os discos de estúdio do KISS tendem a não refletir as performances das apresentações ao vivo. No caso de ANIMALIZE, as músicas aparecem muito bem, e resistem ao teste do tempo (com exceção dos solos de Mark, que, pelo timbre, soam extremamente datados). O bumbo da bateria também ficou prejudicado (mal se ouve o bumbo duplo em UNDER THE GUN).
As melhores músicas de ANIMALIZE são as de Paul. I´VE HAD ENOUGH abre o disco de forma vigorosa (como geralmente acontece nos discos da banda). Muito boa letra, riffs pesados e rápidos – gosto muito dessa música. Destaque para Eric Carr, numa levada bem criativa [hi-hat, caixa e bumbo, além da expressiva utilização dos ton-tons nos rolos], acompanhando o riff e desenvolvendo nos versos. Aqui se encontra o melhor solo gravado por Mark. Há um interlúdio antes e depois do solo, muito bem sacado [pois cria uma tensão bem legal que se resolve num grito bem alto de Paul e na volta para o refrão].
HEAVENS ON FIRE é o hit que ajudou a alavancar as vendas do álbum (teve até um vídeo promocional, bem veiculado pela MTV [e é notável por servir como única "apresentação" oficial de Mark St. John com a banda]). Extremamente simples, sedimenta a parceria entre Paul e Desmond Child (o mesmo que compôs músicas para Aerosmith, Bon Jovi e Ricky Martin [- e para o próprio Kiss, como "I Was Made For Lovin´ You"]).
BURN BITCH BURN começa com um riff bem pesado e traz Gene numa letra jocosa, sobre mulheres e sexo, bem ao seu gosto. Eric acompanha muito bem na bateria.
GET ALL YOU CAN TAKE é a música mais fraca de Paul nesse disco [agora já me acostumei e até curto a faixa]. No riff principal (que serve de refrão) há uma ‘virada’ característica (veja THE OATH e KEEP ME COMIN). Os vocais de Paul estão extremamente agudos (high-pitch).
LONELY IS THE HUNTER começa com um riff interessante, mas exaustivamente repetido durante a faixa. Curiosidade: inexplicavelmente o solo é de Bruce Kulick (mas isso não faz a menor diferença, pois é bem similar aos registrados por Mark).
UNDER THE GUN é a correria de Paul no disco. Eu gosto dessas músicas rápidas de Paul – dão uma equilibrada no disco. Fantástico o final da música, com Mark correndo atrás da bateria. [Da mesma forma que em "I´ve Had Enough", há um interlúdio muito bem composto antes dos solos. Até hoje não sei tocar essa parte e nem imagino como tocaria, apesar de já ter prestado bastante atenção nos movimentos da mão esquerda de Paul naquele vídeo da "Animalize Tour".]
THRILLS IN THE NIGHT é outra que eu gosto bastante. O som remete totalmente aos anos 80, mas a música é muito bem feita. Eric é o maior destaque, acompanhando os versos no tom [o cara preticamente não utiliza a caixa aqui], de maneira bastante original. O solo de Mark é bom também, pertinente à música (dentro do possível). Aqui, Paul também é muito feliz nos interlúdios (antes e depois do solo).
WHILE THE CITY SLEEPS e MURDER IN HIGH HEELS são de Gene e fecham o disco. Nada memoráveis: ambas apresentam boas idéias, mas pecam pela falta de objetividade – ficam girando em torno do riff, não apresetando nada inovador, ou que valha alguma audição mais atenta.
Concluindo: honestamente, admito que ANIMALIZE é um discoapenas razoável ["Animalize" é do car@lho, "honestamente admito" que é um baita disco, isso sim]. Mas que eu gosto bastante, particularmente (há pelo menos 3 grandes músicas, todas de Paul: I´VE HAD ENOUGH, UNDER THE GUN e THRILLS IN THE NIGHT, sem contar o hit HEAVENS ON FIRE). Vendeu bem na época, e marcou o último disco [até o "Revenge" de 1992] em que os integrantes apareceram nas fotos do encarte vestindo preto: a partir desse disco, a banda se tornaria irremediavelmente mais uma da onda hair metal que assolou o mundo musical nos anos 80. Esse disco representou também o início da fase improdutiva de Gene, que já se mostrava mais comprometido com sua (insípida) carreira cinematográfica. Dali em diante, Paul é quem iria comandar o destino musical da banda, tentando manter sua condição entre as bandas top, com resultados bastante irregulares.”
“02.11.2004 - Animalize é outro que já foi objeto de comentários neste blog, de modo que eu me reporto a todas as considerações oportunamente expendidas. Aqui cabem observações meramente complementares.
1993 foi o ano em que (aqui em casa) compramos um aparelho de cd. Na época (junho), locação de cds só na TV3 e na Vídeo World (uma praticamente ao lado da outra). A banda que eu estava viciado na época era AC/DC, de modo que fiquei encantado quando encontrei, na Vídeo World, em julho daquele ano, o cd DIRTY DEEDS DONE DIRT CHEAP (importado). Também encontrei, importado, o disco essencial epigrafado. Já havia lido algo sobre o Kiss, num catálogo de cds da Revista Bizz, além de ter as minhas próprias lembranças de infância (quando a banda esteve no Brasil em 1983).
E desde a primeira vez que ouvi, gostei de ANIMALIZE (não tanto quanto agora), gravando-o inteiro no lado B de uma fita de 90 minutos (o lado A foi ocupado por DIRTY DEEDS). As músicas que eu julguei as melhores na época, as tenho como melhores até hoje: I´VE HAD ENOUGH (melhor riff da banda), UNDER THE GUN e THRILLS IN THE NIGHT. Só que, durante algum tempo, eu confundia os vocalistas: achava que Paul era Gene e Gene era Paul. "Nossa, esse Gene canta muito!". E pior: achava que Paul era o guitarrista solo e Mark St. John, o guitarrista base.
Explica-se: na época, já sabia que Paul era da formação original - e assim, "raciocinei" que seria muito mais "lógico" que o guitarrista base fosse o substituído, pois, afinal, os solos eram muito "difícieis", e eu imaginava ser "impossível" a substituição de um cara que tocasse "tão bem" (tipo, que alguém tivesse de substituir um membro da formação original e tirar todos os solos antigos e tal) [essa confusão só se desfez quando tive contato com o "Alive III", em julho de 1993, conforme resenha a seguir]. Enfim, mal sabia que 11 anos depois, ainda estaria ouvindo este e os outros discos essenciais da banda.
Não é segredo que esse disco, além de essencial, é um de meus favoritos de todos os tempos, pelos seguintes fatores: (a) um grande disco do Kiss, registrado em época desfavorável para a banda - 1984; (b) boas músicas, especialmente as de Paul, com as guitarras no melhor estilo hard rock dos anos 80; (c) a música I´VE HAD ENOUGH; (d) a participação brilhante de Eric Carr na bateria (as levadas de I´VE HAD ENOUGH e THRILLS IN THE NIGHT são matadoras); (e) único disco com Mark St. John, cuja meteórica passagem pela banda é motivo de muito interesse (pessoalmente falando) - e o cara, realmente, tocava muito bem.”
Bem, para completar, registro que o Giuliano adquiriu o CD importado na Boca do Disco em 1995, e acho que no ano seguinte fizemos uma troca (por um bootleg do Metallica) e agora o CD está comigo. Ainda avalio a conveniência e oportunidade de adquirir a versão remasterizada (só importado: até quando??), pois o "Creatures of the Night" remasterizado tem um som espetacularmente melhor que o da versão anterior. Deve valer a pena, sobretudo porque é um disco que não canso de ouvir - e isso já faz 15 anos.
“26.07.2003 - ANIMALIZE – lançado em 1984, segue a linha hard rock dos discos anteriores (CREATURES OF THE NIGHT e LICK IT UP), mas sugere o som que viria nos discos posteriores. Mark St. John, um desconhecido professor de guitarra, entra no lugar de Vinnie Vincent, despedido em razão de sua personalidade extravagante. O racha da banda entre Gene Simmons e Paul Stanley é bem marcante – basicamente, um não participa das faixas compostas pelo outro. Nas músicas de Paul, quem gravou o baixo foi Jean Beauvoir; nas de Gene, quem gravou guitarras foi o próprio ou então Mark. Cada um produziu suas próprias faixas. Entendo que a produção desse disco é muito boa – [sobretudo diante do fato de que, em regra,] os discos de estúdio do KISS tendem a não refletir as performances das apresentações ao vivo. No caso de ANIMALIZE, as músicas aparecem muito bem, e resistem ao teste do tempo (com exceção dos solos de Mark, que, pelo timbre, soam extremamente datados). O bumbo da bateria também ficou prejudicado (mal se ouve o bumbo duplo em UNDER THE GUN).
As melhores músicas de ANIMALIZE são as de Paul. I´VE HAD ENOUGH abre o disco de forma vigorosa (como geralmente acontece nos discos da banda). Muito boa letra, riffs pesados e rápidos – gosto muito dessa música. Destaque para Eric Carr, numa levada bem criativa [hi-hat, caixa e bumbo, além da expressiva utilização dos ton-tons nos rolos], acompanhando o riff e desenvolvendo nos versos. Aqui se encontra o melhor solo gravado por Mark. Há um interlúdio antes e depois do solo, muito bem sacado [pois cria uma tensão bem legal que se resolve num grito bem alto de Paul e na volta para o refrão].
HEAVENS ON FIRE é o hit que ajudou a alavancar as vendas do álbum (teve até um vídeo promocional, bem veiculado pela MTV [e é notável por servir como única "apresentação" oficial de Mark St. John com a banda]). Extremamente simples, sedimenta a parceria entre Paul e Desmond Child (o mesmo que compôs músicas para Aerosmith, Bon Jovi e Ricky Martin [- e para o próprio Kiss, como "I Was Made For Lovin´ You"]).
BURN BITCH BURN começa com um riff bem pesado e traz Gene numa letra jocosa, sobre mulheres e sexo, bem ao seu gosto. Eric acompanha muito bem na bateria.
GET ALL YOU CAN TAKE é a música mais fraca de Paul nesse disco [agora já me acostumei e até curto a faixa]. No riff principal (que serve de refrão) há uma ‘virada’ característica (veja THE OATH e KEEP ME COMIN). Os vocais de Paul estão extremamente agudos (high-pitch).
LONELY IS THE HUNTER começa com um riff interessante, mas exaustivamente repetido durante a faixa. Curiosidade: inexplicavelmente o solo é de Bruce Kulick (mas isso não faz a menor diferença, pois é bem similar aos registrados por Mark).
UNDER THE GUN é a correria de Paul no disco. Eu gosto dessas músicas rápidas de Paul – dão uma equilibrada no disco. Fantástico o final da música, com Mark correndo atrás da bateria. [Da mesma forma que em "I´ve Had Enough", há um interlúdio muito bem composto antes dos solos. Até hoje não sei tocar essa parte e nem imagino como tocaria, apesar de já ter prestado bastante atenção nos movimentos da mão esquerda de Paul naquele vídeo da "Animalize Tour".]
THRILLS IN THE NIGHT é outra que eu gosto bastante. O som remete totalmente aos anos 80, mas a música é muito bem feita. Eric é o maior destaque, acompanhando os versos no tom [o cara preticamente não utiliza a caixa aqui], de maneira bastante original. O solo de Mark é bom também, pertinente à música (dentro do possível). Aqui, Paul também é muito feliz nos interlúdios (antes e depois do solo).
WHILE THE CITY SLEEPS e MURDER IN HIGH HEELS são de Gene e fecham o disco. Nada memoráveis: ambas apresentam boas idéias, mas pecam pela falta de objetividade – ficam girando em torno do riff, não apresetando nada inovador, ou que valha alguma audição mais atenta.
Concluindo: honestamente, admito que ANIMALIZE é um disco
“02.11.2004 - Animalize é outro que já foi objeto de comentários neste blog, de modo que eu me reporto a todas as considerações oportunamente expendidas. Aqui cabem observações meramente complementares.
1993 foi o ano em que (aqui em casa) compramos um aparelho de cd. Na época (junho), locação de cds só na TV3 e na Vídeo World (uma praticamente ao lado da outra). A banda que eu estava viciado na época era AC/DC, de modo que fiquei encantado quando encontrei, na Vídeo World, em julho daquele ano, o cd DIRTY DEEDS DONE DIRT CHEAP (importado). Também encontrei, importado, o disco essencial epigrafado. Já havia lido algo sobre o Kiss, num catálogo de cds da Revista Bizz, além de ter as minhas próprias lembranças de infância (quando a banda esteve no Brasil em 1983).
E desde a primeira vez que ouvi, gostei de ANIMALIZE (não tanto quanto agora), gravando-o inteiro no lado B de uma fita de 90 minutos (o lado A foi ocupado por DIRTY DEEDS). As músicas que eu julguei as melhores na época, as tenho como melhores até hoje: I´VE HAD ENOUGH (melhor riff da banda), UNDER THE GUN e THRILLS IN THE NIGHT. Só que, durante algum tempo, eu confundia os vocalistas: achava que Paul era Gene e Gene era Paul. "Nossa, esse Gene canta muito!". E pior: achava que Paul era o guitarrista solo e Mark St. John, o guitarrista base.
Explica-se: na época, já sabia que Paul era da formação original - e assim, "raciocinei" que seria muito mais "lógico" que o guitarrista base fosse o substituído, pois, afinal, os solos eram muito "difícieis", e eu imaginava ser "impossível" a substituição de um cara que tocasse "tão bem" (tipo, que alguém tivesse de substituir um membro da formação original e tirar todos os solos antigos e tal) [essa confusão só se desfez quando tive contato com o "Alive III", em julho de 1993, conforme resenha a seguir]. Enfim, mal sabia que 11 anos depois, ainda estaria ouvindo este e os outros discos essenciais da banda.
Não é segredo que esse disco, além de essencial, é um de meus favoritos de todos os tempos, pelos seguintes fatores: (a) um grande disco do Kiss, registrado em época desfavorável para a banda - 1984; (b) boas músicas, especialmente as de Paul, com as guitarras no melhor estilo hard rock dos anos 80; (c) a música I´VE HAD ENOUGH; (d) a participação brilhante de Eric Carr na bateria (as levadas de I´VE HAD ENOUGH e THRILLS IN THE NIGHT são matadoras); (e) único disco com Mark St. John, cuja meteórica passagem pela banda é motivo de muito interesse (pessoalmente falando) - e o cara, realmente, tocava muito bem.”
Bem, para completar, registro que o Giuliano adquiriu o CD importado na Boca do Disco em 1995, e acho que no ano seguinte fizemos uma troca (por um bootleg do Metallica) e agora o CD está comigo. Ainda avalio a conveniência e oportunidade de adquirir a versão remasterizada (só importado: até quando??), pois o "Creatures of the Night" remasterizado tem um som espetacularmente melhor que o da versão anterior. Deve valer a pena, sobretudo porque é um disco que não canso de ouvir - e isso já faz 15 anos.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Resultado da enquete "Melhor disco dos Beatles"
Agradecendo aos votantes, posto o resultado final da enquete para registro.
Com 5 votos e disparado em 1.º lugar: "Abbey Road". Ainda não escrevi sobre esse álbum, o último gravado mas penúltimo a ser lançado pelo quarteto. Talvez a preferência se deva a uma clássica faixa de Lennon ("Come Together"), à possivelmente melhor composição de Harrison ("Something"), à outra composição universalmente conhecida de Harrison ("Here Comes the Sun"), e à lendária reunião de músicas incompletas que encerra o álbum.
Empatados em 2.º lugar, com 2 votos cada, ficaram "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" e "The White Album". Natural que esses discos fossem bem votados, pois cada um a sua maneira foram clássicos e definitivos para a banda e para a música rock e pop em geral.
Receberam um voto "Please Please Me", "Magical Mystery Tour" e "Let It Be" (fico imaginando quem votou no "Magical (...)" visto que é um disco diria não-essencial dos Beatles).
Não cheguei à conclusão definitiva para dar o meu voto... ficaria entre "Let It Be" (fiz uma resenha há alguns meses atrás, com a versão anterior não-remasterizada - ainda estou avaliando a conveniência de adquirir novamente esse disco na nova versão) e "The White Album", sem prejuízo, ainda, de "Revolver", "Rubber Soul" e "A Hard Day´s Night".
Com 5 votos e disparado em 1.º lugar: "Abbey Road". Ainda não escrevi sobre esse álbum, o último gravado mas penúltimo a ser lançado pelo quarteto. Talvez a preferência se deva a uma clássica faixa de Lennon ("Come Together"), à possivelmente melhor composição de Harrison ("Something"), à outra composição universalmente conhecida de Harrison ("Here Comes the Sun"), e à lendária reunião de músicas incompletas que encerra o álbum.
Empatados em 2.º lugar, com 2 votos cada, ficaram "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" e "The White Album". Natural que esses discos fossem bem votados, pois cada um a sua maneira foram clássicos e definitivos para a banda e para a música rock e pop em geral.
Receberam um voto "Please Please Me", "Magical Mystery Tour" e "Let It Be" (fico imaginando quem votou no "Magical (...)" visto que é um disco diria não-essencial dos Beatles).
Não cheguei à conclusão definitiva para dar o meu voto... ficaria entre "Let It Be" (fiz uma resenha há alguns meses atrás, com a versão anterior não-remasterizada - ainda estou avaliando a conveniência de adquirir novamente esse disco na nova versão) e "The White Album", sem prejuízo, ainda, de "Revolver", "Rubber Soul" e "A Hard Day´s Night".
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
The Beatles remastered - "The Beatles aka The White Album" (1968)
Em viagem de algumas semanas à Índia, os Beatles compuseram a maior parte do material que viria a formar o próximo disco de estúdio. Tomou-se a decisão, talvez sem precedentes, de lançar um álbum duplo com todas as 34 faixas, ao invés de eleger as melhores e fazer um disco simples (as demais seriam distribuídas posteriormente, de diversas formas - singles, disco de sobras de estúdio, ou simplesmente inseridas em discos posteriores). Prevaleceu a ideia de liberar tudo para encerrar o ciclo e não deixar nada para trás. Até a capa rende assunto: depois de "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", cheia de referências, optou-se por uma capa minimalista, com um fundo branco e o nome da banda em relevo. Não por acaso, o disco "The Beatles" é mais conhecido como "The White Album". O primeiro disco do "Álbum Branco" começa em alto e bom ritmo com "Back in the U.S.S.R.", um exercício de McCartney sobre o som de Beach Boys e uma homenagem a Chuck Berry ("Back in the U.S.A.". As músicas mais elétricas e rocker dos Beatles costumam ser muito boas, e esse álbum duplo contém várias clássicas. Indiscutivelmente que um dos destaques é uma faixa com título ridículo e refrão tosco ("Ob-La-Di, Ob-La-Da" e "Ob-La-Di, Ob-La-Da life gos on bra/Lala how the life goes on"). O que interessa, no entanto, é que se trata de mais uma composição melódica e espetacular de McCartney, conduzida pela linha de baixo pulsante. "The Continuing Story of Bungalow Bill" parece aquelas músicas compostas de gozação, mas é interessante a linha de baixo com slides longos. Além disso, conforme a wikipedia, a introdução de violão flamenco, na verdade, foi executada utilizando-se um preset de Mellotron. Uma das melhores e mais conhecidas composições de George Harrison foi registrada nesse àlbum branco: "While My Guitar Gently Wheeps". O início é portentoso com um piano insistente; a faixa é conduzida por violões, e pontua em toda a faixa solos de guitarra. Notoriamente Eric Clapton fez participação especial (não há nenhum virtuosismo - os solos são com pentatônicas, muitos bends e slides); o amigão de Harrison, além de mandar ver na "slow hand", ainda serviu para desanuviar o clima durante as gravações. Afinal, nessa época Yoko Ono começou a se fazer (oni)presente, para desconforto dos demais (exceto Lennon e seu macaco). Lennon declarou oportunamente que em "White Album" estão algumas de suas melhores composições, e conforme o "Rough Guide" dos Beatles que estou lendo em ritmo lento, "Happiness is a Warm Gun" é uma das suas favoritas (conforme o wikipedia, é a favorita de McCartney nesse disco). A letra é apta a muitas interpretações, e nem vou entrar nesse terreno complicado; acho bom o timbre da voz de Lennon na parte "Mother Superior jump the gun", bem grave e distinto. A faixa é característica por suas múltiplas e sofisticadas mudanças de andamento, que seriam típicas de bandas de rock progressivo. Realmente é complicado acompanhar essas mudanças de 4/4, 5/4, 9/8 etc etc, tornando a audição intrigante. "Martha My Dear" tem instrumentação bem sofisticada (em alguns momentos me lembra Chris Squire no baixo), com melodias diferentes no piano, na voz, nos instrumentos de sopro e baixo, na parte inicial, que alterna com uma outra parte mais rápida. Particularmente não gosto de músicas nas quais o vocalista canta o quanto está cansado de alguma coisa... esse tipo de lamento é muito fácil de fazer. E Lennon faz exatamente isso na faixa "I´m So Tired": em todos os versos o cara inicia com "I´m soooooo tired". Aparentemente ele canta sobre o período na Índia, que teria sido rico em momentos tediosos. Mas francamente não preciso ouvir o cara dizer o quanto ele está entediado: "vai arrumar alguma coisa pra fazer com a grana que tem no banco, então". No vídeo que vem de bônus com o CD remasterizado há uma cena da gravação de "Blackbird": é apenas McCartney com um violão, batendo os sapatos no chão, marcando o ritmo como metrônomo. A melodia e os acordes são muito bonitos (o mesmo se pode dizer de "Mother Nature´s Son" do CD2). O nome da faixa "Rocky Raccon" poderia indicar uma composição fraca, mas é muito boa, com interpretação vocal muito boa: McCartney imita uma espécie de sotaque do sul dos EUA para uma faixa que depois da introdução de acordes se torna um folk das antigas (quando ingressa a bateria e o honk-tonk piano executado por George Martin). As músicas cantadas por Ringo Starr são geralmente bem agradáveis, e aqui também é o caso com "Don´t Pass me By". "Parabéns a Você" parece que é a música que mais produz direitos autorais, e é realmente universalmente conhecida, além de ter boa melodia. É o tipo de música imbatível. Os Beatles não se tremeram e fizeram uma música de aniversário bem rocker e muito boa, com guitarras elétricas e distorcidas: "Birthday" abre o segundo disco do álbum branco e é muito boa. Conforme a wikipedia, é a única faixa no disco na qual Lennon e McCartney dividem os vocais principais, sendo que Paul participa com registros de voz bem altos. "Yer Blues" é um bom exercício de blues, com as típicas pausas de guitarra e bateria entre os versos. O andamento todo é um blues bem familiar, e depois das paradas ainda segue para um outro andamento típico e bem faceiro de blues. Há muito que conheço de nome "Helter Skelter" e o quanto bandas de hard rock fazem covers e tudo mais. Pois de fato é uma excepcional e memorável composição de McCartney, praticamente uma gênese do hard rock pelos acordes com guitarras bem distorcidas e o refrão com um lick descendente dobrado no baixo e guitarra. Aparentemente o baixista queria compor uma música bem barulhenta, e a sessão de gravação resultou em quase 20 takes, tendo sido selecionado o último para o disco, e essa é a explicação para o desabafo de Ringo ao final "I´ve got blisters on my fingers". "Revolution 1" é a versão acústica para a que apareceu de forma elétrica no single "Hey Jude". A melodia da voz é muito boa, e acompanha bem os versos. "Honey Pie" lembra as músicas de Paul em "Sgt. Peppers" tipo "Fixing a Hole" e "Getting Better", dentre outras. "Revolution 9" é um conhecido exercício dos Beatles, capitaneados por Lennon, nos conceitos de música concreta, e um dos mais remotos exemplos de "sampling". Além disso, conforme a wikipedia, serviu como mais um dos fatores que levaram a alguns acreditar na lenda da morte de Paul. "The White Album" é um notável disco dos Beatles, e marcou provavelmente o início do fim do quarteto fabuloso.
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