segunda-feira, 2 de novembro de 2009

The Beatles remastered - "The Beatles aka The White Album" (1968)

Em viagem de algumas semanas à Índia, os Beatles compuseram a maior parte do material que viria a formar o próximo disco de estúdio. Tomou-se a decisão, talvez sem precedentes, de lançar um álbum duplo com todas as 34 faixas, ao invés de eleger as melhores e fazer um disco simples (as demais seriam distribuídas posteriormente, de diversas formas - singles, disco de sobras de estúdio, ou simplesmente inseridas em discos posteriores). Prevaleceu a ideia de liberar tudo para encerrar o ciclo e não deixar nada para trás. Até a capa rende assunto: depois de "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", cheia de referências, optou-se por uma capa minimalista, com um fundo branco e o nome da banda em relevo. Não por acaso, o disco "The Beatles" é mais conhecido como "The White Album". O primeiro disco do "Álbum Branco" começa em alto e bom ritmo com "Back in the U.S.S.R.", um exercício de McCartney sobre o som de Beach Boys e uma homenagem a Chuck Berry ("Back in the U.S.A.". As músicas mais elétricas e rocker dos Beatles costumam ser muito boas, e esse álbum duplo contém várias clássicas. Indiscutivelmente que um dos destaques é uma faixa com título ridículo e refrão tosco ("Ob-La-Di, Ob-La-Da" e "Ob-La-Di, Ob-La-Da life gos on bra/Lala how the life goes on"). O que interessa, no entanto, é que se trata de mais uma composição melódica e espetacular de McCartney, conduzida pela linha de baixo pulsante. "The Continuing Story of Bungalow Bill" parece aquelas músicas compostas de gozação, mas é interessante a linha de baixo com slides longos. Além disso, conforme a wikipedia, a introdução de violão flamenco, na verdade, foi executada utilizando-se um preset de Mellotron. Uma das melhores e mais conhecidas composições de George Harrison foi registrada nesse àlbum branco: "While My Guitar Gently Wheeps". O início é portentoso com um piano insistente; a faixa é conduzida por violões, e pontua em toda a faixa solos de guitarra. Notoriamente Eric Clapton fez participação especial (não há nenhum virtuosismo - os solos são com pentatônicas, muitos bends e slides); o amigão de Harrison, além de mandar ver na "slow hand", ainda serviu para desanuviar o clima durante as gravações. Afinal, nessa época Yoko Ono começou a se fazer (oni)presente, para desconforto dos demais (exceto Lennon e seu macaco). Lennon declarou oportunamente que em "White Album" estão algumas de suas melhores composições, e conforme o "Rough Guide" dos Beatles que estou lendo em ritmo lento, "Happiness is a Warm Gun" é uma das suas favoritas (conforme o wikipedia, é a favorita de McCartney nesse disco). A letra é apta a muitas interpretações, e nem vou entrar nesse terreno complicado; acho bom o timbre da voz de Lennon na parte "Mother Superior jump the gun", bem grave e distinto. A faixa é característica por suas múltiplas e sofisticadas mudanças de andamento, que seriam típicas de bandas de rock progressivo. Realmente é complicado acompanhar essas mudanças de 4/4, 5/4, 9/8 etc etc, tornando a audição intrigante. "Martha My Dear" tem instrumentação bem sofisticada (em alguns momentos me lembra Chris Squire no baixo), com melodias diferentes no piano, na voz, nos instrumentos de sopro e baixo, na parte inicial, que alterna com uma outra parte mais rápida. Particularmente não gosto de músicas nas quais o vocalista canta o quanto está cansado de alguma coisa... esse tipo de lamento é muito fácil de fazer. E Lennon faz exatamente isso na faixa "I´m So Tired": em todos os versos o cara inicia com "I´m soooooo tired". Aparentemente ele canta sobre o período na Índia, que teria sido rico em momentos tediosos. Mas francamente não preciso ouvir o cara dizer o quanto ele está entediado: "vai arrumar alguma coisa pra fazer com a grana que tem no banco, então". No vídeo que vem de bônus com o CD remasterizado há uma cena da gravação de "Blackbird": é apenas McCartney com um violão, batendo os sapatos no chão, marcando o ritmo como metrônomo. A melodia e os acordes são muito bonitos (o mesmo se pode dizer de "Mother Nature´s Son" do CD2). O nome da faixa "Rocky Raccon" poderia indicar uma composição fraca, mas é muito boa, com interpretação vocal muito boa: McCartney imita uma espécie de sotaque do sul dos EUA para uma faixa que depois da introdução de acordes se torna um folk das antigas (quando ingressa a bateria e o honk-tonk piano executado por George Martin). As músicas cantadas por Ringo Starr são geralmente bem agradáveis, e aqui também é o caso com "Don´t Pass me By". "Parabéns a Você" parece que é a música que mais produz direitos autorais, e é realmente universalmente conhecida, além de ter boa melodia. É o tipo de música imbatível. Os Beatles não se tremeram e fizeram uma música de aniversário bem rocker e muito boa, com guitarras elétricas e distorcidas: "Birthday" abre o segundo disco do álbum branco e é muito boa. Conforme a wikipedia, é a única faixa no disco na qual Lennon e McCartney dividem os vocais principais, sendo que Paul participa com registros de voz bem altos. "Yer Blues" é um bom exercício de blues, com as típicas pausas de guitarra e bateria entre os versos. O andamento todo é um blues bem familiar, e depois das paradas ainda segue para um outro andamento típico e bem faceiro de blues. Há muito que conheço de nome "Helter Skelter" e o quanto bandas de hard rock fazem covers e tudo mais. Pois de fato é uma excepcional e memorável composição de McCartney, praticamente uma gênese do hard rock pelos acordes com guitarras bem distorcidas e o refrão com um lick descendente dobrado no baixo e guitarra. Aparentemente o baixista queria compor uma música bem barulhenta, e a sessão de gravação resultou em quase 20 takes, tendo sido selecionado o último para o disco, e essa é a explicação para o desabafo de Ringo ao final "I´ve got blisters on my fingers". "Revolution 1" é a versão acústica para a que apareceu de forma elétrica no single "Hey Jude". A melodia da voz é muito boa, e acompanha bem os versos. "Honey Pie" lembra as músicas de Paul em "Sgt. Peppers" tipo "Fixing a Hole" e "Getting Better", dentre outras. "Revolution 9" é um conhecido exercício dos Beatles, capitaneados por Lennon, nos conceitos de música concreta, e um dos mais remotos exemplos de "sampling". Além disso, conforme a wikipedia, serviu como mais um dos fatores que levaram a alguns acreditar na lenda da morte de Paul. "The White Album" é um notável disco dos Beatles, e marcou provavelmente o início do fim do quarteto fabuloso.

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