quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Discografia Deep Purple – Parte VII “Fireball” (1971)


Igualar ou superar um álbum tão bem sucedido como “In Rock” é tarefa difícil até mesmo para o Deep Purple. Em 1971 os caras lançaram “Fireball”, um disco com composições inspiradas e não-inspiradas.

A essa época, a banda já podia se classificar entre as grandes bandas de hard rock dos anos 1970, junto com Black Sabbath e Led Zeppelin, de maneira que era de se esperar que grande parte do disco novo fosse de composições fortes, como a faixa-título. Trata-se de um petardo à 240 bpm (não parece tanto, talvez o Wikipédia não esteja correto), que se inicia com uma magnífica introdução de bateria de Ian Paice com utilização de bumbo duplo. Não há solos de guitarra, então é bem fácil de tocar para guitarristas; há um pequeno solo de baixo, com bastante efeito, e solo de Hammond de Jon Lord (que é muito legal, por sinal).

Entretanto, já na segunda faixa, “No No No”, e mais adiante no track list "Fools", percebe-se que o controle de qualidade dos caras não estava muito rigoroso, pois Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice deixaram passar para o vinil trechos longos de momentos calmos. Nesta última, a música já demora para começar, até que entram os versos (muito bons, com uns duetos de guitarra, baixo, teclado no final dos compassos, nos vazios da parte cantada); só que em seguida vêm uma longa e penosa parte instrumental com solos de guitarra cheios de bends etéreos. "No No No" não colabora pelo fato de que a letra é enorme (ou repetem-se demasiadamente os versos cantados), e assim a faixa alcança quase 7min, mesmo tendo poucas partes (verso e refrão e longo solo).

É sabido que há duas versões diferentes de “Fireball”: uma com “Demons Eye” e outra com “Strange Kind of Woman”. Tenho o CD lançado nos EUA antes da remasterização e da edição de 25 anos (adquirido na Boca do Disco em 1995 por uns 20 pila, ou menos) e este felizmente conta com “Strange Kind of Woman”, que é das minhas favoritas da banda desde que ouvi o “Made in Japan”. No entanto, “Demons Eye”, que só tomei contato quando adquiri o “Inspiration” do Yngwie Malmsteen, é uma excelente faixa também, de maneira que só quando consegui a edição de 25 anos do “Fireball” é que pude ter as duas no mesmo disco.

Gosto muito de “Strange Kind of Woman”, sobretudo pelo riff dos versos, que permite várias execuções diferentes na guitarra, e só agora pude perceber onde é que se deve acentuar corretamente (a parte sob a qual Gillan canta “there once was a WOOOOman, a strange kind of WOOOOman” deve ser mais longa, e não “wooooMAN” como eu costumava tocar). O solo de Blackmore é muito bom (o cara diz que costumava improvisar nos solos, mesmo em estúdio, e boa parte deles são excelentes). Naturalmente que é impositivo ouvir a versão do “Made in Japan” para uma experiência completa. “Demons Eye” é bem mais simples. Conta com um riff sobre as notas da pentatônica de G e sobe igual para C, como um padrão de blues. “Fireball” seria um disco bem mais consistente se essas duas composições constassem da versão original do disco.

Gillan e Glover, os letristas, estavam de muito bom humor e escreveram algumas das mais divertidas letras da banda. “Anyone´s Daughter” é uma delas e encaixa perfeitamente com o dedilhado de Blackmore com a guitarra limpa. Ian Paice toca exclusivamente meia-lua e bumbo, e acho que o fez de maneira a exigir bastante coordenação de um baterista (se não me engano, as pisadas que ele dá no bumbo são improvisadas, não seguindo padrão prévio).

Acho que “The Mule” no “Made in Japan” foi um desperdício de tempo, pois serve apenas para acomodar o então obrigatório solo de bateria de Ian Paice. Na versão de estúdio não consta o solo de bateria (aparentemente foi apagado acidentalmente na fita), e há letras e vocais de Gillan. Definitivamente não é das minhas favoritas.


“No One Came” é muito boa e conta com uma divertidíssima letra, do tipo autobiográfica na qual os caras parecem não se levar a sério (tiram sarro com eles próprios). As melhores partes são: “Maybe I could be like Robin Hood, Like and outlaw dressed all in green, (…) Nobody knows who's real and who's fakin', Everyone's shouting out loud, It's only the glitter and shine that gets through, Where's my Robin Hood outfit” e “Well I could write a million songs about the things I've done, But I could never sing them so they'd never get sung, There's a law for the rich and one for the poor, and there's another one for singers”.

A edição de 25 anos tem várias faixas bônus. Remixes de 1996 para “Strange Kind of Woman” (então, o mix original só no outro CD que eu tenho), “Demon´s Eye” e “No One Came”. Além disso, duas sobras de estúdio (“Freedom” e “Slow Train”), um take instrumental de “Fireball”, uma jam (“The Noise Abatement Society Tapes”), um “Backwards Piano”, e um lado-B (“I´m Alone”). Essa edição com todos esses bônus adquiri provavelmente na Saraiva (ou na Cultura) há alguns anos, por aproximadamente 20 pila.

Pode não ser um clássico à altura de “In Rock”, mas “Fireball” serviu para antecipar o extraordinário “Machine Head” e o que viria a partir de então.

2 comentários:

Worldengine disse...

Curiosamente, hoje em dia acho esse album muito superior ao In Rock, que tem filelrs demais. Esse é o album "prog" do Purple, com climas, dinâmica e letras inteligentes!

Guilherme disse...

Eu tb ouço com mais frequência o Fireball que o In Rock (aliás, não ouço In Rock há uns 10 anos).

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