terça-feira, 27 de abril de 2010

Shows XXXI - Megadeth (Pepsi On Stage, Porto Alegre, 26.04.2010, 22h)

Megadeth em Porto Alegre (Pepsi On Stage - 26.04.2010)
E então chegou o dia de ver Megadeth. Após o anúncio das datas da turnê sulamericana, há mais de um mês atrás (no dia do show do Dream Theater), comprei tão logo quanto possível o ingresso para assistir em Porto Alegre. Logo fiquei sabendo que, diferentemente do que se podia pensar inicialmente, o Megadeth não viria com a turnê comemorativa dos 25 anos do clássico "Rust in Peace", e sim do "Endgame" (novo lançamento de 2009), pois a primeira se limitaria a algumas datas em solo norteamericano. Seja como for, a turnê que efetivamente veio para nós foi a comemorativa, e achei bom os caras não terem deixado de fora os fãs brasileiros e demais de língua espanhola, embora não estivesse nem um pouco abalado de ver outros clássicos num set list mais equilibrado (p. ex: eles poderiam tocar "Train of Consequences" ou "Reckoning Day", ou "Sweating Bullets", ou até "Kick the Chair").

O dia foi de muita chuva, mas próximo da hora do show o tempo estava seco. Combinei brevemente com o Valmor/Bruce de se encontrar na frente, e logo fomos para a fila, junto com a Cris. Fila é modo de dizer, pois a (des)organização foi a tônica da nossa espera de 2h30min. Ficamos desde as 20h do lado de fora, sendo certo que a Distraught, banda de abertura, iniciou o set pouco antes das 22h, que era o horário reservado para a atração principal. Não houve explicações para o fato de nos terem deixado do lado de fora enquanto a Distraught tocava... fato é que encontramos o Diego "se achar a área VIP, me avisa" Kasper, e lamentamos não termos comprado bilhetes para o mezanino (essa foi a fila mais tranquila, e lá dentro vimos que os caras eram os melhores acomodados). Quando finalmente ingressamos, a Distraught estava se despedindo. Tentamos um lugar no meio do palco, mais para trás, junto à divisão da área vip para a pista. Ocorre que a grade e os seguranças do local não estavam conseguindo conter a galera da pista, que empurrava a grade e os seguranças. Resolvi esperar começar o show (que demorou) para ver se era o caso de ir para a frente ou para os lados. Mas a situação não era tranquila.

"Com a bola rolando", a galera pulou muito em "Dialetic Chaos" e depois em "This Day We Fight". Essa abertura com as duas primeiras do "Endgame" foi surpreendente, pois via de regra os caras abriam com "Skin O´ My Teeth", "In My Darkest Hour" e "She-Wolf". Pois o show de Porto Alegre teve a peculiaridade de fazer seguir a dupla do "Endgame" com a clássica "In My Darkest Hour". Aqui a situação foi crítica e não consegui registrá-la na íntegra. Chato é não poder se concentrar no que acontece no palco, pois com a multidão daquele jeito, e o problema da grade e dos seguranças, era importante ficar atento, o que tira a atenção da música e da performance dos caras.

Dialetic Chaos - This Day We Fight



In My Darkest Hour

Seja como for, a banda está no auge da forma. Dave Mustaine estava com a voz muito boa, o retorno de David Ellefson dá mais legitimidade a essa formação do Megadeth (ficando parecendo menos uma banda de apoio de Mustaine), e Chris Brodderick comprova que é o mais novo shredder das 6 cordas. O mais fraco é o batera Shawn Drover, que embora tenha tocado corretamente todas as batidas e levadas, o cara é mecânico e tanto em estúdio como ao vivo soa monótono. O pior, no entanto, foi o timbre das guitarras: a de Brodderick tinha um som abelhudo, embora o cara tenha feito miséria tocando nota-por-nota todos os solos de Marty Friedman; a de Mustaine tinha um som tão ruim que comprometeu todos os riffs com harmônicos artificiais, geralmente em partes cruciais das músicas (v.g., "Holy Wars", "Tornado of Souls"). Acredito que isso é decorrência da utilização dos captadores ativos da EMG, que fazem parte do setup de todos os guitarristas de heavy metal (acho que deveria ser apropriada apenas para guitarristas que baixam exageradamente a afinação, como os do Slipknot - para bandas com afinação normal ou meio tom abaixo, como Megadeth, Metallica e Slayer, o melhor são os velhos e bons captadores do tipo Seymour Duncan ou DiMarzio).

O show seguiu com uma das minhas favoritas, "Skin O´ My Teeth".

Skin O´ My Teeth



Mustaine troca de guitarra e pede para a galera se acalmar, pois ninguém quer ver pessoas sendo machucadas e tal. Então o cara pergunta se sabemos do que o show se trata, e manda ver a sua mais perfeita composição, "Holy Wars... The Punishment Due".

Holy Wars... The Punishment Due



Sem tempo para respirar, exatamente como no disco original, segue "Hangar 18". No decorrer desta, o Valmor e a Cris passaram por mim (eu já havia me afastado um pouco das grades) dizendo que não havia condições de permanecer por ali, pois os seguranças colocaram mais grades e machucaram a perna da Cris. Mais uma vez lamento esses incidentes extrapalco que tiram a graça de acompanhar as músicas e as performances dos caras no palco. Independentemente disso, tentei prestar atenção no trabalho das guitarras, e pude notar o quanto Brodderick se dedicou a tocar todos os solos de Marty Friedman com fidelidade ao original. Naturalmente que a pegada não é a mesma (é só ver como Friedman tem uma palhetada de mão direita inimitável, posicionando-a abaixo das cordas - para não abafá-las -, junto com os botões de volume e tom das gutiarras), mas é legal ver o "Rust in Peace" o tanto igual ao original quanto possível com metade da formação que gravou aquele disco.

Hangar 18



"Sessão cavalice" seguiu com "Take No Prisoners", que é uma faixa curta - e uma paulada, com várias pausas e corridas.

Take No Prisoners



Dei-me conta do quanto "Rust in Peace" é um excelente álbum quando iniciou "Five Magics". A longa introdução dá uma equilibrada no ânimo, após três faixas impiedosas. Recentemente tive renovado o interesse por essa faixa prog-metal do Megadeth ao observar que a letra efetivamente fala das cinco magias (ou poderes) e se baseia em algum personagem de história em quadrinhos (ou algo do tipo).

Five Magics



Uma música com um dos riffs mais rápidos de Mustaine: essa é "Poison Was the Cure", que termina com um solo de guitarra, tão rápido quanto começou.

Poison Was the Cure



A essas alturas já estava levando desvantagem para uma guria que filmava o show com uma Sony com tela enorme e sem muito zoom - a imagem era imensa, qualidade parecia muito boa, e cobria o palco inteiro, sem necessidade de maior zoom, e mesmo assim os músicos pareciam mais perto da lente do que com as minhas máquinas, com zoom 2x ou 3x, e tal. "Lucretia" é outras das belas faixas de prog metal do Megadeth.

Lucretia



O refrão de "Tornado of Souls" foi uma das melhores partes da noite.

Tornado of Souls



Assim como no começo de "Five Magics", David Ellefson tentou levantar a galera durante "Dawn Patrol". Filmei parcialmente esta e deixei emendar com a última do "Rust in Peace", a faixa-título.

Dawn Patrol - Rust in Peace... Polaris



A participação da plateia foi solicitada no início de "Headcrusher", o single de "Endgame". Para essa parte do show, Mustaine abandonou as guitarras formato Flying V e adotou uma branca com formato Explorer. Essa música rápida e rasteira funciona bem ao vivo.

Headcrusher



Até então nenhuma faixa do "Youthanasia" havia sido tocada. Ao contrário do que pensava, os caras mandaram "A Tout Le Monde", e foi legal porque vi Brodderick tocar o solo de guitarra igual ao de Marty Friedman, ao invés da versão mais fraca de Glenn Drover.

A Tout Le Monde



Se existia alguma dúvida do quanto a banda estava disposta a reproduzir ao vivo as versões de estúdio, no momento em que ouvimos "Symphony of Destruction" pudemos conferir que os caras não estavam dispostos a fazer versões alternativas ou aumentadas das músicas. Essa música foi a que teve melhor resposta da plateia, sendo certo que David Ellefson sorria abertamente com a galera cantando os versos e depois acompanhando o riff com o tradicional "Me-ga-deth, Me-ga-deth".

Symphony of Destruction



Após rápida pausa, Shawn Drover iniciou a melhor faixa do "Cryptic Writings" - e provavelmente uma das favoritas de Mustaine, já que desde sempre integra os set lists da banda - "Trust". Aqui Brodderick caprichou nos backing vocals, mostrando-se um guitarrista completo para o Megadeth.

Trust



Uma das mais fracas do novo disco foi anunciada por Ellefson: "The Right to Go Insane" me permitiu tirar mais umas fotos.

The Right to Go Insane

O encerramento se deu perante "Peace Sells", a música mais antiga do set list. Ao final os caras fizeram uma espécie de "The Punishment Due - reprise", a partir do riff com harmônicos artificiais que segue ao apocalíptico solo de Mustaine, só que nessa repetição o cara se empolgou e errou alguns licks. Mas o que importa é a energia e a atitude, e o cara mostrou isso de sobra.

Peace Sells



Mustaine e Cia nos mostraram que estão em excelente forma e aptos a garantir um show com performance sem reparos. O bônus foi assistir a um show especial, comemorativo dos 20 anos de Rust in Peace. Quem mandou mal foi a (des)organização do evento, que nos deixou do lado de fora além do devido (perdemos a banda de abertura), e cobraram ingresso para área vip sem que se possa falar que estávamos na área vip, sem contar o mais importante, que foi a preocupação constante com a grade de proteção e o reduzido número de seguranças. Nessas condições, acho difícil que vá acompanhar os próximos shows, Aerosmith e ZZ Top. Uma pena, mas semestre que vem voltamos (nem que seja para o Bon Jovi).

(os vídeos faltantes estão sendo descarregados, na medida do possível do youtube).

segunda-feira, 26 de abril de 2010

CDs do Kiss - Parte XXV "Gene Simmons" (1978)

Dos discos solo de 1978, que os integrantes do Kiss, gravadora e gerentes resolveram lançar simultaneamente como uma maneira de postergar a inevitável saída de Ace e Peter, o melhor é o de Ace, o pior é o de Peter, o mais consistente é o de Paul, e o mais nada a ver é o de Gene (que tem a capa mais legal, por sinal). O baixista resolveu agregar todas as suas mais diversas influências e compôs um disco com faixas heterogêneas entre si.

As melhores são as três primeiras, as muito boas “Radioactive”, “Burning Up with Fever” e “See You Tonite”. A primeira é um belo rock, com boa letra e um refrão excelente. Facilmente encaixaria num disco da banda e não por acaso foi incluída no set list da turnê de “Dynasty”. A segunda, “Burning Up with Fever” tem um riff bem estranho no começo, com umas pausas inesperadas e atípicas, mas a faixa evolui para mais um refrão muito bom. “See You Tonite” é um exercício de Gene sobre suas influências de Beatles, sendo certo que a versão do “MTV Unplugged” é a definitiva.

As demais são faixas com trechos, letras e nomes de composições que Gene mantinha em arquivo para potencialmente serem incluídas em discos do Kiss.

Destaque, também, para a imensa lista de artistas convidados, dentre os quais Joe Perry (em “Radioactive” e “Tunnel of Love”), Bob Seger (“Radioactive” e “Living in Sin”), Rick Nielsen (em “See You in Your Dreams”, regravação de “Rock and Roll Over”), e Donna Summer (em “Burning Up With Fever”). Além destes, Katey Sagal, conhecida pelo seriado “Married With Children” no papel de Peggy Bundy, também contribuiu com backing vocals. Diz-se que na época Gene saia com Cher, e é dela o vocal-de-telefone em “Living in Sin”.

Como tantos, comprei o disco na extinta The Wall do Iguatemi em 1997, e ouvi poucas vezes.

domingo, 25 de abril de 2010

Discografia Deep Purple - Parte XVII "Purpendicular" (1996)

Em 1996 ainda estava no começo da era da internet, então ainda havia chances de chegar numa loja de CDs e encontrar de surpresa um disco lançado recentemente. Foi assim que, na Colombo do Praia de Belas (na época essa loja vendia CDs, além de eletrodomésticos) deparei com o “Purpendicular”, então novo disco do Deep Purple, lançado em 1996, com nova formação: Steve Morse assumiu a guitarra no lugar de Ritchie Blackmore, na formação que se chama de Mark VI (Gillan, Glover, Lord, Morse, Paice). Sabe-se que Blackmore deixou definitivamente o Deep Purple em 1993, no decorrer da turnê de divulgação do “The Battle Rages On”. A banda encontrou um substituto temporário para datas europeias e japonesas: Joe Satriani se encarregou das 6 cordas e foi convidado para ingressar em caráter definitivo. Satriani, no entanto, esclarece que havia recém lançado um disco muito bem recebido – “The Extremist” de 1992, com o hit “Summer Song” -, tinha uma carreira solo já consolidada, e com pouca disposição para, naquela época, abrir mão da autonomia duramente alcançada (a gravadora lhe dava suporte – Sony) para trabalhar em equipe numa banda consagrada. Pesou, ainda, e talvez mais decisivamente, o fato de ser o substituto de Ritchie Blackmore. Diz-se que Steve Vai aconselhou Satriani a não assumir essa bronca, e acho que é mais ou menos o tipo de raciocínio: se desse errado e Satriani não fosse bem aceito pelos fãs do Deep Purple, ou a banda fizesse composições medíocres, então o cara ficaria com filme queimado e teria dificuldades para retomar sua carreira solo. Hoje em dia é muito mais comum que as agendas permitam breves encontros, de maneira que nem a carreira solo de Satriani seria prejudicada, nem as atividades rotineiras de turnê do Deep Purple seriam interrompidas, vez que muitos músicos desenvolvem atividades em mais de uma frente nos intervalos de outras tidas como prioritárias (é o caso, v.g., do baterista Chad Smith, que tocou com Glenn Hughes e agora se juntou ao próprio Satriani para formar o Chikenfoot, sempre nos hiatos das gravações e turnês do Red Hot Chilli Peppers – é a maneira de músicos prolíficos se manterem em permanente atividade, o que é salutar). Não sei se outros guitarristas foram considerados, mas o fato é que em 1996 nem sabia que Steve Morse havia ingressado, muito menos que a banda estava para lançar disco novo. Então pedi para ouvir na loja esse “Purpendicular” e me decidi pela aquisição quando ouvi a parte de “Cascades: I´m Not Your Lover” na qual Lord e Morse executam rápidos arpejos em alta velocidade, sabendo-se como se sabe que Morse palheta todas as notas, e o faz alternadamente para-cima-e-para-baixo (ao invés de utilizar-se da técnica do “sweep picking”, que facilitaria a execução desse tipo de arpejo nessas condições).

Como é intuitivo, o álbum com Steve Morse é diferente do material que estamos acostumados com Blackmore. O talento de Morse, no caso, foi de agregar suas influências e fazer um disco do Deep Purple tão bom quanto ao de alguns da época do Mark II. As guitarras soam mais modernas pois (a) Morse utiliza guitarras com humbucker, que propiciam timbres mais encorpados que os de Fender Stratocaster utilizados por Blackmore, e (b) Morse utiliza técnicas refinadas como a já mencionada palhetada alternada, além dos harmônicos artificiais executados com a ponta dos dedos da mão que segura a palheta. Além disso, são incorporados violões de cordas de aço além de orquestrações com bastante melodia (o maior exemplo é "The Aviator").

“Vavoom: Ted the Mechanic” é um bom exemplo de riff com a marca de Steve Morse, devido à palhetada, ao abafamento das cordas em momentos certeiros, além dos harmônicos artificiais (na abertura, pelo que pude ver dos vídeos no youtube, toca-se na guitarra com o polegar e indicador da mão direita, e não com a palheta). A letra é de Gillan e ele diz que foi motivada em conversa com um mecânico, na qual ouviu muitas histórias fantásticas.

Talvez a mais conhecida desse álbum seja “Sometimes I Feel Like Screaming”. Nos anos 1990 o Deep Purple dedicou-se a sucessivas turnês e ao lançamento de álbuns ao vivo. Só que os repertórios são previsíveis e geralmente são tocados apenas algumas poucas faixas do disco que dá ensejo a turnê, ficando as do disco anterior esquecidas na turnê anterior. Pois essa “Sometimes I Feel Like Screaming” é das poucas que resistem ao tempo e volta e meia aparecem no set list. Aqui Morse executa uma melodia muito bonita no violão e na guitarra por diversas vezes nos seus 7min e meio de duração. A música inteira é muito bela, com partes expressivas.

Particularmente gosto das música mais agitadas do Deep Purple (geralmente Ian Paice brilha nas levadas de bateria nessas condições), então achei que “Cascades: I´m Not Your Lover” é uma das melhores, sobretudo pelo já mencionado dueto de Morse e Lord na parte de arpejos em alta velocidade. Nas demais, Morse explora licks e solos melódicos: "Loosen My Strings", que tem uma levada diferente no baixo de Roger Glover; "Rosa´s Cantina" tem um groove que há muito não aparecia em discos do Purple (acho que desde o Mark IV); "A Castle Full of Rascals" com várias partes, agressivas ou lentas, que lembram a época do "Fireball"; "A Touch Away" tem uma introdução com belas participações de Steve Morse (riff sofisticado) e de Jon Lord (complemento sofisticado com um tema); "Hey Cisco", que é das rápidas, e tem mais duetos em alta velocidade de Morse e Lord; o mais próximo de um riff típico de hard rock é o de "Somebody Stole My Guitar".

O ingresso de Steve Morse parece ter pacificado definitivamente as coisas no Deep Purple, que finalmente conseguiu estabilizar sua formação (apenas Jon Lord saiu amigavelmente, dando lugar a Don Airey), lançando discos regularmente, e desde então em turnê pelo mundo, como uma banda com tantos anos de atividade deve fazer.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Resenha de CD – Rush “Vapor Trails” (2002)

Rush "Vapor Trails" (2002)
Depois de lançar o bom e bem recebido “Test for Echo” (1996), o Rush entrou em recesso devido aos bem conhecidos problemas particulares e familiares de Neil Peart. Ao que parece, a banda esteve perto de se dissolver, sendo certo que Alex Lifeson e Geddy Lee não perderam a chance de gravar discos solo. O anúncio de que a banda retornaria em 2001/2002 para mais um álbum causou comoção e o primeiro single divulgado, “One Little Victory”, foi bastante pesquisado nos sistemas de trocas de arquivos pela internet.

Conforme a Wikipédia, em entrevistas, Lee, Lifeson e Peart admitiram que as composições foram originadas de jams, devidamente registradas, e depois orquestradas e montadas com auxílio do Pro Tools. Chegou-se ao requinte de detalhar que, v.g., determinada parte que fora tocada apenas uma vez numa jam virou uma espécie de verso ou refrão, ganhando repetições com base no esquema “copia-e-cola”. É mais ou menos o que o Metallica fez no “St Anger”, e o que faço em casa com o Valmor/Bruce nas composições para Burnin´ Boat e URSO (sem Pro Tools, por enquanto). E talvez seja isso que explique o fato de que algumas partes não parecem totalmente e perfeitamente encaixadas em algumas músicas. P. ex., na própria “One Little Victory”, a passagem do riff inicial – aquela frenética palhetada na 6.ª corda solta (E), com pontuações nas notas Bb, A, G e F – para o riff dos versos – com a 6.ª corda solta (E) e as notas E e D na 5.ª corda, entre outras – parece meio arbitrária, como se os riffs tivessem sido “colados” um ao outro. Não há mal algum nisso se a música é boa – apesar de um desconforto passageiro na audição – mas em alguns casos achei forçado. Como em “Earthsine”, que vai bem durante os versos, com um riff bem sacado em B, mas que segue para uma parte na qual Geddy Lee faz umas vocalizações estranhas numa espécie de pré-chorus até resolver no refrão, com power chords em compassos quebrados (mas sem a naturalidade habitual da quebradeira do Rush). Convém destacar que a introdução de bateria de “One Little Victory” é a melhor parte do disco, e faz dela a melhor da banda desde "Tom Sawyer" (ou "Stick It Out", se não quisermos ser tão rigorosos ou remotos).

Muito boa é “Ceiling Unlimited”, com marcante presença do baixo de Geddy Lee, ao ponto de que numa parte instrumental mais adiante há uma espécie de solo de baixo, sobre acordes “strummed” de Lifeson. Nada mal com "Ghost Rider", A faixa-título também é legal, bem elegante na introdução (que volta para o refrão) e na evolução das partes. O riff de "Earthshine", de fato, é muito bom de ouvir, e conquanto simples, exige um pouco de cuidado para fiel execução. "Nocturne" é interessante, apesar dos insistentes "Did I have a dream or did the dream have me".

Outras características de “Vapor Trails” que costumam ser apontadas são: (a) não utilização de teclados e sintetizadores; (b) inexistência de solos de guitarra convencionais e timbres de guitarra não processados (embora eu não entenda o que essa última parte signifique de fato); e (c) mais importante, a gravação e a masterização sofreram com alta compressão, acarretando distorção digital. Aparentemente esse problema é irrecuperável, mas na coletânea “Retrospective 3” se fez constar “One Little Victory” e “Earthshine” em versões remixadas, com resultado bem mais favorável, na opinião de Lifeson. É possível que seja só impressão, mas o som do disco tem algo estranho mesmo, embora eu não tenha qualificação para identificar isso. Esses mesmos problemas cercaram de certa polêmica o “Death Magnetic” do Metallica, e aí o meu depoimento é mais assertivo: os ouvidos cansam a partir da 2.º música e sou obrigado a baixar o volume para ouvir o resto do disco nos headphones, mas aí o nível fica baixo demais. Utilizando o PODxt da Line 6 para gravações caseiras, identifico prontamente o quanto um compressor limita as dinâmicas do som de uma guitarra com distorção, e aí geralmente excluo a compressão (que segundo já li em algum lugar é mais aconselhada para violões, vocais e bateria, a fim de nivelar os sinais) e por isso não entendo como produtores profissionais se valem desse tipo de recurso (também já li em algum lugar que esse tipo de técnica, chamada de “loudness war”, serve para destacar um determinado disco ou música num tocador de mp3: a música teria um volume maior, embora o usuário não tenha aumentado o volume do aparelho). Curiosamente, lembro de uma resenha da Cover Guitarra na qual o comentarista exemplificava “Vapor Trails” como um exemplo de disco de produção e mixagem perfeitas.

Particularmente, tinha curiosidade sobre essa volta do Rush, mas não era nenhum fanático, então só comprei o disco algum tempo depois do lançamento, quando achei nas Americanas do Praia de Belas por um preço bacana (menos de 15 reais).

terça-feira, 20 de abril de 2010

Resenhas de CD – Rush “Snakes & Arrows” (2007)

Rush "Snakes & Arrows" (2007)
Em 2008 tive renovado interesse em apreciar os discos do Rush, após encontrar vários discos da banda em balaios de lojas de CDs. Aproveitei e adquiri por um preço excelente (com descontos e pontuações da Cultura) o disco mais recente dos canadenses, o “Snakes & Arrows” de 2007. Ouvi com atenção naquele outono, e depois nunca mais pus pra rodar o CD. Essa semana, buscando novas inspirações, ouvi, de passagem, o disco e acho que finalmente consegui apreciá-lo adequadamente.

É inspirador ouvir o Rush nessa tendência mais orgânica, desenvolvida a partir de “Test for Echo”. Ainda fico desconcertado com as camadas de guitarra e violões que Alex Lifeson costuma empregar na mesma música e nas mesmas partes, simultaneamente, mas acredito que ajuda concentrar-se ou só na guitarra ou só no violão, ou só numa das guitarras, enfim, em algum instrumento “lead”. Conforme a Wikipedia em inglês, David Gilmour aconselhou Lifeson a compor primariamente no violão, e é por essa razão que a maior parte das faixas de “Snakes & Arrows” contêm os acordes abertos D, A, G, E, C e F (esse é com pestana, evidentemente, sem cordas soltas), e dedilhados nessas posições, não havendo que se falar muito em riffs. Particularmente acho que esse tipo de conselho – compor primeiro em violões – serve para o Nando Reis; se me fosse dada a oportunidade, diria para Lifeson compor riffs na guitarra: mais riffs como “Driven”, “One Little Victory” e “Stick It Out”, e até “Limelight” e “Tom Sawyer”.

Nessas condições, o destaque fácil é “Far Cry”, que começa do melhor jeito, com peso. Além disso, apresenta um dos poucos riffs do disco: o riff principal, digamos, antes dos versos, é pesado, e tem umas quebras bem oportunas, ao estilo da banda. O solo de guitarra é apenas meia-dúzia de bends climáticos. O refrão tem melodias muito boas, e bem vistas as coisas, o disco inteiro é cheio de boas melodias. E é conveniente ouvir as músicas na íntegra, pois uma faixa como “Armor and Sword”, que inicia meio sossegada, ganha peso com uns acordes distorcidos mais adiante (E, G, F-A). Aqui começa a série de frases-chiclete ("No one gets to the heaven without a fight"), que segue em "Workin' Them Angels" ("Workin' theeeeem aaangels... all the time"), e mais adiante em "Spindrift" ("A little closer to you"). Curioso ouvir, por outro lado, que “The Larger Bowl” tem um andamento típico da Osmar Band, e posso assegurar que o Alemão jamais ouviu essa música, ou qualquer música do Rush além daquelas que todo mundo já ouviu.

No mais, além das já citadas, gosto bastante da instrumental “The Main Monkey Business”, embora se possa argumentar que a parte em D, com efeito hipnótico e orientação exótica, é comum. “Faithless” ("I will quietly resist") é elegante e tem um refrão solene bastante melódico. "The Way the Wind Blows" pode começar meio sacal com aquele teminha, mas depois evolui para várias partes boas, incluído o verso com um riff legal, excluído o violão no refrão.

Com o “Rush in Rio” acho que estou bem em termos de DVDs ao vivo do Rush, de maneira que não me animei, ainda, para trazer para casa os DVDs e CDs duplo e triplo da “Snakes & Arrows Tour”. Após longo e costumeiro descanso, anunciou-se que em 2010 o Rush voltará aos palcos para uma turnê na qual executará, pela primeira vez, na íntegra, o clássico “Moving Pictures”.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

CDs do Kiss - Parte XXIV "Hotter Than Hell" (1974)

No segundo semestre de 1974 o Kiss lançou seu segundo álbum, “Hotter Than Hell”. Tanto quanto o primeiro disco, há uma série de composições clássicas aqui, como “Got to Choose”, “Parasite”, “Hotter Than Hell”, “Let Me Go, Rock´n´Roll” e “Watchin´ You”, todas bem conhecidas por aparecerem no “Alive!” de 1975, e nos set lists de várias turnês desde então, com maior ou menor frequência. Apesar disso, a banda não curtiu o período de gravação em Los Angeles, e o álbum sofreu com vendas insignificantes.

Ace Frehley contribuiu com duas composições: “Parasite” e “Strange Ways”. A primeira, cantada por Gene (Paul o refrão), tem um marcante riff utilizando a técnica staccato. O solo de Ace registrado no “Alive!” é exemplar e definitivo. “Strange Ways”, cantada por Peter Criss, é uma das obscuras muito queridas pelos fãs e é boa opção para quem não quer fazer um cover óbvio (parece que o Megadeth já gravou uma versão).

Tanto Gene como Paul compuseram faixas clássicas e obscuras. “Got to Choose” e “Hotter Than Hell” são duas bem conhecidas de Paul, sendo certo que a segunda foi inspirada num grande hit do Free, “All Right Now”. Melhor é a versão do “Alive!”, que emenda com “Firehouse”. Ao final há um riff que serve de base para um solo vibrante de Ace. “Mainline” é uma obscura de Paul que a voz de Peter Criss, num rock bem simples.

Gene, por sua vez, puxou uma dos tempos de Wicked Lester, em coautoria com Stephen Coronel, “Goin´ Blind”, que ganhou uma versão muito superior no “MTV Unplugged” (tanto quanto “Comin´ Home”, numa inusual coautoria de Stanley e Frehley – em ambas as guitarras ficaram travadas, e com os violões ganharam muito mais dinâmica). “All the Way” é a sua obscura, e é das boas. Destaque é “Watchin´ You”, com várias partes (riff introdutório, pré-verso, verso, refrão, interlúdio, pré-verso, verso, refrão, interlúdio, solo de guitarra, refrão) que exigem bastante ensaio dos músicos, pois cada instrumento tem hora apropriada para ingressar.

Na época ainda havia espaço para coautorias de Gene e Paul, e uma das melhores é “Let Me Go, Rock´n´Roll”. Quem canta é Simmons, o riff é bem rock´n´roll – como sugerido pelo título – e Ace Frehley comanda com uma série de licks e solos bem sacados com as onipresentes pentatônicas.

Inegável que se trata de um competente disco de rock, embora o som precário comprometa a audição. Tenho em casa a edição anterior ao remaster, adquirida na extinta The Wall do Iguatemi em 1997, mas já vi disponível o remasterizado em fabricação nacional por aproximadamente 20pila.

domingo, 18 de abril de 2010

Ensaio The Osmar Band - "Vierunddreissig" 13.04.2010

34.ª ensaio The Osmar Band - 13.04.2010
Depois de um recesso de mais de 2 semanas, tivemos sobra de assuntos para o colóquio premonitório, incluídos rápidos comentários sobre o show do Elvis cover que o Marcão e o Marcelo (e esposas) acompanharam recentemente. Resolvi levar a BFG para compensar a intensa utilização caseira da Fender. Como um atleta readquirindo a forma, diferentemente de todos os outros ensaios nos quais fiquei sentado, toquei de pé quase o tempo todo, e gostei bastante de tocar na BFG, e da desinibição gradualmente adquirida de tocar com o Cry Baby. Não demoramos para fazer uma versão de reconhecimento e duas versões azeitadas daquela com título de nome de um bairro fictício (ou não) de uma cidade do interior gaúcho. Ta pronta pra mandar pra Ipanema. Tocamos também a introdução, e o Marcelo criou a letra para o fechamento, então temos a “overture” e o “gran finale”. Dedicamo-nos, então, a acertar algumas das clássicas composições. E alguns consensos vão se formando. Aquela com letra impublicável, e que só tem dois acordes (G9 e C9), ainda está em fase de identificação da melhor versão e de acertos quanto à mudança de acordes e ao ingresso dos versos. Com o Alemão no violão de cordas de aço, testamos todo o tipo de repetições dos acordes. Tocamos ainda uma com riff Rolling Stones, mas a estrutura verso-refrão é tão repetitiva que tenho a impressão de que é uma das menos favoritas do Alemão. Achei que seria oportuno tocar uma com letra sobre o ex-baixista da Osmar, e fizemos uma versão saideira, na qual inclui, ao final, o riff de outra em C-Bb, Eb-F.















quarta-feira, 14 de abril de 2010

Resenha de CD – Jimi Hendrix “Valleys of Neptune” (2010)

Jimi Hendrix "Valleys of Neptune" (2010)
“Viste que está para ser lançado um novo disco de inéditas do Hendrix?”, e o meu amigo Barboza respondeu com uma gargalhada. Afinal, que artista falecido há 40 anos ainda é apto para lançar disco com composições inéditas? Evidentemente que isso é possível porque Hendrix registrava suas ideias em estúdio com regularidade, aliado ao fato de que a família do cara criou uma empresa para gerenciar esses lançamentos póstumos, reservando raridades para ocasiões oportunas. Nessas condições, a maior parte do material de “Valleys of Neptune” foi registrada em 1969, após “Eletric Ladyland”, com participações de Noel Redding e Mitch Mitchell, ambos da formação original do Experience. Não escapou de ninguém que parte do track list é de faixas já conhecidas, de uma forma ou de outra, seja em outras versões, seja nas apresentações ao vivo.

Particularmente, o que achei de melhor foi o fato de que finalmente temos um disco de Hendrix que não soa como se fosse do final dos anos 1960. A qualidade de som é tão boa que é possível ouvi-lo como um disco contemporâneo, diferentemente dos outros álbuns clássicos do guitarrista. O que se tem, basicamente, são boas músicas, muito bem executadas (a não ser em alguns solos nos quais as improvisações dão lugar a pequenos erros ou licks imprecisos), com guitarra, baixo, bateria e vocal, sem excessivas camadas de overdubs com instrumentos diversos, que às vezes comprometem a audição.

No geral achei boas todas as faixas. Destaques para “Stone Free”, “Mr Bad Luck”, e “Lover Man”, nas quais Hendrix demonstra o quão sofisticadas e avançadas são suas composições, mesmo para os padrões atuais. Em termos de guitarra são poucos caras que conseguem compor músicas com tantos recursos, sem recorrer a fórmulas fáceis (v.g., Power chords), introduzindo, sempre que possível, melodias e elementos musicais entre as passagens (verso e refrão).

Alguns dos solos de guitarra são espetaculares, como em “Stone Free”, “Sunshine of Your Love” (achei excelente esse cover de Cream, com Hendrix cobrindo, simultaneamente, a guitarra de Eric Clapton, e os vocais, desincumbindo-se de uma complicada tarefa de preencher os vazios entre um e outro sem sobrecarregar a música como se fosse um solo de guitarra de quase 7min) e “Red House” (alguns licks de blues, especialmente no começo, são muito inspirados).

Pelo que tenho acompanhado, as opiniões dão conta de que se trata de uma bela adição ao catálogo do guitarrista, sem, no entanto, se equiparar aos álbuns clássicos de sua discografia. Como um apreciador tardio, tenho para mim que “Valleys of Neptune” é um excelente disco de Hendrix, de audição mais pacífica pela qualidade de som e de composições do que alguns dos discos lançados em vida. Agora aguardo os relançamentos remasterizados dos discos que faltam para a minha coleção (“Are You Experienced” e “Eletric Ladyland”).

O interesse pelo guitarrista continua intacto, sendo certo que Hendrix é capa de revistas especializadas com regularidade: a Guitar World lhe dedica uma edição praticamente a cada ano, e a mais recente, de abril/2010, conta com um CD bônus no qual consta um bate papo com Joe Satriani (com direito a demonstrações de licks hendrixianos), e uma lição de como tocar "Stone Free".

segunda-feira, 12 de abril de 2010

CDs do Kiss - Parte XXIII "Rock and Roll Over" (1976)

Nos anos 1970, diferentemente dos dias atuais, o comum era as bandas lançarem discos com músicas inéditas anualmente. Não raro lançavam dois discos por ano. E em 1976 ocorreu isso com o Kiss. A banda havia estourado no ano anterior com um espetacular disco duplo ao vivo (“Alive!”) e se desincumbira satisfatoriamente da tarefa de soltar um disco de alo nível com músicas inéditas para aproveitar esse sucesso (“Destroyer”) em 1976. Pouco mais de um semestre depois, após turnê que chegou à Europa, os caras voltaram ao estúdio para gravar “Rock and Roll Over”. Trata-se de um disco de rock´n´roll hard honesto, no sentido de que não há destaques imediatos (hits) como nos discos anteriores (tipo “Detroit Rock City”, “Beth”, “Rock and Roll All Nite”), e sim um punhado de boas e decentes músicas de hard rock setentista, na linha do “Dressed to Kill”.

Algumas dessas faixas já me eram conhecidas por ter ouvido “Double Platinum” e “Alive II”. Então, já sabia o que esperar de “I Want You”, “Calling Dr. Love”, “Hard Luck Woman” e “Makin´ Love”, assim como era familiarizado com “Love ´Em and Leave ´Em”, cujo vídeo fez parte do documentário “X-Treme Close Up”.

“I Want You” parece ser uma das favoritas de Paul Stanley, pois apareceu com frequência nos set lists das várias turnês desde então. Geralmente o cara aproveita para interagir com a plateia, gritando “I Want” e a galera reagindo com “Youuuuuuuu”. Durante a época do “Alive III” abriu espaço para um curto solo de bateria de Eric Singer.

“Calling Dr. Love” é uma das clássicas composições de Gene Simmons, com o título inspirado numa tirada do antigo seriado Three Stooges. O riff inicial é bem simples, com power chords e pausas, nas tradicionais posições E-G-D-A. O refrão já é um pouco mais sofisticado, com um riff utilizando as mesmas notas. O solo de Ace Frehley é um tanto incomum, pois no início há uma espécie de “dive bomb”, como se utilizasse uma alavanca de Floyd Rose ao estilo Eddie Van Halen.

“Hard Luck Woman” e “Makin´ Love” são das minhas favoritas da banda. Ambas são de Paul Stanley. A primeira foi composta tendo em mente o vocal de Rod Stewart, similar a “Maggie May”. Optou-se por gravá-la com os característicos vocais rasgados de Peter Criss, embora a música fique igualmente muito boa na voz de Paul (conferir os bootlegs da época das Kiss Conventions em 1995/1996). Desde a primeira vez que ouvi “Makin´ Love” – no “Alive II” – curti bastante e notei uma influência Led Zeppelin, sobretudo na virada que precede à repetição do riff principal. Tem andamento mais acelerado e contribui para a diversidade do álbum, embora tenha sido reservada só para o final do track list. “Love ´Em and Leave ´Em” é pulsante e se trata de uma boa composição de Gene Simmons, com belo trabalho complementar de guitarras de Paul e Ace.

Das demais, “Take Me” é outra das minhas favoritas. Mais uma das aceleradas de Paul, tem um refrão matador, no qual uma das guitarras dobra o baixo com um riff e outra faz uns acordes acompanhando os vocais. O solo de guitarra de Ace é brilhante. Stanley ainda compôs “Mr. Speed”, em coautoria com o recentemente falecido Sean Delaney, e me parece que é uma das faixas obscuras mais requisitadas pelos fãs para ser incorporada nos repertórios dos shows. É bem rocker e tem uma estrutura fechada de verso e refrão. “Ladies Room” é o rock de Gene, e me parece uma composição tão comum que sobra no “Alive II”. O baixista ainda foi o responsável por “See You in Your Dreams”, que é praticamente só refrão (o backing vocal de Paul Stanley é tão destacado que quase vira vocal principal)), e depois foi regravada para o disco solo de 1978. A contribuição de Peter Criss é outro rock, “Baby Driver”.

Nada mal para um disco que sucedeu a um clássico. A banda incrementaria ainda mais suas turnês, com visita ao Japão, e a agitação em torno dos caras só aumentou, de maneira que o ambiente era mais do que favorável quando, em 1977, chegou a época de lançar “Love Gun”.

Esse disco eu já podia ter comprado em 1994/1995, na Boca do Disco, mas como já conhecia mais da metade das faixas, optei por adquirir outros CDs da banda. Só fui comprá-lo em 1997, na extinta The Wall do Iguatemi, quando decidi ter em casa toda a discografia da banda.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CDs do Kiss - Parte XXII "Kiss" (1974)

Em meados de 1997 resolvi que era oportuno adquirir todos os CDs da minha banda favorita. A tarefa restou facilitada, de certa forma, pois na época os preços dos discos importados não eram absurdos; funcionava mais ou menos assim: disco nacional, R$ 15 a 20; disco importado, R$ 25 a 30; e bootlegs (ou piratas, como chamava então), acima de R$ 35. Além disso, a oferta de CDs importados era grande, pois podiam ser encontrados tanto em lojas dos shoppings centers (e havia várias dedicadas aos CDs, diferentemente dos dias atuais) como nas tradicionais lojas do Centro. Não lembro exatamente qual o critério (talvez tenha sido menor preço, maior facilidade de acesso, e maiores quantidades de CDs disponíveis), mas elegi a The Wall que funcionava no Iguatemi, e ali comprei quase todos os discos faltantes na coleção.

O primeiro disco do Kiss, gravado em 1973 e lançado em 1974, é um clássico da banda. Afinal, contém a mítica “Deuce” (foi a primeira tocada por Gene Simmons, Paul Stanley e Peter Criss na audição com Ace Frehley – diz-se que os caras começaram a tocar, e Ace plugou seu instrumento e pôs-se a solar com suas pentatônicas marcantes), bem como “Black Diamond”, “Strutter”, “Nothin´ to Lose”, “Firehouse”, “Cold Gin” e “100.000 Years”, todas elas em execução nos shows ao vivo durante as mais variadas turnês até hoje.

Entretanto, a audição desse disco inaugural e primitivo é prejudicada pela produção acanhada; parece-me que os caras estavam travados quando registraram suas contribuições, comparando-se, evidentemente, com as performances ao vivo, muito mais dinâmicas e fluidas.

Seja como for, é notável que os solos de Ace Frehley são, via de regra, definitivos, pois se tratam dos mesmos licks que o cara executou no “Alive!”. Da mesma forma, sempre me causou estranhamento as acusações de que os músicos do Kiss são fracos tecnicamente, e que as composições são rasteiras, sobretudo quando já no álbum de estreia constam músicas grandiosas como “Black Diamond” e “100.000 Years”. A primeira tem várias partes: um dedilhado, um grande riff bem trabalhado, um refrão com acordes corretos, e um momento para solo de guitarra bem marcante. Não bastasse, quem canta os versos principais é o baterista, Peter Criss. Trata-se de uma faixa que foi incluída em todos os set lists de todas as turnês (salvo engano). A segunda, “100.000 Years” tem uma excepcional divisão de tarefas entre as guitarras de Paul e Ace, e conta ainda com um dos solos mais legais deste último. É como eu digo: não há o que não gostar.

Gene já teve oportunidade para dizer que compôs o riff de “Deuce” baseado no de “Bitch” dos Rolling Stones (“Sticky Fingers” de 1971 – a semelhança é bastante remota), e que a letra da música não tem sentido algum. O riff é muito bom, a letra funciona perfeitamente com a faixa, e o solo é clássico de Ace. Também é outra que dificilmente é excluída dos set lists.

Paul é bastante orgulhoso de “Strutter”. Utilizando o padrão de acordes de uma antiga composição sua (B-G-D-A, lembrando que o Kiss durante muito tempo afinou suas guitarras meio tom abaixo), o cara fez um rock básico com letra dedicada às garotas que “se fazem”. “Firehouse”, outra de Paul, tem um riff que lembra demais o de “Misty Mountain Hop” do Led Zeppelin. Gosto bastante do modo como os caras encaixaram esta ao final de “Hotter Than Hell” no “Alive!”. Ace utiliza uns licks com staccatto e durante muito tempo fiquei intrigado em como tocar esses trechos, nos quais a guitarra parece gaguejar (faz-se o bend, e toca-se repetidamente a nota, alternando toques normais com a palheta com pequenos abafamentos com a mão esquerda).

“Nothin´ to Lose” é uma música de Gene extremamente fácil de tocar, na qual os vocais são divididos entre Gene (versos e refrão “You got, got, nothin´ to lose”) e Peter (intervenções durante o refrão). A versão definitiva, como todas as demais, é a do “Alive!”.

Ace também compunha e sua primeira contribuição foi “Cold Gin”. O riff principal é extremamente simples, contanto que se saiba que o cara toca junto com a 5.ª corda solta os power chords A, G, G/F#. Os versos são apenas A e G com pausas enormes dentro dos compassos, dando espaço para a parte cantada por Gene (Ace ainda não reunia convicção para cantar suas composições). É boa, mas não é excepcional, e por isso nunca entendi a predileção dos caras por essa música, notadamente no período posterior ao afastamento de Ace (nunca entendi porque os caras mantiveram essa faixa, do Ace, no set list das turnês de “Creatures of the Night”, “Animalize” até “Revenge”, se o guitarrista não se fazia mais presente – a mim parecia fazer mais sentido eleger uma própria do Gene ou então do Paul).

Menos conhecidas e dispensáveis de certa forma são “Kissin´ Time” (um cover, com vocais de Gene, Paul e Peter, sob encomenda da gravadora para um concurso de rádio), “Love Theme From Kiss” (um instrumental atribuído aos quatro integrantes), e “Let Me Know” (de Paul, um rock fraco mas que ganhou renovado interesse ao fazer parte do CD “You Wanted the Best You Got the Best” como uma das “leftovers” do “Alive!”).

Ainda em 1974, entre turnês, o Kiss voltaria ao estúdio com os mesmos produtores (Kenny Kerner e Richie Wise) para registrar o seu segundo álbum.

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