quarta-feira, 21 de abril de 2010

Resenha de CD – Rush “Vapor Trails” (2002)

Rush "Vapor Trails" (2002)
Depois de lançar o bom e bem recebido “Test for Echo” (1996), o Rush entrou em recesso devido aos bem conhecidos problemas particulares e familiares de Neil Peart. Ao que parece, a banda esteve perto de se dissolver, sendo certo que Alex Lifeson e Geddy Lee não perderam a chance de gravar discos solo. O anúncio de que a banda retornaria em 2001/2002 para mais um álbum causou comoção e o primeiro single divulgado, “One Little Victory”, foi bastante pesquisado nos sistemas de trocas de arquivos pela internet.

Conforme a Wikipédia, em entrevistas, Lee, Lifeson e Peart admitiram que as composições foram originadas de jams, devidamente registradas, e depois orquestradas e montadas com auxílio do Pro Tools. Chegou-se ao requinte de detalhar que, v.g., determinada parte que fora tocada apenas uma vez numa jam virou uma espécie de verso ou refrão, ganhando repetições com base no esquema “copia-e-cola”. É mais ou menos o que o Metallica fez no “St Anger”, e o que faço em casa com o Valmor/Bruce nas composições para Burnin´ Boat e URSO (sem Pro Tools, por enquanto). E talvez seja isso que explique o fato de que algumas partes não parecem totalmente e perfeitamente encaixadas em algumas músicas. P. ex., na própria “One Little Victory”, a passagem do riff inicial – aquela frenética palhetada na 6.ª corda solta (E), com pontuações nas notas Bb, A, G e F – para o riff dos versos – com a 6.ª corda solta (E) e as notas E e D na 5.ª corda, entre outras – parece meio arbitrária, como se os riffs tivessem sido “colados” um ao outro. Não há mal algum nisso se a música é boa – apesar de um desconforto passageiro na audição – mas em alguns casos achei forçado. Como em “Earthsine”, que vai bem durante os versos, com um riff bem sacado em B, mas que segue para uma parte na qual Geddy Lee faz umas vocalizações estranhas numa espécie de pré-chorus até resolver no refrão, com power chords em compassos quebrados (mas sem a naturalidade habitual da quebradeira do Rush). Convém destacar que a introdução de bateria de “One Little Victory” é a melhor parte do disco, e faz dela a melhor da banda desde "Tom Sawyer" (ou "Stick It Out", se não quisermos ser tão rigorosos ou remotos).

Muito boa é “Ceiling Unlimited”, com marcante presença do baixo de Geddy Lee, ao ponto de que numa parte instrumental mais adiante há uma espécie de solo de baixo, sobre acordes “strummed” de Lifeson. Nada mal com "Ghost Rider", A faixa-título também é legal, bem elegante na introdução (que volta para o refrão) e na evolução das partes. O riff de "Earthshine", de fato, é muito bom de ouvir, e conquanto simples, exige um pouco de cuidado para fiel execução. "Nocturne" é interessante, apesar dos insistentes "Did I have a dream or did the dream have me".

Outras características de “Vapor Trails” que costumam ser apontadas são: (a) não utilização de teclados e sintetizadores; (b) inexistência de solos de guitarra convencionais e timbres de guitarra não processados (embora eu não entenda o que essa última parte signifique de fato); e (c) mais importante, a gravação e a masterização sofreram com alta compressão, acarretando distorção digital. Aparentemente esse problema é irrecuperável, mas na coletânea “Retrospective 3” se fez constar “One Little Victory” e “Earthshine” em versões remixadas, com resultado bem mais favorável, na opinião de Lifeson. É possível que seja só impressão, mas o som do disco tem algo estranho mesmo, embora eu não tenha qualificação para identificar isso. Esses mesmos problemas cercaram de certa polêmica o “Death Magnetic” do Metallica, e aí o meu depoimento é mais assertivo: os ouvidos cansam a partir da 2.º música e sou obrigado a baixar o volume para ouvir o resto do disco nos headphones, mas aí o nível fica baixo demais. Utilizando o PODxt da Line 6 para gravações caseiras, identifico prontamente o quanto um compressor limita as dinâmicas do som de uma guitarra com distorção, e aí geralmente excluo a compressão (que segundo já li em algum lugar é mais aconselhada para violões, vocais e bateria, a fim de nivelar os sinais) e por isso não entendo como produtores profissionais se valem desse tipo de recurso (também já li em algum lugar que esse tipo de técnica, chamada de “loudness war”, serve para destacar um determinado disco ou música num tocador de mp3: a música teria um volume maior, embora o usuário não tenha aumentado o volume do aparelho). Curiosamente, lembro de uma resenha da Cover Guitarra na qual o comentarista exemplificava “Vapor Trails” como um exemplo de disco de produção e mixagem perfeitas.

Particularmente, tinha curiosidade sobre essa volta do Rush, mas não era nenhum fanático, então só comprei o disco algum tempo depois do lançamento, quando achei nas Americanas do Praia de Belas por um preço bacana (menos de 15 reais).

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