segunda-feira, 5 de abril de 2010

CDs do Kiss - Parte XXII "Kiss" (1974)

Em meados de 1997 resolvi que era oportuno adquirir todos os CDs da minha banda favorita. A tarefa restou facilitada, de certa forma, pois na época os preços dos discos importados não eram absurdos; funcionava mais ou menos assim: disco nacional, R$ 15 a 20; disco importado, R$ 25 a 30; e bootlegs (ou piratas, como chamava então), acima de R$ 35. Além disso, a oferta de CDs importados era grande, pois podiam ser encontrados tanto em lojas dos shoppings centers (e havia várias dedicadas aos CDs, diferentemente dos dias atuais) como nas tradicionais lojas do Centro. Não lembro exatamente qual o critério (talvez tenha sido menor preço, maior facilidade de acesso, e maiores quantidades de CDs disponíveis), mas elegi a The Wall que funcionava no Iguatemi, e ali comprei quase todos os discos faltantes na coleção.

O primeiro disco do Kiss, gravado em 1973 e lançado em 1974, é um clássico da banda. Afinal, contém a mítica “Deuce” (foi a primeira tocada por Gene Simmons, Paul Stanley e Peter Criss na audição com Ace Frehley – diz-se que os caras começaram a tocar, e Ace plugou seu instrumento e pôs-se a solar com suas pentatônicas marcantes), bem como “Black Diamond”, “Strutter”, “Nothin´ to Lose”, “Firehouse”, “Cold Gin” e “100.000 Years”, todas elas em execução nos shows ao vivo durante as mais variadas turnês até hoje.

Entretanto, a audição desse disco inaugural e primitivo é prejudicada pela produção acanhada; parece-me que os caras estavam travados quando registraram suas contribuições, comparando-se, evidentemente, com as performances ao vivo, muito mais dinâmicas e fluidas.

Seja como for, é notável que os solos de Ace Frehley são, via de regra, definitivos, pois se tratam dos mesmos licks que o cara executou no “Alive!”. Da mesma forma, sempre me causou estranhamento as acusações de que os músicos do Kiss são fracos tecnicamente, e que as composições são rasteiras, sobretudo quando já no álbum de estreia constam músicas grandiosas como “Black Diamond” e “100.000 Years”. A primeira tem várias partes: um dedilhado, um grande riff bem trabalhado, um refrão com acordes corretos, e um momento para solo de guitarra bem marcante. Não bastasse, quem canta os versos principais é o baterista, Peter Criss. Trata-se de uma faixa que foi incluída em todos os set lists de todas as turnês (salvo engano). A segunda, “100.000 Years” tem uma excepcional divisão de tarefas entre as guitarras de Paul e Ace, e conta ainda com um dos solos mais legais deste último. É como eu digo: não há o que não gostar.

Gene já teve oportunidade para dizer que compôs o riff de “Deuce” baseado no de “Bitch” dos Rolling Stones (“Sticky Fingers” de 1971 – a semelhança é bastante remota), e que a letra da música não tem sentido algum. O riff é muito bom, a letra funciona perfeitamente com a faixa, e o solo é clássico de Ace. Também é outra que dificilmente é excluída dos set lists.

Paul é bastante orgulhoso de “Strutter”. Utilizando o padrão de acordes de uma antiga composição sua (B-G-D-A, lembrando que o Kiss durante muito tempo afinou suas guitarras meio tom abaixo), o cara fez um rock básico com letra dedicada às garotas que “se fazem”. “Firehouse”, outra de Paul, tem um riff que lembra demais o de “Misty Mountain Hop” do Led Zeppelin. Gosto bastante do modo como os caras encaixaram esta ao final de “Hotter Than Hell” no “Alive!”. Ace utiliza uns licks com staccatto e durante muito tempo fiquei intrigado em como tocar esses trechos, nos quais a guitarra parece gaguejar (faz-se o bend, e toca-se repetidamente a nota, alternando toques normais com a palheta com pequenos abafamentos com a mão esquerda).

“Nothin´ to Lose” é uma música de Gene extremamente fácil de tocar, na qual os vocais são divididos entre Gene (versos e refrão “You got, got, nothin´ to lose”) e Peter (intervenções durante o refrão). A versão definitiva, como todas as demais, é a do “Alive!”.

Ace também compunha e sua primeira contribuição foi “Cold Gin”. O riff principal é extremamente simples, contanto que se saiba que o cara toca junto com a 5.ª corda solta os power chords A, G, G/F#. Os versos são apenas A e G com pausas enormes dentro dos compassos, dando espaço para a parte cantada por Gene (Ace ainda não reunia convicção para cantar suas composições). É boa, mas não é excepcional, e por isso nunca entendi a predileção dos caras por essa música, notadamente no período posterior ao afastamento de Ace (nunca entendi porque os caras mantiveram essa faixa, do Ace, no set list das turnês de “Creatures of the Night”, “Animalize” até “Revenge”, se o guitarrista não se fazia mais presente – a mim parecia fazer mais sentido eleger uma própria do Gene ou então do Paul).

Menos conhecidas e dispensáveis de certa forma são “Kissin´ Time” (um cover, com vocais de Gene, Paul e Peter, sob encomenda da gravadora para um concurso de rádio), “Love Theme From Kiss” (um instrumental atribuído aos quatro integrantes), e “Let Me Know” (de Paul, um rock fraco mas que ganhou renovado interesse ao fazer parte do CD “You Wanted the Best You Got the Best” como uma das “leftovers” do “Alive!”).

Ainda em 1974, entre turnês, o Kiss voltaria ao estúdio com os mesmos produtores (Kenny Kerner e Richie Wise) para registrar o seu segundo álbum.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não dou mais crédito a quem desmerece o KISS. Normalmente quem o faz são fãs de Heavy Metal ou de outros estilos que associam o visual mascarado da banda à música pesada. Quando notam que o som da banda é mais "leve" (não que o som do KISS seja leve, mas sim, mais leve do que eles esperavam) se "decepcionam" e dizem que a banda vive em função do visual e do marketing. O som do KISS é único, eles vão de Beatles à Black Sabbath passando por Led Zeppelin num mesmo disco (caso de “Mainline”, “Strange Ways” e “Let Me Go, Rock `n Roll” do Hotter Than Hell, respectivamente). Este primeiro disco então, nem se fala (o meu preferido da banda). Ele é perfeito do início ao fim (dentro do contexto, engulo até "Kissin Time" e "Love Theme From Kiss"). O resto é só clássico (e o melhor: clássicos incontestáveis, não clássicos do tipo de "I Was Made For Lovin´ You" - amado por muitos, odiado por outros tantos).
"Strutter" e sua levada tipicamente "stanleyniana", "Deuce" e seu jeitão "Simmons", a "frehleyana" "Cold Gin" com seu riff marcante. Além, claro, das duas últimas faixas que estão, na minha opinião, entre as 10 faixas essenciais do KISS. Nota 10 para este disco clássico do RnR.

Discordo do autor quanto à "Cold Gin", gosto muito dela (eleita a 7ª melhor música para se tomar uma "birita" com os amigos da história) com seu jeito “old school” e seu solo, que se não é uma primazia técnica, tem um feeling incrível! Entendo a sua inclusão nas turnês seguintes, até pq quem canta é Gene. "Let Me Know" é uma grande canção, ao estilo dos Beatles. Acho curioso que enquanto os Beatles são ovacionados por terem canções simples mas com feeling o KISS é execrado usando a mesma fórmula. Vai entender.
Tirando as duas citadas faixas "para encher linguiça" que citei primeiramente, o disco só tem música de primeira!

Parabéns pelo texto!

Até mais!

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