quarta-feira, 14 de abril de 2010

Resenha de CD – Jimi Hendrix “Valleys of Neptune” (2010)

Jimi Hendrix "Valleys of Neptune" (2010)
“Viste que está para ser lançado um novo disco de inéditas do Hendrix?”, e o meu amigo Barboza respondeu com uma gargalhada. Afinal, que artista falecido há 40 anos ainda é apto para lançar disco com composições inéditas? Evidentemente que isso é possível porque Hendrix registrava suas ideias em estúdio com regularidade, aliado ao fato de que a família do cara criou uma empresa para gerenciar esses lançamentos póstumos, reservando raridades para ocasiões oportunas. Nessas condições, a maior parte do material de “Valleys of Neptune” foi registrada em 1969, após “Eletric Ladyland”, com participações de Noel Redding e Mitch Mitchell, ambos da formação original do Experience. Não escapou de ninguém que parte do track list é de faixas já conhecidas, de uma forma ou de outra, seja em outras versões, seja nas apresentações ao vivo.

Particularmente, o que achei de melhor foi o fato de que finalmente temos um disco de Hendrix que não soa como se fosse do final dos anos 1960. A qualidade de som é tão boa que é possível ouvi-lo como um disco contemporâneo, diferentemente dos outros álbuns clássicos do guitarrista. O que se tem, basicamente, são boas músicas, muito bem executadas (a não ser em alguns solos nos quais as improvisações dão lugar a pequenos erros ou licks imprecisos), com guitarra, baixo, bateria e vocal, sem excessivas camadas de overdubs com instrumentos diversos, que às vezes comprometem a audição.

No geral achei boas todas as faixas. Destaques para “Stone Free”, “Mr Bad Luck”, e “Lover Man”, nas quais Hendrix demonstra o quão sofisticadas e avançadas são suas composições, mesmo para os padrões atuais. Em termos de guitarra são poucos caras que conseguem compor músicas com tantos recursos, sem recorrer a fórmulas fáceis (v.g., Power chords), introduzindo, sempre que possível, melodias e elementos musicais entre as passagens (verso e refrão).

Alguns dos solos de guitarra são espetaculares, como em “Stone Free”, “Sunshine of Your Love” (achei excelente esse cover de Cream, com Hendrix cobrindo, simultaneamente, a guitarra de Eric Clapton, e os vocais, desincumbindo-se de uma complicada tarefa de preencher os vazios entre um e outro sem sobrecarregar a música como se fosse um solo de guitarra de quase 7min) e “Red House” (alguns licks de blues, especialmente no começo, são muito inspirados).

Pelo que tenho acompanhado, as opiniões dão conta de que se trata de uma bela adição ao catálogo do guitarrista, sem, no entanto, se equiparar aos álbuns clássicos de sua discografia. Como um apreciador tardio, tenho para mim que “Valleys of Neptune” é um excelente disco de Hendrix, de audição mais pacífica pela qualidade de som e de composições do que alguns dos discos lançados em vida. Agora aguardo os relançamentos remasterizados dos discos que faltam para a minha coleção (“Are You Experienced” e “Eletric Ladyland”).

O interesse pelo guitarrista continua intacto, sendo certo que Hendrix é capa de revistas especializadas com regularidade: a Guitar World lhe dedica uma edição praticamente a cada ano, e a mais recente, de abril/2010, conta com um CD bônus no qual consta um bate papo com Joe Satriani (com direito a demonstrações de licks hendrixianos), e uma lição de como tocar "Stone Free".

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