A grande maioria das pessoas conhece Yes pelo hit oitentista Owner of a lonely heart. Pode acontecer, ainda, que muitas pessoas conheçam Roundabout (hit dos anos 70). Mas só fãs da banda estão familiarizados com os álbuns Fragile e Close to the Edge.
No entanto, mesmo entre os fãs mais devotados, existem alguns cds do catálogo do Yes que ou são desconhecidos, ou são execrados pelos mais radicais (pelas mais diferentes razões). Proponho-me, então, as escrever algumas linhas sobre os 'discos obscuros' do Yes, entendidos aqueles como os "underrated albuns", que só os fãs seguidores incondicionais da banda conhecem.
E vou começar pelo Relayer de 1974. Esse disco foi precedido da saída do tecladista Rick Wakeman da banda, descontente com os rumos que estava tomando, intensificado pelo disco de 1973 Tales from Topographic Oceans (duplo com 4 músicas de 20 minutos). Em seu lugar foi trazido o suíço Patrick Moraz, que foi responsável por adicionar novos elementos ao som da banda.
O documentário Yesyears, com efeito, contém algumas imagens da Relayer Tour que se seguiu ao lançamento do álbum, e mostra Moraz entretido com numerosos teclados dispostos em forma de U, uns sobre os outros. Durante muito tempo eu pensei que Moraz era o principal músico daquela formação; que o tecladista era quem mais aparecia. Mas, devo admitir, que novas audições fizeram-me perceber que, na verdade, é Steve Howe quem patrocina grande parte das melodias das músicas (seriamente prejudicado pelo pior timbre de guitarra de todos os tempos).
Isso, porém, nao serve para desmentir o papel fundamental de Moraz no disco, e como ele foi crucial para o desenvolvimento da banda. Mesmo na retaguarda pela maior parte do tempo, o tecladista conseguiu criar texturas e acompanhamentos (clima) muito apropriados às músicas, e num estilo bem diferente de Wakeman.
A obra prima do disco é Gates of Delirium, de quase 25 minutos. A agressividade da letra de Jon Anderson é acompanhada com perfeição pela contribuição dos demais músicos. Aliás, sobre Anderson, o cd Yesshows traz uma versão de Gates extraída da Relayer tour, e é onde eu acredito que se encontra a performance mais "viril" (se é que tal é possível) do vocalista. Moraz conduz a banda em alguns poucos momentos, mas sempre ofuscando os momentos em que Howe aparece com destaque. O melhor segmento é, sem dúvida aquele que se segue à batalha (onde a banda vai numa crescente profusão de sons com o objetivo exclusivo de criar esse clima de guerra). Os solos de Moraz também são bastante criativos e muito melhores que os de Howe (que encontra-se em excelente forma, mas aquele timbre...).
Sound Chaser contém um riff de Chris Squire acompanhado pela banda, num tempo quebrado (alguém falou 7/8?). Essa música demanda várias audições, pois os versos são cantados de forma estridente, e contrastam sobremaneira com aquele riff. Realmente, algo difícil de acostumar o ouvido. Destaque também para o longo solo desacompanhado de Steve Howe, aparentemente improvisado, e que talvez alcançasse melhor efeito nao fosse o timbre horroroso da guitar. Notável, no entanto, o segmento em que a banda alterna andamento rápido-lento em determinado trecho, criando um efeito muito difícil de ser reproduzido, seja em ensaio, seja ao vivo.
To Be Over fecha o disco - segundo muitos, é a única música que realmente soa como Yes. Um exagero, certamente. Trata-se de uma música muito bonita, mas sem a mesma energia das outras. Serve para abrandar os ânimos, finalizando o disco com uma música mais calma e, quem sabe, dispensável (se for por beleza, eu prefiro a parte final de Gates of Delirium: Soon).
Concluindo: esse álbum marcou uma transição na carreira da banda - a partir dele, nao houve mais músicas de 20 minutos. Os integrantes resolveram concentrar-se em composições mais curtas e mais facilmente assimiláveis. É um disco que vale a pena ser ouvido, ainda que só com intuito de pesquisa. Pode ser desnecessário, mas nunca é despiciendo lembrar a performance exuberante do baixista Chris Squire (um destaque sempre) e do batera Alan White. A influência desse disco (e da colaboração de Moraz) em músicos da atualidade é marcante, notadamente em Jordan Ruddess no álbum Six Degrees of Inner Turbulence (Dream Theater - ouça Misunderstood e Goodnight Kiss).
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