domingo, 13 de julho de 2003

Os discos obscuros do Yes - parte 3 (Tormato)

Tormato foi lançado em 1978 e segue a tendência iniciada em Going for the one: não há mais espaço para músicas longas. O cd é composto de 8 composições curtas (a mais longa tem 7:45). É também o último disco gravado pela formação clássica do Yes. Na época, a banda estava bastante dividida; as relações entre os músicos havia se desgastado com o passar dos anos de forma irremediável, e lamentavelmente isso transparece claramente durante a audição do cd.

Future Times/Rejoice é uma boa música, no entanto, não segue o padrão de qualidade estabelecido pelo Yes nos álbuns anteriores. Cumpre notar que em várias partes se ouve instrumentos em uníssono, geralmente Howe-Wakeman fazendo ‘runs’ em escalas. Não é um recurso muito comum nas músicas da banda, mas que demonstra ainda uma preocupação em mostrar algum virtuosismo. E funciona muito bem.

Don´t kill the whale é uma ótima música. Manifestamente em defesa da ecologia, todos os músicos se destacam, mas não posso deixar de ressaltar o papel de Howe, no tema inicial e até no solo. Belos vocais de Anderson-Squire (geralmente eles acertam quando cantam em harmonia). Há também um solo brilhante de Wakeman no polymoog.

Madrigal é uma faixa curta (não chega a 3 min), sem bateria, em que Wakeman toca cravo e Howe violão. Nada memorável, mas interessante pela procura de novos sons. Howe sempre se dá bem no violão, e dessa vez não foi diferente. Ótimos solos com influência flamenca.

Release, Release é a melhor faixa disparado. É o ‘heavy metal Yes’. Realmente uma pena que raramente foi reproduzida ao vivo - Alan White chegou a comentar que essa música era um pesadelo pra tocar na turnê do álbum. Tem uma levada bem “straight-forward”, com Jon Anderson cantando bem agressivamente (do jeito Anderson, pelo menos). Steve Howe também contribui ativamente e é bem sucedido. Na metade da música há um solo ‘tribal’ de bateria de Alan White (não lembro de outro solo de batera no Yes). Realmente, uma música estupenda que inova em relação ao repertório da banda.

Arriving UFO e Circus of Heaven seguem uma após a outra. E as trato conjuntamente pois são verdadeiramente péssimas composições. Óbvio que há coisas interessantes a serem notadas, mas predomina o timbre irritante do polymoog de Wakeman e a total falta de criatividade dos demais. Realmente insossas e insones essas músicas. Em Circus... há ainda uma (duvidosa) colaboração do filho pequeno de Anderson. Me admira muito que essa música ainda fez parte do repertório da Tormato tour.

Onward é uma das composições mais tristes da banda. Bem lenta e melancólica, é uma música comovente em todos os sentidos. Contém um dos registros mais graves de Anderson. Não tem bateria. É creditada somente a Squire - nesses casos, a música geralmente é boa (vide Parallels de Going for the one).

On the silent wings of freedom fecha o disco. O seu maior atrativo são os minutos iniciais, onde Squire e White nos presenteiam com uma ‘jam’, por assim dizer. Squire toca repetidamente um riff e White acompanha de forma livre com uma levada estilo Ian Paice. O resto da música não contém nada marcante.

Vale reparar no timbre diferenciado do baixo de Squire em todo o disco.

Concluindo: assim como Going for the one, Tormato não gozou de boa recepção por parte de público e crítica. De fato, não se trata de um álbum no padrão dos lançamentos anteriores, mas trata-se de uma bela banda e não se deve desprezar uma audição desse disco, pois este conta com um punhado de boas composições. Ademais, é um álbum com certa importância histórica para o Yes - depois dele, Jon Anderson passou a se dedicar a seu projeto com Vangelis, Wakeman voltou a sua irregular porém prolífera carreira solo. O trio remanescente Howe-Squire-White, por sua vez, continuou unido e ensaiando, e deu continuidade à banda, com participação de outros músicos, num resultado bastante controvertido.

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