sábado, 12 de julho de 2003

Os discos obscuros do Yes - parte 2 (Going for the one)

Going for the one foi lançado em 1977 e marca o retorno de Rick Wakeman aos teclados do Yes. O álbum marca também o início do abandono das músicas de 20 minutos, que marcaram o auge da popularidade da banda na metade dos anos 70. Isso não impede que o disco contenha músicas muito boas e fortes, que até hoje são reproduzidas ao vivo.

O disco inicia com a música título: um rock simples e acelerado, onde Steve Howe é a ‘mola propulsora’. Um ponto negativo é o vocal extremamente “high-pitch” de Jon Anderson - os versos já começam com um agudo intolerável, ao meu sentir. De outra parte, entendo que nesse álbum (com exceções ressalvadas a seguir) Wakeman não foi bem sucedido na escolha dos teclados. Tudo soa bastante datado, e identifico o teclado “Polymoog” como responsável por esse timbre ‘cafona’ (o encarte do cd esclarece quais os instrumentos utilizados nas gravações).

Turn of the century é uma balada predominantemente acústica. Muito bonita, é verdade, mas sem o impacto da outra
balada que vem mais adiante no disco. Considero a música mais fraca e dispensável.

Parallels é uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos. Tudo nela parece funcionar perfeitamente. É uma das músicas que considero ‘perfeitas’ - tem começo-meio-fim. Dura exatamente o tempo necessário - quero dizer, os músicos conseguiram reunir todas as idéias pra essa música funcionar; não existe aquela sensação de que a música já deveria ter acabado (por ser longa demais), ou de que faltou alguma coisa. Destaque absoluto pra Wakeman (que acertou em cheio no teclado) e Chris Squire. Os vocais são basicamente em uníssono Squire-Anderson, e numa altura bem agradável (completamente diferente da música Going for the one). Sobre Steve Howe, a impressão é que a guitarra nessa música não aparece - não faz falta nenhuma. Mas nota-se que Howe faz um interessante contraponto aos vocais nas partes cantadas. Vale reparar no solo de teclado: a banda acompanha um riff de baixo, onde sempre no 4o compasso há uma mudança no “time signature”. Bastante criativo, e o efeito causado mal é percebido pois as atenções estão voltadas ao (belo) solo de Wakeman. Essa idéia foi mais tarde incorporada e desenvolvida ao extremo pelo Dream Theater (Metropolis parte 2).

Wonderous Stories também é uma favorita pessoal. Admito que essa música padece um pouco com a cafonice do timbre de Wakeman. Mas Anderson a canta muito bem, e ela tem um andamento ‘que vai crescendo’. Interessante reparar que do início até o 1o. refrão, Squire toca num “time signature” diferente do resto da banda - cria um efeito de que ele está tocando aleatoriamente; as notas nunca aparecem no momento que o ouvinte está esperando. Belíssima versão ao vivo está contido no cd Yesshows - assim como Parallels.

Awaken é a música longa (15 min) do disco. Anderson afirmou várias vezes que essa é para ele a música mais perfeita do Yes, onde os músicos conseguiram realizar tudo o que ele gostaria de ouvir numa canção. Começa com Wakeman (brilhante) ao piano. Depois de alguns versos cantados por Anderson, acompanhados por um teclado ‘climático’, Howe apresenta um belo riff seguido pela banda - no estilo Siberian Khatru. Nessa parte também se destaca Alan White, numa levada bastante segura e criativa. Há ainda uma seção inteira onde Wakeman reina sozinho - várias camadas de teclado sobrepostas, num tema que remete à algum som oriental ou de civilização inca/maia (!). Não posso deixar de mencionar, ainda, um solo quase ‘shred’ de Howe no meio da música.

Em inúmeras entrevistas, Patrick Moraz revelou que muito do que se ouve em Going for the one (Awaken, especialmente), na verdade, foi ele quem compôs, durante os ensaios e passagens de som da Relayer tour. Chris Squire rebate em outra entrevista afirmando mais ou menos o seguinte: se alguém apresenta um acorde, e outro sugere ‘ao invés de tocarmos esse acorde, que tal esse outro’, só esse fato não o torna compositor da música - só um ‘palpiteiro’, pois a idéia foi apresentada pelo primeiro.

Concluindo: trata-se de um belo disco, onde os músicos encontravam-se em plena forma. Não encontrou a mesma repercussão dos discos anteriores junto ao público e crítica pois foi lançado num momento em que o progressivo já estava perdendo seu espaço (nenhuma banda desse gênero se deu bem nessa época).

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails