O Judas Priest é uma das minhas bandas favoritas, e vai se apresentar em Porto Alegre em 12.11.2008; nesta data ainda estarei indisponível, então não poderei vê-los pela terceira vez (a primeira foi em 2001 no Opinião, e a segunda em 2005 no Gigantinho).
Deve haver uma razão, que ainda não descobri, pela qual as principais bandas de heavy metal/hard rock gravaram, no início dos anos 1990, discos excelentes, alguns dos quais o melhor de suas respectivas discografias. “Black Álbum” foi em 1991, “Rust in Piece”, em 1990, “Dehumanizer”, em 1992, “Revenge”, em 1992, e “Painkiller” em 1990. Todos os discos dessa época são obras-primas do gênero. “Painkiller”, em especial, foi um disco marcante para o Judas Priest, que superou todos os trabalhos anteriores desde talvez “British Steel”, e serviu para dar novo fôlego a uma banda já muito influente. Afinal, Judas Priest já era conhecido por um estilo de hard rock/heavy metal com músicas mais rápidas, e riffs dinâmicos, e em “Painkiller” essas características se intensificaram ao ponto que se pode dizer que esse disco, por si só, independentemente da discografia anterior do Judas Priest, é influência para o speed metal, ou algo assim. Em apertada síntese, “Painkiller” trouxe levadas de bateria mais rápidas e agressivas (cortesia de Scott Travis, ex-Racer X - o cara é tão preciso no bumbo duplo que às vezes causa sonolência), bem diferente dos bateristas anteriores (Dave Holland, dentre outros, cuja batida era mais hard do que heavy), que acompanharam os igualmente rápidos e agressivos riffs de guitarra. Tipton e Downing fizeram bem o dever de casa e nesse disco apareceram em excelente forma nos solos virtuosos (notável a evolução dos caras – das rápidas pentatônicas típicas dos anos 70, os caras passaram a ser guitaristas do tipo shredder). No topo de tudo isso, Rob Halford com vocal agudo em quase todas as faixas.
Essas observações todas aparecem bem sintetizadas na faixa-título, que abre o disco. Uma introdução inacreditável, magnífica e memorável de bateria (por si só já nomeia Scott Travis como um dos lendários bateristas do estilo), um bom riff típico e eficiente com a utilização da 6.ª corda solta (E) como pedal note, palhetadas rápidas acompanhadas de bumbo duplo, vocal high-pitch quase o tempo todo, e solos destruidores dos dois guitarristas (tomam mais de 2min da faixa).
Além dessa, destaques para “Nightcrawler”: introdução "clean", riff com as mesmas notas da introdução, bem marcante e típico de heavy metal, vocal melódico nos versos, pre-chorus bacana e refrão assimilável. Não basta conhecer a fórmula, o conteúdo é que faz da música um clássico.
O título da faixa "Metal Meltdown" já antecipa o que será ouvido em seguida: um autêntico "rock pauleira", conduzido pelas guitarras e bateria, além do vocal performático: "Here comes the Metal Meltdown, run for your life". Convém não dar bola para as letras, pois nesses casos o que mais interessa é o som. Gosto bastante dessas faixas mais rápidas, e essa deu nome até para o disco duplo ao vivo registrado já na fase "Ripper" Owens. A introdução da faixa é um solo de guitarra de pura demonstração de virtuosismo, que muitos podem facilmente dizer que é dispensável, exibicionismo ou simplesmente chato e irritante, mas a verdade é que para a época isso provavelmente era importante e servia para mostrar que Glenn Tipton, especialmente, estava nas mesmas condições de fazer solos tipo shred em comparação com outros grandes guitarristas de bandas de heavy metal contemporâneas.
O single é a faixa mais diferente do disco: lenta, com riff e estrutura simples, e refrão bombástico, "A Touch of Evil" foi apresentada à banda pelo lendário produtor Chris Tsangarides. É uma boa música, e senão para outra coisa serve para dar uma diversificada num disco tão intenso, muito embora se trate de outro clássico da banda, e que funciona muito bem ao vivo.
É bom ouvir um disco no qual até as músicas obscuras são excelentes. "Hell Patrol" e "All Guns Blazing" são as melhores nesse sentido. A primeira tem um andamento um pouco mais lento, conta com um dueto legal de guitarras (geralmente não curto esses "teminhas"), e dá uma acalmada após "Painkiller"; a segunda, por sua vez, tem uma introdução com o vocal absurdamente high-pitch de Halford, e assim como a introdução de guitarra em "Metal Meltdown", nesse caso servia para mostrar que o vocalista poderia acabar com qualquer outro concorrente nas mesmas condições.
"Painkiller" é, então, heavy metal do início ao fim, e uma amostra boa do tipo de heavy metal que o Judas Priest é capaz de fazer na sua melhor forma.
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