Lembro bem da época que se seguiu à saída de Rob Halford do Judas Priest (em 1992), pois a banda permaneceu inativa por um longo período. Cheguei até a considerar que o Judas havia encerrado suas atividades, e que Halford se sairia muito bem na tarefa de reerguer o Black Sabbath (nesse sentido, são bem conhecidos os shows que o cara conduziu no início dos anos 90 quando Dio se recusou a participar de algumas datas, o que alimentou os rumores de que Halford seria o novo vocalista do Sabbath. Eventualmente isso não frutificou, e Halford se dedicou apenas, no período, aos seus projetos solo e a sua banda Fight). Ainda não consegui apurar exatamente como nem quando, mas o fato é que 5 anos mais tarde foi anunciado o retorno do Judas Priest, e o vocalista seria Tim “Ripper” Owens, que fazia parte de uma banda cover do Judas Priest (essa história serviria para o filme “Rock Star”, cuja idéia inicial era mencionar expressamente o Judas Priest – e o nome do filme seria “Metal Gods”).
O disco de retorno, “Jugulator”, foi lançado em 1997, mas chegou na MadSound apenas em 1998, e acredito que tenha sido o primeiro a alugar o cd, no início do inverno daquele ano (a época era particularmente turbulenta). Botei o disco para rodar e imediatamente fiquei com uma impressão positiva. Eventualmente achei o disco na Siciliano do Iguatemi, juntamente com o cd tributo ao Judas Priest, e o preço era inacreditável, tipo R$ 8,90.
Absolutamente não entendo como um disco essencial como esse possa ser criticado. Bem, até entendo que alguém queira ouvir discos do Judas Priest com apenas Rob Halford nos vocais; entendo que essa questão fica superada quando se sabe que Black Sabbath com Ronnie James Dio (e mesmo Ian Gillan e Glenn Hughes) pode ser tão bom quanto o da fase com Ozzy Osbourne, que Deep Purple com David Coverdale e Glenn Hughes pode ser tão bom (e algumas vezes até melhor) quanto o da fase com Ian Gillan, e que Iron Maiden é definitivamente melhor com Bruce Dickinson do que com Paul DiAnno.
Mas “Jugulator”, por si só (ou seja, independentemente do vocalista), é um disco com composições muito fortes e boas. Definitivamente é um disco de guitarras e baterias agressivas, mas sem sair (muito) do heavy metal praticado pela banda, notadamente a partir de "Painkiller", aproximando-se com o que se denomina de thrash metal. É evidente que o som não é o mesmo do Priest dos anos 70 e 80; aqui os caras baixaram a afinação (no mínimo um tom abaixo - em um site diz-se que é C e C#, o que ainda falta conferir), e a batera de Scott Travis acompanha a pancadaria das guitarras. Simplesmente os caras seguiram o caminho aberto pelo “Painkiller” e foram além - e a meu juízo se deram muito bem.
Todas as faixas contêm vários riffs e partes de guitarra e bateria muito boas e marcantes (a introdução com guitarra limpa em quase metade das faixas é um pouco irritante, mas não compromete, pois geralmente o que vem a seguir é uma paulada). É um disco agressivo, não há dúvidas. E o vocal de “Ripper” Owens acompanha adequadamente todo esse clima. Particularmente, não divido preferências entre Halford e Owens (talvez tenha parecer ligeiramente mais favorável em relação ao segundo, apesar de que o primeiro é, indiscutivelmente, um verdadeiro mito no gênero): independentemente do vocalista, o legal é ouvir boas músicas de heavy metal, e em se tratando de Judas Priest, boas músicas de heavy metal são o que se ouve nesse “Jugulator”.
Destaques para as seguintes faixas:
(a) “Jugulator” – a faixa-título começa com uns sons mecanizados e de umas alavancadas nas cordas mais graves da guitarra soltas, simulando uma espécie de respiração de um monstro – o Jugulator. O truque é manjado, e a coisa fica boa mesmo quando entra a bateria à milhão, e depois uma sucessão de riffs arrasa-quarteirão. Antes de um dos inúmeros solos, “Ripper” Owens tem oportunidade para soltar um raro (nesse disco) e muito legal agudo na parte “now it´s time to jugulaaaaaaaaaaaaaaaaate”.
(b) “Blood Stained” – um recurso empregado em muitas faixas é a introdução com dedilhado tocado em guitarra limpa, ou, pelo menos, com o volume da guitarra mais baixo. Aqui se tem o primeiro exemplo, e depois da introdução vem outra sucessão de riffs bem pesados e acompanhados por bateria bem forte. Quanto aos vocais, há espaço para um bom refrão.
(c) “Bullet Train” - é o tipo de música que gosto, rápida e com vários riffs.
(d) “Dead Meat” – assim como as demais, conta com riffs excelentes e refrão matador.
(e) "Death Row" - essa faixa é muito boa e conta com o melhor refrão do disco. A interpretação de "Ripper" Owens é excelente em todas as faixas, mas se destaca aqui.
(f) "Burn in Hell" - outra com introdução clean e múltiplos riffs em seguida.
Disco que apresenta um Judas Priest ainda mais brutal nas guitarras, bateria e vocal, com excelentes resultados. Nada como ouvir bons riffs de guitarra com distorção, e "Jugulator" é uma aula do início ao fim.
Um comentário:
gostei da resenha cara, continua assim.
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