Há uns anos atrás tive a oportunidade, aqui, de expressar a profunda admiração que tenho pelo som das bandas de fusion, ou jazz fusion ou jazz rock dos anos 1970, aí incluídas, basicamente, Return to Forever, Weather Report e, especialmente, Mahavishnu Orchestra. Acho que o Bruce e eu tomamos conhecimento sobre essas bandas a partir das resenhas sobre discos do Dream Theater, e mais especificamente na época do lançamento dos discos do Liquid Tension Experiment (projeto de Mike Portnoy com Jonh Petrucci, , em 1998/1999, e naturalmente fomos buscar maiores informações sobre essas bandas com músicas instrumentais e instrumentistas virtuosos. O Bruce, então, adquiriu no balaio da Stoned uma coletânea da Mahavishnu Orchestra; escutei por alguns dias e fiquei muito impressionado com o som poderoso dos caras.
Com o auxílio do Audiogalaxy e do Soulseek consegui formar uma opinião sobre o melhor disco da banda: para mim é o primeiro, "The Inner Mounting Flame" (geralmente nas listas de discos mais influentes se fala no "Birds of Fire"), e durante uns 8 anos aguardei pelo lançamento desse disco na versão nacional (importado é caríssimo, e já sabia que há anos atrás tinha saído por aqui, então aguardava a reedição). Então, foi um belo momento quando há uns 2 meses encontrei esse disco na Cultura por preço bem tranqüilo.
"The Inner Mounting Flame", assim como "Birds of Fire", foi registrado pela primeira formação da Mahavishnu Orchestra, e sempre se ressalta que se trata de uma formação multinacional: John McLaughlin, guitarra, é inglês; Billy Cobham, bateria, é panamenho; Jerry Goodman, violino, é americano; Rick Laird, baixo, é irlandês; Jan Hammer, teclado, é tcheco. Curioso é que a primeira opção de McLaughlin para a posição de violino era Jean Luc Ponty, francês, mas este aparentemente teve problemas com visto de entrada nos Eua e teve que ceder lugar para Goodman.
Geralmente se diz que Mahavishnu Orchestra é mais demonstração de técnica e virtuosismo, ao passo que Weather Report tem mais melodia. Talvez essa possa ser uma constatação do tipo prima facie, e é só assim que se pode concordar com um palpite desses. Admito que me impressionaram muito faixas como "Awakening", "Meeting of the Spirits" e "Noonward Race", mas é evidente que a banda não é só de virtuosos quando se ouve faixas bonitas como "Dawn".
"Meeting of the Spirits" é um bom jeito de começar um disco dessa banda: a introdução é um dedilhado complicado e com efeito hipnótico, ao qual se segue um tema tocado simultaneamente na guitarra e no violino. É uma das minhas favoritas da banda, e tem uma versão muito boa tocada pelo primeiro guitar trio: McLaughlin, Paco de Lucia e Larry Coryell.
A segunda faixa, "Dawn" é belíssima, com uma bela linha de baixo, bem lenta, que faz a base para uma melodia bonita de guitarra e violino. Até o solo de guitarra, mesmo com várias notas em algumas partes, encaixa nesse clima. Em seguida a música evolui para um andamento mais faceiro, com solo de violino, e volta para a parte inicial lenta.
Em "The Noonward Race" volta o andamento mais frenético, e no começo há uma espécie de dueto entre guitarra e bateria (McLaughlin e Cobham). Segue-se, então, o solo de violino de Goodman (com um efeito tão diferente que parece outro instrumento), sob o qual Laird faz uma linha de baixo muito legal, e Cobham se destaca como sempre, com levadas que vão mudando a cada 4 ou 8 compassos. Ao final do solo de Goodman, todos se unem para uma virada (um riff), e então segue o solo de Hammer, mais uma virada, e o solo de McLaughlin.
Uma faixa só de violão com cordas de aço, violino e piano elétrico é o que é "A Lotus On Irish Streams". Tem partes muito bonitas, e mostra que McLaughlin manda bem até no violão.
Cobham faz a introdução para "Vital Transformation" e a banda o acompanha, como se todos estivessem tocando o mesmo riff. O baterista não demora para fazer o que mais admiro no cara, que é a variação das levadas. A música, no entanto, dá uma acalmada para uma melodia crescente e, após um momento de tensão, segue para o solo de guitarra. Aqui, como em todo o disco, é interessante ouvir a linha de bateria.
"The Dance of Maya" começa com um dedilhado na guitarra com wah-wah que evoca a imagem de uma pessoa caminhanado com incrível dificuldade, tropeçando e se arrastando. Isso se dá pelas mudanças de tempo durante os compassos. Esse dedilhado é base para um solo de violino, e a partir daí segue uma inesperada jam blues em com tempo quebrado - mais uma vez vale a pena ouvir o que Cobham está tocando (o cara tem uma facilidade absurda, pela fluidez, para tocar nessas situações).
A Mahavishnu Orchestra mais melodiosa aparece novamente em "You Know, You Know", que começa com volume bem baixo, com poucas notas e um solo de Hammer na manha. Aos poucos, McLaughlin impõe umas pontuações vigorosas. Há uma pequena melodia, que é tocada entes e depois do curto solo de bateria.
"Awakening" é uma impressionante demonstração de virtuosismo, que já começa arrebentando: todos os instrumentos tocam simultaneamente o mesmo número de notas à toda velocidade. Depois há uma base para cada instrumentista fazer o seu solo, e logo ao final do primeiro, de violino, percebi que os caras erram a execução pois perdem o tempo para voltar ao tema de abertura: Goodman toca primeiro, os outros hesitam, e voltam ao final; ao final do solo de Hammer, a coisa já fica melhor. Durante o solo de McLaughlin, bem enérgico, a base acompanha o entusiasmo e é muito legal, mas acho que em todos os casos os recursos ficariam melhor aproveitados se o tempo dos solos fosse o dobro, pois fica a impressão de que quando os caras estão se soltando no solo, o tempo acaba e têm que voltar ao riff inicial. A música é a mais curta do disco, e poderia tranquilamente ter o dobro do tempo.
"The Inner Mounting Flame" é um disco espetacular de jazz rock, ou fusion; aguardo o lançamento dos demais discos da banda em versão nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário