Parece-me indiscutível que o disco mais importante dos anos 1970 é "Dark Side of the Moon" do Pink Floyd. Aqui ainda não é o espaço para desenvolver essa idéia, mas embora tenha firmado tal convicção há uns 5 anos, demorei para decidir pela aquisição desse livro que se propõe a descortinar os "bastidores" de um dos discos mais vendidos de todos os tempos e recordista em permanência na lista da Billboard. Há um ano resolvi que seria uma boa fazer essa leitura (pela escassez de livros sobre música - tendência que parece estar revertendo nos últimos tempos - e pelo fato de que se trata, efetivamente, de um disco fundamental), mas estava aguardando por alguma espécie de promoção na Saraiva (e esse ano veio uma, na época da semana ou mês do rock).
Algumas coisas já sabia, como as participações de Alan Parsons, Clare Torry e Dick Parry, os truques de estúdio (gravação dos relógios, das falas de pessoas que respondiam às perguntas formuladas por Roger Waters e impressas em cartões, entre outras), bem como sobre a temática das músicas e do disco, e a inspiração de alguma(s) música(s) em Syd Barrett; o que sempre espero em livros como esse é informações a respeito dos métodos de composição, e histórias do tipo "esse riff criei quando estava em casa ouvindo uma música no rádio", ou "essa melodia veio à cabeça quando estava dirigindo para casa de um amigo".
Diferentemente de outros livros de música, e dos livros de música que costumo gostar de ler, a leitura deste não é das mais fluidas. Afinal, o livro é sobre um disco específico, mas o autor sentiu a necessidade de dedicar aproximadamente 80 páginas para explicar as fases da banda até chegar em "Dark Side", e se uma introdução é recomendável, de outro lado achei exagerada e comprida, sobretudo pela ênfase em Syd Barrett. Fico intrigado com essa inquietação a respeito de Barrett: apesar do cara ter sido o líder original e compositor principal, Barrett participou apenas do primeiro disco, sendo certo que a partir daí a banda lançou pelo menos três discos excepcionalmente bem sucedidos (pessoalmente, acho a fase sem Barrett muito melhor...). Entendo menos ainda a escolha de uma foto da época de Barret, sem Gilmour, para ilustrar a capa do livro. É possível dizer, então, que, no mínimo, o livro demora para engrenar.
As coisas ficam realmente compensadoras quando o autor trata da banda em estúdio, assim como o processo de refinamento das composições nas apresentações ao vivo. Não há muitos esclarecimentos a respeito de como as músicas foram nascendo, mas na primeira fase de gravações a banda tinha reunido material suficiente para o disco novo, que só precisava de amadurecimento - e para isso foi fundamental testar as músicas nos shows, além da valiosa colaboração de Alan Parsons no registro das performances em estúdio. Particularmente dignas de atenção são as partes que descrevem a execução da íntegra do disco, muito antes do seu lançamento, e a forma como evoluíram as faixas desde o estágio inicial (com acréscimos de novas partes, novos instrumentos - sabe-se que "On the Run" era apenas uma jam de guitarra, e que ganhou nova dimensão com a utilização do VCS3 - e novas participações - como cantoras de backing vocals). Outra parte muito boa é a que trata da contribuição de Clare Torry em "The Great Gig in the Sky"; realmente é difícil imaginar o que seria dessa música sem o memorável solo de vocal de Torry, e parece merecido que tenha ganho crédito autoral na faixa, mediante decisão judicial (no cd que eu tenho ainda não aparece essa co-autoria). Para mim foi muito esclarecedora também a questão da utilização do sintetizador VCS3. Ponto positivo na narrativa é a de contar a história desde o estágio inicial nos estúdios Abbey Road, com espaço para as turnês que entremearam as gravações, além da própria gravação de um outro disco ("Obscured by Clouds"), e assim é possível saber a quantas andavam as gravações quando se adicionou o VCS3, ou o saxofone de Dick Parry, ou o vocal de Clare Torry. Por fim, muito reveladora e bem explicada a produção da capa e encarte do disco, conduzida pela notável Hipgnosis e Storm Thorgeson.
Se não tivesse gasto tantas páginas com a fase inicial da banda, talvez o autor tivesse tido mais espaço para tratar da fase posterior ao lançamento do disco; seja como for, é interessante a observação a respeito do desconforto dos caras com o fato de que o público da banda aumentou muito, mas isso não significou necessariamente que se agregaram novos fãs, e assim passou a ser normal que, durante os shows, nas músicas calmas (tipo o início de "Echoes"), parte do público gritasse por "Money". Sabendo o tipo de temperamento de Waters, por exemplo, e o próprio comporamento pouco caloroso de todos os integrantes, fica fácil antecipar os desdobramentos que viriam, como a dificuldade inicial para criar músicas novas para "Wish You Were Here", e até o incidente durante a turnê de "Animals" que deu a Waters a idéia de erguer um muro na frente da banda durante a turnê de "The Wall".
Nenhum comentário:
Postar um comentário