quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CD tributo – “A tribute to Judas Priest - Legends of Metal vol. II”

Hoje em dia praticamente toda banda com mais de dois ou três cds lançados foi objeto de um disco “tributo” lançado ou pela Magna Charta ou produzido por Bob Kulick (dentre outros, evidentemente). É certo que isso ajudou a vulgarizar o formato, mas também é inegável que os primeiros cds tributo são muito bons, e particularmente, entendo que se trata de uma excelente oportunidade para (a) conhecer o som da banda homenageada; (b) conferir performances atualizadas de alguns clássicos da banda homenageada, por bandas mais novas, não raro com resultados melhores que o original (por uma ou outra razão); (c) conhecer bandas novas que participam do tributo. Existe ainda a velha questão de saber se é melhor ouvir uma reprodução nota-por-nota ou se, diante da impossibilidade de superar a versão original, o negócio é dar uma personalizada e modificar alguma coisa, ou mesmo toda a faixa. Tenho tendência para achar que o melhor é a banda gravar a música tão parecido quanto possível ao original, com as devidas atualizações no som dos instrumentos, mas admito que o melhor mesmo é que, em qualquer caso, a versão fique, ao final, boa de ouvir (e assim, como tudo na vida, há os que acertam e os que erram na dose, seja ao tentar reproduzir o original, seja ao personalizar ao seu gosto).

Um dos primeiros tributos que tive notícia foi o dedicado ao Judas Priest, da Century Media, e isso foi em 1998, aproximadamente. Já havia alugado a famosa coletânea “Metal Works” (álbum duplo) na TV3, em algum lugar no começo dos anos 1990 (a partir de 1993), e não havia me impressionado, senão pela música mais conhecida dos caras e imortalizada por Beavies & Butthead, a clássica “Breaking the Law”. Em 1998 a MadSound já tinha quase de tudo em termos de hard rock e heavy metal, então trouxe para casa os volumes 1 e 2 do tributo ao Judas Priest.

Nesses dois cds constam boa parte das melhores músicas do Judas Priest, de todas as suas épocas até então (isto é, do primeiro disco ao “Painkiller”), interpretada por algumas bandas muito conhecidas, como Helloween, Stratovarius, Blind Guardian e até Angra, outras que conhecia só pelo nome, como Kreator, Gamma Ray e Virgin Steele, e, por fim, outras que desconhecia até então, como Iced Earth.

O volume 2 é o melhor, e inacreditavelmente achei o cd, importado, disponível na Siciliano do Iguatemi por um preço muito barbada. O disco talvez valha já pela primeira faixa, “The Ripper”, interpretada magistralmente pelo Iced Earth. O vocal é excelente, as guitarras precisas e muito bem gravadas, e a música, por si só, já é uma baita composição, o que facilita bastante. Essa versão matadora, então, me permitiu descobrir uma boa banda nova (para mim, pelo menos), Iced Earth, capitaneada por um competente guitarrista e compositor (Jon Schaffer) e que contava com um excepcional vocalista (Matthew Barlow). Já tive na minha coleção alguns cds dos caras (“Burnt Offerings”, “The Dark Saga”, “Night of the Stormrider”) e aluguei outros muito bons (“Alive in Athens”, “Something Wicked This Way Comes”).

O sotaque germânico de Hansi Kursch é bem característico, mas nem isso impediu que o Blind Guardian apresentasse uma versão absolutamente fiel à original para “Beyond the Realms of Death”. Só acho que uma música “épica” como essa, de 7min, com altos e baixos (versos calmos, refrão com guitarras e vocal gritado), poderia ter ficado mais adiante no cd, e não logo na 2.ª faixa.

Outra banda alemã, dessa vez o Heavens Gate, registrou uma música que não conhecia na época e que se tornou uma das favoritas: “The Sentinel”. Estava ouvindo recentemente, e tive a impressão de que essa é uma música divertida de ouvir do Judas Priest. Afinal, começa com uma guitarra fazendo uma introdução com oitavador, sendo que a música realmente começa com um mini-riff e depois a banda toda entra num ritmo mais acelerado, com uma levada muito legal. E o vocal do Heavens Gate é muito bom. As guitarras não estão muito distorcidas, respeitando um pouco o próprio som do Judas Priest nos anos 70, mas o resultado ficou uma versão atualizada excelente para uma bela composição de Tipton, Downing e Halford.

“Exciter”, por si só, já é uma música muito legal. É rápida, riffs muito legais, refrão marcante, e umas partes de guitarra muito boas, tanto na base dos versos como na base dos solos, sem contar ainda um teminha entre os solos que é massa. O Gamma Ray apresentou neste tributo a sua versão, gravada ao vivo, contando com o vocal de Ralf Scheepers, que posteriormente seria um dos cotados para assumir o posto de Rob Halford quando este deixou a banda (pelo que li em revistas ou sites especializados, o vocalista alemão teria ficado devastado com a perda da chance para o neófito “Ripper” Owens, tendo até se afastado da música por um tempo, voltando apenas diante do apelo do guitarrista do Primal Fear para montar essa banda – que segue o mesmo estilo do Judas, e tem músicas próprias muito boas).

O grande mérito do Angra (e isso lembro perfeitamente nas entrevistas que os caras deram para o Gastão no Fúria Metal, à época) foi ter reproduzido nota por nota, falsete por falsete, a versão original de “Painkiller”. Realmente os caras desempenharam a tarefa de maneira espantosa. Não sei exatamente se outros vocalistas não conseguiriam cantar em registro alto o tempo todo como André Matos fez nessa faixa (acredito que existem muitos, que poderiam até exibir performance superior), mas o solo de Glenn Tipton, reproduzido por Kiko Loureiro, ficou muito bom, além do fato de que Ricardo Confessori tocou com perfeição uma das melhores introduções de bateria de todos os tempos (cortesia do grande marreteiro Scott Travis).

O Stratovarius defendeu uma boa versão para uma música obscura do repertório do Judas Priest: “Bloodstone” é de um disco dos anos 1970, e não consta do set-list das últimas turnês da banda (particularmente, assisti a dois shows, um com o “Ripper” Owens, durante a turnê do “Demolition”, e outro com o Rob Halford, durante a turnê de retorno do disco “Angel of Retribution”). Não é uma música excepcional, mas o cover ficou muito bom, notadamente pela guitarra e pelos vocais.

Kreator é uma banda bem conhecida no gênero, e neste tributo veio com uma versão muito boa para outro clássico do Judas Priest: “Grinder”. A música é bem simples, mas ao mesmo tempo muito efetiva. Tem um riff em A e depois C-B, e o refrão em E-F#-E-F#-A-F#, repete o riff e o refrão, segue uma parte mais cadenciada e com peso, e volta para riff e refrão até o final. É simples, é efetivo (as parte se encaixam perfeitamente), e é muito bom. O Kreator se aproveitou bem do vocal mais brutal notadamente no refrão, conferindo ao “Grindeeeeeeer, looking for meeeeeeeat” um clima bem adequado.

“Tyrant” é outra que foi interpretada com vocal um pouco mais brutalizado (gutural), tendo em vista o estilo da banda que gravou a versão; só que dessa vez o resultado não foi tão bom. O que se salva, realmente, é o resto dos instrumentos, notadamente as guitarras. E a música, que, afinal, é boa.

“Dissident Aggressor” é a única faixa apresentada duas vezes, por duas bandas diferentes. A primeira versão, da Forbidden, é muito boa. Vários riffs qualificados, com guitarras bem gravadas, e o vocal é legal também, isso tudo respeitando a original do Judas Priest. A versão do Skyclad, por outro lado, é totalmente diferente da original, quase estilo balada, e, bem, posso dizer que, no mínimo, não me impressionou muito. Outra banda que personalizou demais e errou na dose foi o Nevermore em “Love Bites”. Essa é uma faixa dos anos 80, e que acabou ficando arrastada ao estilo doom metal, e nessas condições o “skip search” se impõe.

Então esse tributo ao Judas Priest serviu para me tornar fã da banda homenageada e para conhecer algumas bandas boas que tomaram parte no projeto (Iced Earth, Heavens Gate, Gamma Ray e Ralf Scheepers, entre outras).

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