Um livro que contém, exclusivamente, as datas de todos os shows do Queen, com o set list de boa parte deles, acompanhadas de breves comentários sobre fatos peculiares de alguns eventos destacados, bem como um levantamento dos set lists mais comuns ano a ano, das músicas nunca tocadas ao vivo, dos covers, das apresentações por ano e por país... parece um livro que só eu adquiriria. Pois "Queen Live - A concert documentary by Greg Brooks" é um livro inteiramente dedicado à parte da atividade do Queen desempenhada nos palcos. E se a descrição da vida na estrada comprometeu a leitura da biografia do AC/DC, o mesmo não se pode dizer desse que trata do Queen.
Há uma breve exposição sobre como a banda se formou, e uma descrição genérica dos shows embrionários. Segue-se, então, cronologicamente, â exposição de todos os shows, ano a ano, muitos dos quais com set list. O trabalho que o cara teve, bem se vê, foi notável, sobretudo quando se tem notícia de que a primeira edição do livro foi escrita antes do advento da internet; o autor se valeu de anotações pessoais, coletadas durante anos como fã da banda inglesa, e conforme revelado no prefácio, foram quase totalmente confirmadas a partir das informações que, enfim, a internet trouxe, bem como o apoio formal da banda, que oficializou o cara como uma espécie e arquivista (nada mal para um fã se tornar empregado da banda do coração - outros exemplos são o Tommy Thayer no Kiss e, mais notoriamente, o Tim "Ripper" Ownes no Judas Priest). Assim, o autor contou com uma inestimável fonte: os arquivos particulares dos integrantes do Queen.
Além de informações "preciosas" como a da vez em que Brian May quebrou duas cordas de duas guitarras diferentes durante o seu solo em "Brighton Rock" (09.08.1982, Meadowlands, NJ), há algumas curiosidades incríveis como a da turnê do disco "Jazz" na Europa, durante a qual, em quase todos os shows, a platéia pedia a todo o custo para a banda executar "Mustapha", o que por vezes enervou Freddie Mercury (afinal, o set list já estava pronto, e a música seria tocada um pouco mais adiante), sendo que me parece que "Mustapha" não é das mais conhecidas da banda (embora seja uma música boa, que ao vivo deve ficar melhor com a proeminência da guitarra - que falta na versão de estúdio).
Identifiquei-me na parte em que o autor reclama do disco "Live Killers", lançado em 1979 após a lendária turnê européia de lançamento de "Jazz", pois no registro teriam faltado (inescusavelmente) algumas faixas importantes do repertório daqueles shows, e que algumas conversas de Mercury com o público teriam sido editadas. Transcrevo o excerto: "As stated earlier, four other audience favourites ('Somebody To Love', 'It´s Late', 'If You Can´t Beat Them' and 'Fat Bottomed Girls') should also have featured on 'Killers', but didnt´t! I hope to see the day, sooner rather than later, when a revised 'Killers' album is released with the correct running order, no bleeps, the four AWOL´s, an unabridged 'Mustapha', the alternative 'Keep Yourself Alive' featuring Roger and Freddie´s 'Fun It' routine, and Freddie´s references to 'the girls'. I will be the first to fight for it!". É basicamente o mesmo sentimento que eu tenho em relação ao "Alive III" do Kiss (numa tentativa de vender mais discos, a banda resolveu lançar um disco simples de 74min com parte do repertório da memorável turnê de "Revenge", ao invés de seguir a tradição de discos duplos ao vivo - "Alive!" e "Alive II". Com isso, ficaram de fora, inescusavelmente, músicas importantes do período, como "Tears Are Falling" e "War Machine", além de "Love Gun" - as melhores versão deste clássico do Kiss são dessa época, 1992/1993).
Há uma razoável cobertura sobre os shows do Queen realizados no Brasil, em 1981 e no primeiro Rock in Rio. A última apresentação do Queen se deu em 09.08.1986, no Knebworth Park, no final da turnê de "A Kind of Magic". Conforme as transcrições das falas de Mercury para o público, essa época era marcada por muitas especulações sobre o fim das atividades da banda com a dispersão dos integrantes (em 1983 o Queen não fez nenhum show). O vocalista fazia questão de rechaçar essas notícias plantadas, e é verdade que a banda acabou por outras razões. Para mim é notável que o último show foi realizado em 1986, sendo que a banda ainda registrou mais dois discos de estúdio ("The Miracle", em 1989, e "Innuendo", em 1991). Isso não é cogitado no livro, mas provavelmente isso se deveu ao fato de que Mercury não teria condições físicas para embarcar em mais uma turnê mundial. Então foi no auge da carreira que a banda fez sua última apresentação, com um repertório composto quase exclusivamente de clássicos.
É claro que a leitura empolgou a ponto de dar uma ouvida nos cds ao vivo ("Live Magic" e "Live at Wembley '86"), além dos shows em dvd ("Live at the Bowl", "Rock in Rio"), e não demorei para constatar que o Queen é uma das melhores bandas em termos de apresentações ao vivo, e que o repertório dos caras, diferentemente da minha idéia inicial, era realmente matador (nos shows mais antigos, em algumas músicas me veio o pensamento do tipo "bá, nem lembrava que essa música era tão boa desse jeito"). A presença de Mercury é tão forte, sem contar o carisma e a voz inigualável, e isso me faz concluir que realmente o Queen acabou; acho legal que May e Roger Taylor estejam tentando reerguer a banda com Paul Rodgers nos vocais, mas aí parece uma banda cover (sem demérito, mas não tem comparação).
Um comentário:
Não conhecia este material do Queen, vou procurar para comprar já pois quero saber mais sobre a minha banda favorita.
Viva Queen, Viva Freddie Mercury.
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