Até 2001/2002 não era tão fácil encontrar bootlegs nos programas de compartilhamento de arquivos, então adquirir bootlegs (em regra, mais caros que os lançamentos oficiais) era como ter preciosidades na coleção. Já sabia que Joe Satriani ingressou no Deep Purple, no lugar de Ritchie Blackmore, para completar a turnê de lançamento do disco “The Battle Rages On” (em comemoração aos 25 anos de atividades), mas nunca imaginei que um dia ouviria algo de um daqueles shows únicos, então quando vi o bootleg “Welcome Joe” (em alguma boca do disco como a Gal. Chaves, ou a Toca ou a própria Boca) tirei o escorpião do bolso e trouxe o disco para a casa.
Se, por um lado, ter um bootleg é legal, pelo conteúdo inestimável como é o registro de um show do Deep Purple com Joe Satriani na guitarra (pois o cara saiu logo em seguida, sem gravar um disco oficial, de estúdio ou ao vivo), por outro pode ser uma tranqueira, no caso da gravação ser ruim, ou o próprio show inexpressivo. Já tive muitos bootlegs do Kiss que acabei me desfazendo (mediante ruinosas trocas na Boca) justamente por essas razões. Esse “Welcome Joe” acabou resistindo no tempo. O som parece ser gravado da platéia, pois o som das palmas e dos comentários e gritos é bem alto – tem que aumentar bastante o volume para ouvir os instrumentos.
Para minha surpresa, o set-list é quase o mesmo do que seria se Blackmore fosse o guitarrista, e não com apenas as músicas conhecidas de Satriani – tipo as dos anos 70, até o “Machine Head”. Satch teve que aprender “Ramshackle Man”, “Anya”, “Knocking at your Back Door”. Em geral, o guitarrista reproduz as versões originais dos solos, notadamente nas músicas mais conhecidas, como “Highway Star”. A surpresa maior, no entanto, é a execução de “Satch Boogie”, uma das composições mais conhecidas do guitarrista, e que ganhou uma versão muito legal (afinal, a levada é bem típica do Ian Paice).
Ter um bootleg, mesmo com uma preciosidade dessas, não é mais tão emocionante; então vale a máxima do "não me arrependo de ter comprado, mas não compraria de novo".
Como se sabe, Blackmore teve um faniquito e saiu da banda, mais uma vez (e desta feita em bases permanentes), no meio da turnê; para completar as datas da turnê japonesa, Joe Satriani foi convidado. O cara é consagrado guitar hero, e recém havia lançado o bem-sucedido (e muito bom) "The Extremist" (já escrevi sobre os discos que tenho do Satriani aqui). Essa parte da turnê com Satch foi satisfatória a ponto de ser cogitado o seu ingresso no Deep Purple, o que foi recusado sob alegação de que não poderia se dedicar à banda em prejuízo de sua carreira solo (parece-me que, na verdade, o que deve ter impedido essa reunião fantástica foram questões contratuais). Essa movimentação deu ensejo ao ingresso de Steve Morse, consagrado guitarrista do Dixie Dregs e com carreira solo, e a gravação de um disco bem razoável ("Purpendicular").
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