segunda-feira, 18 de agosto de 2008

7.º show da Burnin´ Boat (2001 - Bar João)



Depois que assisti a um show da Hibria – banda de heavy metal com músicos muito técnicos, formada por ex-colegas de colégio – no Bar João, no final dos anos 1990 e antes da Burnin´ Boat tomar forma, tive uma certa noção do que Paul Stanley certa vez disse sobre assistir o Led Zeppelin no Madison Square Garden; a comparação provavelmente não é boa, mas, enfim, o guitarrista do Kiss disse que ao ver o Led teve aquela vontade misturada com um certo pressentimento do tipo “um dia vou tocar lá”. Pois então, se um dia conseguisse tocar no Bar João, seria um grande momento para se considerar, mesmo que brevemente, um rock star.

Valmor: Realmente há um valor muito grande neste show, no sentido de que quando alguém relelmbra o saudoso Bar João, a gente pode dizer "Tocamos lá!".

O Bar João era um local tradicional de encontro da galera que curtia som pesado. Se numa primeira época possa ter agregado punks, alternativos e outros, nos tempos mais recentes o público era de metaleiros, com roupas pretas e tudo mais. Assim, no show da Hibria, os caras estavam se despedindo do público de casa para uma temporada de apresentações na Europa, embora isso não tenha sido divulgado aos presentes (foi o Jorge quem me deu a letra). O local estava lotado e as pessoas muito excitadas, vibrando em todas as músicas, próprias e covers. Fiquei, então, com uma baita impressão positiva do Bar João como local para shows desse tipo, apesar de que fazer show num bar daquele tipo parecia improvável, pois o palco era apenas um local que dividia as mesas do bar da parte onde ficavam as mesas de sinuca, e os músicos e instrumentos ficavam ali espremidos.

Valmor: Vale lembrar a minha apreensão durante todo o set, pois a banda ficava sobre um tabladinho baixo, mas meu banquinho de bateria ficava no limite do fundo do palco, e eu achava que a qualquer momento seria protagonista de uma videocassetada (afinal estávamos filmando, como de praxe).

GILBERTO: Eu já tinha ido algumas vezes ao "João" e lá tocava aquela banda que era tipo um objetivo pra mim, em termos de reconhecimento, a "Crossfire" [nota do Guilherme: também lembro e curti muito esses shows da Crossfire]. Mas na noite em que fui tocar com a Burnin' Boat lá, lembro que rolou um sentimento de hesitação da minha parte, tipo quando os Blues Brothers entraram pra tocar num bar legitimamente country, em seu primeiro filme. Eu pensei "Mas esse palquinho vai ser muito pequeno pra nós" - pensamento típico do "perfomer" :-) e assim foi, não nos esbarrávamos, mas tbm não nos atrevíamos a nos mover muito.

A Burnin´ Boat, em 2001, já estava com sua formação clássica consolidada, e já havíamos nos apresentado algumas vezes. Acho que foi em setembro que surgiu a oportunidade de tocarmos no Bar João; sempre estimulei o Luciano, que freqüentava o Bar durante a semana, a tentar marcar um show para nós, e parece que o cara deixou um cd nosso com o dono do Bar, que pelo jeito não era muito acessível, mas aceitou nos deixar tocar.

Acredito que a idéia de divulgar o show como “hard rock de grátis” tenha sido do Bruce, e ele e o Luciano agilizaram um cartaz, que não estou certo de ter visto nos muros da cidade (não tenho nenhuma foto nesse sentido...). Efetivamente, não foi cobrado ingresso da platéia, e nem ganhamos nada com a apresentação. Para mim isso nunca foi dificuldade alguma, pois o meu móvel foi sempre o de tocar, em ensaio ou em show. A mim sempre pareceu estranho receber alguma remuneração pelos shows, pois nosso esquema não era muito profissional, e a gratuidade poderia desculpar algum amadorismo da nossa parte na execução das músicas, ou mesmo na apresentação em si (nunca fomos dos mais empolgados e empolgantes no palco). A idéia do “hard rock de grátis”, ao final, revelou-se frutífera e atingiu as expectativas, pois o público foi bom.

Naqueles tempos eu era colega de estágio do Christian, que me emprestou um pedal multi-efeitos da Zoom que ele tinha e tava querendo se desfazer. Utilizei em alguns ensaios, e em certa medida satisfeito com a distorção do aparelho, resolvi levar para o show.

Ensaiamos algumas músicas boas para esse show, e acho que foi a primeira (e talvez única) vez em que tocamos “Kill the King” do Rainbow. O Gilberto era um vocalista que o Bruce descobriu pela internet e logo se dedicou a um projeto com ele, pois o cara era um grande sujeito, tinha um gosto musical muito compatível com o nosso, e desempenhava bem no microfone. Eventualmente a esse projeto se somaram o Nílton, o Cláudio, o Bill e o Nedimar (por um tempo, depois substituído por um cara chamado Diego); era a Hard Times, e o som era bem diferente da Burnin´ Boat. Nunca fui muito simpático a essa idéia dos caras levarem paralelamente uma outra banda, sobretudo por envolver 3/5 da Burnin´ Boat, e a esse fato atribuí uma certa paralisia nas atividades da banda (parecia que as coisas, em nível de composições, só evoluia por iniciativa minha), e assim criei um certo desconforto com essa situação, mas devo admitir que os caras deviam se divertir bastante, conquanto não tenham levado essa banda a lugar algum (apenas ensaiavam, compunham umas músicas, mas não chegaram a tocar ao vivo). Seja como for, dessa banda saiu um relacionamento produtivo com o Gilberto, e não lembro exatamente como tivemos a idéia de chamá-lo para cantar uma música nesse show, e a escolha recaiu exatamente sobre “Kill the King” (não por acaso costumo me referir ao Gilberto como Dioberto, pois assim era o seu nickname no ICQ, e revelava toda a sua admiração pelo Ronnie James Dio).

Valmor: A grande anedota do Gilberto neste show é que o cara se empolgou um pouco demais na "Kill the KIng" e esqueceu de devolver o microfone para o Luciano, para ele completar o dueto. O cara ficou meio de cara com isso, e gerou bastante risada depois.

GILBERTO: Baita anedota, eu diria. Me senti super mal, depois, pois prezei e prezo o Luciano pra caralho, mas foi algo quase instintivo, afinal de contas era Rainbow tocando (com direito à emocionante intro típica dos shows daquela banda) e era eu no vocal. Aconteceu, foi acidental, pedi todas desculpas do mundo a todos - mas como se vê, entrou pra história da BB.

O show era no final da tarde (exatamente como o da Hibria, anos atrás) de um sábado (ou domingo?), de modo que chegamos ao Bar no meio da tarde para a passagem de som (não sem nos atrasarmos). Evidentemente que tocamos “Killl the King”, que é uma música mais complexa do que as que estávamos acostumados a tocar (se não pelo fato de que não estava tão bem ensaiada como deveria). Além dessa, tocamos (no show) “Burn”, “Highway Star” e possivelmente “Perfect Strangers” do Deep Purple, “The Tower” do Bruce Dickinson. Das próprias, me atrapalhei na parte limpa de “Black Dressing Soul”, pois não tinha treinado suficientemente a passagem da parte distorcida para a limpa (a fim de tocar o dedilhado), afinal estava com uma pedaleira que não era minha, e o lance não era tirar a distorção com um pisada, e sim diminuir o volume da guitarra no botão de volume. A Vanessa comentou que me achou nervoso, sobretudo por errar nessa parte. Realmente ficou feio, mas não foi nervosismo, e sim falta de treino.

Uma das idéias para o decorrer das apresentações era a de o Luciano introduzir o nosso cd e selecionar alguém da platéia para ganhar um de graça. Nesse show, o cara anunciou o cd e ofereceu para o primeiro que se manifestasse. Um conhecido meu (e colega em algumas cadeiras) da faculdade, que curtia as bandas que estávamos fazendo cover, e que estava de alguma forma aproveitando o show, pediu o cd, mas não foi tão rápido quanto uma mulher que estava bem na frente do palco, e que, conquanto tenha sido a primeira a levantar a mão, não parecia tão merecedora da nossa graciosidade. Seja como for, nosso cd era vendido a preço tão baixo (R$ 5,00 – cinco pila!), que muitas vezes eu me decepcionei com certas pessoas que não se disponibilizavam para adquirir o disco. Bem ou mal, esse cara (que estava presente no Bar desde a passagem de som), pelo menos, elogiou nosso repertório e apresentação, dizendo que tinha curtido a interação das guitarras, sobretudo em “Kill the King”.

Uma outra boa memória foi um comentário que a Sabrina fez depois do show; segundo ela, uma guria comentou que o seu namorado era meu fã (isto é, gostava das músicas que eu compunha). Entretanto, a Sabrina não soube precisar quem era a guria, muito menos o seu namorado, de modo que até hoje não sei quem é a pessoa, muito embora tenha algumas desconfianças (afinal, não são tantas as pessoas que curtem a banda...).

GILBERTO: Rico show, mandando ver boa música, em um lugar emblemático pruma platéia cheia de amigos. Tem algo melhor que isso?

Set-list: Burn, The Tower, Heartbreaking, Paranoid, Black Dressing Soul, Kill the King, Aunt Evil, Spectreman Theme, Boats are Burning, Snowblind, Hidden e Highway Star.



Desde 2003, aproximadamente, o Bar João está fechado, em decorrência de questões, digamos, extra-campo.

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