Assim como muitos, fui um dos banidos do Napster pelo Metallica. Mas, naqueles tempos de internet discada, em seguida apareceu o Audiogalaxy, que permitia o acesso mais fácil a um número incrível de músicas, coisas que para mim eram inacreditáveis como shows e versões demo de todas as bandas favoritas (que é o tipo de coisa que procuro), além de discos indisponíveis no mercado brasileiro (a não ser mediante importação, a custo astronômico).
Em 2000 já sabia que as bandas de hard rock dos anos 80 tinham o seu valor: guitarristas virtuosos, riffs inspirados, enfim, umas boas guitarras distorcidas tocadas com proficiência. Por alguma razão (talvez pelo fato de ter sido um dos participantes do tributo ao Deep Purple, tocando “Stormbringer”), coloquei na pesquisa “John Norum”, sabidamente o guitarrista do Europe no seu disco de maior sucesso (“The Final Countdown”), e um dos resultados foi uma faixa do cara, ao vivo, em carreira solo tocando uma música da sua antiga banda: “Scream of Anger”. Não precisou mais do que alguns segundos para formar a convicção de que se tratava de uma música absolutamente perfeita, e que não por acaso ficou nos meus ouvidos por muito tempo. Começa com um riff assombroso, com várias notas e bem rápido, versos em F#, refrão marcante com power-chords, solo muito bom. E nessa versão ao vivo o vocal era muito bom. Desde esse dia que ouvi "Sream of Anger", nessa versão ao vivo, procurei em todas as lojas o CD, e eventualmente só achei na seção de importados, com preços absolutamente fora de alcance, muito provavelmente pelo fato de que só havia disponível a versão japonesa. Mas a espera foi recompensada no dia em que, há uns 4 anos, encontrei na Boca do Disco por 25 pila.
Vim a descobrir que se trata de um cd ao vivo de John Norum, gravado em 1997 em Tóquio, durante a turnê do disco “Worlds Away”, de 1996, embora o título do álbum, "Face It Live '97" faça referência ao "Face the Truth", lançado em 1992, que por sua vez contou com os vocais de ninguém menos que Glenn Hughes (já escrevi sobre todos os discos que eu tenho dele, que é um dos meus vocalistas favoritos, aqui). Esse "Worlds Away" contou com o não menos espetacular Kelly Keeling nos vocais, além dos lendários Simon Wright e Peter Baltes, mas no "Face It Live '97", o guitarrista se fez acompanhar de uma banda de apoio menos famosa, com exceção do batera Hempo Hildén (Anders Fästader empunhou o baixo e teclados; Leif Sundin foi o bom vocalista e guitarra base).
O disco abre direto com duas do "Face the Truth", a faixa-título, bem rápida e com riff típico de hard rock da linha Blackmore no Rainbow; depois "Night Buzz", mais rocker. Do mesmo disco apareceram "Good Man Shining", com refrão bem característico para o estilo de Glenn Hughes; "Opium Trail", cover de Thin Lizzy; "In Your Eyes". Além do cover de Thin Lizzy, há ainda espaço para um cover de Free ("Wishing Well").
Do "Worlds Away" foram tocadas "Make a Move", "Where the Grass is Green", "C.Y.R.", e "From Outside In", todas medianas - ficou faltando a melhor do disco, "Dogs are Barking".
"Ressurrection Time", do álbum "Another Destination" só não é a melhor música do disco porque a melhor é "Scream of Anger". Mas é uma baita duma composição, que conta com um dos melhores riffs com afinação dropped-D que conheço. Absolutamente empolgante, do início ao fim. E é a comprovação de que dá para tocar músicas pesadas com uma Fender Stratocaster.
A banda que tornou o cara famoso, Europe, foi representada com a execução de duas faixas. "Heart of Stone", do multiplatinado "The Final Countdown" ficou muito melhor que a versão original, dada a prevalência da guitarra sobre o teclado. E "Scream of Anger", também muito melhor que a versão original do disco "Wings of Tomorrow". Realmente não é exagero dizer que essa música é perfeita.
John Norum é compatriota e contemporâneo de Yngwie Malmsteen, e também tem a mesma habilidade para tocar rápido; mas fica claro nesse cd ao vivo que Norum é muito mais blueseiro, em relação aos solos, do que Malmsteen. Realmente não se ouvem muitas escalas "menor melódica" em alta velocidade. Então não dá pra comparar, o som dos dois, apesar do equipamento igual (em tese - Fender Stratocaster + Marshal JCM 800). Bem ou mal, Norum tem uma consistente carreira solo, e agora (rectius: a partir de 2003), com o retorno das bandas de hard rock dos anos 80, o guitarrista voltou a compor o Europe (dois discos de inéditas foram gravados: o excepcional de bom "Start From the Dark" e o mediano "Secret Society").
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