Durante um bom tempo, de 1993 a 2004, e agora mais recentemente, tinha como uma das melhores tarefas a de descobrir bandas novas. A internet foi fundamental nesse processo, e um exemplo disso foi o de como descobri o Dokken. Se em 1998 deparei acidentalmente com o cd do Impellitteri na locadora perto de casa, no ano seguinte pesquisei na rede sobre o cara e localizei uma declaração do Rob Rock dizendo que o som do Impellitteri era uma mistura de Yngwie Malmsteen com Dokken. Já estava muito familiarizado com Malmsteen, inclusive adotando muitos discos como favoritos (“Marching Out”, “Magnum Opus”, etc. - já escrevi sobre todos eles aqui); mas Dokken? Não era essa uma das bandas de hard rock farofa dos anos 80? Para mim, à época, ainda, as bandas de hard rock farofa dos anos 80 eram todas iguais e desprezíveis, tanto pelo visual como pelas músicas (baladas radiofônicas inexpressivas).
Um exercício que muitas vezes dá resultados produtivos é refletir sobre certas noções já incorporadas e revê-las criticamente. Então resolvi ouvir Dokken, assim como o fiz com outras bandas de hard rock dos anos 80 (em relação às quais o Bruce já ouvia e comprava cds e lps). E não é que o Dokken contava com umas músicas muito boas, com guitarras distorcidas, riffs inspirados e tudo mais. Um bom riff é tudo o que eu espero de uma banda de rock, e o Dokken tinha uma punhado deles.
Aluguei na MadSound em 1999 o “Erase the Slate”, então recém lançado, ouvi rapidamente e devolvi no dia seguinte; mas fiquei com uma impressão favorável. Numa tarde desocupada daquele mesmo ano de 1999, achamos um outro Dokken, “Dysfunctional”, por uns 15 pila no balaio da Boca do Disco, e do qual jamais tínhamos ouvido falar. Então pedimos para ouvir e imediatamente caiu o queixo nos primeiros segundos da primeira faixa. Como eu havia sido o primeiro a bater os olhos no cd, coube a mim a prerrogativa de adquirir o disco.
“Dysfunctional” foi lançado em 1995, bem depois do auge dos caras nos anos 80, quando eles lançaram seus discos mais conhecidos “Tooth and Nail”, “Under Lock and Key” e “Back for the Attack”, e marcou a reunião da formação clássica (Don Dokken, George Lynch, Jeff Pilson e Mick Brown) após um breve período de dissolução. Aparentemente teve uma vendagem razoável, mas encontrou um período totalmente desfavorável, vez que o grunge ainda era o estilo dominante, e bandas com guitarristas virtuosos praticamente não tinham espaço.
Nada disso importa, afinal, a não ser pelo fato de tornar ainda mais valorosa a audição do disco (o mesmo se pode dizer, talvez, em relação ao “Pull” do Winger). O disco é muito bom, com gravação excelente, e com composições qualificadas. Ouvindo numa sentada, percebe-se que há um groove muito legal (não demora para a cabeça ou os pés acompanharem o andamento das faixas). O disco já abre com uma paulada e a melhor música, “Inside Looking Out”. A introdução é guitarra/baixo/bateria numa descida forte, típica de um instrumental prog, que dura poucos segundos (14 notas) e não se repete mais durante a faixa. Segue-se o riff principal, bem pesado (tão legal que não consigo tirar de ouvido, apesar de várias tentativas), versos sobre uns acordes, pré-chorus com pausas na guitarra, e o refrão matador. É um exemplo notável da excelência dos caras na composição de uma boa música de hard rock.
Outro momento marcante se dá em “Too High to Fly”, com afinação dropped-D. Riff legal, versos idem, refrão típico do estilo, e uns momentos que servem para jams durante as apresentações ao vivo (eventualmente uma versão ficou registrada no “Live from the Sun”, já com o Reb Beach na guitarra). A levada é de arrepiar nos versos, e a afinação confere um peso na medida certa. Não há o que não gostar.
Também com dropped-D é “Hole in my Head” (muito boa levada, mas não muito sofisticada). “Shadows of Life” é matadora, seguindo a receita certa: riff afu, versos com base pesada mas fluida, pre-chorus marcante (até mais que o próprio refrão), e refrão com o nome da música sobre o riff principal; depois uma parte um pouco diferente que precede o solo de guitarra. Baita música.
Algumas faixas são boas, mas não exatamente marcantes, como é o caso de “Long Way Home”, que viria a ser o nome de disco da banda lançado em 2002; há umas partes trabalhadas, como as de guitarra, em regra com várias notas, sendo certo que o melhor riff é o que serve como base do solo de guitarra. O refrão acaba sendo a melhor parte, do tipo que fica na cabeça (“a long way hooooooooooome”). Do mesmo tipo é “Lesser of Two Evils”.
Baladas também há, como não poderia deixar de ser num disco de hard rock – e particularmente muito caras a Don Dokken, como se sabe. Então lá vão “The Maze” (a melhor, disparado), “Nothing Left to Say” (muito palha), “Sweet Chains” (mais ou menos, com baixo fretless, aparentemente).
O melhor seria se o disco encerrasse na faixa 10, que é uma paulada na orelha. “What Price” é uma correria do início ao fim, com afinação mais pesada, e do tipo que os caras não mais viriam a fazer – o que é uma pena. É o tipo de música que eu queria ter composto, de tão legal, sobretudo a guitarra que conduz os versos enormes cantados pelo Don Dokken.
A última faixa é cover de uma faixa para mim obscura do Emerson, Lake & Palmer, que alguém pode dizer que se trata de um clássico, mas enfim... “From the Beginning”. Pareceu-me totalmente fora de contexto, sobretudo por vir depois de uma faixa rápida – e muito melhor. Ainda assim, devo admitir que é bem superior às outras baladas do disco.
Em 1997 os caras lançaram um disco deplorável (“Shadowlife”), o qual foi seguido pela saída definitiva de George Lynch (honestamente, não sou o maior fã do cara, o que não me impede de achar que ele é capaz de compor riffs e músicas fora de série). Com Reb Beach (do Winger, atual Whitesnake), a banda lançou um disco matador (que eu não encontro para vender em lugar algum) “Erase the Slate”, um cd ao vivo (“Live from the Sun”), um não muito bom com John Norum nas guitarras (“Long Way Home”), um meia-boca com John Levin (“Hell to Pay”), e, mais recentemente, um no qual se fez uma tentativa de reproduzir o som dos anos 80 (“Lightning Strikes Again”).
Nenhum comentário:
Postar um comentário