quarta-feira, 28 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Magical Mystery Tour" (1967)
É comum que grandes artistas lancem coletâneas, ou discos ao vivo, ou álbuns com sobras de estúdio. No caso dos Beatles, poucos dias após soltarem “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, o quarteto já registrava novas composições. Seis delas foram reunidas para um grande EP, lançado para coincidir com o Natal de 1967 e servir de trilha sonora para o filme homônimo exibido pela TV britânica. Nos EUA, a gravadora entendeu inaceitável o formato e resolveu lançar o LP com o acréscimo de músicas compostas anteriormente e lançadas em formato single. Esse é o formato que prevaleceu, e assim “Magical Mystery Tour” é considerado um álbum dos Beatles. A versão que tenho em casa é a única não adquirida na Cultura/Saraiva, pois veio de Londres em viagem recente do meu pai (valor em euro está no adesivo colado na capa do CD). O encarte, cheio de fotos, dá conta da fase psicodélica da banda. É forçoso admitir que, apesar de algumas músicas clássicas, o disco não é dos mais fortes da discografia do quarteto. A faixa-título inicia os trabalhos e contém várias mudanças de andamento, e no final há uma sugestão de uma jam que poderia ser muito interessante. “The Fool on the Hill”, de McCartney, é a quarta de um quarteto de músicas belíssimas que identifico em alguns discos; as outras são “Nowhere Man”, “If I Fell” e “And I Love Her”. O que há de comum, em todas, é a excepcional melodia dos vocais, marcante e memorável. “Flying” é um instrumental dispensável, com extensa utilização do Mellotron. “Blue Jay Way” é daquelas que nos fazem dar razão a George Martin e McCartney, que não costumavam abrir muito espaço para composições de Harrison (evidentemente que o guitarrista era competente para fazer clássicos tão bons quanto Lennon & McCartney, mas aqui não é o caso). “Your Mother Should Know” é outra das boas de Paul, e “I Am the Walrus” parece ser bastante popular e é cheia de histórias (convém ouvir e prestar atenção na utilização, conforme a Wikipédia, de todos os acordes maiores ou com sétima – A, B, C, D, E, F, e G -; além disso, Lennon tomou notícia de que algumas letras dos Beatles serviam para aulas escolares, então o cara resolveu criar os versos mais confusos e incoerentes possíveis). É fácil perceber que o modo de cantar de Lennon influenciou grandemente as bandas de brit pop dos anos 1990. “Hello, Goodbye” é das composições faceiras de McCartney, e me faz lembrar seu trabalho solo desenvolvido nas décadas seguintes. Das quatro últimas faixas do disco, três são muito conhecidas: “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lane” foram lançadas como single juntamente com o disco “Sgt. Peppers”. A primeira tem uma base muito boa e sinistra, contrastando com os vocais melodiosos (“straw-berry-fi-elds-fo-re-ver”). A segunda tem versos saborosos. “All You Need is Love” é universalmente conhecida pelo refrão, ao qual todos atribuem mensagem pacifista típica de Lennon. Mas a música é fraca, particularmente, embora admita que a estrutura da faixa é complexa, com múltiplos andamentos diversos do tradicional 4/4 (conforme a Wikipédia, é a única faixa, ao lado de “Money” do Pink Floyd composta em andamento 7/4 a alcançar o top 20 nos EUA). “Baby You´re a Rich Man” não é clássica e também é fraca, com refrão repetindo o título da música.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Resenha de livro - "The Rough Guide to Jimi Hendrix" (Richie Unterberger)
A afinidade com o formato do “Rough Guide” sobre bandas e músicos já se verificou desde a leitura do primeiro volume que encontrei, dedicado ao Pink Floyd. Depois deste, li o do Led Zeppelin, sobre Heavy Metal (ainda não finalizei), dos Stones, e dos Beatles (ainda não finalizei). Em regra, é bom ler esses livros sobre bandas consagradas em relação às quais ainda não tenho conhecimento profundo, pois abrange biografia, resenhas de discos e melhores músicas, fatos pitorescos, projetos paralelos, dentre outras coisas particulares. Então não tive dúvidas de trazer para casa o “Rough Guide” do Jimi Hendrix – que nem sabia da existência – quando localizei na Cultura por menos de 30 pila. E indiscutivelmente é o melhor que já li da série.
Diferentemente do “Rough Guide” do Zeppelin, dos Stones e dos Beatles, a leitura guia sobre Hendrix é bem fluida e pacífica, pois o autor tem estilo simples e direto de escrever. Então, é o melhor de ler de capa-a-capa. Basicamente todas as lendas que já tinha ouvido sobre Hendrix são tratadas no livro (p. ex., a de que se eu encontrasse Hendrix, na época, e dissesse que toco guitarra e componho umas músicas, ele me convidaria para uma jam no Eletric Lady), e ainda há o acréscimo de várias informações relevantes (antes da fama, o cara havia feito parte da banda de apoio de vários artistas, dentre os quais Little Richard).
O autor preza bastante pela formação do Experience, e até faz pouco caso (ainda não sei dizer se acertadamente; provisoriamente, entendo que não) da Band of Gypsies (que só lançou o registro do mesmo nome, ao vivo). Via de regra, esses rough guides se destinam ao grande público, e não exclusivamente a músicos, mas há algumas informações importantes sobre música durante o texto. Além disso, há um notável capítulo dedicado a tentar esclarecer a razão de Hendrix ter sido um espetacular guitarrista: o autor, então, fala das técnicas guitarrísticas (as alavancadas, p. ex.), dos instrumentos e equipamentos (desde a guitarra Fender Stratocaster, até os amplificadores Marshall e os efeitos fuzz, phaser/flanger, univibe, e o clássico wah-wah), e até das mãos de Hendrix (que, por serem grandes – apesar do cara não ter altura acima da média -, facilitariam a execução de técnicas inusitadas ou de outra maneira não possíveis, como utilizar o polegar da mão direita – no meu caso, que sou destro, esquerda - para tocar as cordas mais graves, ou fazer bases e solos simultaneamente). A par disso, há as tradicionais resenhas dos discos, aparentemente adequadas; como Hendrix lançou apenas quatro discos oficiais, o autor se esmerou na garimpagem do sem número de coletâneas e bootlegs, indicando os mais preciosos.
Digno de atenção são os registros dos bastidores dos shows históricos (Monterey, Woodstock, dentre outros). No decorrer do texto aparecem sugestões de algumas pessoas sobre qual caminho Hendrix percorreria não fosse sua morte prematura, e felizmente o autor não se dedica fortemente a esse exercício místico. Tanto quanto outros artistas, entendo que Hendrix teria uma fase de excepcional criatividade (a inicial), seguido de períodos de forte declínio (possivelmente alternaria o lançamento de discos bons), e dependendo do seu estado físico/mental e de seus compromissos empresariais, poderia nos dias atuais ser bem sucedido como Ozzy Osbourne ou os Stones (Keith Richards e Mick Jagger), ou vítima de suas circunstâncias como James Brown. Fui atrás dos CDs do guitarrista (tenho apenas o “Band of Gypsies” e o duplo de “Woodstock”) e incrivelmente não encontrei em lugar algum, e me questiono se esse desaparecimento das prateleiras não quer significar um relançamento portentoso em novas edições remasterizadas, com bônus, e tudo mais (em 2010 completam 40 anos da morte do guitarrista).
Diferentemente do “Rough Guide” do Zeppelin, dos Stones e dos Beatles, a leitura guia sobre Hendrix é bem fluida e pacífica, pois o autor tem estilo simples e direto de escrever. Então, é o melhor de ler de capa-a-capa. Basicamente todas as lendas que já tinha ouvido sobre Hendrix são tratadas no livro (p. ex., a de que se eu encontrasse Hendrix, na época, e dissesse que toco guitarra e componho umas músicas, ele me convidaria para uma jam no Eletric Lady), e ainda há o acréscimo de várias informações relevantes (antes da fama, o cara havia feito parte da banda de apoio de vários artistas, dentre os quais Little Richard).
O autor preza bastante pela formação do Experience, e até faz pouco caso (ainda não sei dizer se acertadamente; provisoriamente, entendo que não) da Band of Gypsies (que só lançou o registro do mesmo nome, ao vivo). Via de regra, esses rough guides se destinam ao grande público, e não exclusivamente a músicos, mas há algumas informações importantes sobre música durante o texto. Além disso, há um notável capítulo dedicado a tentar esclarecer a razão de Hendrix ter sido um espetacular guitarrista: o autor, então, fala das técnicas guitarrísticas (as alavancadas, p. ex.), dos instrumentos e equipamentos (desde a guitarra Fender Stratocaster, até os amplificadores Marshall e os efeitos fuzz, phaser/flanger, univibe, e o clássico wah-wah), e até das mãos de Hendrix (que, por serem grandes – apesar do cara não ter altura acima da média -, facilitariam a execução de técnicas inusitadas ou de outra maneira não possíveis, como utilizar o polegar da mão direita – no meu caso, que sou destro, esquerda - para tocar as cordas mais graves, ou fazer bases e solos simultaneamente). A par disso, há as tradicionais resenhas dos discos, aparentemente adequadas; como Hendrix lançou apenas quatro discos oficiais, o autor se esmerou na garimpagem do sem número de coletâneas e bootlegs, indicando os mais preciosos.
Digno de atenção são os registros dos bastidores dos shows históricos (Monterey, Woodstock, dentre outros). No decorrer do texto aparecem sugestões de algumas pessoas sobre qual caminho Hendrix percorreria não fosse sua morte prematura, e felizmente o autor não se dedica fortemente a esse exercício místico. Tanto quanto outros artistas, entendo que Hendrix teria uma fase de excepcional criatividade (a inicial), seguido de períodos de forte declínio (possivelmente alternaria o lançamento de discos bons), e dependendo do seu estado físico/mental e de seus compromissos empresariais, poderia nos dias atuais ser bem sucedido como Ozzy Osbourne ou os Stones (Keith Richards e Mick Jagger), ou vítima de suas circunstâncias como James Brown. Fui atrás dos CDs do guitarrista (tenho apenas o “Band of Gypsies” e o duplo de “Woodstock”) e incrivelmente não encontrei em lugar algum, e me questiono se esse desaparecimento das prateleiras não quer significar um relançamento portentoso em novas edições remasterizadas, com bônus, e tudo mais (em 2010 completam 40 anos da morte do guitarrista).
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" (1967)
Decididos a não fazer mais shows, os Beatles se dedicaram à tarefa de compor discos de estúdio e para isso utilizaram-se de cada vez mais tempo para as gravações e mixagens. No ápice de sua fase psicodélica (dentre outras coisas, Harrison foi para a Índia para tomar lições de cítara com Ravi Shankar), a banda adotou um conceito de "banda fictícia" e incrementaram as técnicas inovadoras em estúdio para "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band". O resultado é um disco que frequenta as primeiras posições de todas as listas de melhores álbuns de todos os tempos (e isso inclui até as listas de melhores capas de discos da história). A faixa-título inaugura a audição e, caso tivesse andamento mais rápido, e sem os sons de plateia e instrumentos de sopro, seria um hard rock primitivo, especialmente pelos acordes durante o refrão tocados com pausas (talvez não por acaso Jimi Hendrix tenha homenageado a banda tocando a faixa poucos dias após o lançamento do álbum). Uma das mais conhecidas composições é "With a Little Help From My Friends", cantada de forma competente por Ringo Starr, com os primeiros versos da letra sobre todos nós que não sabemos cantar e desafinamos na primeira nota. Na linha de encontrar evidências dos Beatles no som das bandas que lhes sucederam, ouço as linhas de baixo de "With a Little Help From My Friends" (com notas bem agudas no início), de "Lovely Rita" e de "Getting Better" e penso em Chris Squire do Yes. Outra que é universalmente conhecida é uma de Lennon, "Lucy in the Sky With Diamonds", em relação a qual há um senso comum de que se trataria de uma música sobre LSD (ou pelo menos com referência no título), mas o compositor defendeu a tese de que é apenas uma expressão de seu filho a partir de um desenho infantil. "Getting Better" é uma daquelas canções legais de McCartney. com boa linha de baixo, levada interessante na bateria, refrãozinho bacana e astral para cima. E é exatamente o mesmo que se pode dizer de "Fixing a Hole". Igualmente típicas são as composições melódicas e delicadas de McCartney, e nesse caso é "She´s Leaving Home" com orquestrações e tudo mais. Harrison teve mais uma oportunidade para exercitar sua cítara em "Within You Without You". "When I´m Sixty Four" é de McCartney e é muito boa, com estilo de som mais antigo (pelo andamento, acompanhamento da bateria e dos instrumentos de sopro), e influenciou Freddie Mercury para algumas composições do Queen nos anos 1970 e provavelmente serviu de inspiração para Gene Simmons compor a letra de "Goin´ Blind" para o 2.º disco do Kiss ("Hotter Than Hell", de 1974). "Good Morning Good Morning" começa meio caótica, mas tão logo entram os versos se ouve uma faixa boa de Lennon com andamento diferente do 4/4 e inusual no rock (os compassos ora se extendem, ora terminam antes do "previsto", técnica muito familiar ao rock progressivo, e não por acaso se diz que uma das raízes do rock progressivo é "Sgt. Peppers" - há quem sustente que se trata do primeiro disco de rock progressivo). No final dessa "Good Morning" ouve-se um bumbo duplo na bateria de Ringo Starr (ou posso estar enganado...). A reprise do tema da faixa-título conta com umas guitarras bem sacadas e umas pequenas frases de solos de Harrison. A faixa mais típica de Lennon é a primeira parte da faixa que encerra o álbum e é considerada clássica: "A Day in the Life". Depois de uns truques de estúdio ("orchestral crescendo" conforme o wikipedia), a música dá uma acelerada a partir de um despertador, e a parte conduzida por McCartney é melhor. Volta-se, depois, para os acordes calmos da primeira parte, mas com a pulsação do baixo. Ouve-se, novamente, o "orchestra crescendo" que culmina no famoso acorde (E) tocado em 3 grandes pianos simultaneamente. Correndo-se o risco de simplificar demasiadamente as coisas, "A Day in the Life" são duas músicas compostas separadamente, reunidas em 4 min e pouco, com o acréscimo de truques sofisticados de estúdio, e assim se fez o que se chama de primeiro épico do rock em pouco mais de 4min. Mais difícil, porém, do que compor um disco tão consagrado, é mandar ver no disco subsequente, e os Beatles se desencumbiriam satisfatoriamente dessa tarefa com o tradicionalmente conhecido como "Álbum Branco". Antes, no entanto, a fase psicodélica ainda rendia frutos com mais uma trilha-sonora de um filme da banda.
sábado, 24 de outubro de 2009
Discos Essenciais - Rolling Stones "Steel Wheels" (1989)
Pelo que ando lendo, parece que se formou um consenso de que (a) “Tattoo You” foi o último grande disco dos Stones, e que (b) “Start Me Up” é o último clássico composto pela banda. Durante os últimos 10 anos convivi com a noção de que todo o material lançado desde então (início dos anos 1980) não prestaria. A leitura do “Rough Guide”, por si só, não contribuiu decisivamente para alterar essa ideia, então resolvi aproveitar os remasterizados a partir dos anos 1970 e escolher alguns para aquisição. As primeiras escolhas foram boas, então, como geralmente acontece, me empolguei e estou trazendo para casa esses discos todos, na medida do possível. Dentre estes, o que se destacou foi “Steel Wheels”.
Lançado em 1989, “Steel Wheels” representou a reativação da parceria entre Jagger e Richards, que andava conturbada nos anos anteriores (Jagger decidiu concentrar-se na carreira solo e queria incorporar novos sons ao estilo dos Stones, para torná-la mais contemporânea). A turnê subsequente foi um daqueles grandes exemplos de mega espetáculo, não tendo escapado o registro em disco (“Flashpoint”).
O mais importante, no entanto, é que “Steel Wheels” é um disco com excelentes composições. Há um número significativo de bons momentos de guitarra, tanto nas músicas rápidas quanto nas baladas. Gosto bastante de “Rock and a Hard Place”, seguramente a melhor faixa, que é um baita rock com belo refrão (os backing vocals femininos são muito efetivos). Nota de rodapé: alguém reparou que no filme dos Simpsons há uma cena na qual Homer está pendurado junto a uma bola para destruição de prédios, e fica batendo numa grande pedra (rock), de um lado, e em um bar chamado “A Hard Place” de outro? A faixa de abertura, “Sad Sad Sad” é outro rock acelerado dos bons, e ambas as faixas constam do álbum ao vivo “Flashpoint”.
Parece-me que se a segunda faixa de um disco dos Stones for boa, então o disco inteiro é bom, e esse é o caso de “Steel Wheels”, no qual a segunda faixa é “Mixed Emotions”, com um som típico da banda (as guitarras soam minimalistas e os acordes aparecem em blocos induzidos pela linha de baixo e pelos teclados e pianos).
Em algumas músicas o timbre das guitarras é magnífico, e é precisamente isso que melhor aparece em “Terrifying”: trata-se de uma música com um acorde staccato repetido durante os 3min e meio da faixa; o timbre da guitarra é limpo e cremoso, característico de uma Fender Strato/Telecaster com um pouco de chorus.
O melhor riff do disco é o de “Hearts for Sale”, com uns hammer-nos e pull-offs hipnóticos. Esse riff espetacular inicia a música e aparece no refrão, com boa melodia no vocal (com backings femininos). Por sua vez, o melhor solo de guitarra aparece em “Hold On to Your Hat”, com frases rápidas condizentes com o andamento acelerado da música (aparentemente todos os solos são de Keith nessa faixa, pois Ron Wood não é creditado no encarte do CD).
“Almost Hear You Sigh” é uma das minhas balada favoritas dos Stones, com bons vocais e excelentes complementos guitarrísticos entre os versos (até a Sabrina curtiu ouvindo no carro). Nessa categoria há ainda uma outra composição bonita: “Blinded By Love” lembra músicas dos Eagles (tipo “Tequila Sunrise”, dentre outras), e os vocais alcançam graves bem baixos para Mick Jagger, e me parece que é difícil para alguém cantar mantendo a afinação em todos os versos.
Reparei que Keith Richards costuma cantar umas duas faixas em cada disco, e entendo que suas melhores contribuições (pelo menos do que ouvi até agora) estão em “Steel Wheels”. Então, diria que o melhor rock cantado por Richards é “Can´t Be Seen” (que também se destaca pelas guitarras, com riffs e licks legais com timbres típicos de Stratocaster/Telecaster, e ainda um timbre muito bom; gosto bastante também do timbre dos teclados, que é bem conhecido e datado – ou brega - , mas se encaixa perfeitamente para sublinhar os versos “I Just can´t beeeee”), e a melhor balada cantada por Richards é “Slipping Away” (é uma faixa lenta de muita categoria, com um solo de violão de cordas de aço que começa matador; os vocais de Keith são muito bons, rasgados e sofridos, bem de acordo com a música).
“Continental Drift” me pareceu longa demais, embora pareça uma tentativa de Jagger de escrever uma música mais diferenciada e em homenagem a Brian Jones (pela utilização de músicos orientais). “Break the Spell”, por sua vez, é como um exercício de rock/blues acelerado e marcado do tipo Bo Diddley (destaque para a linha de baixo de Ron Wood).
Acredito que sempre será o caso, mas é bom enfatizar os excelentes vocais de Mick Jagger, backing vocals posicionados em algumas faixas com moderação, e umas guitarras muito boas de Keith Richards e Ron Wood. Embora Wood tenha registrado o baixo em algumas faixas, percebe-se que Bill Wyman é um baixista competente, como se ouve em “Mixed Emotions”, “Terrifyng”, “Hearts For Sale” e “Rock and a Hard Place”.
Ouvindo discos dos Stones como “Steel Wheels” é que comecei a compreender o que deve significar AOR (adult oriented rock), sobretudo pelas composições maduras e consistentes da maior parte do repertório desse álbum.
Lançado em 1989, “Steel Wheels” representou a reativação da parceria entre Jagger e Richards, que andava conturbada nos anos anteriores (Jagger decidiu concentrar-se na carreira solo e queria incorporar novos sons ao estilo dos Stones, para torná-la mais contemporânea). A turnê subsequente foi um daqueles grandes exemplos de mega espetáculo, não tendo escapado o registro em disco (“Flashpoint”).
O mais importante, no entanto, é que “Steel Wheels” é um disco com excelentes composições. Há um número significativo de bons momentos de guitarra, tanto nas músicas rápidas quanto nas baladas. Gosto bastante de “Rock and a Hard Place”, seguramente a melhor faixa, que é um baita rock com belo refrão (os backing vocals femininos são muito efetivos). Nota de rodapé: alguém reparou que no filme dos Simpsons há uma cena na qual Homer está pendurado junto a uma bola para destruição de prédios, e fica batendo numa grande pedra (rock), de um lado, e em um bar chamado “A Hard Place” de outro? A faixa de abertura, “Sad Sad Sad” é outro rock acelerado dos bons, e ambas as faixas constam do álbum ao vivo “Flashpoint”.
Parece-me que se a segunda faixa de um disco dos Stones for boa, então o disco inteiro é bom, e esse é o caso de “Steel Wheels”, no qual a segunda faixa é “Mixed Emotions”, com um som típico da banda (as guitarras soam minimalistas e os acordes aparecem em blocos induzidos pela linha de baixo e pelos teclados e pianos).
Em algumas músicas o timbre das guitarras é magnífico, e é precisamente isso que melhor aparece em “Terrifying”: trata-se de uma música com um acorde staccato repetido durante os 3min e meio da faixa; o timbre da guitarra é limpo e cremoso, característico de uma Fender Strato/Telecaster com um pouco de chorus.
O melhor riff do disco é o de “Hearts for Sale”, com uns hammer-nos e pull-offs hipnóticos. Esse riff espetacular inicia a música e aparece no refrão, com boa melodia no vocal (com backings femininos). Por sua vez, o melhor solo de guitarra aparece em “Hold On to Your Hat”, com frases rápidas condizentes com o andamento acelerado da música (aparentemente todos os solos são de Keith nessa faixa, pois Ron Wood não é creditado no encarte do CD).
“Almost Hear You Sigh” é uma das minhas balada favoritas dos Stones, com bons vocais e excelentes complementos guitarrísticos entre os versos (até a Sabrina curtiu ouvindo no carro). Nessa categoria há ainda uma outra composição bonita: “Blinded By Love” lembra músicas dos Eagles (tipo “Tequila Sunrise”, dentre outras), e os vocais alcançam graves bem baixos para Mick Jagger, e me parece que é difícil para alguém cantar mantendo a afinação em todos os versos.
Reparei que Keith Richards costuma cantar umas duas faixas em cada disco, e entendo que suas melhores contribuições (pelo menos do que ouvi até agora) estão em “Steel Wheels”. Então, diria que o melhor rock cantado por Richards é “Can´t Be Seen” (que também se destaca pelas guitarras, com riffs e licks legais com timbres típicos de Stratocaster/Telecaster, e ainda um timbre muito bom; gosto bastante também do timbre dos teclados, que é bem conhecido e datado – ou brega - , mas se encaixa perfeitamente para sublinhar os versos “I Just can´t beeeee”), e a melhor balada cantada por Richards é “Slipping Away” (é uma faixa lenta de muita categoria, com um solo de violão de cordas de aço que começa matador; os vocais de Keith são muito bons, rasgados e sofridos, bem de acordo com a música).
“Continental Drift” me pareceu longa demais, embora pareça uma tentativa de Jagger de escrever uma música mais diferenciada e em homenagem a Brian Jones (pela utilização de músicos orientais). “Break the Spell”, por sua vez, é como um exercício de rock/blues acelerado e marcado do tipo Bo Diddley (destaque para a linha de baixo de Ron Wood).
Acredito que sempre será o caso, mas é bom enfatizar os excelentes vocais de Mick Jagger, backing vocals posicionados em algumas faixas com moderação, e umas guitarras muito boas de Keith Richards e Ron Wood. Embora Wood tenha registrado o baixo em algumas faixas, percebe-se que Bill Wyman é um baixista competente, como se ouve em “Mixed Emotions”, “Terrifyng”, “Hearts For Sale” e “Rock and a Hard Place”.
Ouvindo discos dos Stones como “Steel Wheels” é que comecei a compreender o que deve significar AOR (adult oriented rock), sobretudo pelas composições maduras e consistentes da maior parte do repertório desse álbum.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte XIV e final: "When Dream and Day Unite" (1989)
Antes de “Images and Words”, o Dream Theater lançou um disco (o seu primeiro) com Charlie Dominici como vocalista. A primeira vez que ouvi alguma coisa de “WDADU” foi no disco ao vivo “Live at the Marquee”, no qual constam as excelentes “A Fortune in Lies” e “Another Hand/The Killing Hand”. Posteriormente tomei contato com a instrumental “Ytsejam”. “WDADU”, propriamente, só fui ouvir lá por 1999/2000 quando o Bruce adquiriu-o, possivelmente no Ebay. É inegável que, apesar de estranharmos o vocal de Dominici (digamos que ele não é tão bom quanto LaBrie), bem como os timbres datados de Kevin Moore, as composições desse primeiro disco da banda são muito boas, e desde logo a impressão foi sempre positiva. Acabei adquirindo o disco na Boca do Disco, numa das poucas vezes que sai ganhando do dono da loja (havia perguntado o preço de vários CDs do balcão/balaio que não tinham etiqueta, e sempre a resposta era R$ 15,00; quando vi “WDADU” levantei e não dei margem para controvérsia: “esse aqui é 15 pila também, certo?”; na hora de pagar é que ele percebeu que o disco era importado e que poderia ter tirado mais uns 5 ou 10 reais, mas aí entendo que é o risco do negócio – e provavelmente não teria levado para casa o CD).
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Revolver" (1966)
Seguindo a tendência manifestada no "Rubber Soul", os Beatles se dedicaram a compor faixas mais elaboradas em estúdio. Em 1996 os caras fizeram sua última turnê, e a partir daí não fizeram mais shows, embora eu nunca tenha compreendido exatamente o porquê da banda querer se afastar das apresentações ao vivo (se diz que as turnês eram cansativas, que as fãs gritavam tão alto que ninguém ouvia o som dos amplificadores Vox... bem, os Beatles não eram a única banda que fazia shows, e não lembro de ter lido algo similar em relação aos Rolling Stones... além disso, no youtube estão disponíveis vídeos de um show da época, no Shea Stadium, nos quais a banda parecia bem a vontade e tocando muito bem). Em "Revolver" se diz que há maior presença de guitarras elétricas, e isso fica bem marcante na faixa de abertura, "Taxman", de Harrison, que tem uma excelente linha de baixo (um Rickenbacker?), mas os acordes executados sobre "tax-maaan" acabam soando meio repetitivos e comprometem a audição. A composição mais notável é indiscutivelmente "Eleanor Rigby"; todos contribuiram com versos para a letra e melodia de McCartney e George Martin foi responsável pelo arranjo do duplo quarteto de cordas. É a típica faixa que se descobre coisas diferentes a cada audição: primeiro com atenção na melodia dos vocais, depois nas melodias dos instrumentos de cordas. Realmente uma música sem precedentes, e é por aí que McCartney é o meu favorito Beatle. Ainda há espaço para músicas que poderiam ter sobrado das sessões dos discos anteriores, como é o caso de "Here, There and Everywhere" e "I´m Only Sleeping", mas há algo de sofisticado nos solos de guitarra desta última (com efeito inusitado de-trás-para-frente). Particularmente não sou fã dos sons de cítara, a não ser quando usados com moderação; pois Harrison resolveu dedicar uma música inteira para o instrumento - "Love You To" - na qual se percebem influências a serem exercidas sobre as bandas de brit pop dos anos 1990 pelo estilo dos vocais. A minha favorita do disco é "Yellow Submarine", simples com uma meia dúzia de acordes num violão de cordas de aço, uma letra com melodia adequada para o timbre de Ringo Starr, e um refrão muito marcante com vocais harmonizados (parte sobe o tom, parte desce o tom). "She Said She Said" se beneficia das linhas de baixo de McCartney e de uns licks de guitarra elétrica, bem como, finalmente, da levada sofisticada (para esse tipo de música) de bateria, que pontua bem as diferentes partes e pausas (é possível que haja umas mudanças de andamento do tipo 4/4 para 7/8, alguém pode esclarecer melhor). Gosto de identificar músicas dos Beatles "homenageadas" por artistas posteriores, e acho que "Good Day Sunshine" é o caso de composição levada em conta por Freddie Mercury quando escreveu algumas para o Queen, do tipo "Seaside Rendezvous", notadamente pelos versos e partes de piano. Em todo o caso, a faixa de McCartney tem um refrão bem melódico (simplesmente repete o título da faixa, mas de um jeito cativante). "And Your Bird Can Sing", de Lennon, é uma faixa que alia as qualidades dos vocais harmonizados dos primeiros discos e os timbres de guitarra elétrica das composições mais recentes. Os destaques são o baixo de McCartney (mais uma vez, com várias notas e melodia bem diferente da do resto da música), os vocais, e os licks e riffs de guitarra, sobretudo um bem longo que serve de solo ao final da faixa. Trata-se de uma faixa excepcional, e é incrível como uma música tão boa sequer ultrapassa a marca dos 2min. Em "For No One" temos mais uma comovente de McCartney, conduzida por cravo, piano, baixo e instrumentos de sopro (além da bateria, apenas marcando o tempo). "Dr. Robert" até poderia ser uma daquelas dispensáveis, não fosse pela linha de baixo, os vocais, as guitarras elétricas, e uma parada na música que fica suspensa com uns acordes de órgão Hammond. "I Want to Tell You" é popularmente conhecida como uma de Harrison com letra sobre sua dificuldade de se expressar em palavras; é conduzida por baixo e piano bem pontuados, e um riff de guitarra insidioso que abre e fecha a música. "Got to Get Into My Life", de McCartney, é muito boa e tem clima para cima e extenso uso de instrumentos de sopro (mais uma vez a linha de baixo é bem "pontuda"). Se há uma faixa que pode servir para caracterizar os Beatles à época poderia ser "Tomorrow Never Knows": há uso severo de sons inusitados, um loop insistente de bateria e baixo e vocais de Lennon que me lembram os de Don Dokken em "Hole in My Head" do álbum "Dysfunctional". São muito interessantes as descrições de todas as faixas no wikipedia (em inglês) desse clássico da discografia Beatle.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Shows XXVII - Stratovarius (Bar Opinião, 19.10.2009, 21h)
Stratovarius em Porto Alegre (Bar Opinião, 19.10.2009) |
Com as coisas mais favoráveis particularmente nesse segundo semestre, fui ao Opinião pouco antes do horário agendado para o início do show (21h) e encontrei uma grande fila do lado de fora (pena que deu desencontro com a Elenise para levar umas cervejas e animar um pouco a espera). Menos de meia-hora depois, já estava me posicionando à esquerda de frente para o palco, e consegui um lugar bom para me apoiar e registrar alguma coisa.
Os roadies fizeram uma espécie de passagem de som na frente de todos, e lá pelas 21h30min ouviu-se a introdução de “Destiny”. Johansson está com a fisionomia de sempre (o cara parece não envelhecer), ao contrário de Michael (com cabelos brancos e mais barrigudo – e com menor técnica na bateria...); Kotipelto me lembrou o tempo todo o grande Dioberto (parabéns pela participação no Huck), tanto nos vocais como nos trejeitos e na presença de palco; lembrava que o baixista Lauri Porra era magro, mas não que era um cara tão novo; e o novo guitarrista Kupiainen é do tipo rechonchudo, como era o Tolkki.
Destiny
Independentemente disso, Matias mostrou que está com a técnica na guitarra em dia, pois o cara mandou ver nos arpejos com “sweep picking”, bem como nas palhetadas rápidas de músicas difíceis como “Speed of Light”. Lembro que no show de 2005, Tolkki dava uma enganada forte naquelas pausas da banda nas quais ele tocava frases rápidas (e muito legais) na guitarra; Kupiainen, de pé, executou tão bem quanto possível esses padrões que são difíceis de tocar mesmo sentado com a guitarra bem próxima do pescoço (acho que só em estúdio para alguém tocar esses trechos que, em si, não parecem difíceis, mas da maneira como se posicionam na música demandam muita precisão – um vacilo e já era o momento). Antes dessa, porém, os caras tocaram uma das minhas favoritas, “Hunting High and Low”; apesar disso, achei que a interpretação não foi memorável (ou então já não me empolgo tanto com algumas músicas que já ouvi tanto e por tanto tempo).
Hunting High and Low & Speed of Light
Em seguida os caras emendaram outra das boas, “The Kiss of Judas”, com direito a final estendido, bem como a solos personalizados de guitarra.
The Kiss of Judas.
Era inevitável a execução de músicas do disco novo, “Polaris”, sendo certo que eu não conhecia nenhuma das faixas. Kotipelto anunciou e os caras tocaram “Deep Unknown”, que contém riffs claramente não-Tolkki (o riff dos versos tem um groove que Tolkki jamais empregou no Stratovarius).
Deep Unknown
Kotipelto anunciou, então, que a música seguinte aparentemente nos seria muito familiar, pois a melodia lembraria alguma música de criança ou algo do tipo; na verdade lembro que o Valmor/Bruce costumava brincar que o riff de teclado inicial de “A Million Light Years Away” era igual à melodia de “Amigo” do Roberto Carlos, então é possível que seja essa a referência de Kotipelto. Em todo o caso, gosto dessa faixa de “Infinite”, pelo menos a versão de estúdio; ao vivo ficou clara a dificuldade do vocalista de cantar o refrão, o que é plenamente admissível (essa faixa foi gravada há quase 8 anos e a banda não baixou a afinação para facilitar as coisas para o vocalista) e não prejudicou significativamente a performance.
A Million Light Years Away
Então seguiu-se um dueto de solo de baixo e teclado, e depois um solo de teclado (Johansson empregou apenas um Yamaha DX-7). Ao final, a banda executou uma faixa lenta do disco novo, “Winter Skies”, e aproveitei a oportunidade para tirar fotos.
Lauri Porra & Jens Johanson – dueto e solo de teclado
Gosto de shows com set list surpreendente, ou com faixas obscuras, e a banda tocou uma composição de Johansson para o álbum “Infinite”; “Phoenix” tem estrutura bem convencional para a banda e ficou muito bem ao vivo.
Phoenix
A banda cedeu espaço para os solos de guitarra e baixo. Inicialmente, Matias Kupiainen e Porra duelaram, e depois Porra ficou sozinho no palco e assim como 2005 se aproveitou do fato dos brasileiros gostarem bastante do seu nome e tocou uns riffs e solos bem legais no baixo, com umas pausas para gritar “que Porra!”, e a galera prontamente aderiu. Indiscutivelmente foi um grande momento da apresentação da banda, e Porra demonstrou saber comandar uma plateia.
Matias Kupiainen & Lauri Porra – duelo e solo de baixo
Matias fez seu solo de guitarra com muitos arpejos e sweep picking, e então Porra se juntou a ele para tocarem parte de uma instrumental de um disco antigo (“Stratosphere”?).
Matias Kupiainen & Lauri Porra – solo de guitarra e “Stratosphere”?
Kotipelto anunciou que a seguinte seria uma faixa do “Fourth Dimension”, e aqui seria a oportunidade para tocarem uma das minhas favoritas (“Distant Skies”), mas os caras optaram por uma das consagradas, “Twilight Symphony”, que, inobstante, tem realmente um bom refrão e gosto do riff ascendente executado antes dos versos, sem contar ainda os trechos eruditos com guitarra/baixo/teclado.
Twilight Symphony
Mais uma do disco novo. Evidentemente que não consegui identificar, e nem ia registrá-la, mas reparei que o riff inicial de guitarra era interessante a ponto de inspirar alguma coisa própria (com a 4.ª corda solta e depois a 5.ª corda solta), então resolvi ir adiante.
Forever is Today
Os roadies trocaram o amplificador de baixo (embora eu não tenha reparado em defeito algum), mas logo no começo de “Eagleheart” o problema foi com o som da guitarra (que não saiu). A banda não parou e tocou até o final; Matias voltou para parte do solo de guitarra e para o término da música, que assim teve a execução prejudicada (embora tenha valido a experiência dos caras de se manterem sossegados e tocarem a faixa na íntegra).
Eagleheart
A banda se despediu e saiu do palco, mas voltaram em seguida para o bis/encore. E mandaram três das melhores composições da banda. “Forever” é a melhor balada composta por Tolkki, e conta com versão matadora no duplo ao vivo “Visions of Europe”.
Forever
Durante muito tempo a minha música favorita do Stratovarius era a faixa de abertura de “Episode”, e essa formação de 2009 executou uma bela versão de “Father Time”, possivelmente a melhor música do show.
Father Time
Para encerrar as atividades, sabia-se que “Black Diamond” seria a última música. Foi a que mais empolgou a galera. Ao final, os caras permaneceram no palco e fizeram a tradicional brincadeira com o público de gritar “um, dois, três, quatro” em finlandês (“yksi”, “kaksi”, “kolme” e “neljä”), oportunidade na qual eles aproveitaram para alimentar a saudável rivalidade entre plateias de cidades e países vizinhos.
Black Diamond
O show foi bom, mas não muito bom, e no meu caso deve ter sido devido ao repertório: no show de 2005 sobraram músicas do “Episode” como “Will the Sun Rise?”, e do “Visions” como “Paradise”, “Coming Home” e “Legions”, sendo certo que pelo menos esta última deveria ter sido revisitada. É positivo o fato da banda não repetir o repertório (seria despiciendo); senti falta, no entanto, de outras músicas do “Fourth Dimension”, ou dos próprios discos posteriores. Valeu, porém, por ver os caras de volta em ação, com formação competente para os shows.
sábado, 17 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Rubber Soul" (1965)
Pouco depois de lançar "Help!" os Beatles se puseram a compor o que viria a ser "Rubber Soul" (a fim de coincidir com um lançamento natalino) e os resultados não poderiam ser mais expressivos. Trata-se de um álbum só com composições do quarteto e, acima de tudo, representa uma grande evolução da banda em muitos sentidos. Geralmente se diz que é um álbum inovador, no qual foram empregados instrumentos inusitados (cítara em "Norwegian Wood" é o exemplo mais evidente, mas há outras novidades em "Michelle", "Think for Yourself" e "Run For Your Life"), novas influências foram demonstradas, e até as letras ganharam roupagem mais elaborada ("Nowhere Man", por exemplo). A faixa que abre o disco é "Drive My Car" e desde logo se percebe a predominância de riffs e licks - com um punhado de slides e hammer-ons e pull-offs - de guitarra e baixo, desacompanhados das levadas de violão que caracterizavam boa parte do repertório dos discos anteriores. Não que a banda tenha ainda desprezado músicas acústicas, pois a faixa seguinte é conduzida por violões e é daquelas que contam com as fantásticas melodias típicas dos Beatles: "Norwegian Wood" tem aqueles vocais assertivos de Lennon, uma levada de violão muito boa em 12/8, um tema bem melódico executado na cítara e também no violão solo. É a melhor faixa do disco, ao lado de "Nowhere Man", sendo certo que ambas contam com as mesmas qualidades e que "Nowhere Man" tem o acréscimo de um belo solo de guitarra com timbre bem limpo (finalizando com harmônicos), e um tema na guitarra de cinco notas que é executado ao final dos versos antes da ponte para o refrão. "You Won´t See Me" traz de volta as guitarras e o piano, bem como uma linha de baixo pulsante e bem trabalhada, conduzindo a música de maneira diversa dos acordes de guitarra executados com pausas e staccatto; nos vocais aparecem os tradicionais "oooh-lah-lah-lah" em músicas pop. "Think For Yourself", de Harrison, apresenta cada instrumento tocando partes diversas: o baixo dá conta da estrutura sobre a qual são tocados acordes com pausas e staccatto numa guitara e melodias com timbre fuzz na outra guitarra, e tudo fica ainda mais sofisticado se considerarmos que a melodia da voz é igualmente diferente. "The Word" é outra que demonstra a tendência para a adoção de riffs e acordes marcantes de guitarra, especialmente nos versos em que Lennon canta desacompanhado e na base do solo de "harmonium" (conforme o wikipedia, George Martin, o produtor, quem gravou essa parte). McCartney mandou mais uma de suas delicadas e melódicas composições em "Michelle", cheia de violões inspirados e solo de guitarra no qual me parece que o botão de tom foi deixado no zero, produzindo um som bem fechado. Tanto quanto "Act Nacturally" de "Help!", "What Goes On" é mais uma das agradáveis contribuições de Ringo Starr. As guitarras são deixadas de lado e voltam os violões em "Girl" e "I´m Looking Through You". Por outro lado, "In My Life" contém guitarras com timbres limpos e um solo de piano que, conforme descrição do wikipedia, foi composto e executado por George Martin em estilo Bach-barroco, mas como o andamento da faixa era rápido, o cara tocou lentamente e após aplicou reprodução no dobro do tempo, gerando um efeito de cravo. Um exercício interessante é ouvir certas músicas dos Beatles e associar com músicas de bandas que vieram depois deles, sabendo-se como se sabe que os Beatles são influência universal no rock. Nesse sentido, "If I Needed Someone" me lembra o Yes, pela linha de baixo, timbre de guitarra e os vocais harmonizados (é possível que eu esteja pensando em "Yours Is No Disgrace"). "Rubber Soul", não por acaso, é tido como um verdadeiro disco clássico, e se atribui a ele a influência em Brian Wilson dos Beach Boys para compor outro clássico, "Pet Sounds" de 1966.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte XIII "Black Clouds & Silver Linings" (2009)
Como de costume, Mike Portnoy tentou definir o som do que viria a ser o novo disco do Dream Theater como um misto de “A Change of Seasons”, “Learning to Live”, “The Glass Prison”, etc. Evidentemente que não levei isso a sério e mantive as expectativas bem baixas em relação a “Black Clouds & Silver Linings”, sobretudo quando ouvi os mp3 disponibilizados oficialmente (meses) antes do lançamento do álbum; numa primeira e perfunctória audição, “A Rite of Passage” e “A Nightmare to Remember” em nada diferiam dos exercícios comuns do Dream Theater sobre estruturas musicais tornadas tradicionais pelos caras nos discos mais recentes. Eventualmente baixei o restante dos mp3 – já não fico mais guardando a audição para a aquisição do CD – e acabei ficando com uma impressão melhor sobre as novas músicas. Acompanhei diariamente o site das duas principais mega-stores de livros, DVDs e CDs, e no dia marcado para o lançamento nacional comprei na loja que vendia mais barato (Cultura).
De fato: “Black Clouds & Silver Linings” tem audição bem mais fácil do que os outros discos mais recentes da banda. São apenas 6 músicas, e apesar de longas na sua maioria, são de assimilação tranquila., facilitado pelas estruturas previsíveis das composições. Li uma entrevista de John Petrucci na Guitar World de outubro de 2009 que achei reveladora em muitos sentidos: o cara admite que uma das metas da banda é conciliar partes instrumentais bastante técnicas com refrões cativantes e riffs de guitarra acessíveis. Um grande exemplo disso é a primeira faixa, “A Night to Remember”. A letra é do próprio Petrucci e cuida de suas memórias sobre um acidente automobilístico passado na sua infância. A introdução é do tipo de trilha de filme de terror (Portnoy e Petrucci acreditam que poderia ser trilha de um filme do Tim Burton), incluindo timbre de teclado “fantasmagórico”. Segue-se, após essa sequência de acordes inicial, um riff bem básico de guitarra heavy metal, o qual efetivamente inaugura a música e acompanha os versos. Há um chorus bem definido. Mas a faixa fica boa, mesmo, quando dá uma acalmada a partir dos 7min, e aparecem versos com melodias muito legais (todas as partes com “magnificent desolation” são ouro). No youtube descobri um vídeo sensacional de uma banda japonesa fazendo um cover dessa faixa na íntegra, com resultado excelente.
O single eleito para divulgar esse disco foi “A Rite of Passage”, que no meu sentir é uma música com muito pouca inspiração. O refrão é outra tentativa de produzir um momento acessível e radiofônico (não há problemas quanto a isso), mas o resultado é fraco, sobretudo o backing vocal de Petrucci e a própria linha do vocal principal, com tom bem baixo. O momento no qual Petrucci e Rudess se revezam nos solos é previsível e em nada difere do que já ouvimos melhor anteriormente (a não ser um timbre meio vintage utilizado por Rudess em uma de suas intervenções).
Gostei bastante da faixa mais curta de “BC&SL”: “Wither”, com letra de Petrucci sobre a tarefa inquietante que qualquer compositor/escritor/artista é obrigado a desempenhar no início do seu trabalho: partir do zero, preencher uma folha/tela em branco, etc. Os vocais de LaBrie não demoram para aparecer, e a interpretação do cara é matadora (ele sempre se deu bem nesses momentos mais introspectivos, de encontrar o tom certo para interpretar – não apenas cantar – versos sobre bases mais lentas ou melódicas, ou com acompanhamento minimalista). Efetivamente, é uma das melhores baladas do Dream Theater, na linha talvez de “I Walk Beside You” e de “The Answer Lies Within”, só que muito-muito melhor. É um feliz momento em que tudo se encaixou, tanto a parte instrumental quanto a vocal.
A suíte de Portnoy sobre os 12 passos encerra com “The Shattered Fortress”. Se nas partes anteriores alguns riffs apareciam reciclados, “The Shattered Fortress”, por vezes, parece um grande medley de riffs, pois há reminiscências de todas as músicas que compreendem a suíte. Talvez funcione melhor quando ouvirmos toda a suíte na íntegra, mas por si só é uma faixa fraca, conquanto tenha seus bons momentos.
“The Best of Times” tem letra tocante de Portnoy, lembra bastante o Rush, e acaba sendo muito boa para o meu gosto. Na referida entrevista do Petrucci à GW, o guitarrista revela a dificuldade de compor em tom maior sem imprimir um aspecto alegre demais à composição, e sem ficar igual ao Queen ou ao Rush. Esse é o tipo de ponto de vista que jamais teria por conta própria, de maneira que me parece relevante ler todo o tipo de entrevista dos integrantes da banda a respeito dos seus discos, a fim de conhecer esses depoimentos que, por vezes, viabilizam a adoção de um enfoque diferente quando da audição da música. Afinal, e isso fica bem claro, existem os 5% de inspiração e os 95% de transpiração, e no caso do Dream Theater, geralmente há uma razão para que determinada música seja assim ou assado (as coisas não se passam arbitrariamente ou sem reflexão prévia, como aliás ocorre com toda banda de rock progressivo – sempre lembro do depoimento de Bill Bruford, segundo o qual um dos motivos de sua insatisfação com o Yes eram as homéricas e acaloradas discussões sobre se determinada nota a ser tocada deveria ser um F ou um F#).
O disco encerra com “The Count of Tuscanny”, que é outra de Petrucci com suas experiências pessoais (o guitarrista narra a ocasião em que encontrou um conde dessa cidade).
O lançamento de “BC&SL” não contou com tanta antecipação e com tantas entrevistas explanatórias em comparação com o disco anterior “Systematic Chaos”, mas alcançou a maior colocação no Top 200 da Billboard (#10). Além disso, está consolidada uma nova geração de fãs do Dream Theater, que se somam aos já tradicionais como eu.
De fato: “Black Clouds & Silver Linings” tem audição bem mais fácil do que os outros discos mais recentes da banda. São apenas 6 músicas, e apesar de longas na sua maioria, são de assimilação tranquila., facilitado pelas estruturas previsíveis das composições. Li uma entrevista de John Petrucci na Guitar World de outubro de 2009 que achei reveladora em muitos sentidos: o cara admite que uma das metas da banda é conciliar partes instrumentais bastante técnicas com refrões cativantes e riffs de guitarra acessíveis. Um grande exemplo disso é a primeira faixa, “A Night to Remember”. A letra é do próprio Petrucci e cuida de suas memórias sobre um acidente automobilístico passado na sua infância. A introdução é do tipo de trilha de filme de terror (Portnoy e Petrucci acreditam que poderia ser trilha de um filme do Tim Burton), incluindo timbre de teclado “fantasmagórico”. Segue-se, após essa sequência de acordes inicial, um riff bem básico de guitarra heavy metal, o qual efetivamente inaugura a música e acompanha os versos. Há um chorus bem definido. Mas a faixa fica boa, mesmo, quando dá uma acalmada a partir dos 7min, e aparecem versos com melodias muito legais (todas as partes com “magnificent desolation” são ouro). No youtube descobri um vídeo sensacional de uma banda japonesa fazendo um cover dessa faixa na íntegra, com resultado excelente.
O single eleito para divulgar esse disco foi “A Rite of Passage”, que no meu sentir é uma música com muito pouca inspiração. O refrão é outra tentativa de produzir um momento acessível e radiofônico (não há problemas quanto a isso), mas o resultado é fraco, sobretudo o backing vocal de Petrucci e a própria linha do vocal principal, com tom bem baixo. O momento no qual Petrucci e Rudess se revezam nos solos é previsível e em nada difere do que já ouvimos melhor anteriormente (a não ser um timbre meio vintage utilizado por Rudess em uma de suas intervenções).
Gostei bastante da faixa mais curta de “BC&SL”: “Wither”, com letra de Petrucci sobre a tarefa inquietante que qualquer compositor/escritor/artista é obrigado a desempenhar no início do seu trabalho: partir do zero, preencher uma folha/tela em branco, etc. Os vocais de LaBrie não demoram para aparecer, e a interpretação do cara é matadora (ele sempre se deu bem nesses momentos mais introspectivos, de encontrar o tom certo para interpretar – não apenas cantar – versos sobre bases mais lentas ou melódicas, ou com acompanhamento minimalista). Efetivamente, é uma das melhores baladas do Dream Theater, na linha talvez de “I Walk Beside You” e de “The Answer Lies Within”, só que muito-muito melhor. É um feliz momento em que tudo se encaixou, tanto a parte instrumental quanto a vocal.
A suíte de Portnoy sobre os 12 passos encerra com “The Shattered Fortress”. Se nas partes anteriores alguns riffs apareciam reciclados, “The Shattered Fortress”, por vezes, parece um grande medley de riffs, pois há reminiscências de todas as músicas que compreendem a suíte. Talvez funcione melhor quando ouvirmos toda a suíte na íntegra, mas por si só é uma faixa fraca, conquanto tenha seus bons momentos.
“The Best of Times” tem letra tocante de Portnoy, lembra bastante o Rush, e acaba sendo muito boa para o meu gosto. Na referida entrevista do Petrucci à GW, o guitarrista revela a dificuldade de compor em tom maior sem imprimir um aspecto alegre demais à composição, e sem ficar igual ao Queen ou ao Rush. Esse é o tipo de ponto de vista que jamais teria por conta própria, de maneira que me parece relevante ler todo o tipo de entrevista dos integrantes da banda a respeito dos seus discos, a fim de conhecer esses depoimentos que, por vezes, viabilizam a adoção de um enfoque diferente quando da audição da música. Afinal, e isso fica bem claro, existem os 5% de inspiração e os 95% de transpiração, e no caso do Dream Theater, geralmente há uma razão para que determinada música seja assim ou assado (as coisas não se passam arbitrariamente ou sem reflexão prévia, como aliás ocorre com toda banda de rock progressivo – sempre lembro do depoimento de Bill Bruford, segundo o qual um dos motivos de sua insatisfação com o Yes eram as homéricas e acaloradas discussões sobre se determinada nota a ser tocada deveria ser um F ou um F#).
O disco encerra com “The Count of Tuscanny”, que é outra de Petrucci com suas experiências pessoais (o guitarrista narra a ocasião em que encontrou um conde dessa cidade).
O lançamento de “BC&SL” não contou com tanta antecipação e com tantas entrevistas explanatórias em comparação com o disco anterior “Systematic Chaos”, mas alcançou a maior colocação no Top 200 da Billboard (#10). Além disso, está consolidada uma nova geração de fãs do Dream Theater, que se somam aos já tradicionais como eu.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Help!" (1965)
Se em "A Hard Day´s Night" as melhores composições eram as cantadas por McCartney, no caso de "Help!" - outra trilha-sonora para um filme do quarteto fabuloso - as coisas se invertem e Lennon é responsável por um punhado respeitável de boas faixas. Duas delas são instantaneamente reconhecíveis como clássicos dos Beatles: a primeira é a faixa-título, que também abre o disco. A música já começa direto ao ponto, exclamando o pedido de ajuda, e desde logo se ouvem mais uma demonstração de virtuosismo dos caras nas harmonizações vocais: acredito que aqui os caras cantem em contraponto; Lennon conduz a melodia principal e os demais fazem as melodias derivadas. De qualquer maneira, a linha de baixo é uma verdadeira aula no instrumento (conduz a música e é ao mesmo tempo melódica). A estrutura é muito simples: são executados 4 vezes os versos, com duas ou três partes diferentes. A segunda música espetacular de Lennon é "Ticket to Ride", e aqui, além da melodia e dos vocais, destaco a bateria de Ringo Starr. Há uns 20 anos ouvi - e convivi com esse senso comum de - que Ringo Starr não é bom baterista, e seria o músico mais fraco dos Beatles; diz-se que Ringo "só sabe marcar, mas não sabe rufar". Nunca entendi o que isso significa. Entretanto, tenho ouvido o epertório da banda e percebo as várias batidas diferentes que Ringo emprega para conduzir as músicas (evidentemente que não tenho, por ora, conhecimento se o baterista criava suas levadas ou era instruído a tocar de tal ou qual jeito - talvez não por acaso, no wikipedia consta que McCartney, de acordo com John, teria sido responsável pela levada de bateria em "Ticket to Ride"). Além disso, as contribuições vocais de Ringo são geralmente agradáveis, e não é diferente o caso em "Act Nacturally". Uma das minhas favoritas, no entanto, é outra de Lennon: "You´ve Got To Hide Your Love Away" é conduzida por violões (com acordes sendo trocados constantemente) e tem um vocal bem rasgado, com uma melodia espetacular. "You´re Gonna Lose That Girl" é outra com vocal assertivo de Lennon, e uma letra verdadeira. De outra banda, não dá para reclamar das composições de McCartney, pois o cara mandou a faixa mais conhecida, gravada e falada dos Beatles: "Yesterday", que é bem bonita mesmo. Paul mandou outras duas muito boas: "The Night Before" e "I´ve Just Seen a Face". Esta última é meio country, com uma levada acelerada nos violões e nos versos longos. A melodia é extremamente familiar, mesmo na primeira audição. Então lembro que parte da melodia foi "homenageada" pelo Guns and Roses em "My Michelle" do "Appetite for Destruction" (aquele "oh, oh, oh, My Michelle"). Felizmente, é o último disco do quarteto a conter um cover ("Dizzy Miss Lizzy"), sem considerar "Maggie Mae" em "Let It Be". É possível que "Help!" seja o último disco da fase inicial dos Beatles, e provavelmente o melhor (ou com maior número de boas composições).
domingo, 11 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Beatles for Sale" (1964)
A ninguém escapou que lançar um disco com metade de covers representou um passo atrás na evolução da banda, considerando-se que o álbum anterior "A Hard Day´s Night" continha apenas composições próprias da banda (embora se possa conceder que não é fácil a tarefa de preencher discos com material novo a cada semestre). "Beatles for Sale" caracteriza-se, ainda, pelas letras autobiográficas de Lennon em "I´m a Loser", "No Reply" e "I Don´t Want to Spoil the Party". Indiscutivelmente as melhores são "Baby´s in Black" (com vocais harmonizados de Paul e John e bonita melodia) e "Eight Days a Week" (outra das instantaneamente identificáveis, com marca registrada e Iso 9001 de Lennon e McCartney, ficando aqui o destaque também para a linha de baixo de Paul, com várias notas e andamento "walking"). "Every Little Thing" é uma daquelas típicas obscuras e boas da discografia de uma banda, e conta com um refrão muito bom, acompanhado por uma melodia muito boa nos violões e no baixo. Seja como for, os Beatles voltariam em espetacular forma no disco seguinte, lançado em 1965.
sábado, 10 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "A Hard Day´s Night" (1964)
O terceiro álbum dos Beatles, "A Hard Day´s Night", foi o primeiro exclusivamente com composições de Lennon & McCartney e serviu de trilha sonora do filme com o mesmo nome. Talvez não por acaso se trate do melhor disco da primeira fase da banda. São celebrados o acorde inicial da faixa-título (com a recém adquirida guitarra Rickenbacker de 12 cordas de George Harrison), bem como o fato de que a maioria das faixas é conduzida por Lennon, e - assim como "Let It Be" - não conta com vocais de Ringo Starr. Ouvindo o repertório do CD fico com a impressão de que as melhores faixas são as ímpares: "A Hard Day´s Night" (andamento acelerado com bons acordes, sendo certo que a faixa seguinte, "I Should Have Known Better" poderia ser tocada de forma emendada pela similaridade da levada nos violões); "If I Fell" (uma grande balada e que ganha com os vocais harmonizados de Paul e John); "And I Love Her" (mais uma das músicas coxudas de melodia de McCartney - aquelas primeiras quatro notas grudam no ouvido desde a primeira audição); "Can´t Buy Me Love" (uma das músicas mais conhecidas e características da época, outra cria de Paul). Das conduzidas por Lennon, uma das melhores é "You Can´t do That" com vocal rocker. Todas as faixas de uma maneira ou outra são conduzidas por levadas de acordes nos violões, dando a impressão de que foram compostas todas numa sentada de invejável inspiração.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Ensaio The Osmar Band - "Sechsundzwanzig" 08.10.2009
Ainda pilhado com o excelente show do Kip Winger, fui para o ensaio da Osmar Band sem BFG/XT, só com o baixo, com a intenção de tocar com o violão de cordas de aço do Alemão. Antes, porém, assistimos a alguns momentos do DVD do John Mayer e demos uma olhada no monte de livros de partituras que o Alemão conseguiu emprestado (BB King, Pink Floyd, Ramones, dentre outros). Uma vez satisfeitos com o bate-papo inicial e o barril holandês, descemos para tocar e logo nos desincumbimos da tarefa de retomar uma muito boa de um ensaio ainda recente, nos acordes Bm-A-G-F#, e com letra muito boa do Marcelo que havia sido motivada por um endereço infame. Acho que foi a primeira vez que nos concentramos em uma música e fizemos um esforço coletivo para refiná-la até chegar a uma versão definitiva que agradasse a todos; todos deram "inputs" desde logo adotados para finalizar mais um mega hit. Na primeira passagem toquei com a PRS do Alemão com a pedaleira Korg, mas depois assumi o violão pelo resto do ensaio. Não houve composições novas com letra, apenas uma jam com uns power chords em B-G-A e B-G-D-A, e o Alemão no baixo com captadores ativos. Realmente acho que é o caso de agilizarmos uma aprsentação para os amigos, e com isso em mente passamos a revisitar aquelas que consideramos confirmadas e testarmos outras candidatas com forte potencial. Tocamos aquela com sotaque do centro do país (Dm-G-Am), que nem precisamos ensaiar para ficar boa, uma outra com os acordes C-Bb-Eb-F que gosto bastante, e uma das antigas deles que tiramos na hora e tem um riff com acorde em Em cheio de notas e típico do Alemão. Nessa e noutra com letra sobre o kama sutra (acordes G e C) o Marcelo e o Marcão mandaram muito bem nos vocais. Os caras lembraram, ainda, de recuperar uma feita em homenagem a um baixista que tocou com eles antes do meu ingresso e que foi personagem de um episódio memorável (essa é no piano, com andamento bem calmo, e me limitei a pequenas intervenções e mini-solos, mas não deixei de imprimir minha marca com uma melodia com notas oitavadas como Wes Montgomery - ou pelo menos do jeito que deve soar como o guitarrista, de acordo com as tablaturas das revistas de guitarra).
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte XII "Systematic Chaos" (2007)
A mudança de gravadora – para a Roadrunner – parece ter dado novo vigor à trajetória do Dream Theater. Afinal, o lançamento de “Systematic Chaos” foi acompanhado de ampla cobertura com (muitas) entrevistas (geralmente de Mike Portnoy e de John Petrucci) e resenhas favoráveis, produção de videoclipe (depois de anos sem utilização desse recurso), e edição especial com extras (um DVD). Além disso, foi disponibilizado um videoclipe muito legal para “The Dark Eternal Night” no youtube (disparado a melhor música do disco, e a melhor desde “The Glass Prison”) com imagens das gravações. Toda essa campanha acarretou a melhor posição até então de um disco do Dream Theater no Top 200 da Billboard (#19), e consequentemente vendas expressivas e novos fãs. O tratamento dispensado à banda pela nova gravadora foi bastante comemorado e explorado por Portnoy nas suas entrevistas, nas quais foram descortinados os bastidores da trajetória da banda nos anos anteriores, muitos dos quais referi nas resenhas dos discos anteriores (basicamente, a antiga gravadora se limitava a por no mercado os discos da banda, sem maiores preocupações com promoção e divulgação; assim, só os fãs já cativos adquiriam os CDs e a banda não atraia novos fãs). Particularmente, achei muito bem vinda essa vigorosa exposição do Dream Theater, ficando clara, para mim, a posição destacada da banda em relação a todas as demais que se propõe a fazer metal progressivo, sendo certo que a cena atual é mais favorável a bandas que se dedicam a compor músicas mais complexas em termos de guitarras e solos (superando, assim, e com vantagem, a fase do nu-metal que dominou o início da década).
Já faz alguns anos que não prendo a respiração por um lançamento do DT, seguindo a filosofia de manter baixas as expectativas para evitar decepções. Então acompanhei as notícias sobre o início, o andamento e o término das gravações do disco, as tradicionais descrições de Portnoy (“é uma mistura de ‘Octavarium’ com ‘Train of Thought’, passando por ‘Surrounded’” ou algo do tipo), assisti ao vídeo de “The Dark Eternal Night” e comprei o disco na Cultura quando lançado. Naturalmente, o disco está longe de ser um clássico, mas a audição é um pouco mais pacífica do que a dos registros anteriores, contendo um punhado de bons momentos e de músicas legais.
O disco abre com a primeira parte de uma faixa de 25min dividida ao meio. A justificativa é que a banda (Portnoy) queria que abertura fosse com “In the Presence of the Enemies”, mas uma música tão comprida logo de cara poderia tornar as coisas enfadonhas, então se optou pela cisão em duas partes: uma para abrir e a outra para fechar o álbum. Assim compreendida – como uma música de 25min – fica mais fácil assimilar o fato de que os vocais só entram depois de mais de 5min de partes instrumentais. Seja como for, achei um pouco Rush demais essa abertura. Entretanto, a música é boa, sobretudo nas partes cantadas (James LaBrie mandando bem em ambiente de estúdio).
Petrucci resolveu compor letras ficcionais desta feita, e o tema segue em “Forsaken”, o “single” do álbum (videoclipe e tudo mais). Esta e a seguinte, “Constant Motion” (letra sobre si mesmo, como de costume, de Portnoy), me parecem exercícios genéricos com riffs pesados e refrões radiofônicos, sem maior impacto positivo, como tem sido regra a partir de “Train of Thought”.
As coisas melhoram significativamente em “The Dark Eternal Night”. Nada como um bom riff de heavy metal do estilo Dream Theater (e não do estilo de outras bandas), desta vez com várias notas e pausas cortantes. O refrão radiofônico, desta vez, é certeiro, e o dueto de LaBrie e Portnoy nos vocais funciona bem. Algumas partes instrumentais podem soar um pouco demasiadas, mas com boa vontade isso não compromete a melhor composição da banda em muitos anos.
A suíte de Portnoy dedicada ao tema do alcoolismo (que aparece em uma faixa a cada disco desde “6DOIT” e ao final formará uma grande faixa de aproximadamente 60min) segue em “Repentance”. Diferentemente das anteriores, trata-se de uma música calma, com predominância de timbres limpos (esse clima foi cuidadosamente calculado por Portnoy, pois quando a música for executada na íntegra – 60min – é indispensável um momento mais tranquilo, sob pena da audição (pelo público) e da execução (pela banda) se tornarem cansativas, para dizer o mínimo. Essa suíte (“Twelve-step Suite”) se caracteriza pela reciclagem de riffs empregados anteriormente, e sempre fico com a impressão de que são os riffs mais fracos que são utilizados nessas condições. Assim, uma variação de um riff fraco de “This Dying Soul” conduz a maior parte do tempo de “Repentance”, e esse riff fraco aparece ao final durante a parte em que vários músicos de bandas conhecidas (Jon Anderson, Joe Satriani, Steve Vai, David Ellefson, entre outros), sob convite prévio, prestaram depoimentos sobre o tema da música (arrependimento, desculpa, etc). O momento ouro, no entanto, fica por conta de um raro (hoje em dia) solo-com-feeling de John Petrucci: o cara economiza nas notas, mas manda ver nos bends espirituosos, sem mencionar o timbrão.
A audição de “Prophets of War”, com letra de LaBrie, provavelmente seria divertida não fosse a “influência” muito evidente de Muse. Portnoy costuma divulgar os seus discos preferidos, as suas influências e propagar o quão antenado ele é com bandas novas, mas tenho reparado que isso, no decorrer dos anos, teve o malefício de fazer do Dream Theater um repositório de referências e citações. Evidentemente que não há nenhum mal em compor algo similar ao som de alguma banda (todos fazem isso, de Angus & Malcolm Young a Keith Richards, e de James Hetfield até eu mesmo), mas no caso do Dream Theater acho ruim quando esse método é utilizado com preocupante regularidade (o Bruce já havia apontado acertadamente que “Never Enough”, de “Octavarium”, é quase um cover de “Stokholm Syndrome” do Muse, o que naturalmente deprecia uma faixa que poderia ser considerada muito legal). Independente disso, o timbre de teclado de Rudess é legal (tipo arpegiador, se não estou incorreto), bem como o vocal de LaBrie (os versos do refrão são facilmente assimiláveis, e a letra inteira o cara canta com convicção elogiável).
Nas resenhas passadas já sugeri algumas para o título de pior música do Dream Theater; uma das candidatas aparece em “Systematic Chaos": “The Ministry of Lost Souls”. Trata-se de uma faixa de 15min que já começa mal: uma melodia de Jordan Rudess, com timbre datado e fraco, executado a meia velocidade, como se fosse alguma espécie de épico. Ouvi essa faixa algumas vezes com o pensamento de que “com 15min de duração é impossível que não tenha partes boas que se salvem”, mas a conclusão foi sempre a mesma: é possível, “sad but true”, como diria o outro.
O disco termina com a segunda parte de “In the Presence of the Enemies”, que tanto quanto a primeira, tem momentos que funcionam muito bem.
Considero “Systematic Chaos” um disco bastante razoável (de bom) e tenho curtido mais a cada nova audição, desde que se dê atenção às músicas devidas. Apesar de já estarem consolidados os solos fritados de Petrucci e alguns timbres fracos de Rudess, e de marcar o início do ostracismo de John Myung (o cara não compõe mais letras e são cada vez mais raros os momentos em que o baixo se destaca), a mudança de gravadora parece ter facilitado o acesso ao som da banda para uma outra fatia de novos consumidores, além de ter proporcionado novos itens interessantes para os tradicionais seguidores.
Já faz alguns anos que não prendo a respiração por um lançamento do DT, seguindo a filosofia de manter baixas as expectativas para evitar decepções. Então acompanhei as notícias sobre o início, o andamento e o término das gravações do disco, as tradicionais descrições de Portnoy (“é uma mistura de ‘Octavarium’ com ‘Train of Thought’, passando por ‘Surrounded’” ou algo do tipo), assisti ao vídeo de “The Dark Eternal Night” e comprei o disco na Cultura quando lançado. Naturalmente, o disco está longe de ser um clássico, mas a audição é um pouco mais pacífica do que a dos registros anteriores, contendo um punhado de bons momentos e de músicas legais.
O disco abre com a primeira parte de uma faixa de 25min dividida ao meio. A justificativa é que a banda (Portnoy) queria que abertura fosse com “In the Presence of the Enemies”, mas uma música tão comprida logo de cara poderia tornar as coisas enfadonhas, então se optou pela cisão em duas partes: uma para abrir e a outra para fechar o álbum. Assim compreendida – como uma música de 25min – fica mais fácil assimilar o fato de que os vocais só entram depois de mais de 5min de partes instrumentais. Seja como for, achei um pouco Rush demais essa abertura. Entretanto, a música é boa, sobretudo nas partes cantadas (James LaBrie mandando bem em ambiente de estúdio).
Petrucci resolveu compor letras ficcionais desta feita, e o tema segue em “Forsaken”, o “single” do álbum (videoclipe e tudo mais). Esta e a seguinte, “Constant Motion” (letra sobre si mesmo, como de costume, de Portnoy), me parecem exercícios genéricos com riffs pesados e refrões radiofônicos, sem maior impacto positivo, como tem sido regra a partir de “Train of Thought”.
As coisas melhoram significativamente em “The Dark Eternal Night”. Nada como um bom riff de heavy metal do estilo Dream Theater (e não do estilo de outras bandas), desta vez com várias notas e pausas cortantes. O refrão radiofônico, desta vez, é certeiro, e o dueto de LaBrie e Portnoy nos vocais funciona bem. Algumas partes instrumentais podem soar um pouco demasiadas, mas com boa vontade isso não compromete a melhor composição da banda em muitos anos.
A suíte de Portnoy dedicada ao tema do alcoolismo (que aparece em uma faixa a cada disco desde “6DOIT” e ao final formará uma grande faixa de aproximadamente 60min) segue em “Repentance”. Diferentemente das anteriores, trata-se de uma música calma, com predominância de timbres limpos (esse clima foi cuidadosamente calculado por Portnoy, pois quando a música for executada na íntegra – 60min – é indispensável um momento mais tranquilo, sob pena da audição (pelo público) e da execução (pela banda) se tornarem cansativas, para dizer o mínimo. Essa suíte (“Twelve-step Suite”) se caracteriza pela reciclagem de riffs empregados anteriormente, e sempre fico com a impressão de que são os riffs mais fracos que são utilizados nessas condições. Assim, uma variação de um riff fraco de “This Dying Soul” conduz a maior parte do tempo de “Repentance”, e esse riff fraco aparece ao final durante a parte em que vários músicos de bandas conhecidas (Jon Anderson, Joe Satriani, Steve Vai, David Ellefson, entre outros), sob convite prévio, prestaram depoimentos sobre o tema da música (arrependimento, desculpa, etc). O momento ouro, no entanto, fica por conta de um raro (hoje em dia) solo-com-feeling de John Petrucci: o cara economiza nas notas, mas manda ver nos bends espirituosos, sem mencionar o timbrão.
A audição de “Prophets of War”, com letra de LaBrie, provavelmente seria divertida não fosse a “influência” muito evidente de Muse. Portnoy costuma divulgar os seus discos preferidos, as suas influências e propagar o quão antenado ele é com bandas novas, mas tenho reparado que isso, no decorrer dos anos, teve o malefício de fazer do Dream Theater um repositório de referências e citações. Evidentemente que não há nenhum mal em compor algo similar ao som de alguma banda (todos fazem isso, de Angus & Malcolm Young a Keith Richards, e de James Hetfield até eu mesmo), mas no caso do Dream Theater acho ruim quando esse método é utilizado com preocupante regularidade (o Bruce já havia apontado acertadamente que “Never Enough”, de “Octavarium”, é quase um cover de “Stokholm Syndrome” do Muse, o que naturalmente deprecia uma faixa que poderia ser considerada muito legal). Independente disso, o timbre de teclado de Rudess é legal (tipo arpegiador, se não estou incorreto), bem como o vocal de LaBrie (os versos do refrão são facilmente assimiláveis, e a letra inteira o cara canta com convicção elogiável).
Nas resenhas passadas já sugeri algumas para o título de pior música do Dream Theater; uma das candidatas aparece em “Systematic Chaos": “The Ministry of Lost Souls”. Trata-se de uma faixa de 15min que já começa mal: uma melodia de Jordan Rudess, com timbre datado e fraco, executado a meia velocidade, como se fosse alguma espécie de épico. Ouvi essa faixa algumas vezes com o pensamento de que “com 15min de duração é impossível que não tenha partes boas que se salvem”, mas a conclusão foi sempre a mesma: é possível, “sad but true”, como diria o outro.
O disco termina com a segunda parte de “In the Presence of the Enemies”, que tanto quanto a primeira, tem momentos que funcionam muito bem.
Considero “Systematic Chaos” um disco bastante razoável (de bom) e tenho curtido mais a cada nova audição, desde que se dê atenção às músicas devidas. Apesar de já estarem consolidados os solos fritados de Petrucci e alguns timbres fracos de Rudess, e de marcar o início do ostracismo de John Myung (o cara não compõe mais letras e são cada vez mais raros os momentos em que o baixo se destaca), a mudança de gravadora parece ter facilitado o acesso ao som da banda para uma outra fatia de novos consumidores, além de ter proporcionado novos itens interessantes para os tradicionais seguidores.
Show XXVI - Kip Winger acoustic (07.10.2009, 21h, Drakkar Music Hall)
Geralmente vou desacompanhado nos shows de rock, por falta de parceria, mas o anúncio do show do Kip Winger em formato acústico me pareceu a oportunidade para levar a Sabrina e a Elenise, além do Christian, que curte um bom hard rock tanto quanto eu. O show estava marcado para 20h no Drakkar Music Hall, na Plínio, em frente ao Zaffari, onde antigamente ficava o Abbey Road. Chegamos por esse horário e encontramos uma cena típica das festas noturnas: fila do lado de fora, uma tática para atrair público. Depois de meia-hora na fila e pegando frio, Kip Winger passou na frente de todos e subiu a rampa acenando e sorrindo. Brincamos muito na fila, sobretudo as gurias que vieram basicamente porque eu pilhei bastante, mas achava que no final todos teriam se divertido e teriam curtido o programa. Quando finalmente entramos, em seguida ingressaram no palco dois caras (vocal e guitar) da Tempestt empunhando violões de corda de aço (um Takamine e outro não identifiquei a marca). Eles mandaram covers clássicos de hard rock: abriram com "Play The Game Tonight" do Kansas (o vocal ficou muito bom e igual ao original), fecharam com "Wanted Dead or Alive" do Bon Jovi, e mandaram uma desconhecida (para mim) do Jeff Scott Soto. Em "Don´t Stop Believin´" o guitar tocou de um jeito legal e diferente no violão, e o Christian deu o toque "não tem como gravar isso?"; estava reservando espaço para a atração principal, mas a versão dos caras para o clássico do Journey parecia valer os Mb de memória. Pois no meio da execução, Kip Winger apareceu para cantar alguns versos, promovendo um dos melhores momentos da apresentação deles. O vocal do Tempestt foi muito bom e o guitar também era competente. A ideia de uma dupla de abertura foi excelente e serviu para aquecer a galera. Só achei que o repertório devia ser exclusivamente de covers consagrados e matadores (além do Bon Jovi e Journey, poderia ter rolado Whitesnake, por exemplo). Finda a apresentação da dupla da Tempestt (que provavelmente servirá para inspirar o Christian e eu a retomar nossa dupla acústica de covers de hard rock), não demorou e Kip Winger com violão de (12) cordas de aço com afinação bem pesada (parece-me que a corda mais grave estava em C, mas vou conferir). O cara se ajeitou e mandou "Cross", uma faixa de um dos seus discos solo, e que sempre abre os seus shows acústicos. Kip emendou "Who´s the One", uma das belas faixas do "Pull", que já tive oportunidade para dizer que é um dos meus álbuns preferidos. Gravei ambas (8min) mas temi pelo espaço da memória comprometido logo no início do show, sendo certo que Kip não perdeu tempo para enumerar as minhas favoritas. "Down Incognito", com refrão magnífico, e mais uma - a terceira - do "Pull" - e a minha favorita do Winger - "Blind Revolution Mad" (achei que o cara não ia tocar essa, pois não é muito fácil encontrar versões acústicas dessa no youtube). A Ellen anunciou que estava achando o cara simpático, e de fato Kip tirou de letra e se mostrou totalmente a vontade, sem apelar para bajulações desnecessárias ("Rock star pose!"). Brincou com o cara que tava com a barriga colada no palco e fazia uma espécie de backing vocal em "Who´s the One" na parte "How loooooong", e pareceu bastante satisfeito com a reação da plateia, cantando as letras das músicas do Winger e da carreira solo do vocalista/baixista. Todos os presentes sabiam que Kip cantaria "Miles Away", mas achei que seria a música de encerramento; pois foi no meio do set, e Kip resolveu chamar um cara ("who is the best singer here?") para acompanhá-lo. Por sorte, Kip não deixou o cara cantando sozinho e interpretou a sua música mais conhecida (que, por sinal, é uma música do tipo que considero perfeita). Até aquele momento já havia reparado três coisas: (a) Kip Winger tem baita voz e não demonstra esforço algum para alcançar as notas altas e baixas; (b) ele executa acordes e dedilhados complicados no violão enquanto canta, o que sabidamente não é tarefa para qualquer um; (c) nunca tinha ouvido tantas notas diferentes soando dos mesmos acordes que estamos acostumados - parecia que qualquer posição de dedos que ele fizesse sobre o braço do violão sairia um acorde legal -, e nunca tinha ouvido tantas melodias (tanto na voz, especialmente nos refrões consagrados, como no violão). Evidentemente que não faltaram outras das obrigatórias do "In the Heart of the Young", como "Rainbow in the Rose" (na qual foi acompanhado do guitar da Tempestt, e contou com o vocalista da banda paulista em alguns versões e no refrão - ficou legal essa improvisação, e Kip estava bem tranquilo com a participação dos caras). Finalmente Kip mandou mais outra das minhas favoritas, "Easy Come Easy Go", que possivelmente fica melhor nesse formato acústico do que na versão original. O set list estava numa pequena anotação colada no violão, mas não é possível saber ao certo quantas músicas ele tinha inicialmente se disposto a tocar, pois na medida em que o tempo passou, a galera ia pedindo - e cantando junto - várias clássicas do cara, e quando terminaram as clássicas, foram pedindo as da carreira solo ("Daniel", dentre outras que não conheço - mas é só ouvir os mp3 dos discos para lembrar). Então rolou "Seventeen" (muito legal com backing vocal da platéia), "Madeleine", "Hungry", "Spell I´m Under", "Can´t Get Enough", "Headed for a Heartbreak" e em todas elas Winger não se tremeu para alcançar os característicos agudos e gritos típicos do hard rock farofa dos anos 1980. Pareceu-me que o set list já tinha ido embora, e o cara estava só se divertindo e valorizando a grana investida pelos presentes, executando todo o seu repertório, inclusive músicas que ele dizia que jamais havia tocado no violão, ou que não tocava há muitos anos. Lembro que rolou "Blue Suede Shoes", uma das grandes faixas do disco de estúdio mais recente do Winger ("IV"), e então o cara mandou uma instrumental na qual demonstrou que domina o violão de 12 cordas de aço (não conhecia, mas ele anunciou que se tratava de "Free", e acabei registrando apenas os últimos acordes - curti muito uns acordes pesados, bem como um truque massa que dava um toque oriental, sendo que essa parte consegui gravar). Admito que já estava satisfeito, e nem sabia mais o que esperar a seguir, então alguém pediu "Under One Condition" e Kip tocou mais uma das minhas favoritas (acho muito boa a letra, especialmente no refrão). Às 23h30min, preocupados com a questão do estacionamento e tudo mais, e, acima de tudo, satisfeito com a performance, fomos embora, mas tenho certeza que o cara ficou no palco por mais um bom tempo e ainda deve ter tirado fotos com todos os presentes. Na saída o consenso foi de que Kip Winger é um grande músico (acho legal como um cara faz uma apresentação boa dessas só com músicas que ele compôs o sofá de casa, cercado de fãs dedicados), e que nos divertimos bastante.
Vídeos a seguir (youtube lento para disponibilizá-los).
Vídeos a seguir (youtube lento para disponibilizá-los).
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "With the Beatles" (1963)
Nos anos 1960 o comum era lançar discos por semestre, então os Beatles lançaram mais do mesmo com "With the Beatles", com a diferença de que os caras já estavam consagrados e em vias de consolidar a Beatlemania. Indiscutivelmente a melhor faixa é "All My Loving", com 2min, e melodia espetacular - pelo que tenho ouvido, meu Beatle favorito é Paul - e a linha de baixo é bem trabalhada e pulsante, contrastando com os acordes ora strummed, ora staccato, e o solo de guitarra com notas oitavadas. Particularmente, não acho as demais faixas marcantes, sobretudo o punhado de covers que ainda respondiam por grande parte do repertório. Dessas covers se destacam "Please Mr Postman" (gostava bastante na época do filme "Backbeat" e trilha sonora respectiva - inclusive prefiro essa versão à dos Beatles) e "Money" (também registrada na mesma trilha sonora). Das da dupla Lennon & McCartney é boa "It Won´t Belong" (é legal o lick de guitar e baixo antes de entrar o refrão). No mais, fico com a impressão de que as melhores músicas ficaram nos singles (disponibilizados no "Past Masters").
sábado, 3 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Please Please Me" (1963)
Desde o final dos anos 1990, quando começou o esquema de relançar toda a discografia de uma banda remasterizada, nunca consegui me beneficiar completamente pois toda vez que chegou a coleção remasterizada de uma das minhas bandas favoritas, já tinha adquirido todos os CDs em versão simples (afinal, eram minhas bandas favoritas: Kiss, Van Halen, Deep Purple são os casos mais notórios). O caso dos Beatles é bem diferente, pois apesar de cultivar bastante respeito pela banda, jamais achei conveniente gastar 30 pila pelos CDs de álbuns lançados há 40 anos atrás (aliás, minha convicção é a de que os discos dos Beatles deveriam ser vendidos por 10 reais - ou menos -, para facilitar acesso universal). Mas os mesmos caras que não baixam o preço desses clássicos - apesar de já terem rendido o que podiam em 40 anos para várias gerações de executivos - são os caras que resolveram aproveitar a oportunidade para lançar toda a discografia britânica dos Beatles (é sabido que os discos lançados no mercado americano tinham repertório diverso) com novo encarte, documentário bônus e, evidentemente, remasterizado das fitas utilizadas por George Martin quando este viabilizou a primeira prensagem de CDs em 1987. O lançamento foi em 09/09/2009 para coincidir com um trecho repetitivo de "Revolution 9" do "álbum branco", e aproveitei o mês festivo para completar a coleção (já tinha "Abbey Road" e "Let It Be", escolhidos especificamente por ter curiosidade a respeito da fase final da banda), agregado ao fato de que desde o semestre passado estou entretido na leitura do Rough Guide dedicado à banda.
Da fase inicial, de rockinhos e covers, não sou muito fã, mas admito que grande parte das músicas mais significativas de Lennon & McCartney foram registradas nos primeiros discos e singles (especialmente nos singles). "Please Please Me" tem um punhado dessas músicas espetaculares. A música título abre com um dueto de harmônica e guitarra solo, seguindo-se acordes e os versos sempre harmonizados entre Lennon e McCartney, pontuados por uns riffs staccato e licks na parte mais grave da guitarra (à 1:44 aparece um ruído bem impertinente, e talvez seja a inconveniência do registro estereo...). "Love Me Do" é o primeiro single e uma das faixas mais conhecidas; a melodia na harmônica é bem característica, e os vocais harmonizados arrebentam e se alternam em registros alto e baixo. "Twist and Shout" por si já é um clássico, mas o filme de Ferris Bueller serviu para revitalizar uma faixa que tem a interessante história de bastidores de que foi a última a ser gravada nas rápidas e rasteiras sessões de gravação da época, pois era a que mais exigia dos vocais de John Lennon (o resultado é uma interpretação "prejudicada" de Lennon, cuja urgência ajudou a torná-la ainda mais significativa - parece visível o esforço do cara de se manter afinado gritando já com a voz arrebentada, e se tem uma performance arrebatadora). "There´s a Place" é uma que me era obscura, mas curti bastante em conta da harmonização de vocal muito boa nos versos "there´s no time". Notável que nesse primeiro LP mais da metade das faixas foi composta pela prolífica dupla e todos os quatro tiveram chance para mostrar seus competentes vocais, tanto solo como no apoio.
Da fase inicial, de rockinhos e covers, não sou muito fã, mas admito que grande parte das músicas mais significativas de Lennon & McCartney foram registradas nos primeiros discos e singles (especialmente nos singles). "Please Please Me" tem um punhado dessas músicas espetaculares. A música título abre com um dueto de harmônica e guitarra solo, seguindo-se acordes e os versos sempre harmonizados entre Lennon e McCartney, pontuados por uns riffs staccato e licks na parte mais grave da guitarra (à 1:44 aparece um ruído bem impertinente, e talvez seja a inconveniência do registro estereo...). "Love Me Do" é o primeiro single e uma das faixas mais conhecidas; a melodia na harmônica é bem característica, e os vocais harmonizados arrebentam e se alternam em registros alto e baixo. "Twist and Shout" por si já é um clássico, mas o filme de Ferris Bueller serviu para revitalizar uma faixa que tem a interessante história de bastidores de que foi a última a ser gravada nas rápidas e rasteiras sessões de gravação da época, pois era a que mais exigia dos vocais de John Lennon (o resultado é uma interpretação "prejudicada" de Lennon, cuja urgência ajudou a torná-la ainda mais significativa - parece visível o esforço do cara de se manter afinado gritando já com a voz arrebentada, e se tem uma performance arrebatadora). "There´s a Place" é uma que me era obscura, mas curti bastante em conta da harmonização de vocal muito boa nos versos "there´s no time". Notável que nesse primeiro LP mais da metade das faixas foi composta pela prolífica dupla e todos os quatro tiveram chance para mostrar seus competentes vocais, tanto solo como no apoio.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Discografia Dream Theater - Parte XI: "Score" (2006)
Dream Theater já lançou discos triplos ao vivo como registros das turnês de “Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory” e “Train of Though”, respectivamente “Live Scenes From New York” e “Live at Budokan”. No primeiro caso, não houve lançamento oficial no Brasil, e adquirir um importado triplo é inviável; no segundo caso, até houve disponibilização nas lojas daqui, mas o preço ainda assim ficou proibitivo para o material oferecido (ainda não desisti de encontrá-lo em alguma promoção ou balaio, novo ou usado). Achei que as coisas não seriam diferentes no caso de “Score”, que é o triplo ao vivo que registrou a turnê de “Octavarium”, mas ano passado encontrei o disco no balaio da Multisom e também com preço muito baixo na Cultura (menor que um CD simples), e foi só nessas condições que consegui adquiri-lo.
“Score” tem a distinção de ser um disco ao vivo no qual a banda se apresentou acompanhada de uma orquestra para boa parte do set list, celebrando seus 20 anos de atividade, tratando-se de um show no Radio City Music Hall. O CD1 contém faixas de cada um dos discos da banda, com ênfase nas que não apareceram nos álbuns ao vivo anteriores, além de inéditas como uma da época em que a banda se chamava Majesty (“Another Won”); então temos uma do primeiro disco “When Dream and Day Unite” (“Afterlife”), uma sobra de “Falling Into Infinity” (“Raise the Knife”); aparecem, ainda, execuções fiéis ao original de “The Root Of All Evil” e de “I Walk Beside You”, do disco mais recente à época, de “Innocence Faded” (de “Awake”), de “Under A Glass Moon” (de “Images and Words”) e “The Spirit Carries On” (de “Scenes From a Memory”). O CD2, já com a orquestra, é difícil de ouvir, pois compreende “Six Degrees of Inner Turbulence” (40min!), “Sacrificed Sons” (10min, fraca do “Octavarium”), “The Answer Lies Within” (5min, idem), e a melhor, “Vacant” (3min, de “Train of Thought”). O CD3 têm apenas duas faixas: “Octavarium” (27min) e “Metropolis Pt. 1” (10min).
Com um set list tão pouco favorável, trata-se de um triplo ao vivo que vai rodar poucas vezes no CD player.
“Score” tem a distinção de ser um disco ao vivo no qual a banda se apresentou acompanhada de uma orquestra para boa parte do set list, celebrando seus 20 anos de atividade, tratando-se de um show no Radio City Music Hall. O CD1 contém faixas de cada um dos discos da banda, com ênfase nas que não apareceram nos álbuns ao vivo anteriores, além de inéditas como uma da época em que a banda se chamava Majesty (“Another Won”); então temos uma do primeiro disco “When Dream and Day Unite” (“Afterlife”), uma sobra de “Falling Into Infinity” (“Raise the Knife”); aparecem, ainda, execuções fiéis ao original de “The Root Of All Evil” e de “I Walk Beside You”, do disco mais recente à época, de “Innocence Faded” (de “Awake”), de “Under A Glass Moon” (de “Images and Words”) e “The Spirit Carries On” (de “Scenes From a Memory”). O CD2, já com a orquestra, é difícil de ouvir, pois compreende “Six Degrees of Inner Turbulence” (40min!), “Sacrificed Sons” (10min, fraca do “Octavarium”), “The Answer Lies Within” (5min, idem), e a melhor, “Vacant” (3min, de “Train of Thought”). O CD3 têm apenas duas faixas: “Octavarium” (27min) e “Metropolis Pt. 1” (10min).
Com um set list tão pouco favorável, trata-se de um triplo ao vivo que vai rodar poucas vezes no CD player.
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