segunda-feira, 26 de outubro de 2009
The Beatles remastered - "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" (1967)
Decididos a não fazer mais shows, os Beatles se dedicaram à tarefa de compor discos de estúdio e para isso utilizaram-se de cada vez mais tempo para as gravações e mixagens. No ápice de sua fase psicodélica (dentre outras coisas, Harrison foi para a Índia para tomar lições de cítara com Ravi Shankar), a banda adotou um conceito de "banda fictícia" e incrementaram as técnicas inovadoras em estúdio para "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band". O resultado é um disco que frequenta as primeiras posições de todas as listas de melhores álbuns de todos os tempos (e isso inclui até as listas de melhores capas de discos da história). A faixa-título inaugura a audição e, caso tivesse andamento mais rápido, e sem os sons de plateia e instrumentos de sopro, seria um hard rock primitivo, especialmente pelos acordes durante o refrão tocados com pausas (talvez não por acaso Jimi Hendrix tenha homenageado a banda tocando a faixa poucos dias após o lançamento do álbum). Uma das mais conhecidas composições é "With a Little Help From My Friends", cantada de forma competente por Ringo Starr, com os primeiros versos da letra sobre todos nós que não sabemos cantar e desafinamos na primeira nota. Na linha de encontrar evidências dos Beatles no som das bandas que lhes sucederam, ouço as linhas de baixo de "With a Little Help From My Friends" (com notas bem agudas no início), de "Lovely Rita" e de "Getting Better" e penso em Chris Squire do Yes. Outra que é universalmente conhecida é uma de Lennon, "Lucy in the Sky With Diamonds", em relação a qual há um senso comum de que se trataria de uma música sobre LSD (ou pelo menos com referência no título), mas o compositor defendeu a tese de que é apenas uma expressão de seu filho a partir de um desenho infantil. "Getting Better" é uma daquelas canções legais de McCartney. com boa linha de baixo, levada interessante na bateria, refrãozinho bacana e astral para cima. E é exatamente o mesmo que se pode dizer de "Fixing a Hole". Igualmente típicas são as composições melódicas e delicadas de McCartney, e nesse caso é "She´s Leaving Home" com orquestrações e tudo mais. Harrison teve mais uma oportunidade para exercitar sua cítara em "Within You Without You". "When I´m Sixty Four" é de McCartney e é muito boa, com estilo de som mais antigo (pelo andamento, acompanhamento da bateria e dos instrumentos de sopro), e influenciou Freddie Mercury para algumas composições do Queen nos anos 1970 e provavelmente serviu de inspiração para Gene Simmons compor a letra de "Goin´ Blind" para o 2.º disco do Kiss ("Hotter Than Hell", de 1974). "Good Morning Good Morning" começa meio caótica, mas tão logo entram os versos se ouve uma faixa boa de Lennon com andamento diferente do 4/4 e inusual no rock (os compassos ora se extendem, ora terminam antes do "previsto", técnica muito familiar ao rock progressivo, e não por acaso se diz que uma das raízes do rock progressivo é "Sgt. Peppers" - há quem sustente que se trata do primeiro disco de rock progressivo). No final dessa "Good Morning" ouve-se um bumbo duplo na bateria de Ringo Starr (ou posso estar enganado...). A reprise do tema da faixa-título conta com umas guitarras bem sacadas e umas pequenas frases de solos de Harrison. A faixa mais típica de Lennon é a primeira parte da faixa que encerra o álbum e é considerada clássica: "A Day in the Life". Depois de uns truques de estúdio ("orchestral crescendo" conforme o wikipedia), a música dá uma acelerada a partir de um despertador, e a parte conduzida por McCartney é melhor. Volta-se, depois, para os acordes calmos da primeira parte, mas com a pulsação do baixo. Ouve-se, novamente, o "orchestra crescendo" que culmina no famoso acorde (E) tocado em 3 grandes pianos simultaneamente. Correndo-se o risco de simplificar demasiadamente as coisas, "A Day in the Life" são duas músicas compostas separadamente, reunidas em 4 min e pouco, com o acréscimo de truques sofisticados de estúdio, e assim se fez o que se chama de primeiro épico do rock em pouco mais de 4min. Mais difícil, porém, do que compor um disco tão consagrado, é mandar ver no disco subsequente, e os Beatles se desencumbiriam satisfatoriamente dessa tarefa com o tradicionalmente conhecido como "Álbum Branco". Antes, no entanto, a fase psicodélica ainda rendia frutos com mais uma trilha-sonora de um filme da banda.
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Um comentário:
Só vou discordar de 2 itens no post (um de autoria do autor, outro uma citação): Acho a primeira parte de "A Day in the Life" muito superior à segunda. E para mim o primeiro album de rock progressivo real é In the Court of the Crimson King, 2 anos depois deste! Sgt Pepper é um precursor no sentido das questão album conceitual, mas só!
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