sábado, 24 de outubro de 2009

Discos Essenciais - Rolling Stones "Steel Wheels" (1989)

Pelo que ando lendo, parece que se formou um consenso de que (a) “Tattoo You” foi o último grande disco dos Stones, e que (b) “Start Me Up” é o último clássico composto pela banda. Durante os últimos 10 anos convivi com a noção de que todo o material lançado desde então (início dos anos 1980) não prestaria. A leitura do “Rough Guide”, por si só, não contribuiu decisivamente para alterar essa ideia, então resolvi aproveitar os remasterizados a partir dos anos 1970 e escolher alguns para aquisição. As primeiras escolhas foram boas, então, como geralmente acontece, me empolguei e estou trazendo para casa esses discos todos, na medida do possível. Dentre estes, o que se destacou foi “Steel Wheels”.

Lançado em 1989, “Steel Wheels” representou a reativação da parceria entre Jagger e Richards, que andava conturbada nos anos anteriores (Jagger decidiu concentrar-se na carreira solo e queria incorporar novos sons ao estilo dos Stones, para torná-la mais contemporânea). A turnê subsequente foi um daqueles grandes exemplos de mega espetáculo, não tendo escapado o registro em disco (“Flashpoint”).

O mais importante, no entanto, é que “Steel Wheels” é um disco com excelentes composições. Há um número significativo de bons momentos de guitarra, tanto nas músicas rápidas quanto nas baladas. Gosto bastante de “Rock and a Hard Place”, seguramente a melhor faixa, que é um baita rock com belo refrão (os backing vocals femininos são muito efetivos). Nota de rodapé: alguém reparou que no filme dos Simpsons há uma cena na qual Homer está pendurado junto a uma bola para destruição de prédios, e fica batendo numa grande pedra (rock), de um lado, e em um bar chamado “A Hard Place” de outro? A faixa de abertura, “Sad Sad Sad” é outro rock acelerado dos bons, e ambas as faixas constam do álbum ao vivo “Flashpoint”.

Parece-me que se a segunda faixa de um disco dos Stones for boa, então o disco inteiro é bom, e esse é o caso de “Steel Wheels”, no qual a segunda faixa é “Mixed Emotions”, com um som típico da banda (as guitarras soam minimalistas e os acordes aparecem em blocos induzidos pela linha de baixo e pelos teclados e pianos).

Em algumas músicas o timbre das guitarras é magnífico, e é precisamente isso que melhor aparece em “Terrifying”: trata-se de uma música com um acorde staccato repetido durante os 3min e meio da faixa; o timbre da guitarra é limpo e cremoso, característico de uma Fender Strato/Telecaster com um pouco de chorus.

O melhor riff do disco é o de “Hearts for Sale”, com uns hammer-nos e pull-offs hipnóticos. Esse riff espetacular inicia a música e aparece no refrão, com boa melodia no vocal (com backings femininos). Por sua vez, o melhor solo de guitarra aparece em “Hold On to Your Hat”, com frases rápidas condizentes com o andamento acelerado da música (aparentemente todos os solos são de Keith nessa faixa, pois Ron Wood não é creditado no encarte do CD).

“Almost Hear You Sigh” é uma das minhas balada favoritas dos Stones, com bons vocais e excelentes complementos guitarrísticos entre os versos (até a Sabrina curtiu ouvindo no carro). Nessa categoria há ainda uma outra composição bonita: “Blinded By Love” lembra músicas dos Eagles (tipo “Tequila Sunrise”, dentre outras), e os vocais alcançam graves bem baixos para Mick Jagger, e me parece que é difícil para alguém cantar mantendo a afinação em todos os versos.

Reparei que Keith Richards costuma cantar umas duas faixas em cada disco, e entendo que suas melhores contribuições (pelo menos do que ouvi até agora) estão em “Steel Wheels”. Então, diria que o melhor rock cantado por Richards é “Can´t Be Seen” (que também se destaca pelas guitarras, com riffs e licks legais com timbres típicos de Stratocaster/Telecaster, e ainda um timbre muito bom; gosto bastante também do timbre dos teclados, que é bem conhecido e datado – ou brega - , mas se encaixa perfeitamente para sublinhar os versos “I Just can´t beeeee”), e a melhor balada cantada por Richards é “Slipping Away” (é uma faixa lenta de muita categoria, com um solo de violão de cordas de aço que começa matador; os vocais de Keith são muito bons, rasgados e sofridos, bem de acordo com a música).

“Continental Drift” me pareceu longa demais, embora pareça uma tentativa de Jagger de escrever uma música mais diferenciada e em homenagem a Brian Jones (pela utilização de músicos orientais). “Break the Spell”, por sua vez, é como um exercício de rock/blues acelerado e marcado do tipo Bo Diddley (destaque para a linha de baixo de Ron Wood).

Acredito que sempre será o caso, mas é bom enfatizar os excelentes vocais de Mick Jagger, backing vocals posicionados em algumas faixas com moderação, e umas guitarras muito boas de Keith Richards e Ron Wood. Embora Wood tenha registrado o baixo em algumas faixas, percebe-se que Bill Wyman é um baixista competente, como se ouve em “Mixed Emotions”, “Terrifyng”, “Hearts For Sale” e “Rock and a Hard Place”.

Ouvindo discos dos Stones como “Steel Wheels” é que comecei a compreender o que deve significar AOR (adult oriented rock), sobretudo pelas composições maduras e consistentes da maior parte do repertório desse álbum.

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