quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Discografia Dream Theater - Parte XIII "Black Clouds & Silver Linings" (2009)

Como de costume, Mike Portnoy tentou definir o som do que viria a ser o novo disco do Dream Theater como um misto de “A Change of Seasons”, “Learning to Live”, “The Glass Prison”, etc. Evidentemente que não levei isso a sério e mantive as expectativas bem baixas em relação a “Black Clouds & Silver Linings”, sobretudo quando ouvi os mp3 disponibilizados oficialmente (meses) antes do lançamento do álbum; numa primeira e perfunctória audição, “A Rite of Passage” e “A Nightmare to Remember” em nada diferiam dos exercícios comuns do Dream Theater sobre estruturas musicais tornadas tradicionais pelos caras nos discos mais recentes. Eventualmente baixei o restante dos mp3 – já não fico mais guardando a audição para a aquisição do CD – e acabei ficando com uma impressão melhor sobre as novas músicas. Acompanhei diariamente o site das duas principais mega-stores de livros, DVDs e CDs, e no dia marcado para o lançamento nacional comprei na loja que vendia mais barato (Cultura).

De fato: “Black Clouds & Silver Linings” tem audição bem mais fácil do que os outros discos mais recentes da banda. São apenas 6 músicas, e apesar de longas na sua maioria, são de assimilação tranquila., facilitado pelas estruturas previsíveis das composições. Li uma entrevista de John Petrucci na Guitar World de outubro de 2009 que achei reveladora em muitos sentidos: o cara admite que uma das metas da banda é conciliar partes instrumentais bastante técnicas com refrões cativantes e riffs de guitarra acessíveis. Um grande exemplo disso é a primeira faixa, “A Night to Remember”. A letra é do próprio Petrucci e cuida de suas memórias sobre um acidente automobilístico passado na sua infância. A introdução é do tipo de trilha de filme de terror (Portnoy e Petrucci acreditam que poderia ser trilha de um filme do Tim Burton), incluindo timbre de teclado “fantasmagórico”. Segue-se, após essa sequência de acordes inicial, um riff bem básico de guitarra heavy metal, o qual efetivamente inaugura a música e acompanha os versos. Há um chorus bem definido. Mas a faixa fica boa, mesmo, quando dá uma acalmada a partir dos 7min, e aparecem versos com melodias muito legais (todas as partes com “magnificent desolation” são ouro). No youtube descobri um vídeo sensacional de uma banda japonesa fazendo um cover dessa faixa na íntegra, com resultado excelente.

O single eleito para divulgar esse disco foi “A Rite of Passage”, que no meu sentir é uma música com muito pouca inspiração. O refrão é outra tentativa de produzir um momento acessível e radiofônico (não há problemas quanto a isso), mas o resultado é fraco, sobretudo o backing vocal de Petrucci e a própria linha do vocal principal, com tom bem baixo. O momento no qual Petrucci e Rudess se revezam nos solos é previsível e em nada difere do que já ouvimos melhor anteriormente (a não ser um timbre meio vintage utilizado por Rudess em uma de suas intervenções).

Gostei bastante da faixa mais curta de “BC&SL”: “Wither”, com letra de Petrucci sobre a tarefa inquietante que qualquer compositor/escritor/artista é obrigado a desempenhar no início do seu trabalho: partir do zero, preencher uma folha/tela em branco, etc. Os vocais de LaBrie não demoram para aparecer, e a interpretação do cara é matadora (ele sempre se deu bem nesses momentos mais introspectivos, de encontrar o tom certo para interpretar – não apenas cantar – versos sobre bases mais lentas ou melódicas, ou com acompanhamento minimalista). Efetivamente, é uma das melhores baladas do Dream Theater, na linha talvez de “I Walk Beside You” e de “The Answer Lies Within”, só que muito-muito melhor. É um feliz momento em que tudo se encaixou, tanto a parte instrumental quanto a vocal.

A suíte de Portnoy sobre os 12 passos encerra com “The Shattered Fortress”. Se nas partes anteriores alguns riffs apareciam reciclados, “The Shattered Fortress”, por vezes, parece um grande medley de riffs, pois há reminiscências de todas as músicas que compreendem a suíte. Talvez funcione melhor quando ouvirmos toda a suíte na íntegra, mas por si só é uma faixa fraca, conquanto tenha seus bons momentos.

“The Best of Times” tem letra tocante de Portnoy, lembra bastante o Rush, e acaba sendo muito boa para o meu gosto. Na referida entrevista do Petrucci à GW, o guitarrista revela a dificuldade de compor em tom maior sem imprimir um aspecto alegre demais à composição, e sem ficar igual ao Queen ou ao Rush. Esse é o tipo de ponto de vista que jamais teria por conta própria, de maneira que me parece relevante ler todo o tipo de entrevista dos integrantes da banda a respeito dos seus discos, a fim de conhecer esses depoimentos que, por vezes, viabilizam a adoção de um enfoque diferente quando da audição da música. Afinal, e isso fica bem claro, existem os 5% de inspiração e os 95% de transpiração, e no caso do Dream Theater, geralmente há uma razão para que determinada música seja assim ou assado (as coisas não se passam arbitrariamente ou sem reflexão prévia, como aliás ocorre com toda banda de rock progressivo – sempre lembro do depoimento de Bill Bruford, segundo o qual um dos motivos de sua insatisfação com o Yes eram as homéricas e acaloradas discussões sobre se determinada nota a ser tocada deveria ser um F ou um F#).

O disco encerra com “The Count of Tuscanny”, que é outra de Petrucci com suas experiências pessoais (o guitarrista narra a ocasião em que encontrou um conde dessa cidade).

O lançamento de “BC&SL” não contou com tanta antecipação e com tantas entrevistas explanatórias em comparação com o disco anterior “Systematic Chaos”, mas alcançou a maior colocação no Top 200 da Billboard (#10). Além disso, está consolidada uma nova geração de fãs do Dream Theater, que se somam aos já tradicionais como eu.

Um comentário:

vinícius disse...

bah. tu gostou de WITHER e THE BEST OF TIMES. definitivamente, divergimos pra caralho hiuaehea

cara, eu gostaria muito que tu conferisse um show da absence of. tipo o que vai ter amanhã no garagem (vide post no meu blog).

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